O
Ministério Público do Trabalho (MPT) informou ter assinado um termo de
ajuste de conduta (TAC) com as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton,
envolvidas no flagrante de trabalho análogo à escravidão ocorrido em
Bento Gonçalves (RS), em 22 de fevereiro. Pelo acordo, as vinícolas se
comprometeram a pagar R$ 7 milhões em indenizações, sendo R$ 5 milhões
por danos morais coletivos e R$ 2 milhões por danos individuais, a ser
dividido entre os resgatados. O prazo de pagamento é de 15 dias a partir
do fornecimento da listagem dos beneficiados.
"Os valores do dano moral coletivo serão revertidos para entidades, fundos ou projetos visando a recomposição do dano", destacou o MPT, em nota. Conforme as investigações, as três vinícolas envolvidas no caso contrataram mão de obra terceirizada fornecida pela Fênix Serviços Administrativo, que teria então mantido os trabalhadores, a maioria de origem baiana, em condições degradantes. Pelos termos do TAC, as vinícolas gaúchas se comprometeram a zelar pela obediência de princípios éticos ao contratar trabalhadores diretamente ou de forma terceirizada; abster-se de participar ou praticar aliciamento, de manter ou admitir trabalhadores por meios contrários à legislação do trabalho, de utilizar os serviços de empresas de recrutamento inidôneas; garantir e fiscalizar áreas de alojamentos, vivência e fornecimento de alimentação e somente contratar serviços de terceirização com empresas com capacidade econômica compatível com a execução do serviço contratado.
Também será preciso que elas fiscalizassem as medidas de proteção à saúde e à segurança do trabalho adotadas pelas terceirizadas e exijam o registro regular em carteira de todos os trabalhadores contratados para prestação de serviços, bem como os pagamentos de salários e verbas rescisórias. As três vinícolas terão de promover, entre outras empresas do setor e entre associados de suas cooperativas, estratégias de conscientização e orientação, contemplando seminários sobre boas práticas e cumprimento de legislação sobre direitos trabalhistas e direitos humanos, inclusive abordando temas de segurança, saúde e medicina do trabalho e trabalho em condições análogas à de escravo. O descumprimento de cada uma das cláusulas fica sujeito a multa de R$ 300 mil por violação.
Em decisão paralela, o juiz Silvonei do Carmo, da 2ª Vara do Trabalho de Bento Gonçalves, concedeu pedido de liminar feito pelo MPT e autorizou o bloqueio de R$ 3 milhões de Pedro Augusto Oliveira de Santana, dono da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda. Isso porque o empresário se recusou a assinar o TAC com o MPT. A quantia foi bloqueada de modo a garantir o pagamento de indenizações em caso de eventual condenação criminal. A empresa já pagou, emergencialmente, no dia do resgate dos trabalhadores, R$ 1,1 milhão em verbas rescisórias.
Em 22 de fevereiro, uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 207 trabalhadores que enfrentavam condições de trabalho degradantes em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. O resgate ocorreu depois que três trabalhadores que fugiram do local contataram a PRF, em Caxias do Sul (RS), e fizeram a denúncia. Atraídos pela promessa de salário de R$ 3 mil, os trabalhadores relataram enfrentar atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas e oferta de alimentos estragados. Eles revelaram ainda que, desde que chegaram, no início do mês, eram coagidos a permanecer no alojamento, sob pena de pagar multa por quebra do contrato de trabalho. A PF prendeu um empresário baiano responsável pela empresa, que foi encaminhado para o presídio de Bento Gonçalves. Em notas, as vinícolas envolvidas disseram que desconheciam as irregularidades praticadas contra os trabalhadores recrutados pela empresa prestadora de serviços terceirizados.
Com Agência Brasil