terça-feira, 21 de março de 2023

Appy diz que reforma tornará sistema tributário ‘extremamente mais simples’

 

Governo oficializa Bernard Appy como secretário da reforma tributária |  Metrópoles

 

 

 

Depois de questionamentos e críticas de alguns setores, o secretário extraordinário do Ministério da Fazenda para a Reforma Tributária, Bernard Appy, disse nesta terça-feira, 21, que as mudanças nas regras vão tornar o sistema de cobrança e incidência de impostos “extremamente mais simples” do que o existente hoje. “No limite, a gente não quer que tenha escrituração contábil”, considerou, lembrando que o uso de registros como este ocorre quando há exceções.

Appy fez a declaração durante almoço realizado pela Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), em Brasília.

Fizeram perguntas sobre as mudanças ao secretário representantes dos setores de shoppings, consórcios, imobiliário, comércio, médico, ensino, contabilidade e de recursos humanos. Um deles chegou a brincar com Appy: “Acho que o senhor já ouviu isso algumas vezes, mas nosso caso é diferente”, disse, arrancando risos dos presentes, inclusive do convidado.

Appy reforçou que o setor de serviços vai ser beneficiado com reforma tributária, apesar das críticas constantes de representantes do segmento. “O setor paga pouco (imposto) hoje? Sim, mas não recupera nada e isso vai mudar”, disse, acrescentando que o custo líquido de serviços vai ser menor do que é hoje porque haverá o fim da cumulatividade que existe atualmente.

O secretário afirmou que ainda não se debruçou sobre a questão dos consórcios, que os shoppings podem ganhar crédito ao investirem em outras unidades e que haverá manutenção do Simples. Ele lembrou também que todos os pontos, mesmo depois de serem apresentados pela Fazenda, serão debatidos pelos parlamentares no Congresso.

Appy comentou ainda que não cabe ao governo decidir o que é importante para as pessoas consumirem, mas que esta escolha cabe a elas próprias. “Por que o perfume não é um produto tão importante quanto a cesta básica para os mais pobres? Não é o governo que tem que dizer isso, mas hoje é assim que é.”

Estados

O secretário garantiu que todos os Estados vão ganhar arrecadação em duas décadas com a implantação da reforma tributária. De acordo com ele, são “pouquíssimos” os municípios que sairão perdendo, mas que isso ocorre por causa de distorções existentes hoje.

Essas cidades, conforme Appy, são geralmente muito pequenas e têm uma forte arrecadação com ISS porque conta, por exemplo, da instalação de uma refinaria em seu território. “São erros, na verdade. Não faz sentido”, disse.

Ele afirmou que o município que mais recebe ISS conta com uma receita de R$ 14 mil per capita. Ao mesmo tempo, o que menos arrecada é de R$ 65 por habitante. “Não faz sentido um País com uma distribuição tão diferente dessas”, comparou.

Ao final de sua explanação, o secretário reafirmou que a aprovação da reforma é um “jogo de ganha ganha” e que terá impacto muito grande sobre o PIB.

Interferência para quem consome ou produz

Bernard Appy também que a tributação não pode ser um dos pontos de interferência na escolha de quem consome ou quem produz. “Numa decisão sobre alugar ou comprar carro, por exemplo. Num mundo sem imposto, você toma a decisão. O imposto não pode interferir nessa decisão, não pode distorcer o que for melhor do ponto de vista de preços relativos”, disse.

Appy repetiu que, quanto mais exceções forem adicionadas à reforma tributária, maior será a dificuldade de classificação dos produtos.

Ele também voltou a dizer que é preciso tomar cuidado com o que se chama de “serviços”. A maior gritaria contra a reforma tem sido exatamente desse setor produtivo, que teme pagar mais tributos aos governos com a reforma tributária. “É bom tomar cuidado porque podemos errar na mão”, alertou.

O secretário comentou ainda que, atualmente, é impossível saber qual é o imposto que foi pago em um produto ou serviço, porque não é de conhecimento o total de incidências ao longo da cadeia produtiva tamanha a complexidade do sistema tributário doméstico. Além disso, ele comentou que a incidência de impostos sobre impostos é uma jabuticaba, já que só ocorre em solo brasileiro.

Abertura para construção do melhor modelo

Appy disse também o Ministério da Fazenda está aberto para a construção do melhor modelo tributário para o País. Na semana que vem, a FPE fará um encontro com secretários de Fazenda dos Estados para também discutir a reforma tributária.

Ele voltou a dizer que os textos dos projetos que tramitam no Congresso – o PL 45, na Câmara e o 110, no Senado – são muito próximos, com a principal diferença sendo a divisão do imposto entre Estados e União no caso do Senado, conhecido como IVA (Imposto sobre Valor Agregado) Dual.

Aos parlamentares e empresários, o secretário afirmou que o regime tributário nacional é complexo porque tem muitas regras e, mais do que isso, conta com muitas exceções. “A complexidade tem custo, o litígio tem custo também e gera insegurança jurídica, que reduz investimentos”, afirmou.

A FPE insiste na necessidade da desoneração da folha de pagamentos para todos os setores permanentemente. De acordo com a Frente, o Brasil é o País com maior tributação e subsídios sobre a folha no mundo.

A entidade divulgou um quadro comparativo, citando a Brasscom como fonte, que revela que a incidência doméstica é de 27,8%, seguida por 20,4% na Argentina, 18,1% na Hungria, 13,8% na Alemanha, 12,3% no Japão, 12,05% na Índia, 10,6% na Austrália, 9,8% no México e 8,8% na Coreia do Sul.

Para o Brasil, o cálculo levou em conta tributos de 22% (INSS patronal de 20% e Seguro de Acidente de Trabalho de 2%) e uma taxa de 5,8% de terceiros com os subsídios para o Sistema S, entre outros.


São Martinho mira novos negócios e investe R$ 150 mi em centro de inovação

Empresas | Monitor do Mercado

 

 

Com o objetivo de criar novos produtos e negócios e otimizar as operações de açúcar, etanol e bioenergia, a São Martinho inaugura, em Pradópolis (SP), um Centro de Inovação dedicado ao desenvolvimento de soluções tecnológicas em parceria com startups, empresas e universidades. A companhia investiu mais de R$ 150 milhões para levar conectividade aos 350 mil hectares de lavoura de cana-de-açúcar das quatro usinas no Brasil e pretende utilizar a capacidade de gerenciar suas operações de forma online e em tempo real como matéria-prima para o hub.

Em entrevista, o vice-presidente e superintendente Agroindustrial da companhia, Agenor Cunha Pavan, detalhou o projeto e ressaltou que a iniciativa poderá, até mesmo, favorecer a interação da empresa com agentes financiadores. “Quando houver interesse em investimentos, certamente, seremos olhados como uma iniciativa inovadora diferenciada”, afirmou o executivo.

O Centro de Inovação da São Martinho é um prédio instalado na principal unidade da companhia, considerada a maior planta processadora de cana-de-açúcar em operação do mundo, com moagem de 10 milhões de toneladas por safra.

No local, além das áreas de Gestão da Inovação, Ambiental, Sustentabilidade, Melhoria Contínua, Tecnologias Agroindustriais e Projetos, uma central de operações controla as atividades agrícolas e industriais das quatro unidades da empresa por meio de monitores com dados em tempo real. Por trás das telas, a São Martinho também contratou profissionais específicos para trabalhar nesse novo segmento da empresa, como especialistas em transformação digital e desenvolvedores de tecnologia.

A ideia do Centro de Inovação derivou de um planejamento estratégico da companhia elaborado para até 2030. Segundo Pavan, a São Martinho decidiu mirar no desenvolvimento de tecnologias e em novos negócios e, para atingir o objetivo, aproveitou sua “essência inovadora”. “O fato de termos um processo de inovação bastante estruturado abriu muitas portas alguns anos atrás para financiar nossa conectividade”, explicou o vice-presidente. “Queremos capitalizar essa conectividade em novos negócios, principalmente na frente digital”, completou.

A companhia vem investindo em transformação digital desde 2015, com a implantação de redes 4G nas usinas, em parceria com empresas como CNH Industrial, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e Tim. Entre 2018 e 2021, instalou também Centrais de Operações Agrícolas (COA) em todas as unidades da companhia, para monitorar as atividades. No último ano, a São Martinho começou a ativação da rede 5G com auxílio da Ericsson, Vivo e Tim e desenvolveu, ainda, uma plataforma de big data com a KPMG e a Microsoft para o gerenciamento dos dados. “Podemos sistematizar esse conhecimento agronômico e industrial na forma de algoritmos de inteligência artificial”, definiu Pavan.

O executivo afirma que um dos grandes objetivos da empresa com o hub é garantir a produção de carbono renovável com a máxima eficiência e o menor custo do mercado. Para isso, espera captar startups, principalmente com o auxílio Cubo Agro, e desenvolver soluções que favoreçam a logística das operações, a manutenção dos equipamentos e a agricultura de precisão (com o controle da adubação, de pragas e de bioinsumos).

O Cubo Agro, do qual a São Martinho foi uma das sócias-fundadoras, é derivado do Cubo Itaú e fomenta o empreendedorismo tecnológico do setor. “Em um ano, mais de 30 startups estiveram sob a nossa curadoria e a ideia é pinçar para dentro de casa aquelas que tiverem qualidade e alinhamento com nosso planejamento estratégico”, ressaltou Pavan. Além do Cubo, a São Martinho também é associada à ibiTech de Israel, à Enrich da Europa, à Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), entre outras iniciativas que devem se tornar parceiras do Centro de Inovação em breve.

‘Taxa de juros do Brasil é ‘chocante’ e equivale a ‘pena de morte’’, diz Stiglitz, Nobel de economia

Professor da Universidade Columbia, economista americano é crítico da política monetária que usa juros para conter inflação sem observar efeitos nocivos sobre investimento

 

Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel de economia em 2001 e professor da Universidade Columbia (EUA), definiu a taxa básica de juros Brasil como “chocante” e equivalente a uma “pena de morte”, a qual o País tem sobrevivido em função da atuação de bancos públicos.

O nobel de Economia, Joseph Stiglitz, durante seminário internacional realizado na sede do BNDES
O nobel de Economia, Joseph Stiglitz, durante seminário internacional realizado na sede do BNDES Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Stiglitz fez a avaliação nesta segunda-feira, 20, em palestra no seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI”, promovido pelo BNDES em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na sede do banco de fomento, no Rio.

Crítico da política monetária que usa juros para conter a inflação sem observar efeitos nocivos sobre investimento, Stiglitz fez duras críticas à condução do Banco Central (BC) brasileiro nos últimos anos, mas sem mencionar diretamente a autoridade monetária. “Um Banco Central independente e com mandato só para inflação não é o melhor arranjo para o bem-estar do País como um todo”, disse o economista.

“A taxa de juros de vocês (Brasil) é de fato chocante. Uma taxa de 13,7% (a taxa básica Selic está estacionada em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado), ou 8% real (quando descontada a inflação esperada), é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte. E parte da razão disso é que vocês têm bancos estatais, como o BNDES, oferecendo fundos a empresas produtivas para investimentos de longo prazo com juros menores”, afirmou Stiglitz.

O economista afirmou que, se o Brasil tivesse política monetária mais razoável, teria tido crescimento bem maior que o registrado nas últimas décadas. Isso porque os juros altos da economia teriam desencorajado investimentos, inclusive os ora necessários para promover uma transição verde na economia, capaz de levar o Brasil da posição de exportador de commodities (matérias-primas negociadas globalmente) para uma economia industrial relevante no cenário internacional.

“A necessidade de se adaptar à transição verde e reduzir a desigualdade torna ainda mais urgente buscar modelos econômicos alternativos. As questões do Brasil são mais urgentes do que em outros países ao redor do mundo. O Brasil sempre foi descrito como o país do futuro, mas o futuro continua sempre deixado para o futuro”, afirmou Stiglitz.

O economista americano apontou uma piora do cenário da economia brasileira nos últimos quatro anos, quando o País teve um “presidente não indutor de crescimento econômico”, em referência ao governo Jair Bolsonaro (PL). Segundo Stiglitz, as taxas de crescimento seguiram deprimidas enquanto desemprego e informalidade se mantiveram em níveis altos, de 13% e 40% respectivamente, com queda na renda das famílias.

Em entrevista a jornalistas após a palestra, Stiglitz voltou a criticar o governo Bolsonaro. Em parte por causa disso, é possível ser otimista em relação ao sucesso da política econômica do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“A política econômica anterior foi um desastre. Acho que qualquer pessoa que olhe para a transição entre Bolsonaro e Lula fica muito otimista. Até porque os dois governos anteriores de Lula foram muito bons economicamente”, disse Stiglitz, ponderando, por outro lado, que o mundo está em situação mais difícil do que nos dois governos anteriores do petista e que há problemas graves deixados pelo governo anterior.

O economista exaltou ainda a possibilidade de o novo governo retomar políticas de distribuição de renda. Stiglitz disse que, até o meio da década passada, o Brasil era um dos países onde a desigualdade caía, enquanto, no resto do mundo, subia, um avanço interrompido pelos últimos governos.

”Mas, agora, você toma conhecimento de políticas para o aumento do salário mínimo, o que vai ajudar a melhorar a distribuição de renda. Há, portanto, uma visão que claramente não existia antes”, afirmou o vencedor do Nobel.

Inflação no mundo

Na palestra, Stiglitz comentou o cenário econômico global e disse que a discussão dominante no debate público brasileiro, sobre juros, também acontece nos EUA, a despeito dos juros em níveis bem mais baixos. Para o economista, há reprodução do erro de perseguir meta de inflação com alta de juros.

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Na visão de Stiglitz, a inflação americana e mundial não advêm de pressões de demanda, mas está diretamente ligada à pandemia e, agora, a consequências da guerra na Ucrânia, como a alta das cotações do petróleo. Nesse quadro, taxas de juros crescentes em diferentes países do mundo pioram o problema, porque impedem investimentos, por exemplo, em habitação.

“Uma fonte de inflação importante é a indústria de óleo e gás e alimentos. Outra fonte tem sido habitação. Mas as taxas de juros recentes não resolvem nenhum desses problemas. Como isso (taxas mais altas) vai trazer mais petróleo e mais gás? A resposta é que claramente não é possível”, disse o economista americano.

Segundo Stiglitz, o efeito mais direto dessa recente escalada de juros nos EUA e no mundo é a criação de barreiras ao investimento, inclusive em áreas críticas, como habitação, além de uma “redistribuição de dinheiro dos pobres aos ricos”. “As altas taxas de juros exacerbam problemas de desigualdade, como o do Brasil”, disse Stiglitz, acrescentando que aumentos de juros também elevam os gastos com a dívida pública, problema ainda maior para países com maior taxa de endividamento.

Ex-integrante da equipe econômica no governo do ex-presidente americano Bill Clinton, Stiglitz foi também economista-chefe do Banco Mundial. Em 2001, ele dividiu o Prêmio Nobel de economia com os também americanos George Akerlof e Michael Spence, em reconhecimento ao trabalho dos três sobre a “assimetria de informações” nas relações de mercado. Conforme a justificativa informada pelo prêmio Nobel, Stiglitz concentrou suas pesquisas no que indivíduos e operadores podem fazer pela melhorar sua situação em mercados com assimetria de informações, a partir de um estudo de caso do mercado de seguros.

 

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Wall St abre em alta com alívio de temores sobre bancos e foco no Fed


Wall St abre em alta com alívio de temores sobre bancos e foco no Fed

Placa em frente à Bolsa de Valores de Nova York sinaliza Wall Street


(Reuters) – Os principais índices de Wall Street abriram em alta nesta terça-feira, com o resgate do Credit Suisse acalmando o nervosismo sobre uma crise bancária maior, enquanto os investidores aguardavam o resultado da reunião de política monetária do Federal Reserve.

O Dow Jones subia 0,55% na abertura, para 32.420,71 pontos. O S&P 500 abriu em alta de 0,62%, a 3.975,89 pontos, enquanto o Nasdaq Composite ganhava 0,76%, para 11.764,79 pontos.

(Reportagem de Amruta Khandekar)

 

O enriquecimento do Nordeste está à mão

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Políticas regionais de estímulo econômico precisam ser combinadas a aperfeiçoamentos na educação, nas instituições e em políticas nacionais que beneficiarão regiões mais pobres
 
 
Por Notas & Informações/Estadão
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) anunciou a inauguração neste semestre do Centro de Desenvolvimento do Nordeste. Essa bem-vinda iniciativa suscita oportunidades de relembrar as riquezas nordestinas, diagnosticar as razões de seu desperdício e investigar remédios para corrigi-lo.
Os nove Estados do Nordeste cobrem 18% do território nacional e abrigam 28% dos brasileiros. Entre 2002 e 2020, o PIB nordestino respondeu por 13,6% do PIB nacional. Nesse período, a economia teve um desempenho comparativamente bom, sobretudo em razão do setor de serviços. Enquanto o PIB nacional cresceu, em média, 2% ao ano, o do Nordeste cresceu 2,2%.
Mas isso não foi suficiente para superar uma defasagem histórica. O PIB per capita nordestino ainda é o menor do País. Todos os nove Estados figuram entre os dez menores níveis do Brasil. A pandemia expôs fragilidades estruturais. No biênio 2021-22, enquanto o Brasil cresceu 8%, o Nordeste cresceu só 7%, sobretudo pelo baixo desempenho da indústria de transformação, particularmente afetada pelo fechamento da fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia.
O desafio do desenvolvimento do Nordeste exige ponderar suas diversidades. Bahia, Pernambuco e Ceará concentram 62% do PIB. “Temos o Semiárido, a Caatinga, a Zona da Mata, o Recôncavo Baiano”, lembrou o pesquisador do Ibre Flávio Ataliba. Entre as vantagens comparativas da região, ele aponta a geração de energia eólica, além de potencialidades locais, como a agropecuária no Maranhão e no Piauí, serviços no Ceará ou a indústria na Bahia e em Pernambuco. Sem dúvida, como disse Ataliba, “qualquer estratégia de desenvolvimento precisa ser pensada examinando todas essas características”. Mas nesse exame é crucial tirar as lições da história.
“Desde meados do século 20, o governo federal executa políticas de desenvolvimento regional voltadas a elevar a renda per capita do Norte e Nordeste e também do Centro-Oeste”, apontou o economista do Insper Marcos Mendes em um estudo sobre a desigualdade regional. “O custo dessas políticas é alto e os resultados pouco expressivos. Por outro lado, há políticas públicas não relacionadas à questão regional que atuam na direção contrária, concentrando benefícios no Sul e Sudeste, ou impondo custos ao N e NE.”
Com base no diagnóstico de que a causa do atraso estaria na falta de condições para a industrialização, as políticas regionais focaram majoritariamente em subsídios e incentivos fiscais para a indústria. Os custos foram elevados – somadas as três regiões, Norte, Nordeste e Centro-Oeste, da ordem de 0,5% do PIB ao ano, o equivalente a R$ 50 bilhões hoje –, mas o efeito para a convergência da renda per capita aos níveis do Sul e Sudeste foram, como se sabe, pífios.
O problema não está tanto nessa política em si, mas na negligência de outras que lhe dariam condições de sustentabilidade. Quanto desse dinheiro não teria produzido resultados mais robustos em termos de geração de empregos e renda se tivesse sido investido diretamente nas pessoas, ou seja, em educação e capital humano? Quanto não teria sido mais bem empregado se condicionado a reformas de máquinas públicas regionais ineficientes e sujeitas à captura de interesses privados e corrupção, herança dos latifúndios escravocratas e sua cultura de privilégios?
O estudo de Mendes analisa – além da educação pública, prioritária – seis casos de políticas “não regionais” que poderiam ser aprimoradas: reformas da Previdência (para melhor incluir os informais e mais pobres), do Fundo de Participação dos Municípios (para corrigir o subfinanciamento das cidades médias e periferias), da tributação do consumo (para aumentar a arrecadação dos Estados menos industrializados), das políticas sociais (para conter o vazamento de recursos para famílias de renda média e alta) e redução de benefícios tributários e de proteções comerciais (para eliminar privilégios corporativos). Aperfeiçoamentos como esses trariam o duplo bônus de melhorar as perspectivas para todo o País e de reduzir desigualdades regionais.
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Precisamos de um plano estratégico para reindustrializar o país, diz Robson Andrade

 


Em entrevista às páginas amarelas da revista VEJA, presidente da CNI defende que governo priorize a reforma tributária e a implementação de uma política industrial



Engenheiro e empresário na área de fornecimento de energia, o mineiro Robson Braga de Andrade, 75 anos, se vale de seu posto à frente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para combater uma das mazelas brasileiras: o desmonte do setor fabril nacional.

Frente à diminuição da atividade industrial desde a década de 90, fenômeno refletido na participação da indústria no PIB do país, ele defende um empenho maior do governo no assunto, que em sua opinião foi abandonado na gestão de Jair Bolsonaro.


"A indústria não quer subsídio, ela quer política e incentivo. Quando falamos em incentivo para a indústria, existem diversas ações além do subsídio que o governo pode realizar", disse Andrade em entrevista a VEJA.


Para ele, apesar das dificuldades, a nomeação do vice-presidente Geraldo Alckmin como ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) foi uma medida positiva e pode mudar um cenário, até agora, desalentador. A seguir, os principais trechos da conversa.

REVISTA VEJA - O governo do presidente Lula fala muito sobre a necessidade de reindustrialização do país. Por que a indústria perdeu tanto espaço?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - Desde o final dos anos 1990 os governos não têm planos de longo prazo. Temos discutido a necessidade da retomada de um planejamento que faça a indústria brasileira dar um salto de competitividade, de produtividade, de participação no mercado internacional e nunca conseguimos.

O governo de Fernando Henrique Cardoso considerava que a política industrial não era importante, tinha a visão de que se uma indústria morre, vem outra depois. Algo que não ocorre em nenhum lugar do mundo. Nas grandes economias, planos industriais são política de Estado e ultrapassam a gestão de governos.

Um exemplo claro disso é a China. Na década de 70, Deng Xiaoping fez um planejamento do país com pilares de desenvolvimento industrial, ciência, tecnologia e economia de mercado. Isso continua até hoje. Enquanto isso, o Brasil veio capengando.

REVISTA VEJA - Qual o principal problema da indústria nacional?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - A falta de competitividade. Isso foi se agravando por problemas internos brasileiros, como infraestrutura deficiente e a complexidade do sistema tributário. Além das questões domésticas, a globalização fez com que as nossas empresas competissem com rivais muito mais preparados, um grande fator de desindustrialização. Na década de 80, a indústria chegou a ter participação de até 48% do PIB. Hoje é de 24%.

REVISTA VEJA - O senhor citou a globalização, mas hoje vemos um processo contrário, em que as grandes economias estão trazendo de volta setores produtivos que haviam sido repassados a outros países. Como o Brasil está inserido nesse contexto?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - Isso é a decorrência direta da Covid-19 e da guerra na Ucrânia. A pandemia desestruturou as cadeias globais e o conflito no Leste Europeu piorou a situação. A China fechou completamente. Ficamos sem componentes importantes, como os chips, tivemos redução de insumos farmacêuticos.

Essa desorganização fez com que vários países enfrentassem o problema do desemprego e da inflação. A solução vislumbrada pelas grandes economias foi voltar a investir na indústria. A Alemanha tem um programa de desenvolvimento monstruoso, os Estados Unidos começaram a estimular suas empresas a não ser tão dependentes da China.

Esse movimento ocorre porque é a indústria que paga os melhores salários, que desenvolve tecnologia e inovação. No Brasil, as pessoas começam a perceber que, se o país não focar no setor, não vai ter como competir no mundo.

REVISTA VEJA - E como o país pode se preparar para essa transição?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - Nós temos uma oportunidade única nesse momento. O problema é que o Brasil é campeão em perder oportunidades. Tomara que isso não aconteça desta vez. Temos caminhos para atrair capital em diversos setores, como no complexo da saúde, na indústria da defesa, em tecnologia da informação, inteligência artificial, em infraestrutura, economia de baixo carbono.

O que separa essas oportunidades da realidade é que quem investe sempre estima o risco que corre. Há muita insegurança jurídica no país, mudanças de posicionamentos e prioridades, e isso assusta o investidor. Precisamos ter segurança e equilíbrio para trazer esse capital.

REVISTA VEJA - Como é possível melhorar esse cenário a curto prazo?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - As reformas são fundamentais. A mudança na legislação tributária é urgente. No ano passado, por exemplo, a CNI teve a oportunidade de fazer um encontro com empresários japoneses.

Mas como é que se explica para um japonês o funcionamento do sistema tributário brasileiro? É impossível. Não há uma lógica. Precisamos fazer algumas mudanças, e de forma rápida, porque nosso cenário é complicado.

REVISTA VEJA - O governo Lula recriou o Ministério do Desenvolvimento e Indústria, e nomeou o vice-presidente Geraldo Alckmin. Como tem sido o diálogo com o novo ministro?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - A CNI sempre foi contra a postura do governo do presidente Bolsonaro de ter acabado com o Ministério do Desenvolvimento e Indústria. O ministro Paulo Guedes criou um monstro e acabou engolido por ele, porque não conseguia dar conta de todas as áreas.

Antes disso, nós tivemos bons ministros do Desenvolvimento, mas a pasta sempre teve pouca autonomia, tendo de passar muito pela Casa Civil, Fazenda, Planejamento. Nesse sentido, a nomeação de Alckmin é muito positiva. Por ser vicepresidente, ele não precisa ficar pedindo amém a outros ministros. É uma vantagem fantástica, ele pode endereçar os assuntos. Além disso, o Alckmin entende a raiz do desenvolvimento.

É claro que nós temos no país problemas sociais enormes que precisamos superar. Mas temos de fazer duas coisas: combater os problemas sociais e estimular o desenvolvimento econômico. A única forma de resolver os problemas sociais é gerando emprego e renda. É isso que dá dignidade às pessoas.

REVISTA VEJA - E como estão as conversas do setor com o Alckmin?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - O vice-presidente está empenhado em analisar e aprofundar questões como a reforma tributária, regulamentação, inovação, tecnologia. Há a visão da importância dos acordos internacionais para que o Brasil participe muito mais do comércio global.

O Alckmin tem defendido uma política industrial de longo prazo, que foque no futuro de maneira consistente. A indústria não quer subsídio, ela quer política e incentivo. Quando falamos em incentivo para a indústria, existem diversas ações além do subsídio.

O Brasil investe muito pouco em inovação e tecnologia, e quase 70% dos investimentos nessa área são privados. É preciso que se tenha financiamento para esses investimentos.

REVISTA VEJA - O que pode melhorar a partir da estrutura e dos mecanismos que já existem?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - É preciso fazer com que a inovação seja estratégia de desenvolvimento de qualquer empresa, seja ela pequena ou grande, mas é algo que precisa estar na ponta desse planejamento.

Nós temos, por exemplo, a Embrapii, empresa pública de fomento à inovação industrial inspirada na Embrapa, um dos pilares da evolução agrícola do país. Ela foi criada com o apoio do então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e do ministro da Ciência e Tecnologia na época, Aloizio Mercadante, hoje à frente do BNDES.

Uma das propostas que fiz ao presidente Lula é a de que a Embrapii fique no Ministério do Desenvolvimento, da mesma forma que a Embrapa atua junto com o da Agricultura. Não conseguimos, mas esperamos que a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, tenha a visão de que a Embrapii precisa de recursos e batalhe por eles.

O que não pode é acontecer como no ano passado, em que, do orçamento previsto para a inovação de 9 bilhões de reais, foram liberados 5,5 bilhões.

REVISTA VEJA - Nas gestões anteriores do PT, houve equívocos como a política de campeões nacionais. Qual é o papel de instituições como o BNDES na indústria?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - O BNDES é importantíssimo, e não estou falando do financiamento de infraestrutura. Me refiro ao financiamento dos investimentos em ciência e tecnologia. Não temos no Brasil políticas de financiamento de longo prazo para investimento, tanto que, dos investimentos empresariais no país, quase 80% são feitos com recursos do investidor.

E se não tiver esse investimento, dificulta. Porque aí você começa a tomar financiamento a juros elevados para financiar o seu capital de giro e torna os custos muito mais altos. O BNDES precisa financiar os investimentos produtivos no Brasil. Tenho certeza de que o presidente Mercadante entende essa necessidade.

REVISTA VEJA - O que seriam esses investimentos produtivos a que o senhor se refere?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - A tecnologia, a inovação, a ciência. E também o financiamento de exportações. Nos governos do presidente Lula, houve muitos investimentos para as exportações, algo que foi muito questionado. É claro, pode-se ter cometido excessos, mas a inadimplência dos países que foram financiados é muito pequena.

Quando converso com empresários e autoridades chineses, eles falam que, se o Brasil não financiar a exportação de produtos manufaturados, não vai ter exportação desses itens. O país não tem um sistema garantidor de exportações para micros e pequenas empresas. O BNDES tem mecanismos para isso, e não seria colocando recursos do Tesouro.

REVISTA VEJA - Qual é a escala de prioridades para o setor industrial?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - A reforma tributária é fundamental porque ela é peça-chave para trazer investimentos ao Brasil. O vice-presidente Alckmin tem quatro mandatos como governador de São Paulo, você olha a infraestrutura de São Paulo e compara com a de qualquer outro estado, a de São Paulo é muito melhor.

O vice-presidente fez as mudanças no estado via concessões e parcerias público-privadas, e esse é um caminho que precisamos perseguir. O governo investe cerca de 0,6% do PIB em infraestrutura. Para recuperar nossa infraestrutura seria preciso investir algo em torno de 4%, se formos considerar apenas recursos públicos.

A União não tem isso. Por outro lado, há muito recurso disponível no mundo em busca de infraestrutura. Precisamos de bons projetos para atrair o capital estrangeiro necessário, e para isso é preciso ter esse arcabouço.

REVISTA VEJA - Em 2022, a indústria cresceu 1,6%, porém no último trimestre do ano passado recuou 0,3%. Essa tendência também é vista no resultado geral do PIB. Como o senhor projeta o comportamento da economia brasileira neste ano?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE - Acho que o Brasil vai ter dificuldades de crescimento. Apesar de termos uma superprodução de produtos agrícolas, o peso do agro nas exportações é de cerca de 20%. Então, por nossas contas o PIB ficará abaixo de 2%. Os juros são exorbitantes. Com inflação em cerca de 6%, temos a Selic em 13,75%, sem contar que o juro da indústria chega a quase 20%. Assim fica muito difícil produzir. 

sexta-feira, 17 de março de 2023

Amazônia terá veículo sustentável, mais rápido e barato, um "barco voador"


Startup testa o equipamento em lagoa do Instituto Tecnológico Aeronáutica (ITA) no interior de SP

 

O Volitan será seis vezes maior do que o protótipo | Divulgação / ITA

O Volitan será seis vezes maior do que o protótipo | Divulgação / ITA

O desafio de se locomover pela região Norte do país, que tem poucas estradas e muitos rios, pode ter uma nova era. Em vez dos moradores dependerem apenas das balsas, catamarãs e barcos, que são lentos e oferecem poucas opções de horário, ou dos aviões, com passagens caras, podem ter a opção de um "barco voador".

Com casco de lancha e asa de avião, o Volitan é uma aposta da startup AeroRiver, incubada no Instituto Tecnológico Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP). É lá que, inclusive, testes já estão sendo feitos -- como mostra a foto com o equipamento na lagoa no ITA.

O ecranoplano, como é chamado tecnicamente, tem crédito com os cientistas por oferecer, exatamente, as soluções necessárias àqueles problemas. É rápido tanto na água quanto no ar. Também tem maior capacidade de carga e consome 40% menos energia em comparação a um avião comercial.

O teste é feito com um veículo seis vezes menos que o projetado. O oficial terá 18 metros de comprimento. Para construí-lo, a AeroDriver captou R$ 2 milhões de investidores-anjo. O objetivo é conquistar R$ 10 milhões para preparar o lançamento até dezembro desse ano.

 

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