Políticas
regionais de estímulo econômico precisam ser combinadas a
aperfeiçoamentos na educação, nas instituições e em políticas nacionais
que beneficiarão regiões mais pobres
Por Notas & Informações/Estadão
O
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre)
anunciou a inauguração neste semestre do Centro de Desenvolvimento do
Nordeste. Essa bem-vinda iniciativa suscita oportunidades de relembrar
as riquezas nordestinas, diagnosticar as razões de seu desperdício e
investigar remédios para corrigi-lo.
Os
nove Estados do Nordeste cobrem 18% do território nacional e abrigam
28% dos brasileiros. Entre 2002 e 2020, o PIB nordestino respondeu por
13,6% do PIB nacional. Nesse período, a economia teve um desempenho
comparativamente bom, sobretudo em razão do setor de serviços. Enquanto o
PIB nacional cresceu, em média, 2% ao ano, o do Nordeste cresceu 2,2%.
Mas
isso não foi suficiente para superar uma defasagem histórica. O PIB per
capita nordestino ainda é o menor do País. Todos os nove Estados
figuram entre os dez menores níveis do Brasil. A pandemia expôs
fragilidades estruturais. No biênio 2021-22, enquanto o Brasil cresceu
8%, o Nordeste cresceu só 7%, sobretudo pelo baixo desempenho da
indústria de transformação, particularmente afetada pelo fechamento da
fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia.
O
desafio do desenvolvimento do Nordeste exige ponderar suas
diversidades. Bahia, Pernambuco e Ceará concentram 62% do PIB. “Temos o
Semiárido, a Caatinga, a Zona da Mata, o Recôncavo Baiano”, lembrou o
pesquisador do Ibre Flávio Ataliba. Entre as vantagens comparativas da
região, ele aponta a geração de energia eólica, além de potencialidades
locais, como a agropecuária no Maranhão e no Piauí, serviços no Ceará ou
a indústria na Bahia e em Pernambuco. Sem dúvida, como disse Ataliba,
“qualquer estratégia de desenvolvimento precisa ser pensada examinando
todas essas características”. Mas nesse exame é crucial tirar as lições
da história.
“Desde
meados do século 20, o governo federal executa políticas de
desenvolvimento regional voltadas a elevar a renda per capita do Norte e
Nordeste e também do Centro-Oeste”, apontou o economista do Insper
Marcos Mendes em um estudo sobre a desigualdade regional. “O custo
dessas políticas é alto e os resultados pouco expressivos. Por outro
lado, há políticas públicas não relacionadas à questão regional que
atuam na direção contrária, concentrando benefícios no Sul e Sudeste, ou
impondo custos ao N e NE.”
Com
base no diagnóstico de que a causa do atraso estaria na falta de
condições para a industrialização, as políticas regionais focaram
majoritariamente em subsídios e incentivos fiscais para a indústria. Os
custos foram elevados – somadas as três regiões, Norte, Nordeste e
Centro-Oeste, da ordem de 0,5% do PIB ao ano, o equivalente a R$ 50
bilhões hoje –, mas o efeito para a convergência da renda per capita aos
níveis do Sul e Sudeste foram, como se sabe, pífios.
O
problema não está tanto nessa política em si, mas na negligência de
outras que lhe dariam condições de sustentabilidade. Quanto desse
dinheiro não teria produzido resultados mais robustos em termos de
geração de empregos e renda se tivesse sido investido diretamente nas
pessoas, ou seja, em educação e capital humano? Quanto não teria sido
mais bem empregado se condicionado a reformas de máquinas públicas
regionais ineficientes e sujeitas à captura de interesses privados e
corrupção, herança dos latifúndios escravocratas e sua cultura de
privilégios?
O
estudo de Mendes analisa – além da educação pública, prioritária – seis
casos de políticas “não regionais” que poderiam ser aprimoradas:
reformas da Previdência (para melhor incluir os informais e mais
pobres), do Fundo de Participação dos Municípios (para corrigir o
subfinanciamento das cidades médias e periferias), da tributação do
consumo (para aumentar a arrecadação dos Estados menos
industrializados), das políticas sociais (para conter o vazamento de
recursos para famílias de renda média e alta) e redução de benefícios
tributários e de proteções comerciais (para eliminar privilégios
corporativos). Aperfeiçoamentos como esses trariam o duplo bônus de
melhorar as perspectivas para todo o País e de reduzir desigualdades
regionais.
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