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SÃO PAULO (Reuters) – O otimismo em relação ao cenário de
inflação e de juros no Brasil, somado ao ambiente positivo no exterior,
fez o dólar estender as perdas ante o real nesta quarta-feira, com a
moeda norte-americana atingindo o menor valor de fechamento desde junho
do ano passado.
Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos informou
que o índice de preços ao consumidor subiu 0,1% no mês passado,
desacelerando após avançar 0,4% em fevereiro. O resultado elevou a
expectativa de que o Federal Reserve não seja agressivo em sua próxima
decisão de política monetária, o que deu força a ativos de maior risco,
como o real.
No Brasil, permaneceu no mercado o otimismo com o controle da
inflação, após dados favoráveis do Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) na terça-feira, e em relação ao novo arcabouço fiscal. O
resultado foi mais um dia de pressão de baixa para a moeda
norte-americana.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 4,9408 reais na venda, em baixa
de 1,34%. Esta é a menor cotação desde 9 de junho de 2022, quando havia
fechado em 4,9166 reais. Desde junho do ano passado o dólar não
encerrava abaixo de 5 reais.
Na B3, às 17:21 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,42%, a 4,9530 reais.
Nas últimas semanas, avaliações positivas sobre o novo arcabouço
fiscal já vinham retirando força do dólar ante o real, com investidores
vendo risco menor de descontrole da dívida pública no Brasil.
Na sessão de terça-feira, a divulgação de dados favoráveis do IPCA
–que subiu 0,71% em março, ante 0,84% em fevereiro– e a percepção de que
o novo arcabouço fiscal pode ser mais robusto já haviam levado o dólar a
recuar mais de 1%.
Nesta quarta-feira, o otimismo continuou, inclusive com o auxílio do exterior.
“O índice de preços dos EUA veio benigno, a inflação está cedendo e o
Federal Reserve deve fazer apenas mais um aumento de juros. Aqui no
Brasil, o dólar estava exagerado em função das dúvidas em relação ao
governo. Agora estamos vendo a moeda norte-americana abaixo de 5 reais”,
pontuou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria
Júnior.
“Como o juro americano está parando na faixa de 5% ao ano, e o Brasil
tem taxa de 13,75% ao ano, o juro real ficará muito elevado ainda. Por
enquanto, ainda teremos um diferencial de câmbio bastante elevado”,
acrescentou Faria Júnior.
Este diferencial de juros tem favorecido a entrada de recursos no
Brasil, o que contribui para a queda das cotações. Com a expectativa
positiva em relação ao arcabouço, investidores também têm retirado nas
últimas semanas prêmios de risco dos preços, o que se traduz na queda do
dólar.
Profissionais ouvidos pela Reuters nos últimos dias têm afirmado que a
queda pode continuar, com a moeda norte-americana se estabilizando em
patamares ainda mais baixos, caso o andamento do novo arcabouço fiscal
seja favorável.
No exterior, o dólar também recuava nesta quarta-feira ante outras
divisas de países emergentes, embora o real fosse o destaque do dia.
Às 17:21 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da
moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– caía 0,57%, a
101,540.
Durante a tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial para o
Brasil na primeira semana de abril foi positivo em 2,553 bilhões de
dólares.
Mais cedo, o BC vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em rolagem.
(Por Fabrício de Castro)