Caminhão descarrega milho em Sorriso, Mato Grosso
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – Safras recordes e um elevado déficit de
armazenagem de grãos no Brasil têm pressionado os prêmios da soja e do
milho para níveis negativos em relação ao mercado internacional, o que
indica perdas para a cadeia produtiva do país de 30,5 bilhões de reais
em 2023, estimou nesta quinta-feira a consultoria Cogo Inteligência em
Agronegócio.
Das perdas totais, a soja responderia por cerca de 19 bilhões de
reais, e o milho, por 11,5 bilhões de reais, apontou a Cogo. Os valores
foram obtidos considerando os prêmios negativos –no caso da soja, os
piores em cerca de 20 anos– e os embarques já realizados e previstos
para os próximos meses.
Com a safra recorde, vendas lentas de produtores e um déficit de
armazenagem de 124 milhões de toneladas, considerando a colheita deste
ano estimada em 313 milhões de toneladas, houve a formação de uma
“tempestade perfeita”, notou o sócio-diretor da consultoria, Carlos
Cogo, durante um evento com jornalistas.
Além da questão estrutural (o déficit de armazenagem), ele chamou a atenção para o fator conjuntural.
“Os produtores venderam pouca soja antecipada no ano passado. Quando
chegou na colheita (deste ano) tinha menos de um terço da safra vendida,
o menor volume de vendas antecipadas nas últimas oito safras”, disse
ele, lembrando que a lentidão dos negócios esteve associada a uma alta
de custos que interferiu na estratégia dos agricultores.
Cogo observou que é natural que o prêmio em relação às cotações
negociadas na bolsa de Chicago seja menor na colheita, especialmente com
uma safra recorde como a brasileira.
Mas atribuiu à armazenagem uma importância preponderante, já que
agricultores poderiam segurar seus produtos nos armazéns, sem aceitar
qualquer preço, se houvesse capacidade.
Em abril, houve uma mínima recorde para os prêmios no Brasil, que
bateram -2,10 dólares por bushel, com a média do mês ficando em -1,90
dólar/bushel.
“Isso só tinha acontecido em 2004”, afirmou ele, acrescentando que
para embarques em maio os diferenciais estão em -1,50 dólar/bushel.
“Estamos com prêmios negativos até agosto, coisa que também não é
inédita, mas muito raro”, disse, lembrando que os diferenciais ficam
mais fracos para compensar problemas no carregamento, pagamento de
multas por atrasos nos embarques dos navios, tempo de espera nos portos,
entre outros fatores.
Ele disse que esse fator estrutural do déficit de armazenagem vai
permanecer e “mostrar sua pior face na colheita da safra de milho” –a
segunda safra cereal chega ao mercado entre junho e julho.
(Por Roberto Samora)