O
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta
quarta-feira, 18, que a inflação corrente tem surpreendido positivamente
no Brasil, sobretudo na parte qualitativa. “A parte de núcleos também
tem tido uma surpresa positiva”, comentou o banqueiro central, em evento
do Credit Suisse.
Campos
Neto destacou ainda que a inflação do Brasil tem se comportado melhor
do que a média global indicaria. Repetiu, ainda, que foi importante
manter o centro da meta de inflação em 3% para promover uma redução das
expectativas de IPCA de longo prazo.
O
presidente do BC salientou também que o Brasil tem juros reais altos,
mas que o diferencial em relação a outros países diminuiu ao longo dos
anos. Ainda repetiu que é necessário avançar na agenda de recuperação de
crédito.
“É um tema super importante, grande parte do
problema está no fato de a recuperação de crédito ser judicial”,
comentou Campos Neto.
O presidente do BC ainda destacou que
o Brasil é “disparado” o país que mais tem crédito direcionado, o que
mantém os juros altos.
“Não
é uma fala específica em relação ao que o BNDES está fazendo, ou ao que
um banco A, B ou C está fazendo”, afirmou Campos Neto. “Quando o
crédito direcionado caiu, o juro estrutural também caiu”, completou.
Desinflação nos debates internacionais
O
presidente do Banco Central disse também que questionamentos sobre o
caminho da desinflação à frente têm marcado debates internacionais,
incluindo as últimas reuniões do FMI, no Marrocos.
“Uma das
perguntas que surgiu muito nas reuniões internacionais é de onde vai
vir a desinflação daqui para a frente”, disse Campos Neto.
O
banqueiro central destacou que a inflação parou de cair em alguns
países, em parte devido ao aumento dos preços de energia. Esses fatores
levaram, inclusive, a um aumento nas projeções de inflação de alguns
países para 2024.
Campos
Neto salientou ainda que os preços do petróleo já sofriam “implicações”
do arranjo entre Arábia Saudita e Rússia mesmo antes do conflito entre
Israel e Hamas. Mas notou que grande parte dos países têm expectativas
de inflação entrando no intervalo da meta, sobretudo para 2024 e 2025.
Sobre
o Brasil, o presidente do BC voltou a destacar que a manutenção do
centro da meta em 3% foi importante para ancorar as expectativas. Campos
Neto disse ainda que os preços de alimentos continuam contribuindo para
a desinflação no País.
Precificação da curva de juros dos EUA
Campos
Neto disse ainda que a precificação da curva de juros norte-americana
tem sido o principal tema de política mundial global.
“Em
termos de política monetária, todos os olhos agora estão na precificação
da curva americana”, disse ele, acrescentando que este é um dos
primeiros momentos em que diversos países se referem ao tema da taxa de
juros americana como um dos principais fatores para determinar os juros
locais.
O
presidente do BC acrescentou que há dúvidas no curto prazo sobre se o
Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode voltar a
elevar os juros a partir de dezembro.
Sobre a curva,
destacou que há incerteza sobre se existe um componente fiscal no
aumento dos juros. “A grande pergunta é: será que tem alguma coisa de
fiscal nessa curva de juros americana ou é uma coisa técnica?”, disse,
lembrando que há dúvidas sobre o impacto de alguns programas fiscais nos
EUA, mas também que a China tem vendido títulos do Tesouro americano.