domingo, 17 de março de 2024

Natura vê melhores margens na Avon International enquanto estuda cisão

 


Como consequência das medidas de otimização operacional nos últimos dois anos, a Avon International mostrou evolução das margens. A margem Ebitda (sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustada da unidade de negócios ficou em 11,3% no quarto trimestre de 2023, um aumento de 550 pontos porcentuais em relação ao mesmo período de 2022. A margem Ebitda é um indicador da rentabilidade operacional de uma empresa.

A potencial cisão da unidade de negócios da Natura &Co, para uma eventual listagem em separado, porém, não tem relação com a melhora das margens. A Natura &Co anunciou a possibilidade de uma cisão da Avon no começo de fevereiro. Os estudos estão em fases iniciais, explicou a companhia em coletiva, após a divulgação do balanço do último trimestre do ano passado.

No processo recente de mudanças na empresa, cada vertical ganhou mais autonomia, diz o CEO Fábio Barbosa. “Com isso, passamos a pensar que, se as unidades já estão independentes, por que elas não podem ter ações diferentes? Tem o investidor que quer investir na América Latina, mas na ação de Natura ele também tem exposição à Europa, Turquia. O estudo atual é pela ótica de conveniência ao investidor”, afirma. Ele aponta que o processo é ainda incipiente e ainda não há ideia de prazos. De qualquer maneira, o executivo afirma categoricamente que não há nenhum interesse em se desfazer da Avon.

O diretor financeiro Guilherme Castellan aponta que, ainda que as margens de Avon tenham melhorado, é muito difícil que a marca chegue ao patamar da marca Natura. “Vemos com bons olhos o trabalho que foi feito. Há grande potencial para maior extração de margem. Mas a Natura opera em segmento mais alto, vende produtos mais caros com margem bruta muito maior.”

Barbosa indica que, com uma condição um pouco mais confortável, a partir de agora haverá mais investimento em marketing para as marcas. “No caso da Avon International, isto será em alguns países, naqueles em que há maior potencial”, diz.

O plano de transformação na Natura começou há dois anos com a busca por maior eficiência. Esse objetivo vem sendo materializado, de acordo com a gestão, e o resultado do quarto trimestre de 2023 mostra isso. O processo está na chamada “Onda 2” de integração das marcas, após a aquisição da Avon em 2020. A companhia apresentou avanço sequencial na rentabilidade.

A margem Ebitda consolidada da Natura&Co ficou em 10,1% no trimestre passado, alta de 370 p.p. (ou +510 p.p. se excluído o efeito contábil da hiperinflação argentina). A melhora veio devido ao avanço da margem bruta e menores despesas gerais e administrativas, aponta o release de resultados da companhia.

Estrutura de capital

Castellan indica que a companhia vislumbra um ponto ótimo para estrutura de capital, que colocaria a alavancagem de uma vez a 1,5 vez de dívida líquida por Ebitda. “Não vamos chegar nisso da noite para o dia. As ações que tomamos no passado nos deram uma posição de caixa forte no final do ano. Temos prognóstico de geração de caixa no futuro. Isto já permite começar devagar a entrar na estrutura ótima de capital”, afirma.

Em linha com isto, a empresa anunciou dividendos referentes ao exercício social de 2023 no total de R$ 979,176 milhões.

Barbosa indica também que, com a condição um pouco mais confortável, a partir de agora haverá mais investimento em marketing para as marcas. “No caso da Avon Internacional, isso será em alguns países, naqueles em que há maior potencial”, diz.

Fitch projeta indicador de inadimplência estável em 2024 para grandes bancos, revela diretor

 


A dívida do Brasil está crescendo e não há trajetória clara de estabilização”, disse Todd Martinez, codiretor da equipe de ratings soberanos para as Américas da Fitch

O diretor sênior de Instituições Financeiras da Fitch Ratings, Claudio Gallina, afirmou que a agência espera que o indicador de inadimplência dos grandes bancos permaneça em 8,3% este ano, praticamente estável em relação aos 8,4% de 2023. “Vemos que o fluxo de entrada de créditos piores deve diminuir em 2024, apoiado em um nível de concessão de crédito mais restrito e nos grandes reconhecimentos de perdas”, afirmou.

Gallina disse que a recuperação de créditos deve ser um ponto de partida na qualidade de ativos e divergir entre os bancos, já que o perfil de crédito e apetite de risco é diferente entre eles.

Os comentários foram feitos na quinta-feira, 14, durante seminário online para discutir o relatório divulgado em fevereiro sobre quatro grandes bancos – Bradesco, Itaú, BTG Pactual e Banco do Brasil.

Ele mencionou ainda ter ouvido dos bancos comentários sobre redução na originação de consignado, linha mais barata em função de garantias, o que pode levar a uma busca das famílias por créditos mais caros e, potencialmente, aumentar o endividamento e prejudicar o indicador de inadimplência no futuro. “Mas hoje esse não é um ponto de atenção”, afirmou.

Gallina afirmou ainda que o rating para a qualidade dos ativos dos quatro bancos é BB, acima da matriz implícita, considerando o bom índice de provisionamento para Itaú, Bradesco e Banco do Brasil e para o BTG em função do mix de crédito, concentrado em large corporate.

“Cortes adicionais nos juros devem ajudar na capacidade de ‘repagamento’ dos tomadores e os bancos a ter um controle mais eficiente da qualidade dos ativos”, disse ele ainda.

Entenda a crise da Subway no Brasil e o que acontece após pedido de recuperação judicial

 


Subway

A dívida assumida pela SouthRock em relação ao Subway é de R$ 482 milhões (Crédito: Divulgação)

 

A SouthRock entrou com pedido de recuperação judicial da rede de lanchonetes Subway no Brasil. A decisão ocorreu após a matriz norte-americana cancelar o contrato de licenciamento que a companhia tinha com a rede. A dívida informada da operação é de R$ 482 milhões. 

A SouthRock já havia entrado no final do ano passado em recuperação judicial junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo, em processo que incluiu algumas das marcas que opera no Brasil, como o Starbucks e o TGI Fridays. Na ocasião, porém, havia deixado o Subway de fora.

No novo pedido, a SouthRock afirmou que “um pequeno grupo de credores entendeu por bem interromper as negociações e conversas que até então vinham sendo mantidas e passou a perseguir, de maneira forçada e unilateral, a imediata satisfação de seus créditos”. Após isso, a proprietária global da marca pediu a rescisão do denominado “Forbearance Agreement”, que dava direito a exploração das franquias do restaurante. 

Entenda a crise

A SouthRock é franqueadora das marcas: Starbucks, TGI Fridays, Brazil Airport, Brazil Highway e do Eataly.

O pedido de recuperação judicial da SouthRock foi solicitado formalmente em novembro de 2023, com uma dívida registrada de R$ 1,8 bilhão. O pedido foi aceito pela Justiça em dezembro. 

Agora, a recuperação judicial do Subway no país foi requisitada de forma paralela pela empresa. No pedido apresentado nesta semana à Justiça, a controladora aponta que a rede de lanchonetes sofreu uma forte queda no faturamento com o fechamento de lojas durante a pandemia. A rede também sofreu com a falta de linha de crédito e a dificuldade de alguns parceiros comerciais.

“O excesso de endividamento, a baixa lucratividade decorrente do fechamento de seus restaurantes por diversos meses no ano de 2020 em função da covid 19 – o que, por si só, representou a queda de aproximadamente 95% nas vendas e a inadimplência por parte de seus parceiros comerciais – e a impossibilidade de obtenção de novas linhas de crédito, comprometeram a capacidade de as sociedades do Grupo SouthRock honrarem seus compromissos financeiros”, escreveram os advogados da empresas no pedido de recuperação judicial.

No documento, a empresa diz que a Subway possui quase 40 mil lojas em todo o mundo, sendo mais de 1.600 unidades no Brasil.

Matriz afirma que nada muda no Subway no Brasil

Em um comunicado à imprensa, a Subway Corporate informou que o contrato da franquia master da rede no país havia sido rescindido desde outubro de 2023, quando a SouthRock solicitou a suspensão dos pagamentos para credores, e que nada muda na operação do Subway. 

“Dessa forma, o pedido de recuperação judicial apresentado por algumas entidades do grupo SouthRock afeta apenas tais entidades e não diz respeito à Subway Corporate”, diz o comunicado. A proprietária global da Subway acrescenta ainda estar “comprometida com o crescimento e o sucesso a longo prazo dos franqueados no país”.

 

 https://istoedinheiro.com.br/entenda-a-crise-da-subway-no-brasil-e-o-que-acontece-apos-pedido-de-recuperacao-judicial/

 


Vendas de eletroeletrônicos registram alta de 15% em 2023, mas setor está longe de retomada

 


É o primeiro resultado positivo registrado pelo setor nos últimos 3 anos

 

Cenário para o setor é de alívio moderado - Crédito: Freepik/@ macrovector

 

As vendas de eletroeletrônicos registraram crescimento de 15% em 2023, segundo os indicadores compilados pela Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) e obtidos pela ISTOÉ DINHEIRO.

Trata-se do primeiro resultado positivo registrado pelo setor nos últimos 3 anos, o que representou um alívio principalmente para o segmento de eletroportáteis (fritadeiras, panelas elétricas, ventiladores e aspiradores de pó), além de ar-condicionado.

“O ano de 2023 foi um ano de recomposição para o setor eletroeletrônico, no entanto, ainda estamos longe da retomada tão almejada pelas nossas indústrias“, explica o presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento.

Segundo Nascimento, o setor está longe da retomada, portanto não há nada para comemorar, apenas houve um alívio moderado.

“Viemos de um retrospecto econômico negativo e precisamos que haja uma redução nos juros de forma mais acelerada para que a economia cresça mais rápida em 2024. Ainda não está claro se teremos este cenário.”

Linha Branca e ar-condicionado

Os produtos da chamada Linha Branca, sobretudo os refrigeradores, fogões máquinas de lavar, apresentaram em 2022 o pior ano da década em termos de volume, com uma queda de 16% com relação ao ano anterior. Mesmo com o crescimento de 6% em 2023, o setorial amarga relevante déficit quanto ao volume de unidades vendidas.

“As vendas destes produtos encolheram de forma expressiva nos últimos anos, em especial por conta dos juros elevados e pressão inflacionária. Quem mais é afetado acaba sendo o consumidor de baixa renda.”

Mostra disso é o mercado de refrigeradores. As vendas de produtos destinados às classes C e D respondiam por mais de 30% do volume comercializado e atualmente não passa de 11%. Isso ajuda a explicar a redução superior a 40% no volume de refrigeradores vendidos nos últimos dez anos.

A comercialização de aparelhos de ar-condicionado, por sua vez, saltaram 17% em 2023, com relação ao desempenho apresentado em 2022, que registrou queda de 18%. De acordo com a Eletros, o Brasil é o segundo maior polo produtor do mundo.

“Mesmo com as impressionantes ondas de calor registradas ao longo do ano passado, a indústria de ar-condicionado teve volume de vendas inferior ao ano de 2021.”

Televisores e portáteis

As vendas da Linha Marrom, setorial que inclui televisores, aumentaram 7% no ano passado. O desempenho foi bem acima do registrado no ano anterior, apesar da Copa do Mundo de 2022 – quando as vendas destes produtos tradicionalmente crescem acima da média, em comparação aos anos em que o evento não acontece.

No entanto, com queda nas vendas de 4% e 14% em 2020 e 2021, sucessivamente, o setorial de Linha Marrom amarga uma retração de 11%.

“É muito provável que levemos ainda mais 2 ou 3 anos para uma total recuperação.”

Segundo a Eletros, as TVs Smart e as de tela de até 43 polegadas detém maior participação de mercado, respondendo por 98% e 45%, respectivamente.

Para os eletroportáteis, apesar das sucessivas quedas entre 2020 e 2022, no ano passado o setor cresceu 19%. Esse aumento não foi suficiente para recuperar o saldo negativo.

‘Por representar produtos com ticket médio inferior aos outros setoriais, no geral, os eletroportáteis dependem menos de crédito e, consequentemente, sentem menos os impactos dos juros, o que pode ter motivado uma recomposição dos estoques com relação ao que vinha sendo mantido pelo mercado.”

 

 https://istoedinheiro.com.br/vendas-de-eletroeletronicos-registram-alta-de-15-em-2023-mas-setor-esta-longe-de-retomada/

Lava Jato destruiu 4,44 milhões de empregos, aponta estudo

 


Ato em apoio à Lava Jato em frente ao edifício da PGR em Brasília

 

A operação que prometia combater a corrupção no setor de petróleo e gás custou caro à economia e deixa o desafio da reconstrução de setores . A Lava Jato resultou na destruição de 4,44 milhões de empregos entre 2014 e 2017 e reduziu o Produto Interno Bruto (PIB) em 3,6% no mesmo período. De 2015 a 2018, as maiores construtoras brasileiras perderam 85% da receita.

As conclusões constam de dois estudos que analisaram o impacto econômico da Lava Jato, que completa 10 anos. O primeiro, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), rastreou os efeitos de 2014 a 2017 dos setores afetados diretamente e indiretamente pela operação. O segundo, das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mensurou as consequências sobre as construtoras e a indústria pesada.

O estudo da UFRJ e da Uerj estimou em R$ 142 bilhões as perdas nos setores de construção civil, indústria naval, engenharia pesada e indústria metalmecânica. Os efeitos, no entanto, vão além dos segmentos diretamente investigados pela operação e que tiveram de fechar delações premiadas e acordos de leniência.

Segundo o Dieese, dos 4,44 milhões de postos de trabalho perdidos, 2,05 milhões ocorreram nos setores e nas cadeias produtivas diretamente afetadas pela Lava Jato. Os 2,39 milhões de empregos restantes foram destruídos em setores prejudicados pela queda da renda e do consumo, como comércio, transporte e alimentação.

Menos emprego e renda se traduzem em investimentos menores. O estudo do Dieese estima que a Lava Jato reduziu os investimentos públicos e privados em R$ 172,2 milhões entre 2014 e 2017. O segmento mais atingido foi a construção civil, com perda de R$ 35,9 bilhões, seguido por comércio (R$ 30,9 bilhões); extração de petróleo e gás, inclusive setores de apoio (R$ 29,2 bilhões); atividades imobiliárias (R$ 22 bilhões); e intermediação financeira, seguros e previdência complementar (R$ 17,5 bilhões).

“Nosso estudo abordou o impacto em cadeia, porque os setores da economia são interligados e perdas em um segmento podem transbordar para toda a economia”, explica o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior. A entidade usou a técnica de matriz insumo-produção, que registra os fluxos de bens e serviços e demonstra as relações intersetoriais dentro do sistema econômico de um país.

Impostos

Com a destruição de postos de trabalho, a massa salarial caiu R$ 85,4 bilhões de 2014 a 2017. Uma economia que emprega, investe e produz menos paga menos impostos. No período analisado, o governo deixou de arrecadar R$ 47,4 bilhões em tributos e R$ 20,3 bilhões em contribuições para a Previdência Social e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O diretor do Dieese acrescenta que os efeitos da Lava Jato não se manifestaram apenas no encadeamento dos setores, mas com a desestruturação de tecnologias na cadeia produtiva de petróleo e gás e na construção civil que fariam a economia brasileira evoluir no médio e no longo prazo.

“No meio de tudo isso, a gente perdeu também o que chamamos de inteligência de engenharia. Os engenheiros não desapareceram, estão aí, mas as grandes equipes foram desmontadas. Mesmo com o investimento chegando, levará um tempo para reconstituir essas equipes. Talvez algumas nem sequer consigam ser remontadas porque a Lava Jato deixou um legado de desorganização da nossa indústria de infraestrutura”, diz.

Reconstrução

No décimo aniversário da Lava Jato, a reestruturação dos segmentos afetados pela operação representa o maior desafio. Mesmo com a recuperação da economia brasileira e com as promessas de investimento e de diversificação de atividades na Petrobras, a falta de investimentos nos últimos anos prejudicou a estatal.

“Por causa da Lava Jato, a Petrobras, a partir do governo [do ex-presidente] Michel Temer, concentrou-se na atividade primária, a extração de petróleo e gás, deixando de lado investimentos no refino e em tecnologia para privilegiar a maximização de lucro por acionista. A empresa passou a se orientar por uma perspectiva de gerar lucros no curto  prazo e distribuir para os acionistas”, explica o professor Luiz Fernando de Paula.

Segundo o professor da UFRJ e da Uerj, a Petrobras ainda tem chances de recuperar o planejamento de longo prazo, ao investir na transição ecológica enquanto busca retomar a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cujas obras foram interrompidas em 2015 por causa da Lava Jato.

“Uma coisa não impede a outra. A Petrobras pode modernizar o refino de combustível fóssil e pensar na transição para a energia limpa. A Petrobras está numa mudança, na forma de gestão, não acredito que vai haver um retorno ao modelo do primeiro governo Dilma [Rousseff], que nacionalizou as compras. Mas acho que dá para a empresa buscar um protagonismo maior dentro de uma perspectiva administrativa, na diversificação das suas atividades. Aí, tem um fator novo, importante”, diz.

Em relação à construção civil, o diretor do Dieese diz que o desmantelamento das maiores empreiteiras do país provocou danos permanentes para o setor. “É importante lembrar que os prejuízos para as empreiteiras não decorreram apenas de acordos de leniência e de bloqueios de bens, mas houve dano de imagem para todo um setor. A Odebrecht, por exemplo, quase faliu e mudou de nome”, ressalta.

A recente suspensão de acordos de leniência da Odebrecht, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), abre brecha para um processo de reerguimento da construção civil pesada, mas Fausto adverte que a reconstrução do setor levará décadas. “Esses acordos de leniência, em alguns casos, representaram uma pá de cal sobre várias dessas empresas. A suspensão de parte desses possibilita agora um processo de reconstrução, mas não é uma reconstrução simples”, avalia.

Os dois especialistas concordam que o grande problema da Lava Jato consistiu em não separar a punição de executivos das atividades das empresas investigadas. “A grande lição da Lava Jato é que não se pode expor pessoas e empresas midiaticamente da forma como aconteceu. Estamos falando de um processo jurídico, em que se devem guardar as devidas proporções porque as empresas foram muito mais punidas que as pessoas físicas, com as companhias tendo os nomes e as marcas jogadas no lixo”, critica Fausto.

“Na época da operação, não se dava a devida atenção para os efeitos econômicos, mas esses dados hoje estão bastante consolidados. As pessoas não se atentavam para os efeitos econômicos e sociais da Operação Lava Jato. A gente que tem de achar um jeito de punir os executivos, as pessoas, mas não castigar as empresas nem destruir empregos”, avalia Luiz Fernando, da UFRJ e da Uerj.

“As empresas que seguirão fortes são as que praticam capitalismo consciente”, diz Rony Meisler, da Reserva


Para o empresário que construiu um ecossistema de marcas cultuadas no segmento de vestuário no Brasil, os negócios que prosperam mesmo sem grande investimento em marketing são focados no bem-estar do consumidor, da sociedade e do planeta ­— e não apenas no interesse do acionista

 

 

Rony Meisler: negócio com filosofia e paixão (Crédito:Divulgação)

Bem antes de empreender no mundo da moda com a criação da grife Reserva, em 2010, o carioca Rony Meisler já havia colocado em prática seu peculiar tino comercial. Nascido em Botafogo e torcedor do Vasco, ele tinha 12 anos quando abriu uma banquinha na calçada do prédio onde morava para vender livros e quadrinhos usados. A ideia de economia circular já estava presente também em sua segunda aposta no varejo: uma plataforma de troca de produtos, que não prosperou. Os aprendizados e os percalços dessas experiências ajudaram a formar a visão de negócio que tem norteado a construção de um ecossistema de marcas de roupa sólido e que não para de crescer — especialmente nos últimos três anos, desde que a Reserva passou a fazer parte da Arezzo, com Meisler na posição de CEO da divisão AR&Co. Além de buscar inspiração em referências que vão muito além do setor de vestuário, como afirmou nesta entrevista à DINHEIRO, o empresário que na terça-feira (19) inaugura em São Paulo a Casa Reserva segue à risca uma filosofia corporativa: “Eu acredito no capitalismo consciente. As empresas que estarão vivas daqui a 200, 300 ou 400 anos são as que pregam o capitalismo de stakeholder e não de shareholder”, disse, usando as expressões em inglês que definem, respectivamente, as partes afetadas pela atuação da empresa e o acionista. “Essa é a paixão da minha vida.”

DINHEIRO — Qual o conceito da Casa Reserva?

 
Rony Meisler Ela segue uma lógica de estratégia de marca muito adotada no mercado europeu e nos Estados Unidos que é a expansão através da extensão de linhas. Nós começamos como Reserva, depois veio a Reserva Mini, Reversa, Reserva Go, Reserva Lifestyle, Oficina Reserva… Cada uma dessas linhas de produto foi se expandindo com canais próprios ao longo do tempo. Dentro da linha principal, a masculina, que foi onde a gente começou, ela era categorizada basicamente em três tipos de produtos: praia, jeans e workware. Sempre tivemos o sonho de em algum momento juntar essas linhas em flagships, com uma ou no máximo duas lojas em corredores comerciais importantes de cada cidade e que pudessem representar não apenas o posicionamento dessas linhas como oferecer todos os serviços do ecossistema que hoje ou estão na internet ou n uma extensão de marca.

Se o sonho era antigo, por que só agora?

 
Porque faltava encontrar o ponto de venda com a visibilidade necessária para a importância desse modelo de flagship que é a Casa Reserva. Por maior que fosse a nossa certeza de que ele iria aparecer, isso depende de fatores externos e não apenas da nossa vontade. Ao longo de três anos buscamos o lugar perfeito, até que surgiu essa oportunidade no Shopping Morumbi, em São Paulo. Assim que o espaço apareceu, a gente montou o projeto criativo, pensando em como seriam os serviços. Foram mais ou menos uns dois meses de trabalho intelectual e mais quatro meses e pouco de reforma. Já havia uma loja Reserva no mesmo shopping, exatamente embaixo dessa nova. Até cogitamos a hipótese de manter as duas e fazer dois andares, mas decidimos que ela será uma Oficina Reserva.

“Na Casa Reserva é possível criar experiências que o cliente jamais teria on-line ou numa loja convencional. Há desde um bar de drinques e cafeteria até área para customização de roupas” 

Qual a importância de oferecer serviços dentro de uma loja de roupa?

 
A gente entende que dessa forma é possível criar experiências que o cliente jamais teria em uma compra on-line ou mesmo em uma loja convencional. Dentro dessa a loja há um bar de drinques com uma carta bem extensa, cervejas especiais, uma cafeteria e uma área central para customização de roupas. O cliente consegue customizar todos os itens básicos da marca, como tags, ilhoses, aviamentos, botões, estamparia. Criamos um book de aviamentos gigante, em couro, supersofisticado, que permite escolher tudo que pode ser feito de alteração nas roupas. Além disso, há um provador exclusivo para personal stylists que são parceiros da marca. E também uma consultoria gratuita de estilo com agendamento prévio.

Será também um local de criação de conteúdo, certo?

 
A gente pensou emum conjunto de eventos dentro da loja. No meio do ano vamos lançar nosso canal do YouTube que vai se chamar Vem em Casa. Eu vou convidar uma pessoa por mês para ir até a Casa Reserva e bater um papo comigo ali no sofá, tomando um drinque, e vai ter público presente na gravação, em uma espécie de anfiteatro. Também uma vez por mês vamos receber um artista brasileiro convidado para fazer a customização, dando a cara dele para as roupas da marca.

Você entende que esse tipo de ação é que faz da Reserva uma marca forte?

 
Nosso investimento em marketing e comunicação gira em torno de 1,5% a 2% do faturamento. A gente sabe que normalmente uma marca investe entre 5% e 6% da receita em marketing. Como investimos menos da metade, só me resta uma explicação para termos consolidado uma marca forte: serviço. É claro que isso se reflete também no tripé formado pela qualidade, sustentabilidade e funcionalidade do produto. Mas isso é obrigação. Ninguém volta para comprar uma marca que não tenha esses atributos. Nosso cliente volta numa frequência estupidamente maior do que a média de mercado porque nós o conhecemos muito bem. Ao longo do tempo, o que fizemos de diferente foi oferecer um serviço capaz de encantar. E eu não estou falando apenas da customização ou de servir cerveja na loja. Cada canal de venda tem a sua devida conjectura. Na internet é tempo de entrega. De cinco anos para cá a gente reduziu esse prazo de seis dias e meio para dois dias e meio. Isso exigiu revisão de processos e parcerias estratégicas importantes, com integrações de sistemas relevantíssimas. A gente foi entregando serviço para o cliente num nível que a marca começou a se fazer presente na vida dele.

Ter percorrido todo esse caminho no Brasil faz com que você pense em levar a marca para fora?

 
Quando você vê que o seu produto está melhorando e que a sua marca está ficando mais forte, por consequência começa a ficar pronto para se colocar no ambiente mais competitivo que é o mercado externo. A gente ainda tem um longo crescimento para fazer no Brasil. Há cinco anos eu diria que a marca ainda não estava pronta em termos de produto. Agora eu acho que a gente está pronto. Temos marca, time, infraestrutura, e podemos começar a pensar nisso para os próximos anos. Há uma probabilidade bastante alta de a Reserva botar um pezinho lá fora em 2025, mas não está nada desenhado ainda.

Você imagina que a Reserva possa ter uma aceitação internacional como Havaianas, por exemplo?

 
Uma operação internacional não depende só de um produto bom e de uma marca forte localmente.Precisa de um propósito muito forte, causar o menor dano possível ao meio ambiente, enfim, ser um produto herói. No nosso ambiente de negócio existe um ícone representativo dos Estados Unidos que é um cavalo [Polo], uma marca iconográfica da França que é um crocodilo [Lacoste]. Temos a oportunidade de ser ícone do Brasil [a logomarca da Reserva é um pica-pau].

“A gente decidiu ter fornecedores no Brasil quando todo o setor estava indo para a Ásia. Foi uma decisão de vida e não apenas de negócio. Foi idealista, mas sabendo que daria certo’’

A competição com os importados afeta?

 
Tomamos a decisão de prioritariamente ter fornecedores no Brasil. Isso foi uma decisão de vida e não apenas de negócio.

 Queríamos crescer gerando emprego aqui e desenvolver a cadeia no Brasil quando toda a matriz do setor estava indo para a Ásia. A gente investiu idealisticamente, mas sabendo que daria certo. Quase 100% da produção é feita no Brasil. A gente tem condições de competir globalmente em malharia, jeans. E oferecemos soluções para quem quer empreender com nossa marca. A Reserva Ink é uma plataforma de estamparia que reúne 60 mil colaboradores. Gera renda para essa turma. Tem gente que tira R$ 80 mil por mês, todo mês.

Isso não existia no Brasil. Onde vocês buscaram inspiração?

 
Todos os dias buscamos aprender com bons exemplos de fora e daqui. Se ficar preguiçoso a gente morre. As referências não vêm só do mundo da moda. O Richard Branson, com a Virgin [que vende de refrigerantes a música e viagens espaciais], sempre foi inspiração do ponto de vista da rebeldia da marca, que tem a ver com nossa história. Da Patagonia extraímos lições ligadas à sustentabilidade na cadeia do vestuário. E da Starbucks trouxemos a noção de que o cliente pode ser surpreendido se tiver à disposição um serviço além do trivial. Ele entra na loja para comprar roupa e faz a barba, toma uma cerveja e cria networking. A ideia do programa 1P=5P [que faz repasse de recursos sobre a venda de produtos para ONGs que atuam no combate à fome] veio de uma marca de tênis que faz doações a cada par vendido.

Você ainda consegue pensar em moda ou seu tempo é todo voltado para a gestão?

 
O nosso negócio é moda. Enquanto estamos aqui conversando, 18h47, eu não tenho a menor ideia de como o mercado fechou, mas sei o quanto a gente está vendendo hoje. Como empresário, mantenho o foco no cliente, em como antecipar os desejos dele. E gosto muito de falar sobre um assunto que acabou virando uma filosofia de vida para mim. Eu acredito no capitalismo consciente, que é um movimento global. Eu tive a honra de presidir o Instituto Capitalismo Consciente Brasil. Ele prega que o propósito de uma empresa deve ser muito mais do que simplesmente gerar lucro e que seus líderes são responsáveis por criar valor para todos os stakeholders [partes interessadas]. As empresas que vão estar vivas e fortes daqui a 200, 300 ou 400 anos são as empresas que pregam o capitalismo de stakeholder, que fazem sentido para os seus colaboradores, consumidores, fornecedores e para a sociedade. Se a gente tiver entregando valor para esses quatro holders, o shareholder [acionista] também vai estar feliz, por consequência.

Não pode ser só business?

 
O dia que eu estiver aqui para olhar apenas o resultado financeiro eu não verei mais sentido no negócio, aí eu não vou estar mais aqui. Porque esse negócio, que construímos com essa filosofia, é a paixão da minha vida.

A Reforma Tributária pode ter algum impacto no setor de vestuário?

 
Uma das razões para a reforma é que o Brasil tenha um planejamento tributário mais simplificado. Consequentemente, isso abre as portas do País para a entrada de novos players. Só que adquirir o conhecimento de mercado necessário para ter uma atuação forte no Brasil exige tempo. Isso é uma barreira de entrada importante para grupos de fora.

 

 https://istoedinheiro.com.br/as-empresas-que-seguirao-fortes-sao-as-que-praticam-capitalismo-consciente-diz-rony-meisler-da-reserva/

sábado, 16 de março de 2024

Brasileiros criam estação de tratamento de água portátil usada em 20 países em crise, como Ucrânia

 Tecnologia brasileira de tratamento de água é levada para a ...


Uma startup brasileira desenvolveu um purificador de água portátil que vem sendo usado para ajuda humanitária em 20 países, desde zonas de guerra até regiões remotas sem acesso à água potável. O equipamento, na prática, funciona como uma espécie de estação de tratamento de água e usa dialisadores hospitalares para filtrar partículas muito pequenas de sujeira.

Os dialisadores são usados em hospitais para filtrar resíduos no sangue de pacientes e funcionam como última barreira do purificador para evitar a contaminação da água por vírus e bactérias.

O equipamento, produzido pela startup paulistana PWTech, permite que comunidades tornem potáveis fontes de água alternativas, como poços, rios ou água de chuva. Ele pesa cerca de 20 quilos e tem o tamanho um pouco maior do que uma mala de viagem – um metro de largura e 43 centímetros de altura. O aparelho tem autonomia para filtrar até 10 mil litros de água por dia e custa cerca de R$ 15 mil.

“O equipamento estava fornecendo um litro de água por pessoa a cada dia no Haiti. Já na Ucrânia, cerca de dez litros. Depende da necessidade e da condição de cada lugar”, diz Fernando Marcos Silva, CEO e um dos fundadores da startup. “No Haiti, o equipamento estava processando seis mil litros de água por dia, portanto, impactando seis mil pessoas”.

A portabilidade fez com que os purificadores fossem utilizados pelo governo brasileiro para prestar assistência em regiões remotas, como terras indígenas Yanomami ou para auxílio humanitário no exterior, em locais como Haiti, Ucrânia e na Faixa de Gaza.

Ele pode ser ligado diretamente à rede elétrica, por meio de geradores ou placas solares. É comum, inclusive, que o equipamento seja enviado para essas regiões junto de painéis fotovoltaicos. “A inovação está na portabilidade do equipamento”, afirma Silva.

Empresa busca expandir operações com vendas para empresas

A PWTech foi fundada em 2018 e possui atualmente 20 funcionários. A startup registrou um faturamento de R$ 7,8 milhões no ano passado e busca mais do que duplicar esses números em 2024, com previsão de arrecadar R$ 20 milhões. Para isso, a companhia quer vender cada vez mais para empresas privadas, expandindo sua atuação para além da venda para órgãos governamentais.

A mineradora Vale e a empreiteira Andrade Gutierrez, por exemplo, são alguns dos clientes da startup. Elas utilizam os aparelhos em regiões com pouco ou nenhum acesso à água potável, para distribuição a seus funcionários. Além de diminuir os custos com a compra de galões de água e contratação de caminhões pipa, as companhias vêm vantagens em termos de sustentabilidade, já que há diminuição nas emissões de carbono com o processo.

“O desafio para nós é criarmos o mercado. Os competidores virão depois”, diz Silva, mencionando os esforços da companhia para a venda dos equipamentos para outras empresas. “O galão de 20 litros e o caminhão pipa são nossos maiores concorrentes”, afirma.

Para o consultor de negócios da WIV Gestão Financeira, Vitor Moura, não há problema específico no fornecimento de equipamentos para o governo, mas a concentração das vendas com poucos clientes pode representar um risco para qualquer companhia.

“A estratégia da pequena empresa sempre tem que focar na diversificação de sua carteira de clientes para não correr riscos”, afirma Moura. “Fornecer para o governo não é um risco necessariamente, se você tiver uma diversidade de carteira dentro das compras governamentais”, pontua.

Equipamento levou seis meses para ser desenvolvido

O purificador da PWTech foi desenvolvido pelos engenheiros químicos Fernando Marcos Silva e Maria Helena Azevedo, fundadores da companhia, com ajuda de professores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por meio de um acordo operacional.

Silva, que já trabalhava com a construção de sistema de tratamento de resíduos para shopping centers, havia mapeado soluções usadas no exterior para o tratamento de água com sistemas móveis. Ele buscava, porém, soluções mais portáteis e de baixo custo. Os equipamentos identificados por ele eram muito grandes ou com custo de instalação e manutenção elevados.

O purificador da marca usa elementos como cloro de piscina, filtros limpáveis e dialisadores hospitalares para fazer o tratamento da água. A autonomia antes da necessidade de troca dos filtros é de 150 mil litros. O custo para manutenção é de cerca de R$ 800.

Um dos primeiros equipamentos foi testado em uma comunidade na ilha do Bororé, localizada na represa Billings, zona Sul de São Paulo. Com o sucesso dos testes, a companhia percebeu a possibilidade de expandir e oferecer os equipamentos para o governo e empresas em uma escala maior.

Atualmente as estações de tratamento portáteis da PWTech são reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um projeto para ajuda humanitária. Além disso, a companhia é considerada Empresa Estratégica de Defesa pelo Ministério da Defesa, o que permite uma melhor interlocução para a venda dos dispositivos para as Forças Armadas.