Cenário
econômico ainda aponta para permanência da pressão inflacionária e
incertezas sobre questão fiscal; cenário geopolítico também deve
influenciar
Sede do Banco Central, em Brasília
O
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne
novamente para decidir como fica a taxa básica de juros da economia no
país, a chamada Selic. A decisão será anunciada no início da noite desta
quarta-feira, 31.
O
mercado dá como certa a manutenção da taxa em 10,50% ao ano. Isso
porque no comunicado da decisão anterior, em junho, o Copom disse que
“optou por interromper o ciclo de queda de juros” e já apontava para
manutenção da taxa para as próximas decisões, devido à avaliação de que o
processo desinflacionário no país está mais lento, demandando “serenidade e moderação na condução da política monetária”.
A
manutenção da Selic na última decisão interrompeu uma sequência de
cortes iniciada em agosto de 2023, após a taxa permanecer por um ano em
13,75%.
O que esperar do placar
O
economista Ricardo Rocha, professor de Finanças no Insper, acredita
que, apesar da pressão do presidente Luis Inácio Lula da Silva para a
queda dos juros, a decisão pela manutenção da taxa deve ser unânime mais
uma vez.
“Apostaria
que, sobre os juros, não haverá divergência. Não acredito que algum dos
membros, ainda que indicados pelo governo, vá tomar decisões para
agradar o governo. Eles têm um currículo e um nome a zelar. Vai
prevalecer o bom senso”, afirma Rocha.
O
professor destaca, além da pressão inflacionária na economia doméstica,
a questão fiscal e o panorama geopolítico, como as eleições nos Estados
Unidos e, recentemente, na Venezuela, como fatores de atenção que
deixam o ambiente econômico ainda mais em cenário de riscos e
incertezas, pontos que os agentes econômicos costumam olhar para tomada
de decisões. “A questão do déficit publico não está pacificada, é um
problema grande”. Por isso que, para Rocha, o comunicado deve apontar
para um clima de cautela no comitê.
Joelson Sampaio, professor da
Escola de Economia da FGV, também reforça que os dados de inflação devem
basear a decisão do Copom, ainda que ela não seja unânime, em manter a
taxa em 10,50% até o final do ano. “A decisão [em manter] será
basicamente porque temos uma perspectiva de inflação maior do que
semanas atrás”.
Em
relatório macroeconômico, o economista-chefe do Itaú avalia que esta
decisão se dá em cenário “mais complexo desde a decisão anterior”, por
conta da percepção de risco local ainda elevada, dados de atividade
econômica que seguem mostrando perspectiva de aumento da inflação,
especialmente o último IPCA-15, que surpreendeu ao registrar aumento de
0,30% dos preços em julho, atingindo 4,45% em 12 meses e se aproximando do teto da meta de inflação.
“O
comitê deve renovar a promessa de vigilância, e afirmar que avaliará se
a estratégia de manutenção da política monetária em patamar
contracionista por tempo suficiente será capaz de assegurar o processo
de desinflação e reancoragem das expectativas”, disse o Itaú.
Marcelo
Bolzan, estrategista de investimentos, planejador financeiro, CGA e
sócio da The Hill Capital, também espera um comunicado mais duro,
motivado pela piora de alguns indicadores, principalmente a inflação,
com Boletim Focus trazendo a perspectiva de um IPCA a 4,1%, e em cenário
de valorização do dólar, que pode impactar o índice – para cima – no
curto prazo.
Pela sexta semana consecutiva, os economistas
mantiveram a expectativa para o patamar da taxa básica de juros Selic
neste ano e no próximo, a 10,50% e 9,50%, respectivamente, segundo o boletim Focus do BC.
O
mandato de Roberto Campos Neto termina no fim de 2024 e o presidente
Lula ainda não anunciou quem irá indicar para a presidência do BC.
Fed também anuncia decisão de juros nesta quarta
Nesta
quarta-feira, o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve
(Fed), também divulga sua decisão sobre juros por lá. A expectativa em
relação aos EUA que o Fomc (o comitê de política monetária do Fed)
também decida pela manutenção dos juros, hoje no intervalo entre 5,25% e 5,50%.
Mas,
ao contrário do que o mercado espera do Brasil, a perspectiva é de que
na próxima reunião, em setembro, o Fed inicie o corte dos juros, apesar
de os dados de inflação do país apontarem ainda para um cenário de preços elevados. A meta de inflação nos EUA é 2% ao ano.