Prédio do Banco Central em Brasília
reutersi
O
Banco Central incorporou em sua comunicação a mensagem de que não
hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da
inflação à meta se julgar apropriado, mostrou a ata da última reunião do
Comitê de Política Monetária (Copom), e afirmou que o momento exige
cautela ainda maior e acompanhamento diligente dos fatores que impactam
os preços, como o dólar.
No documento divulgado nesta terça-feira,
a autoridade monetária enfatizou que o desenrolar do cenário será
particularmente importante para definir os próximos passos na condução
dos juros, não sendo possível se comprometer com indicações futuras para
a política monetária.
“O
Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de
manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a
inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê,
unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para
assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, disse
o BC.
Na ata, a autarquia também informou que, na
avaliação de fatores que podem pressionar os preços à frente, todos os
membros do Copom concordaram que há mais riscos para cima na inflação,
“inclusive com vários membros enfatizando a assimetria do balanço”.
A
mensagem dá um passo adicional ao comunicado da semana passada, que
havia incluído um fator a mais entre os riscos de alta dos preços, mas
afirmava que permanecem fatores em ambas as direções, sem dar detalhes.
Na
avaliação da economista para Brasil do BNP Paribas Laiz Carvalho, a ata
foi bem mais dura que o comunicado da semana passada, com destaque para
os dois cenários em avaliação pelo BC, um de manutenção da Selic no
mesmo patamar e também a possibilidade de elevar a taxa se necessário.
“Houve um endurecimento de várias falas”, disse. “É a primeira vez que o
BC está falando efetivamente que pode subir (os juros), e o mais
importante é que é unânime.”
O
BC interrompeu em junho deste ano o ciclo de cortes na Selic que vinha
implementando desde agosto de 2023, em meio à ampliação de incertezas
domésticas e externas e um persistente processo de desancoragem das
expectativas do mercado para a inflação. Na última quarta, o Copom
manteve a Selic em 10,50% ao ano e pediu cautela, citando também que a
percepção do mercado sobre o cenário fiscal tem impactado preços de
ativos e expectativas.
Inflação e câmbio
Na ata, o BC
afirmou que movimentos recentes de alguns dos condicionantes para a
dinâmica dos preços, tais como as expectativas de inflação e a taxa de
câmbio, foram amplamente debatidos pelo colegiado na reunião.
“Observou-se
que, se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos
inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente
incorporados pelo Comitê”, afirmou.
“O Comitê, unanimemente,
avalia que o momento corrente é de ainda maior cautela e de
acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se
comprometer com estratégias futuras”, disse a autarquia na ata.
A
taxa de câmbio usada pelo BC em seu cenário de referência passou de 5,30
reais por dólar na reunião de junho para 5,55 reais no encontro da
semana passada, fator que gera pressão inflacionária. Na manhã desta
quarta, a moeda norte-americana operava em patamar ainda mais alto, de
5,72 reais.
Segundo o BC, se observa um fenômeno global de aversão
ao risco, com impacto sobre o câmbio de países emergentes, que
registrou depreciação no período recente.
A autoridade monetária
acrescentou, porém, que não há relação mecânica entra o câmbio e a
determinação doméstica da taxa de juros, com foco sendo dado nos
mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a inflação no
país.
O BC afirmou ainda que a economia e o mercado de trabalho no
Brasil seguem mais dinâmicos que o esperado, em um momento com o hiato
do produto próximo à neutralidade (quando a atividade se aproxima de sua
capacidade máxima), “tornando mais desafiador o processo de
convergência da inflação à meta”.
De acordo com o documento, o
Copom não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de
inflação e entende o “papel fundamental” das expectativas na dinâmica da
inflação.
A meta de inflação no Brasil é de 3%, com margem de
tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, e as atuais
projeções do BC estão acima do centro da meta “mesmo condicionadas em
uma trajetória de taxa de juros mais elevada”.
“A condução da
política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das
expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a
credibilidade e, consequentemente, reduzam o custo da desinflação”,
afirmou.