Pelo
menos 25 líderes ambientais foram assassinados no Brasil, ano passado,
segundo o relatório mais recente da Global Witness: não há dúvida, nosso
país é um dos mais perigosos do mundo para defensores do meio ambiente.
A violência contra as pessoas que defendem sua terra e nosso planeta
decorre de décadas de impunidade para os agressores, incluindo governos e
empresas que priorizam a extração de recursos naturais, desconsiderando
o impacto sobre a vida humana.
Créditos: Bruno Kuikuro
O
Brasil permaneceu como um dos países mais perigosos para defensores do
meio ambiente, com 25 assassinatos de lideranças ambientais em 2023,
segundo o relatório mais recente da Global Witness. O país ficou atrás
apenas da Colômbia, que registrou 79 mortes. A América Latina foi
responsável por grande parte dos 196 assassinatos documentados em todo o
mundo no período, com um total de 166 mortes na região.
Embora o
número de assassinatos no Brasil tenha diminuído em comparação com o ano
de 2022, quando 34 defensores foram mortos, o relatório destacou que
ainda existem desafios significativos. A troca de governo e o
fortalecimento da fiscalização ambiental contribuíram para essa redução.
A
influência do setor ruralista no Congresso Nacional, no entanto,
continua sendo um empecilho para garantir a proteção eficaz dos
defensores da terra e do meio ambiente. A situação reflete a contínua
vulnerabilidade dessas lideranças, que enfrentam ameaças em suas lutas
por justiça ambiental e fundiária.
O relatório da ONG Global
Witness mostrou que o Brasil foi um dos quatro países que mais
registraram episódios de violência contra ativistas e lideranças
ambientais em todo o mundo. Em 2020, 20 pessoas foram mortas no Brasil
por defenderem suas terras e o meio ambiente, quatro a menos que no ano
anterior – mas, ainda assim, número suficiente para colocar o país no
quarto lugar do ranking internacional, atrás apenas de Colômbia (65),
México (30) e Filipinas (29). “A maior parte das mortes no Brasil
aconteceu na Amazônia, onde pelo menos dez indígenas foram assassinados
no ano passado”, como informa o relatório.
A América Latina
concentrou a maioria das mortes: 165 dos 227 óbitos registrados
globalmente. Segundo dados da Global Witness a América Latina tem sido,
de forma consistente, a região mais afetada por essas questões. “Com
muita frequência, as pessoas que defendem sua terra e nosso planeta
sofrem criminalização por parte de governos, intimidação em suas
comunidades e assassinatos”, como constatado no relatório da Global
Witness.
A situação na Colômbia se revela extremamente
preocupante, com um aumento significativo no número de assassinatos de
defensores ambientais nos últimos anos. Em 2023, o país registrou 79
mortes, mais que o dobro dos 33 assassinatos ocorridos em 2021. Com
isso, a Colômbia lidera o ranking global de violência contra defensores
ambientais, acumulando 461 das 2.106 mortes registradas em todo o mundo,
entre 2012 e 2023.
Esse aumento reflete a delicada situação de
segurança no país, mesmo após os acordos de paz com as FARC. Grupos de
crime organizado são responsáveis por metade das mortes registradas em
2023, indicando a persistência de violência ligada a disputas por terra e
recursos naturais. O perfil das vítimas também é alarmante: 49% dos
defensores assassinados no último ano eram indígenas ou
afrodescendentes, reforçando a vulnerabilidade desses grupos. Nos
últimos dez anos, lideranças indígenas representam 36% das mortes
globais de defensores ambientais, totalizando 766 óbitos.
Esses
dados ressaltam a urgência de medidas eficazes de proteção e de um
compromisso mais forte dos governos com a segurança e os direitos das
comunidades que defendem o meio ambiente e seus territórios.
O
relatório da Global Witness de 2020 destacou que a América Latina como
um todo concentrou a maioria das mortes de defensores ambientais, com
165 dos 227 assassinatos registrados globalmente naquele ano. O
relatório da Global Witness diz ainda que a região é consistentemente a
mais afetada por essas violências. Além dos assassinatos, defensores de
terras e do meio ambiente enfrentam criminalização, intimidação e
repressão por parte de governos e comunidades, tornando a defesa do meio
ambiente um esforço de alto risco.
A violência contra defensores
ambientais, infelizmente, se intensificou desde a assinatura do Acordo
de Paris, em 2015. A média de quatro assassinatos por semana ao redor do
mundo revela uma crise global de direitos humanos e ambientais. Esse
número, alarmante por si só, pode ser ainda maior, já que em muitas
regiões críticas há restrições à imprensa e dificuldades no levantamento
de informações confiáveis sobre esses crimes.
A explicação para
essa violência é complexa, a Global Witness aponta que o problema
decorre de décadas de impunidade para os agressores, incluindo empresas
que priorizam a extração de recursos naturais e o lucro, desconsiderando
o impacto sobre a vida humana e o meio ambiente. Quase um terço das
mortes está diretamente relacionado à exploração de madeira, mineração,
agronegócio e grandes obras de infraestrutura.
O Brasil, que já
era um dos países mais perigosos para defensores ambientais, viu a
situação piorar durante o período de 2019 a 2022, que incentivou a
exploração de áreas indígenas, levando a uma nova onda de invasões e
violência contra essas comunidades. Além disso, a má gestão da pandemia
pela administração federal agravou ainda mais a vulnerabilidade dos
povos tradicionais.
A divulgação dos dados da Global Witness
ganhou grande repercussão tanto na mídia brasileira quanto
internacional, apontando que a violência contra os defensores ambientais
não é um problema isolado, mas uma questão global que afeta
profundamente a sustentabilidade e a justiça social. E o Brasil segue em
chamas, simbolizando o contínuo embate entre os interesses econômicos e
a proteção ambiental.
Referência
Disponível
em:
https://www.globalwitness.org/pt/global-witness-reports-227-land-and-environmental-activists-murdered-single-year-worst-figure-record-pt/
Acesso em: 15/09/2024
https://mulher.istoe.com.br/esforco-de-alto-risco-pesquisa-mostra-que-brasil-e-um-dos-paises-mais-perigosos-para-defensores-do-meio-ambiente/