Em coletiva de imprensa sobre o relatório de política monetária, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo,
reiterou diversas vezes que ‘não há porta fechada nem seta dada’ para
as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Galípolo
destacou que o Banco Central tem ‘justamente tentado expressar isso’
nas suas comunicações mais recentes – de que não há decisão tomada sobre
a reunião do Copom de janeiro e tampouco sobre as próximas decisões de
política monetária.
O presidente da autarquia frisa que o comitê
tem preferido ‘esperar chegar lá’ com mais dados nas mãos em detrimento
de sinalizar algo de antemão.
“A
facilidade que temos em não dar nenhuma pista não é por estarmos sendo
habilidosos em esconder algo, mas na verdade por que não temos sobre o
que dar uma pista”, disse.
“Era
mais vantajoso não tomar essa decisão agora, ganhar este tempo e poder
tomar essa decisão somente em janeiro. É assim que deve ser entendida
essa questão”, completou.
Galípolo
frisou que o BC tem ‘tirado expectativas’ de certas palavras nos
comunicados e, com isso, as projeções acabaram virando um ‘sinal maior’.
Ainda assim, destacou que o Comitê segue cauteloso e espera mais dados
para tomar e sinalizar decisões.
Dentre os dados, destaca os
indicadores de mercado de trabalho, que considera ‘ainda difíceis de
interpretar’, tanto no doméstico quanto no global.
O Diretor de
Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, destacou que o
ambiente externo se mantém incerto por conta da politica econômica dos
EUA.
“Na Ata [do Copom] debatemos justamente isso, que o ambiente
externo estava menos incerto do que alguns meses atrás, por conta de
tarifas, e shutdown. É incerto, mas menos incerto do que já foi, e daí a necessidade de cautela por parte das economias emergentes.”
Guillen
também endossou a fala sobre o mercado trabalho, observando que é um
momento em que é ‘muito difícil entender qual é o cenário atual do
mercado de trabalho dos EUA’ por conta do shutdown, com uma leitura mais complexa tanto para o nível de emprego quanto inflação.
BC vê inflação ainda acima de 3% e melhora projeção de PIB
No
Relatório de Política Monetária (RPM) do quarto trimestre de 2025,
documento que reúne a avaliação da autoridade monetária sobre a economia
brasileira e o cenário internacional, o BC destaca sua visão de
continuidade da moderação da atividade econômica no Brasil, inflação
ainda acima da meta de 3% e necessidade de manter a política monetária
em campo restritivo para assegurar a convergência dos preços ao longo do
horizonte relevante – hoje concentrado no segundo trimestre de 2027 .
No
Brasil, os dados mais recentes confirmam a perda de fôlego do
crescimento. O Produto Interno Bruto avançou 0,1% no terceiro trimestre
de 2025, após alta de 0,3% no trimestre anterior.
O BC avalia que
esse movimento está em linha com o esperado e reflete, principalmente, a
desaceleração do consumo das famílias, que ficou praticamente estável
no período. O investimento, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo,
cresceu, influenciado por fatores pontuais, como a importação de
plataformas de petróleo.
Para o quarto trimestre, os indicadores
disponíveis sugerem a continuidade dessa moderação. Dados de produção
industrial, varejo, serviços e circulação de veículos mostram variações
pequenas, sem sinal de retomada mais ampla.
Ainda assim, o BC
revisou para cima a projeção de crescimento do PIB em 2025, de 2,0% para
2,3%, influenciado por revisões estatísticas e pelo desempenho da
agropecuária e da indústria extrativa. Para 2026, a expectativa é de
crescimento de 1,6%, refletindo juros elevados, menor impulso do setor
agropecuário e desaceleração global.
O mercado de trabalho segue
como um ponto de atenção. Apesar de sinais de arrefecimento na ocupação,
a taxa de desemprego permanece próxima dos menores níveis da série
histórica. A geração de empregos formais continua ocorrendo, embora em
ritmo menor, e os rendimentos reais do trabalho seguem em expansão. Esse
quadro contribui para sustentar a demanda interna e ajuda a explicar a
persistência da inflação de serviços, tema recorrente no relatório.
No
mercado de crédito, os dados indicam desaquecimento gradual, em linha
com os efeitos esperados da política monetária. As concessões às pessoas
físicas mostram perda de ritmo, enquanto o crédito direcionado às
empresas tem apresentado desempenho acima do previsto. Mesmo assim, o BC
projeta desaceleração do crédito tanto em 2025 quanto em 2026, quando
comparado a 2024.
No campo fiscal, a percepção dos agentes
permanece estável desde o último relatório. As projeções de dívida
pública indicam trajetória de alta no médio prazo, o que mantém o tema
no radar da política monetária. Já nas contas externas, o déficit em
transações correntes aumentou em 2025, puxado pelas importações, apesar
do nível elevado das exportações. Para 2026, a expectativa é de redução
desse déficit, com melhora do saldo comercial.
A inflação ao
consumidor mostrou desaceleração recente, tanto no acumulado em 12 meses
quanto nas métricas trimestrais, mas segue acima da meta. Em novembro, o
IPCA acumulado em 12 meses ficou em 4,46%, dentro da faixa de
tolerância, após meses acima do limite superior. As expectativas de
inflação para 2025 e 2026 recuaram, mas continuam acima de 3%. No
cenário de referência do BC, a inflação converge para 3,2% em 2027,
patamar compatível com o cumprimento da meta contínua.
O relatório
reforça que a política monetária seguirá orientada pelo compromisso com
a meta de inflação. O balanço de riscos inclui, de um lado, a
possibilidade de maior persistência da inflação de serviços e de
desancoragem das expectativas. De outro, uma desaceleração mais intensa
da atividade doméstica ou global pode aliviar as pressões
inflacionárias. Diante desse quadro, o BC sinaliza que suas decisões
continuarão dependentes dos dados, com foco em assegurar a convergência
da inflação no horizonte relevante.
No cenário externo, o
relatório descreve um ambiente marcado por incerteza, em especial nos
Estados Unidos. A inflação americana tem mostrado resistência,
influenciada por tarifas sobre importações, o que levou o Federal
Reserve a adotar uma postura dependente de dados, mesmo após cortes
recentes na taxa de juros.
O BC destaca que, nas economias
avançadas, a convergência da inflação à meta foi adiada em vários casos,
enquanto nos países emergentes o comportamento dos preços segue
heterogêneo. Esse contexto exige cautela, sobretudo para economias como a
brasileira, mais sensíveis às condições financeiras globais.
A
atividade global continua crescendo, mas em ritmo menor. Os riscos de
uma desaceleração mais intensa permanecem, ainda que os temores de uma
recessão global tenham diminuído. Ao mesmo tempo, políticas fiscais mais
expansionistas em alguns países e a flexibilização monetária gradual
ajudam a sustentar o nível de atividade, compensando parte do efeito da
incerteza geopolítica e comercial.