Publicado por Luiz Flávio Gomes - 1 dia atrás
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Sem sombra de dúvida podemos citar o petrolão (do PT, PP, PMDB, PSDB, PTB, SD, PSB etc.) e otrensalão
(do PSDB-SP) como expressões da cleptocracia brasileira, que significa,
desde logo, “Estado governado por ladrões”. Se cleptocracia é um
conceito vinculado à governança do Estado (aos que governam, aos que
contam com acesso privilegiado à divisão do Orçamento público), não é
certo afirmar que toda ladroagem dentro do poder público pertença a essa
categoria. Se um agente fiscal ou um policial vem a ser corrompido,
isso não significa cleptocracia. A corrupção da oclocracia (das classes
dominadas, subordinadas) não é cleptocracia. Por quê?
Porque a
cleptocracia, em sentido estrito, é, dentre outras manifestações, (1) a
corrupção ou roubalheira institucionalizada praticada pelas bandas
podres das classes sociais dominantes/reinantes (financeiras,
industriais, comerciais, agrárias, políticas ou administrativas), para a
acumulação ilícita de riqueza; é também (2) o gerenciamento
patrimonialista da coisa pública (gerenciamento dela como se fosse coisa
privada) com o propósito de preservar no poder (no comando do Estado)
um determinado grupo hegemônico; é ainda (3) a cooptação do poder
político pelo poder econômico-financeiro (verdadeiro dono do poder) que,
dessa forma, “compra” o primeiro, sobretudo por meio do financiamento
empresarial da sua campanha. Corrompe-se, assim, o processo eleitoral
(desmentindo o mito igualitário do “cada cabeça um voto”) e rouba-se a
democracia cidadã, que garante e amplia, conforme Marshall, os direitos
políticos, civis e sociais das pessoas (materializando o que disse
Pierre Mendès France: “todo indivíduo contém dentro de si um cidadão”).
Inspirado em um texto de Dalmacio Negro Pavon (La cleptocracia: vejahttp://www.conoze.com/doc.php?doc=2147),
que é professor na Universidade Complutense de Madri, não há como não
subscrever (com alguns reparos e adequações, é certo) a sua tese de que a
cleptocracia (Estado governado por ladrões) está se convertendo (ou já
se converteu definitivamente) numa forma de governo generalizada, que se
implantou em praticamente todas as democracias ocidentais, que se
caracterizam ou se transformaram (salvo raríssimas exceções, como seria
talvez o caso dos países escandinavos, por exemplo) em meras democracias
eleitorais (não cidadãs), submetidas ao jugo do dinheiro dos poderosos
econômicos e financeiros que, como donos do poder, sempre se entendem
com todos os partidos e governos, pouco importando se são ditatoriais ou
democráticos, de direita, de centro ou de esquerda.
Diferentemente
do que acontece nas ditaduras, no entanto, que são ostensivas, não se
trata de uma forma “estabelecida” de governo (ela não vem declarada,
obviamente, nas constituições). É camuflada, invisível, mas se tornou,
como afirma H. E. Richter, em seu libro Die hohe Kunst der Korruption
(“A refinada arte da corrupção” – citação de Dalmacio Negro),
inseparável das atuais democracias, que convivem com a cleptocracia
praticada pelas bandas podres das classes dominantes/reinantes, que
governam o Estado e conformam o sistema de domínio e exploração das
classes dominadas.
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