Grupo americano pode considerar fusão, mas não a venda - Dasa e Rede D'Or já pegaram senha
Hospital: desde que UHG comprou Amil setor
passou por forte consolidação e transformação do modelo de
negócios (Flying Colours Ltd/Getty Images)
Ao contrário do que tem sido recorrentemente repetido, o United Health Group (UHG),
o maior grupo de saúde do mundo, avaliado em US$ 460 bilhões na Nyse e
dono da Amil, não quer sair do Brasil. E suas operações de hospitais e
planos de saúde verticalizados não estão à venda. Mas o UHG já entendeu
que o nome do jogo é escala. Aliás, pelo seu tamanho, é algo que sempre
soube.
A diferença é que desde que investiu R$ 11 bilhões na compra da Amil,
uma década atrás, o mercado brasileiro se consolidou — e continua se
consolidando — de forma brutal, enquanto seu negócio encolheu.
Por isso, qualquer possível transação com seus ativos aqui passa por
uma fusão, de forma que o UHG continue mostrando aos seus investidores
que tem um pé no terceiro maior mercado mundial de saúde privada, o
Brasil. Mas isso não quer dizer que conversas já não estejam ocorrendo e
que um movimento rápido não seja possível. Depende de todo mundo querer
e colocar foco nisso.
Contudo, o tempo para essa discussão de forma mais aprofundada só
deve vir depois de solucionada a questão da venda da carteira de planos
individuais abertos, que conta com 330 mil vidas.
Esse portfólio foi adquirido pelo fundo Fiord Capital,
constituído pelo ex-Starbord Nikola Lukic, mais a Seferin & Coelho,
especializada em administrar hospitais, e ainda o ex-executivo do setor
Henning von Koss, que construiu sua carreira na Medial/Amil e ainda
passou também pela Hapvida. O acordo foi assinado no fim do ano passado,
mas ainda depende de aval da Agência Nacional de Saúde (ANS) em meio às
polêmicas sobre a capacidade do grupo de gerir o ativo. A Fiord como
estrutura pode ser uma novata, mas quem vai conduzir a operação tem
cabelos brancos conquistados com anos de experiência no setor.
As últimas informações que faltavam foram enviadas ontem pelo UHG à
agência, de acordo com fontes próximas ao grupo. Mas não estão
descartados novos pedidos de dados.
O futuro do UHG
O Brasil, de forma geral, não é operado pelo UHG com olho de dono
necessário, pois é uma diminuta fração do todo. Não é de se admirar,
portanto, que as operações da Amil tenham encolhido desde que o grupo
americano comprou o ativo da Dasa.
E é também pelo fato de o mercado saber disso que o assédio ao UHG
para compra do negócio é relevante e recorrente. Mas o grupo já disse
‘não’ para propostas de aquisição pura e simples mais de uma vez.
Mostrar o Brasil no mapa continua sendo algo desejado.
Nesses dez anos, dois grupos que acabam de se unir se tornaram muito
relevantes. A Hapvida Intermédica será um negócio, tão logo unificado
totalmente, com receita líquida anual da ordem de R$ 20 bilhões e 15
milhões de vidas atendidas, entre planos de saúde e odontológicos.
Quando as ações de ambos forem combinadas, a companhia resultante valerá
mais de R$ 85 bilhões.
Na B3, também apareceu outro gigante: a Rede D’Or de
hospitais, fundada pela família Moll, avaliada em aproximadamente R$ 100
bilhões e com quase 70 hospitais. Para completar, a Dasa voltou ao
pregão da bolsa, disposta a retomar com força o crescimento – vale hoje
perto de R$ 15 bilhões.
Os candidatos
Aliás, Dasa e Rede D’Or são as favoritas para abrir um diálogo com o
UHG. Ambas estão próximas e interessadas nesse próximo possível
movimento do grupo. No entanto, como não há um mandato formal para
negociação, o que se poderia chamar de propostas e interesses de ambas
não são comparáveis. No passado, SulAmerica e Bradesco Seguros estiveram também bastante engajados em desenvolver uma negociação.
O negócio do grupo UHG soma 36 hospitais, entre as bandeiras Amil,
SOBAM, Americas, Santa Helena e Ana Costa e um total de 3 milhões de
vidas, já excluídas as individuais abertas vendidas. Apesar de ter
decidido vender a carteira de planos individuais, que totalizava quase
546 mil vidas, os verticalizados foram mantidos na carteira.
Mas, em termos de valor, praticamente não houve atualização desde a aquisição. A estimativa de fontes do setor é que valha hoje entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões,
no cenário mais otimista e benevolente com os problemas atuais, uma vez
que a operação ficou menor. O valor está justamente no que pode fazer
um novo dono.
Os bastidores
Os planos individuais abertos vendidos à Fiord Capital, ou seja, que
são atendidos também fora da rede Amil, nunca foram do interesse da UHG e
respondem na matriz por menos de 2% da operação consolidada. Por isso,
não é a primeira vez que o ativo é oferecido ao mercado. Em dezembro de
2020, um acordo estava para ser assinado, quando o grupo americano
desistiu da transação, pois teria de reconhecer uma perda (o dinheiro
aportado na operação mais a reserva legal) e não queria esse ajuste no
balanço daquele ano, contou um dos interessados que participou de ambos
os processos de venda.
Tanto na concorrência de 2021 quando na de 2020, apareceram 5
propostas vinculantes na etapa final, de 8 diferentes interessados,
entre operadores do setor e fundos de investimentos. Se tem um segmento
pujante em novidades é o de saúde. As mudanças vão além das fusões e
aquisições e da formação de gigantes. Há o nascimento de novos modelos
de negócios, com as aceleradas healthtechs.
Depois de passar uma década paralisado em 45 milhões de vidas
atendidas, o segmento de planos de saúde voltou a crescer e,
especialmente, nos individuais. Estruturas como das novatas Alice e QSaúde,
essa do veterano do setor José Seripieri Filho, com a operação
otimizada por todo avanço pós-pandemia em telemedicina e as facilidades
dos canais digitais, têm mostrado sucesso.
O motivo de ter atraído tantos interessados é o formato do acordo e a
escala que pode proporcionar. O UHG fez de tudo para tornar o ativo
interessante. O negócio foi transferido com as reservas legais
atendidas, cerca de R$ 1,5 bilhão, e mais capital (outro R$ 1,5 bilhão)
para fazer a operação crescer. Além de um contrato comercial que garante
atendimento na rede Amil por cinco anos, um período de transição de um
ano e quatro hospitais (ativo ouro no setor hoje) juntos.
A pergunta que fica é por que o UHG não faz esse negócio crescer?
Porque o atendimento de rede aberta está distante de ser simples. Exige
acompanhamento próximo da carteira de clientes, para que a saúde gere
renda e não custo. Demanda um canal diferente do atendimento
verticalizado. Trocando em miúdos: só que tem foco nisso consegue fazer
dar dinheiro.
Para completar, o UHG não vende planos individuais abertos no Brasil
desde 2013. Ou seja, essa é uma carteira que não se renova (pecado
mortal no universo de seguros), embora fontes próximas ao grupo garantam
que ainda tenha margem bruta positiva e um preço de contratos com
clientes bastante atrativo.
Se nem o negócio verticalizado cresceu no Brasil, que é a expertise
do UHG, o que dirá aquilo que ficou de fora. De forma simplificada, para
ficar no país, o grupo pode ter interesse sim em algo que lhe renda ao
mesmo tempo escala, gestão eficiente e footprint.