quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Os pingos nos 'is': Dono da Amil, UHG não quer sair do Brasil


Grupo americano pode considerar fusão, mas não a venda - Dasa e Rede D'Or já pegaram senha

 

Ao contrário do que tem sido recorrentemente repetido, o United Health Group (UHG), o maior grupo de saúde do mundo, avaliado em US$ 460 bilhões na Nyse e dono da Amil, não quer sair do Brasil. E suas operações de hospitais e planos de saúde verticalizados não estão à venda. Mas o UHG já entendeu que o nome do jogo é escala. Aliás, pelo seu tamanho, é algo que sempre soube.

A diferença é que desde que investiu R$ 11 bilhões na compra da Amil, uma década atrás, o mercado brasileiro se consolidou — e continua se consolidando — de forma brutal, enquanto seu negócio encolheu.

Por isso, qualquer possível transação com seus ativos aqui passa por uma fusão, de forma que o UHG continue mostrando aos seus investidores que tem um pé no terceiro maior mercado mundial de saúde privada, o Brasil. Mas isso não quer dizer que conversas já não estejam ocorrendo e que um movimento rápido não seja possível. Depende de todo mundo querer e colocar foco nisso.

Contudo, o tempo para essa discussão de forma mais aprofundada só deve vir depois de solucionada a questão da venda da carteira de planos individuais abertos, que conta com 330 mil vidas.

Esse portfólio foi adquirido pelo fundo Fiord Capital, constituído pelo ex-Starbord Nikola Lukic, mais a Seferin & Coelho, especializada em administrar hospitais, e ainda o ex-executivo do setor Henning von Koss, que construiu sua carreira na Medial/Amil e ainda passou também pela Hapvida. O acordo foi assinado no fim do ano passado, mas ainda depende de aval da Agência Nacional de Saúde (ANS) em meio às polêmicas sobre a capacidade do grupo de gerir o ativo. A Fiord como estrutura pode ser uma novata, mas quem vai conduzir a operação tem cabelos brancos conquistados com anos de experiência no setor.

As últimas informações que faltavam foram enviadas ontem pelo UHG à agência, de acordo com fontes próximas ao grupo. Mas não estão descartados novos pedidos de dados.

O futuro do UHG

O Brasil, de forma geral, não é operado pelo UHG com olho de dono necessário, pois é uma diminuta fração do todo. Não é de se admirar, portanto, que as operações da Amil tenham encolhido desde que o grupo americano comprou o ativo da Dasa.

E é também pelo fato de o mercado saber disso que o assédio ao UHG para compra do negócio é relevante e recorrente. Mas o grupo já disse ‘não’ para propostas de aquisição pura e simples mais de uma vez. Mostrar o Brasil no mapa continua sendo algo desejado.

Nesses dez anos, dois grupos que acabam de se unir se tornaram muito relevantes. A Hapvida Intermédica será um negócio, tão logo unificado totalmente, com receita líquida anual da ordem de R$ 20 bilhões e 15 milhões de vidas atendidas, entre planos de saúde e odontológicos. Quando as ações de ambos forem combinadas, a companhia resultante valerá mais de R$ 85 bilhões.

Na B3, também apareceu outro gigante: a Rede D’Or de hospitais, fundada pela família Moll, avaliada em aproximadamente R$ 100 bilhões e com quase 70 hospitais. Para completar, a Dasa voltou ao pregão da bolsa, disposta a retomar com força o crescimento – vale hoje perto de R$ 15 bilhões.

Os candidatos

Aliás, Dasa e Rede D’Or são as favoritas para abrir um diálogo com o UHG. Ambas estão próximas e interessadas nesse próximo possível movimento do grupo. No entanto, como não há um mandato formal para negociação, o que se poderia chamar de propostas e interesses de ambas não são comparáveis. No passado, SulAmerica e Bradesco Seguros estiveram também bastante engajados em desenvolver uma negociação.

O negócio do grupo UHG soma 36 hospitais, entre as bandeiras Amil, SOBAM, Americas, Santa Helena e Ana Costa e um total de 3 milhões de vidas, já excluídas as individuais abertas vendidas. Apesar de ter decidido vender a carteira de planos individuais, que totalizava quase 546 mil vidas, os verticalizados foram mantidos na carteira.

Mas, em termos de valor, praticamente não houve atualização desde a aquisição. A estimativa de fontes do setor é que valha hoje entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões, no cenário mais otimista e benevolente com os problemas atuais, uma vez que a operação ficou menor. O valor está justamente no que pode fazer um novo dono.

Os bastidores

Os planos individuais abertos vendidos à Fiord Capital, ou seja, que são atendidos também fora da rede Amil, nunca foram do interesse da UHG e respondem na matriz por menos de 2% da operação consolidada. Por isso, não é a primeira vez que o ativo é oferecido ao mercado. Em dezembro de 2020, um acordo estava para ser assinado, quando o grupo americano desistiu da transação, pois teria de reconhecer uma perda (o dinheiro aportado na operação mais a reserva legal) e não queria esse ajuste no balanço daquele ano, contou um dos interessados que participou de ambos os processos de venda.

Tanto na concorrência de 2021 quando na de 2020, apareceram 5 propostas vinculantes na etapa final, de 8 diferentes interessados, entre operadores do setor e fundos de investimentos. Se tem um segmento pujante em novidades é o de saúde. As mudanças vão além das fusões e aquisições e da formação de gigantes. Há o nascimento de novos modelos de negócios, com as aceleradas healthtechs.

Depois de passar uma década paralisado em 45 milhões de vidas atendidas, o segmento de planos de saúde voltou a crescer e, especialmente, nos individuais. Estruturas como das novatas Alice e QSaúde, essa do veterano do setor José Seripieri Filho, com a operação otimizada por todo avanço pós-pandemia em telemedicina e as facilidades dos canais digitais, têm mostrado sucesso.

O motivo de ter atraído tantos interessados é o formato do acordo e a escala que pode proporcionar. O UHG fez de tudo para tornar o ativo interessante. O negócio foi transferido com as reservas legais atendidas, cerca de R$ 1,5 bilhão, e mais capital (outro R$ 1,5 bilhão) para fazer a operação crescer. Além de um contrato comercial que garante atendimento na rede Amil por cinco anos, um período de transição de um ano e quatro hospitais (ativo ouro no setor hoje) juntos.

A pergunta que fica é por que o UHG não faz esse negócio crescer? Porque o atendimento de rede aberta está distante de ser simples. Exige acompanhamento próximo da carteira de clientes, para que a saúde gere renda e não custo. Demanda um canal diferente do atendimento verticalizado. Trocando em miúdos: só que tem foco nisso consegue fazer dar dinheiro.

Para completar, o UHG não vende planos individuais abertos no Brasil desde 2013. Ou seja, essa é uma carteira que não se renova (pecado mortal no universo de seguros), embora fontes próximas ao grupo garantam que ainda tenha margem bruta positiva e um preço de contratos com clientes bastante atrativo.

Se nem o negócio verticalizado cresceu no Brasil, que é a expertise do UHG, o que dirá aquilo que ficou de fora. De forma simplificada, para ficar no país, o grupo pode ter interesse sim em algo que lhe renda ao mesmo tempo escala, gestão eficiente e footprint.

 

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