Elmond Jiyane/AFP
Ministros das Finanças que participam do encontro do BRIC posam para
uma foto oficial: “três anos realmente não servem de base para uma
conclusão como essa”, disse Jim
Tariq Panja, da Bloomberg
Rio de Janeiro - O Brasil ainda merece um lugar no grupo de economias emergentes Bric
mesmo após vários anos de crescimento lento, segundo Jim O’Neill, o
ex-economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. que cunhou a sigla.
“Três anos, que é o período que o Brasil tem decepcionado, realmente
não servem de base para uma conclusão como essa”, disse, quando
perguntaram a ele se estava na hora de tirar o Brasil do grupo composto
também pela Rússia, Índia e China.
“É claro que, se continuarem no mesmo caminho, não há garantia de que o
Brasil e a Rússia continuarão sendo considerados Bric” até o fim da
década, disse ele.
A presidente Dilma Rousseff promete aumentar a confiança do investidor
reduzindo o déficit e freando a inflação, que está acima da meta, com a
aplicação de limites aos gastos e incrementos às taxas de juros.
Os analistas consultados pelo Banco Central projetaram que as medidas
provocarão uma desaceleração do crescimento em 2015 pelo segundo ano
consecutivo, mas estimaram que a economia começará a se recuperar em 2016.
A expansão do Brasil em 2016 ainda ficaria atrás da observada na Índia e
na China, cujas economias crescerão mais de 6 por cento cada, segundo a
estimativa média dos analistas consultados pela Bloomberg.
O produto interno bruto da Rússia se expandirá menos de 1 por cento no ano que vem, após encolher em 2015, segundo a pesquisa.
Países como o Brasil estão sofrendo com a queda nos preços das
commodities, que tem revelado “maus hábitos comportamentais”, como a
interferência estatal na economia e a reduzida independência do Banco
Central, que no governo Dilma é chefiado por Alexandre Tombini, disse
O’Neill, colunista da Bloomberg View e ex-presidente do conselho da
Goldman Sachs Asset Management International.
‘O problema’
“Eu dou aulas a alguns dos estrategistas brasileiros, como meu colega
Tombini, do Banco Central, e eu digo a eles, vocês são mais chineses do
que os chineses”, disse O’Neill, por telefone.
“Os chineses não querem mais ser chineses, e vocês acreditam que o Estado deve ser usado para tudo. E esse é o problema”.
A assessoria de imprensa presidencial não respondeu a um e-mail enviado
após o horário comercial em busca de comentário sobre o papel do Estado
na economia e a autonomia do BC.
Os estrategistas do Brasil precisam criar um fundo soberano de riqueza
para acumular reservas quando os preços de commodities como o minério de
ferro e a soja estiverem altos, disse O’Neill.
Eles também deveriam impulsionar a produtividade nos demais setores
além das commodities, talvez recorrendo ao fundo soberano para investir
em inovação, disse ele.
O’Neill disse que há muito tempo existe um ceticismo em relação à
economia do Brasil, acrescentando que durante uma viagem ao país, em
2003, as pessoas o acusaram de colocar o Brasil ao lado da Rússia, Índia
e China simplesmente para que a sigla soasse bem.
“Esta é, em parte, a razão pela qual foi tão fácil todos se apaixonarem
pelo país quando viram que o Brasil estava tendo todo aquele
crescimento”, disse ele. “É por isso também que foi tão fácil desapontar
as pessoas” com a desaceleração da economia brasileira, disse ele.
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