São Paulo – A crise da água em São Paulo
está se agravando e o cenário não deve melhorar nos próximos meses.
Especialistas consultados por EXAME.com afirmam que as soluções de curto
prazo existentes já foram tomadas e o que nos resta agora é o rodízio
de abastecimento. A Sabesp já cogita um revezamento severo,
de cinco dias sem água por semana. Com isso, a pergunta que todo
paulistano se faz é: o que vai acontecer se ficarmos realmente sem água?
Os cenários traçados vão desde o esgotamento dos nossos lençóis
freáticos, devido à perfuração excessiva de poços, até a redução do
horário de funcionamento de alguns estabelecimentos, além da instituição
de férias coletivas nas empresas em decorrência da falta de água.
Dentro de casa, estocagem de água e economia de alimentos.
O fato é que a atual crise veio para ficar, e os paulistas precisarão
mudar os hábitos radicalmente, segundo Gabriela Yamaguchi, gerente de
campanhas do Instituto Akatu, instituição que atua na promoção do
consumo consciente.
“Esse cenário não vai ficar só em 2015. Devemos permanecer pelo menos
dois anos com pouca chuva. Portanto, a situação dos reservatórios não
vai melhorar no curto prazo”, afirma Gabriela.
O engenheiro Julio Cerqueira Cesar Neto, especialista na área hídrica,
reforça o diagnóstico: “Quando acabar o volume morto do Cantareira
deixaremos de ter cerca de 30 metros cúbicos por segundo. Esse é o
tamanho do problema. E não tem de onde tirar esse volume de água num
curto prazo”, afirma. Antes da crise, a vazão retirada do Cantareira era
de 31 metros cúbicos por segundo.
Hoje, esse número já baixou para 14,
de acordo com a Sabesp.
Caso esse cenário se concretize, Gabriela afirma que a prioridade será
dada para serviços essenciais, como hospitais, polícia, bombeiros e
escolas. “Em outros locais, como shoppings, é possível que haja uma
redução do horário de funcionamento. Também já ouvimos entidades
empresariais falarem em férias coletivas para os funcionários, devido à
falta d’água”, afirma.
No entanto, a representante do Akatu argumenta que esse tipo de
situação ainda pode ser evitado. A solução estaria estar na articulação
dos diversos atores sociais para garantir a economia de água.
“Para que não se chegue a isso, é preciso ter mais coordenação no
diálogo. Não é possível esperar que só uma campanha de diminuição de
consumo da população resolva o problema. Precisamos da participação do
setor industrial e do agronegócio”, afirma.
Poços
Enquanto essa coordenação não se concretiza, muitos estabelecimentos já
estão recorrendo à perfuração de poços e, em casos extremos, à
contratação de caminhões-pipa.
Mas os especialistas explicam que a perfuração não pode ser levada ao
extremo. “Se perfurar um poço muito próximo de outro, os dois podem
ficar sem água”, diz Cesar Neto.
Outro problema é a possibilidade de que, com muitos poços, a cidade
esgote outra fonte de recursos hídricos: os lençóis freáticos. “Com a
perfuração de poços, o que estamos fazendo é apenas substituir uma fonte
de água por outra. O raciocínio precisa ser diferente. Precisamos mudar
nossos hábitos em relação ao consumo”, diz Gabriela.
Um dos caminhos para um uso mais consciente da água, segundo a
especialista, é o reuso. A água usada no enxague da máquina de lavar,
por exemplo, pode ser reutilizada na descarga. Outra atitude necessária é
o aproveitamento da água da chuva, inclusive com a construção de
cisternas.
Outro ponto fundamental é observar nosso consumo de produtos que
utilizam muita água em sua cadeia produtiva. “O exemplo clássico é o
desperdício de alimentos. O maior consumidor de água do mundo é o
agronegócio. E o maior desperdício que há no planeta é o de alimentos.
Isso precisa diminuir”, afirma.
De acordo com a coluna Painel,
da Folha de S.Paulo, o prazo dado pela Sabesp para iniciar um rodízio
drástico no abastecimento é de menos de dois meses. Sendo assim, é
preciso correr para aprender a economizar água e a trabalhar em conjunto
pela preservação dos recursos hídricos.
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