sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

O doce desafio da Mondelez


Operação brasileira da gigante americana de chocolates e biscoitos fatura US$ 1 bilhão em 2020 e projeta US$ 30 milhões em investimentos para ampliar a liderança de mercado.

Crédito:  Fábio Cordeiro

MAIS VOLUME Para o CEO Liel Miranda, a alta na receita foi puxada pelo aumento dos produtos consumidos em casa. (Crédito: Fábio Cordeiro )

Enquanto o mundo amargou um 2020 de enormes desafios a partir da crise provocada pela pandemia da Covid-19, a unidade brasileira da gigante americana de chocolates, biscoitos, balas e chicletes Mondelez chegou ao fim da travessia do ano celebrando um doce período de alta. Quarto maior mercado da companhia no mundo, a filial do Brasil fechou o ano com faturamento de US$ 1 bilhão – equivalente a 40% da receita da América Latina, e 5% de crescimento em relação à receita de 2019. “Foi um ano surpreendentemente bom porque as categorias de consumo em casa tiveram volume de vendas maior do que tínhamos planejado”, disse Liel Miranda, CEO da Mondelez Brasil. “A gente também se beneficiou pelo fato de o consumidor ir atrás de marcas conhecidas.”

Justamente nessas categorias estão os biscoitos da companhia, que registraram alta de 7,2% em vendas no período, impulsionados pela performance de Oreo, que, segundo a consultoria Nielsen, passou da sexta posição para a liderança em vendas no setor de recheados. Com um terço do mercado de chocolates no Brasil, a companhia obteve resultado 5% superior ao de 2019 nesse segmento. Os números da Associação Brasileira de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) refletem os bons resultados da companhia.

Segundo a entidade setorial, a taxa de penetração da categoria nos lares brasileiros entre janeiro e setembro foi de 90,1%. A frequência de compra aumentou 4% no período. A alta desses produtos para a Mondelez foi robusta o suficiente para neutralizar a queda dos chamados itens de impulso, como chicletes e balas, que dependem basicamente de vendas em pontos como bares e bombonieres, afetados pelo período em que precisaram ficar de portas fechadas. No auge da crise, a redução desse segmento chegou a 50%. “Essas linhas ainda não se recuperaram. Hoje estão cerca de 25% abaixo do que eram antes da pandemia”, afirmou Miranda.

PARCERIAS DIGITAIS Companhia planeja produzir 10 milhões de ovos de chocolate para a Páscoa e ampliar conexão com as redes varejistas e em canais on-line. (Crédito:Divulgação)

Em compensação, vendas em atacarejo cresceram 20% e, em supermercados, 5%. No geral, a companhia também cresceu em volume, com alta de 2% sobre o ano anterior. A evolução da Mondelez no Brasil é ainda mais significativa quando se leva em conta o aumento dos custos no período, pressionados pela grande desvalorização do real frente ao dólar, já que boa parte da matéria-prima, como açúcar e trigo, é precificada pela moeda americana. Outro ponto que pesou foi o chamado custo-Covid. “A gente está falando em um aumento de 1,5% de custos. E isso come a margem da indústria.”

Para o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), Cláudio Zanão, a questão cambial afetou diretamente no preço dos produtos como biscoitos. “Tivemos de repassar custos durante o ano”, disse. Isso, no entanto, não afetou a venda de produtos de uma forma geral. Pelo contrário. “O setor cresceu 5% em volume e 8% em receita em relação ao anterior”, afirmou o dirigente da Abimapi. O faturamento do segmento de biscoitos no Brasil em 2019 foi de R$ 18,8 bilhões, com volume de 1,5 milhão de toneladas.

Ainda que com a participação significativa do mercado brasileiro na receita da América Latina da companhia, o bloco registrou queda de 17,9% no faturamento em comparação a 2019, com US$ 2,5 bilhões, e alta de14,8% na Europa, alcançando US$ 8,1 bilhões. Globalmente, a Mondelez faturou em 2020 US$ 26,6 bilhões, crescimento de 2,75% em relação ao ano anterior. “Os outros mercados da América Latina são muito mais dependentes das categorias de impulso, consumidas fora de casa, e que tiveram queda. Essa variável atrapalhou a região, além da grande desvalorização cambial na Argentina.”

 

 

 

 

RESULTADO POSITIVO O segmento de biscoitos na Mondelez teve alta de 7,2% em 2020, impulsionado pela performance da marca Oreo. (Crédito:Divulgação)
 

PÁSCOA DIGITAL O desafio da companhia no Brasil, agora, é garantir a distribuição e venda de 10 milhões de ovos de chocolate para a Páscoa. No ano passado, a Mondelez teve de buscar uma solução rápida e eficiente para minimizar os efeitos iniciais do isolamento social, que teve início no Brasil poucas semanas antes do terceiro evento mais importante para o mercado brasileiro, após Natal e Dia das Mães, e que é responsável por 20% do faturamento da categoria. Foi aí que a empresa acelerou o processo de e-commerce, até então quase inexistente. Para conseguir vender chocolate em um momento em que parcela significativa de varejistas estava fechada, foi necessário a criação de um ecossistema digital.

A companhia conectou cerca de 300 varejistas à plataforma digital da Lacta, e realizou parcerias com redes como Rappi e Uber para garantir a logística do last mile (última milha) ao consumidor, em um formato B2B-2C. Também foi implementado um sistema de pedidos on-line dos produtos, sem que os vendedores precisassem ir ao estabelecimento. A medida deu certo e resultou em um aumento de 700% nas vendas no canal virtual entre 2019 e 2020. “Esse foi nosso grande aprendizado. Por meio desse sistema, a gente conseguiu garantir a entrega dos ovos de Páscoa. A gente simplesmente descobriu que o e-commerce era solução de alguns problemas”, disse Miranda.

Ainda assim, a empresa não conseguiu evitar que 8% da produção sobrassem nas gôndolas dos estabelecimentos. Para compensar, a companhia doou 500 mil ovos a entidades sociais, número dez vezes maior do habitual. Mesmo com queda nas vendas, a participação da Mondelez aumentou 5%, a partir das ações mais agressivas de comercialização e de marketing.

Para a Páscoa deste ano, a empresa terá distribuição em cerca de 2 mil clientes, incluindo maior presença digital. Com isso, a previsão é de que haja sobra de, no máximo, 3% da produção. “A competitividade nesse ano será maior. Se o crescimento for igual ao do ano passado, será um ótimo resultado”, afirmou o CEO.

PRODUÇÃO EM ALTA A fábrica da companhia em Curitiba recebeu investimento de US$ 100 milhões em três anos. (Crédito:Divulgação)

Para aproveitar o embalo, acelerar e ampliar ainda mais sua participação no mercado, a Mondelez planeja investir, em 2021, US$ 30 milhões em tecnologia, em melhoria de sistemas e de pesquisas em produtos. Somente no processo de modernização e ampliação da fábrica de Curitiba, o maior parque fabril de chocolates do mundo entre as operações da companhia e que exporta para 11 países, foram aportados US$ 100 milhões nos últimos três anos. Além de chocolate, são produzidos na capital do Paraná também balas e chicletes. A produção de biscoitos fica em Vitória de Santo Antão (PE). A empresa tem 8 mil funcionários no Brasil.

A segunda onda de Covid-19 ainda é uma forte preocupação. “A atividade econômica segue paralisada em função da pandemia”, afirmou Miranda. Para ele, o primeiro trimestre ainda não deixou claro o tamanho da continuidade do auxílio emergencial, pelo desemprego e porque o vírus ainda presente. A mudança desse panorama pode significar mais crescimento. “Para a gente continuar ganhando nas categorias de consumo em casa e recuperar o volume das categorias fora do lar”, disse o CEO da Mondelez. Um cenário com mais vacina. E mais doce.

 

 https://www.istoedinheiro.com.br/o-doce-desafio-da-mondelez/

Nenhum comentário:

Postar um comentário