A interferência do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras, com o anúncio da troca do presidente Roberto Castello Branco pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna, espalhou temor entre os acionistas minoritários da empresa. Apenas na sexta-feira, antes de o anúncio da troca ser oficializado, o valor de mercado da empresa caiu de R$ 383 bilhões para R$ 354,8 bilhões. A expectativa é de que caia ainda mais nesta segunda-feira. E a avaliação é que, se os próximos passos do governo forem no sentido de interferir na política de preços dos combustíveis, essa queda será potencializada, trazendo fortes perdas.
Para o presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Fábio Coelho, o episódio da última sexta-feira, com a demissão do presidente da Petrobras pelas redes sociais, é uma demonstração de “abandono de práticas consagradas de governança”. As críticas são, principalmente, quanto ao modo como a demissão aconteceu, sem que o conselho de administração tivesse oportunidade para, internamente, avaliar a indicação do general Luna ao cargo, antes de ela ser anunciada publicamente. “O ponto que chamou mais atenção não foi exatamente a qualificação profissional do novo presidente, mas o desrespeito ao conselho de administração”, acrescentou.
A Amec e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) divulgaram nota conjunta na qual destacam a preocupação dos minoritários com uma possível interferência política no comando da estatal. “Nessas situações, a observância de práticas consagradas de governança corporativa se torna ainda mais relevante para garantir que os interesses de todos – acionista controlador, investidores e outras partes interessadas – sejam levados em consideração”, diz a nota.
O ataque a Castello Branco começou ainda na quinta-feira, depois de a estatal ter anunciado novo reajuste no preço do óleo diesel. Bolsonaro passou, então, a dar declarações de que iria mexer na empresa. O combustível é a principal fonte de custo dos caminhoneiros, uma das suas bases eleitorais com mais poder de pressão sobre a economia. Em sua defesa, a Petrobras argumenta que segue uma política de paridade internacional, em que os seus valores de venda no Brasil acompanham as cotações do petróleo nas principais bolsas de negociação do mundo.
A primeira reação do mercado foi de descontentamento com a atitude de Bolsonaro. Agora, os minoritários avaliam os riscos de uma ingerência política no dia a dia da estatal.
Valor de mercado
“Não me surpreenderia se o valor de mercado caísse agora 15% (cerca de R$ 50 bilhões). O que não pode é, por exemplo, alguém falar de repente que o aumento do preço dos combustíveis anunciado pela Petrobras na última semana não vai ser aplicado. Mas, se o novo presidente da empresa mantiver a política de preço de paridade internacional (PPI), o que vai acontecer é que o mercado vai dar um desconto na ação relativo à percepção de risco”, avalia Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos.
Para Cristiano Costa, analista da J Global Energy, a tendência é que o governo queira controlar a Petrobras. “A Petrobras segurava o preço do combustível porque estava fazendo dinheiro com a produção de petróleo. Então, um bolso segurava o outro. Mas, para o acionista, isso não é positivo. Não vejo com bons olhos no longo prazo.”
Neste domingo, a XP rebaixou a recomendação das ações da Petrobras de “neutro” para “venda”, por conta das mudanças. Também revisou o preço alvo do papel de R$ 32 para R$ 24. “Vemos esse anúncio (da troca de presidente) como uma sinalização negativa, tanto de uma perspectiva de governança, dados os riscos para a independência de gestão da Petrobras, como também por implicar riscos de que a companhia continue a praticar uma política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços, ou seja, que reflitam as variações dos preços de petróleo e câmbio”, diz, em relatório, o analista Gabriel Francisco.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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