terça-feira, 30 de abril de 2013

MP no Brasil se une contra incineração de lixo


 

Já nas primeiras horas do XIII Congresso Brasileiro do Ministério Público do Meio Ambiente, que acontece em Vitória (ES), procuradores e promotores de todo o Brasil anunciaram que a partir de hoje se posicionarão completamente contra a incineração de lixo. A pauta foi levantada na reunião do Conselho de Coordenadores dos Centros de Apoio de Meio Ambiente (Concauma) e a decisão foi unânime entre representantes dos 23 estados brasileiros presentes.

De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), o promotor de Justiça do Maranhão Fernando Barreto Júnior, o próximo passo será o questionamento de todos os empreendimentos que busquem este tipo de destinação final para o lixo. Barreto também afirma que a incineração está na contramão da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

“É um ato poluente e não poderá ser usado pelos municípios como uma das alternativas na tentativa de erradicação dos lixões. Sabemos que muitas prefeituras ainda não estão trabalhando como deveriam para cumprir a Lei, que entre outros pontos, determina a recuperação das áreas degradadas pelos lixões até agosto de 2014. Não vamos permitir que soluções aparentemente fáceis, mas de alto impacto ambiental, sejam um atalho”, ressalta Barreto.  


(Fonte: Abrampa)

A base de cálculo da PIS e COFINS na importação e a segurança jurídica trazida pela posição do Supremo Tribunal Federal

ProcessoJudicialSeguroInternacionalCarga


Por Augusto Fauvel | @comexblog

Primeiramente cumpre destacar que há tempos se discute no meio jurídico a inconstitucionalidade do inciso I do artigo 7 da Lei n. 10.865/04.

Assim é a redação do supramencionado artigo:

Art. 7o A base de cálculo será:

I – o valor aduaneiro, assim entendido, para os efeitos desta Lei, o valor que servir ou que serviria de base para o cálculo do imposto de importação, acrescido do valor do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS incidente no desembaraço aduaneiro e do valor das próprias contribuições, na hipótese do inciso I do caput do art. 3o desta Lei; ou (…)’

No entanto, frisamos que a Constituição, no seu art. 149, § 2°, III, ‘a’, autorizou a criação de contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico sobre a importação de bens ou serviços, com alíquotas ad valorem sobre o valor aduaneiro.

Portanto, Valor aduaneiro é expressão técnica cujo conceito encontra-se definido nos arts. 75 a 83 do Decreto nº 4.543, de 26 de dezembro de 2002, que instituiu o  Regulamento Aduaneiro.

Temos que a  expressão “acrescido do valor do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS incidente no desembaraço aduaneiro e do valor das próprias contribuições”,  contida no inc. I do art. 7° da Lei n° 10.865/2004, desbordou do conceito corrente de valor aduaneiro, como tal considerado aquele empregado para o cálculo do imposto de importação, violando o art. 149, § 2°, III, ‘a’, da Constituição.
Isso porque o conceito de Valor aduaneiro é expressão técnica cujo conceito é conhecido em nosso sistema jurídico, prestando-se, basicamente, a servir de base de cálculo do imposto de importação. Hoje, encontra-se definido nos arts. 75 a 83 do Decreto nº 4.543, de 26 de dezembro de 2002, que instituiu o Regulamento Aduaneiro. O inc. I do art. 75 dispõe que o valor aduaneiro será apurado segundo as normas do Art. VII do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio-GATT 1994.

O valor aduaneiro, segundo o art. VII daquele acordo internacional, deverá corresponder ao valor real da mercadoria importada, ou a de outra mercadoria similar, e não deverá ser fundado no valor de produtos de origem nacional ou sobre valores arbitrários ou fictícios. O valor real deverá ser o preço pelo qual, em tempo e lugar determinados pela legislação do país da importação, as mercadorias importadas ou mercadorias similares são vendidas ou ofertadas à venda em operações comerciais normais, efetuadas em condições de plena concorrência.

Colocando uma pá de cal no tema e trazendo a necessária segurança jurídica aos importadores o Supremo Tribunal Federal STF  julgou em 20/03/2013 o RE 559.937  e declarou em definitivo e em ultima instância através de seu pleno a inconstitucionalidade o inciso I do artigo 7 da lei 10.865/04, determinando a exclusão do ICMS e das contribuições da base de cálculo do PIS/COFINS nas importações.

Assim, como a decisão acima somente se aplica ao importador que ajuizou a ação, necessário se faz que os demais importadores,  busquem no judiciário o direito de recolher o PIS-Pasep/importação e a COFINS/importação tendo como base de cálculo apenas e tão-somente o valor aduaneiro da mercadoria, bem como pleitear que seja autorizada a compensação do indébito relativo aos 05 anos anteriores ao ajuizamento da ação, com atualização do pela SELIC, nos termos da Lei 9.250/95, art. 39, § 4º.

Índice de Confiança da Indústria cai em abril, apura FGV

 
 
 
 
Por Valor
 
SÃO PAULO - Com avaliações mais negativas quanto ao presente e perspectivas menos otimistas para o futuro, a leitura final do Índice de Confiança da Indústria (ICI) registrou queda de 0,8% em abril, de acordo com pesquisa “Sondagem Industrial”, da Fundação Getulio Vargas (FGV). A leitura preliminar, divulgada na semana passada, indicava queda menor, de 0,3%.

Com o recuo, o indicador fechou o mês em 104,2 pontos e ficou abaixo da média móvel de 60 meses (104,4 pontos) pela primeira vez desde agosto do ano passado. O resultado, segundo a FGV, sinaliza um início de segundo trimestre “morno” na indústria.

O Índice de Situação Atual (ISA) caiu 0,7% em abril, ante março, para 103,5 pontos, abaixo da média de 105,6 pontos. A queda de 1,3% no nível de demanda foi o quesito com maior influência no recuo do ISA neste mês. A parcela de empresas que consideram o nível de demanda forte aumentou de 10,9% para 13,5%, mas a proporção das que o consideram fraco também subiu, de 9,3% para 13,2%.

Já o Índice de Expectativas (IE) caiu 0,9%, para 104,9 pontos, ainda superior à média, de 103,1 pontos. O quesito que mede as expectativas para o emprego cedeu 2,0% e foi determinante para a queda do IE, segundo a FGV. A proporção de empresas que esperam aumentar o contingente empregado nos três meses seguintes manteve-se relativamente estável, ao passar de 22,7% para 22,2%, enquanto a parcela das que preveem diminuição do pessoal ocupado aumentou de 10,0% para 11,7%.

Comparação com 2012

Em abril do ano passado, o Índice de Confiança da Indústria marcava 103,3 pontos e nesta base de comparação houve, portanto, aumento de 1,0%. Esse resultado, contudo, representa uma desaceleração na sequência de comparações anuais, que ocorre desde dezembro, quando houve aumento de 4,5% ante dezembro de 2011. Em janeiro, a alta foi de 4,4%; em fevereiro, de 3,8% e, em março, de 2,1%.

Capacidade

A pesquisa da FGV também mostrou que o nível de utilização da capacidade instalada da indústria aumentou apenas 0,1 ponto percentual, de 84,1% para 94,2% entre março e abril. Na leitura preliminar, divulgada na semana passada, o indicador mostrava 84,3%. O Nuci segue acima da média histórica recente, de 83,5% e também do nível de utilização registrado em abril do ano passado, de 83,9%.
(Valor)

Energia solar não tem patrocinador


Por Dauro Veras | Para o Valor, de Florianópolis
 
Procura-se empresa disposta a investir em projeto de energia solar para aquecimento de água, direcionado à população de baixa renda e que custa um terço de um sistema similar. O equipamento já existe e foi desenvolvido pela Bueno&Mak para a AES Eletropaulo, que suspendeu o projeto depois de realizar testes-piloto em residências. "Acompanhamos os testes, checamos as contas de luz e comprovamos a eficiência", diz o engenheiro elétrico José Mak, fundador do grupo Bueno&Mak, em Campinas (SP).

Foram dois anos de pesquisa para chegar ao modelo. O objetivo da Eletropaulo era aplicar um sistema que proporcionasse economia de energia no uso do chuveiro nos horários de pico. Para se chegar ao resultado final, a Bueno&Mak criou um sistema de placas e dutos com substituição de metais mais caros (como o cobre) por plásticos especiais, que sofreram mudanças nanotecnológicas para resistir ao calor e suportar agressões climáticas.

O reservatório de água também é de plástico. Nesse modelo, a água para banho é aquecida a 60º C enquanto em sistemas convencionais o aquecimento é de 100º C. Mak admite que o sistema não é indicado para áreas serranas do Sul do país, por exemplo, mas atende aos padrões climáticos das regiões acima do Paraná. "É ideal para projetos como o Minha Casa, Minha Vida. Estamos em busca de órgãos governamentais que estejam dispostos a investir na produção de lotes industriais para projetos habitacionais", afirma.

A Bueno&Mak foi fundada em 1996 para atender exclusivamente o setor elétrico em projetos de P&D. Após trabalhar por 25 anos na CPFL, Jose Mak detectou um vácuo na produção de conhecimento científico sustentável que atendesse as exigências da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pelas empresas do setor elétrico. Segundo ele, desde então foram desenvolvidos mais de cem projetos com resultados focados na sustentabilidade e em alternativas de energias limpas.

Nos primeiros anos, os trabalhos da empresa chegavam no máximo a um protótipo. Com o interesse maior do setor elétrico em P&D, a Buno&Mak evoluiu para produção de cabeças de série, alcançando lotes pioneiros até obter produção industrial, fechando o ciclo da Inovação. Os projetos envolvem áreas como smartgrids, nanotecnologia, biomassa e pesquisas com óleos vegetais. Atualmente, a Bueno&Mak desenvolve em Porto Velho (RO) um projeto, em conjunto com a Universidade Federal de Rondônia, para estudar 27 oleaginosas não comestíveis que possam fornecer óleo para transformadores verdes.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Novas eólicas deverão ter garantia de conexão ao sistema elétrico


Por Guilherme Serodio | Valor
 
RIO - O presidente da Empresa de Pesquisa energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou que apenas parques eólicos que tenham garantia de conexão no sistema elétrico poderão participar do próximo leilão de energia marcado para este ano. De acordo com ele, a medida é uma evolução devido aos atrasos na conexão de parques eólicos no sistema elétrico que prejudicaram os últimos leilões.

O próximo leilão será feito em duas fases. Na primeira os projetos apresentados vão disputar o direito de se conectar em uma subestação; na segunda, será o leilão tradicional. “Primeiro, [a empresa] disputou o direito de entrar naquela subestação, depois vai disputar a demanda, vai disputar o contrato”, afirmou Tolmasquim. 
Segundo ele, no próximo leilão de matriz eólica não haverá leilão para subestações. A mudança tem o objetivo de “evitar o problema que tem ocorrido de parques que ficam prontos e a expansão [da rede] não chega a tempo”, afirmou Tolmasquim. “Isso vai aumentar a segurança enormemente, só vai ser contratado aquilo que tiver conexão”, disse. 

Nos novos leilões, a EPE fará, conjuntamente com o Operador Nacional do Sistema (ONS), uma análise sistêmica que verificará a capacidade de escoamento dentro do sistema elétrico nacional. A consulta de acesso será condição para participar do leilão. “O agente vai verificar a possibilidade de conexão na rede e vai fazer um a consulta de acesso ao ONS. Com esse documento, o empreendedor vai poder se inscrever na EPE”, afirmou. “Depois, junto com a ONS, faremos uma avaliação conjunta para os parques cadastrados e vamos determinar a capacidade de escoamento de cada um e da região”, disse Tomalsquim.

Os projetos que não entrarem no próximo leilão terão nova oportunidade com a expansão das linhas de transmissão. A EPE está começando um planejamento da expansão das linhas de transmissão “para que, no próximo leilão, quem ficou fora deste possa participar”, afirmou. “É claro que você vai diminuir o número de players, mas é um trade-off (uma escolha) para aumentar a segurança [no fornecimento de energia]”, afirmou.

Térmicas

O ONS pode desligar térmicas a óleo combustível em maio. De acordo com o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, a situação favorável dos reservatórios das usinas hidrelétricas ao final do período úmido – que termina no dia 10 de maio - pode permitir o desligamento das usinas térmicas mais custosas no próximo mês.

Os reservatórios das hidrelétricas estão em um nível melhor do que o esperado pelo ONS para o fim do período úmido, afirmou Chipp. Atualmente o nível dos reservatórios é de 62,3% da capacidade nas hidrelétricas do sudeste, 47,8% no nordeste, 63,5% no sul e 96% na região norte.

A decisão sobre o desligamento das usinas será tomada na próxima reunião do Comitê de Monitoramento, no dia nove de maio. “Seria uma parte, pelo menos, das térmicas a óleo [combustível], que são as mais caras e que não agregam um grande volume de reservatório”, disse Chipp.

“Agora, o comitê tem mais elementos para tomar uma decisão. Vamos apresentar as hipóteses hidrológicas para ele tomar a decisão se vai parar alguma coisa ou se vai continuar com tudo até o final de maio”, afirmou. 

Outra opção para a redução do custo de operação do sistema elétrico seria fazer o desligamento das térmicas a óleo apenas em junho. Segundo Chipp, para maio há uma expectativa de pouca chuva na região sul, precipitação moderada no sudeste e mais intensa no norte e no nordeste. “As previsões não têm sido longe da realidade e têm ajudado muito a gente na antecipação da política operativa”, afirmou. 

De acordo com ele, a expectativa do ONS é chegar ao final do ano dentro dos níveis meta determinados para os reservatórios – 47% no sudeste e 35% no nordeste. “Se houver alguma expectativa de ficar abaixo do nível meta, não vamos parar nada (...) e se você para um pequeno volume e a coisa não acontece como previsto, o comitê tem a prerrogativa de despachar de novo, porque o ano que vem é um ano especial, da Copa”, disse.are

Dilma a Cristina: não a barreiras comerciais


Por Sergio Leo
 
 
O governo brasileiro decidiu fazer um "acompanhamento interessado" das discussões da Vale com o governo argentino, como resultado da reunião, na quinta-feira, entre as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner.

Como ficou evidente pela nada informativa entrevista das duas ao fim do encontro, ambas estão decididas a mostrar união e apoio mútuo - especialmente apoio do Brasil à Argentina, que, sob pressão de credores e forte especulação no mercado de câmbio do país, se arrisca a se tornar um pária no mercado financeiro internacional. Em síntese, busca-se uma saída honrosa, que garanta uma transição tranquila na saída da Vale no país, sem risco de confisco de seus ativos e sem abruptas demissões em massa.

Na sexta-feira, a Vale anunciou um acordo para garantir pagamento parcial por cinco meses e dispensar gradualmente funcionários ocupados no projeto Rio Colorado, de exploração de potássio, onde já enterrou cerca de US$ 2 bilhões, mas não vê como manter a previsão de investimentos, que chega a US$ 11 bilhões. Ela tem direito, porém, de manter por algum tempo a concessão das minas. Os argentinos chegaram a mostrar a Dilma uma proposta para redimensionar o projeto e baratear sua execução.

Vale: Dilma fará "acompanhamento interessado"

A declaração de que a Vale iria mesmo sair do país, feita no mesmo dia da visita, pelo presidente da empresa, Murilo Ferreira, chegou a irritar o governo, que viu, no anúncio do executivo, um ruído desnecessário em meio aos esforços de Dilma por garantias do governo argentino contra retaliações à companhia.

As conversas entre Dilma e Cristina foram muito além da questão da Vale, porém, e serviram, principalmente, para abrir espaço político a duras negociações técnicas, previstas para os próximos dias.
No topo das discussões, para o governo brasileiro, estiveram as barreiras ao comércio bilateral, especialmente a Djai, a Declaração Juramentada Antecipada de Importação, usada pelas autoridades argentinas para controlar a entrada de produtos importados no país, e responsável pela queda nas vendas de manufaturados brasileiros no mercado vizinho. 

Evitando o tom de confronto, Dilma disse à presidente argentina que a manutenção da Djai contamina a relação bilateral e dificulta os esforços do governo para mostrar sintonia na dupla Brasil-Argentina. Cristina teria autorizado seus auxiliares a buscar uma solução.

Em resumo, a visita serviu para os brasileiros deixarem claro que o relacionamento entre os dois países tem um trilho único, que não pode ser dividido em três vias diferentes, uma para o investimento, uma para o comércio e outra para financiamento. O governo Dilma está disposto a estimular a ida de empresas brasileiras à Argentina, inclusive com facilidades de financiamento; e apoiará os argentinos em suas dificuldades no mercado internacional; mas a boa vontade está intimamente ligada ao que se passar no comércio. Não haverá mudanças no regime automotivo, por exemplo, se, informalmente, o secretário de Comércio Interno, Guillermo Moreno, forçar montadoras a exportar US$ 1 para cada US$ 1 importado do Brasil.

No encontro dos técnicos, houve decisões positivas, que não foram anunciadas pelas presidentes, talvez porque chamariam atenção para obstáculos exóticos no suposto livre comércio entre os dois países: os brasileiros aceitaram levantar parcialmente as barreiras ao lagostim argentino (na verdade, camarões, grandes como não há no Brasil), com uma cota de até 20 mil toneladas, que começará com 5 mil, neste ano; os argentinos aceitaram dar uma cota de 2 mil toneladas mensais de importação para a carne suína brasileira. Está adiantada, ainda, a discussão para liberar a entrada, no Brasil, de limões produzidos em Tucumã, na Argentina.

Dilma teve duas horas de reunião com Cristina, a sós, e uma tarde de reunião com ministros de lado a lado, seguida da entrevista e de um jantar de trabalho. Na próxima semana, equipes dos dois países, chefiadas pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e pelo ministro do Planejamento argentino, Julio de Vido, devem voltar a se encontrar, em Montevidéu, às margens de uma reunião do Mercosul, para aparar arestas restantes.

Uma coincidência didática se seguiu ao encontro das presidentes: na sexta-feira, o mercado paralelo ("blue", como o chamam os argentinos) levou as cotações da moeda americana a uma alta recorde, para 9,37 pesos por dólar. Um indicativo dos temores de desvalorização na Argentina e de fuga para a moeda forte, velho hábito no país vizinho.

Não passou despercebida pelas agências de notícias a autorização de Cristina Kirchner, no começo do mês, para depósito de US$ 400 milhões do governo no Fundo Monetário Internacional (FMI), aumentando, assim, o acesso do país a socorro financeiro de emergência. O FMI, como se sabe, é demonizado pelo governo argentino, que o culpa, não sem razão, pela crise econômica argentina, no começo dos anos 2000.

A Argentina já foi um "país normal", elogiado pelos analistas de mercado e apontado como exemplo, pela sua fidelidade ao modelo ortodoxo; a adesão acrítica aos ditames do mercado empurrou o país ao fim do atrelamento do peso ao dólar e ao calote da dívida, e, hoje, serve de justificativa, na retórica oficial, até para barbaridades na gestão econômica, como o desesperado recurso ao controle de preços, na base de ameaças às empresas.

Mas o temor argentino de perder investimentos para a força gravitacional do mercado brasileiro tem grande fundamento, como demonstrou, na quarta-feira, a gigante do agronegócio El Tejar, ao anunciar a decisão de mover sua sede de Buenos Aires para São Paulo. Difícil imaginar que o governo Kirchner assistirá impassível a essa migração de negócios para o vizinho maior. As trocas de sorrisos e abraços entre Dilma e Cristina podem ser o começo de negociações para lidar com esse dilema. Ou revelar a incapacidade de harmonizar os interesses dos dois maiores sócios do Mercosul.
 
Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
E-mail: sergio.leo@valor.com.br

Dosagem mais sutil


Por Angela Klinke
Claudio Belli/Valor / Claudio Belli/Valor 
Natalie Klein, criadora da NKStore: "O amadurecimento do mercado vai ajudar a criar consumidoras mais críticas"
 
Um amigo cunhou o termo e a paulistana Natalie Klein se identificou. O estilo que concebeu para sua multimarcas NKstore pode ser definido como "pós-chic". E o que significa? " É a sutileza, um comportamento mais recolhido. A peça tem de possibilitar um prazer pessoal. Ela não é um instrumento para você escancarar sua vida."

A estilista americana Tory Burch integra esta frente que busca outro sentido para o luxo. "Fazemos parte do mercado, mas num caminho diferente. O design é bonito e bem feito, mas o preço não é o determinante. Somos sofisticados, mas acessíveis." Diane Von Furstenberg, referência internacional de moda, se define como uma marca de luxo contemporânea que as mulheres compram para fazê-las sentir "como a melhor versão si mesmas."

Autogratificação, emoção, acesso, praticidade, confiança. Estas três empreendedoras do luxo que atendem o público feminino de moda estão menos interessadas no status que a exclusividade de suas peças oferecem, e mais em como se "conectar com as mulheres." Tory Burch lançou sua grife há nove anos; Natalie abriu sua loja há 16 e Diane criou o icônico "wrap dress" em 1973. Cada uma viveu momentos diferentes do mercado, mas todas afirmam que "cresceram com a marca".

Para Natalie, isso se reflete no aprimoramento de suas criações e na seleção de itens internacionais para que a moda não seja descartável. "Ninguém pode jogar o guarda-roupa fora a cada estação. Isso faz com que a moda perca a credibilidade. Trabalho com uma cartela de cores, por exemplo, que permite que as peças sejam combinadas em coleções mais antigas e mais recentes."

A equação para que cada temporada seja "comercial e conceitual" é ter em torno de 20% das tais "tendências". Mas, quando visita o showroom das marcas internacionais, Natalie não aceita o prato feito. "A partir do que as mulheres compram lá fora, essas empresas têm um estereótipo da brasileira na cabeça. Fujo disso. O grande desafio da NK é oferecer o que a cliente nunca imaginou ter." Em suas duas lojas, uma em São Paulo e outra no Rio, trabalha as marcas próprias NK e Talie - que representam 70% do faturamento - e outras 26 grifes internacionais. O e-commerce é só 0,5 % do resultado e "o ideal é que chegue a 3%."

Além disso, ela tem franquias das marcas Marc Jacobs e Marc by Marc, com lojas no shopping Iguatemi, em São Paulo. Tem crescido nos últimos anos entre 18 % e 22%, mas sentiu uma freada em 2012, não superando os 16%. "É um reflexo da operação direta das marcas de luxo e da chegada de novas grifes. Mas este é um momento de deslumbramento com as novidades. O amadurecimento do mercado vai ajudar a criar consumidoras mais críticas."

Como trabalha com uma franquia internacional "engessada" - "você precisa ter uma grade em profundidade, ou seja, é obrigada a comprar todas as cores de um determinado modelo e não dá para investir na peça diferente" -, Natalie sabe que as mulheres têm "mais chance de ousar na NKstore" do que numa monomarca. Tem investido em etiquetas diferentes e novos criadores para atender a consumidora informada que sabe dosar "mainstream" e peças "nichadas". "O modelo multimarcas é o mais viável. Por isso que, no médio prazo, acho que faz sentido levar a NK para Nova York, por exemplo."

Diane Von Furstenberg: luxo para fazer as consumidoras se sentirem como a "melhor versão de si mesmas"
 
Enquanto Natalie sonha em ir, Tory e Diane estão "satisfeitas" por ter vindo. A primeira abriu três lojas em São Paulo e uma no Rio no ano passado. A próxima será em Curitiba. "O Brasil é um mercado de luxo incrivelmente importante. Temos a coleção completa aqui, mas, além disso, desenvolvemos produtos específicos para o mercado, como biquínis e maiôs com corte brasileiro", diz Tory. Diane tem duas unidades em São Paulo e garante que "novas virão" para o país. A estilista belgo-americana, que tem uma longa relação com o Brasil e até já desenhou uma coleção de joias para a H.Stern, acredita que sua marca "tem total sintonia com as brasileiras". "Elas amam seus corpos e adoram cores. Não têm medo de impressionar e é isso é tão DVF!"

Mesmo com expectativas positivas para o mercado de luxo, em especial nos mercados emergentes, Tory tem pautado seu crescimento com "paciência e moderação". Foi assim que sua empresa foi avaliada em US$ 3 bilhões, depois de uma recente abertura de capital. Presente em 50 países, ela planeja novas lojas e a regionalização do e-commerce. Vai apostar em novas categorias como perfumaria, e lança neste ano sua fragrância em parceria com a Estée Lauder.

Com faturamento de US$ 500 milhões e 58 lojas, Diane quer fortalecer sua presença no varejo, expandir em novas categorias (como artigos para casa e perfumaria) e ampliar sua operação de e-commerce. Como percebeu que sua marca é "maior que o próprio negócio", trouxe o executivo Joel Horowitz (da Tommy Hilfiger) para "organizar o crescimento". "Este momento é muito excitante. Estamos procurando maneiras de inovar no on-line e vamos crescer nosso e-commerce nos Estados Unidos e no mundo. As formas com que as mulheres compram e se envolvem com as marcas estão evoluindo."

Este momento de transformação do mercado não se restringe ao Hemisfério Norte ou ao eixo Rio-São Paulo. No Recife, a multimarcas Dona Santa prepara sua expansão dos atuais 1,8 mil metros quadrados para a nova sede de 5 mil metros quadrados turbinada pelo crescimento das vendas no Nordeste, mas também pelo interesse de uma classe abonada na região Norte do país. O crescimento da estrutura física está sendo feito em paralelo à estruturação da operação de e-commerce. A Dona Santa tem hoje sete mil clientes ativos no mailing e um tíquete médio de R$ 3 mil.

A convivência com consumidores em patamares diferentes de conhecimento das grifes, exige de Juliana Santos - atual comandante do negócio fundado por sua mãe Lilia em 1995 - ser capaz de agradar ao mesmo tempo os novos ricos, a aristocracia e as consumidoras viajadas e superconectadas. Ela precisa ter um mix com marcas nacionais de prestígio, grifes de luxo internacionais consagradas e descobrir etiquetas de novos talentos como a franco-alemã Augustin Teboul e a libanesa Maison Rabih Kayrouz. "Meus clientes querem exclusividade. E isso pode ser conseguido com uma peça única, uma marca nova ou uma combinação inusitada. Mas o luxo começa na loja, no atendimento, na consultoria que a vendedora é treinada para oferecer. A consumidora brasileira de luxo precisa sentir este envolvimento", diz Juliana.

O mesmo vale para o mercado de beleza. A francesa Guerlain, que tinha uma distribuidora aqui, passou a operar a marca diretamente no país há três meses. A primeira providência da diretora, Perrine Provost, foi rever os 150 pontos de venda. Agora a consumidora só encontra os perfumes, itens de maquiagem e cosméticos da grife na Sephora. Em compensação, uma loja própria já está sendo cogitada no Brasil - hoje são 90 no mundo. "O alto luxo tem de ser trabalhado com muito cuidado. O atendimento define a venda e os consumidores brasileiros ainda não sabem o que é uma experiência Guerlain. E é isso que vamos fazer daqui para frente."

A missão de Perrine é fazer com que a Guerlain seja reconhecida no Brasil, assim como é em outro países, como " a mais luxuosa e exclusiva marca de beleza do mundo". Para isso, oferece o acesso ao clube vip da marca para quem comprar seus produtos com preço médio de R$ 200, mas com itens que superam os mil reais. Entre as vantagens, está um agendamento privilegiado no spa da grife em Paris. "A brasileira busca um sentido para sua compra. Não basta só ser uma grife. É preciso ser legítima", diz Perrine.