Daniela Milanese
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vem reforçando a mensagem de que o Brasil voltou a atrair recursos estrangeiros neste início de ano. A entrada de dólares estaria “vindo forte” em fevereiro. Até o dia 19, o fluxo cambial está positivo em US$ 1 bilhão, numa melhora provocada pelo resultado da conta financeira, com entrada de US$ 2,1 bilhões, saldo que não era visto desde setembro do ano passado.
O movimento chama a atenção porque acontece em meio ao processo de normalização da política monetária do Federal Reserve, que provoca solavancos nos emergentes. Além disso, passa por cima das constantes críticas dos investidores sobre a atual condução da política econômica nacional, tendo em vista o fraco crescimento, as dúvidas sobre a situação fiscal e a perspectiva de rebaixamento do rating soberano.
Afinal, o Brasil foi da exagerada condição de “queridinho” dos mercados poucos anos atrás à questionável posição de “vulnerável” no atual momento, expressão usada até mesmo pelo Fed.
O que teria mudado, então, na postura externa?
Gestores estrangeiros consultados por este blog confirmam que, de fato, há algum dinheiro novo sendo colocado novamente no País nas últimas semanas. Não se trata de um fluxo exuberante capitaneado por uma reversão de expectativas econômicas nem por uma melhora na avaliação do governo brasileiro.
Por ora, investidores institucionais estão cobrindo parte de posições vendidas, aproveitando as taxas mais elevadas de juros, fazendo operações de arbitragens e entrando em oportunidades pontuais geradas pelos preços mais baixos.
Como disse um profissional, juro real de 7% só é visto nos mercados menos desenvolvidos, de fronteira. Ninguém, portanto, está impressionado com a meta de superávit primário de 1,9% anunciada na semana passada.
“A maior parte do movimento vem de cobertura de posições vendidas com base na avaliação de que as coisas não irão piorar, ao invés da visão de que estão melhorando”, afirmou um estrategista de instituição britânica.
Segundo outro gestor que atua no exterior, há fundos reduzindo posições vendidas também no mercado de ações, em razão das fortes quedas acumuladas – o Ibovespa tem perda de 17% desde o início do ano. Ainda assim, esses investidores mantêm nervosismo sobre as aplicações no mercado de renda variável. “Há fundos dedicados, como nós, que estão cautelosamente aumentando a exposição a algumas oportunidades específicas”, disse o profissional.
A grande questão, claro, é saber se o movimento terá continuidade daqui para frente. Se o Federal Reserve prosseguir retirando os estímulos à economia e enxugando liquidez, não é difícil concluir que o ano tende a ser volátil, com momentos de turbulência para abalar os períodos de trégua.