segunda-feira, 21 de julho de 2014

O crescente "efeito Lúcifer" dentro das organizações

Resultado de imagem para fotos de lideres

Por Rafael Souto
 
A sensação é recorrente: sempre que volto de eventos sobre gestão de pessoas, venho com alguma esperança sobre o desenvolvimento de líderes. Esse otimismo, porém, termina na primeira conversa com algum executivo sobre sua carreira e o ambiente corporativo.

O psicólogo norte-americano Philip Zimbardo estudou o comportamento humano para entender por que, em determinadas situações, algumas pessoas consideradas boas são capazes de cometer as mais diversas atrocidades.

Zimbardo conduziu um ensaio na Califórnia em que pessoas normais eram colocadas em situações limite para verificar seu comportamento. O famoso estudo da penitenciária imaginária de Palo Alto mostrou que indivíduos comuns, quando colocados na posição de carcereiros, faziam maldades com os presos, mesmo sabendo que eles eram pessoas como eles e que estavam em um estudo.

Essa tendência de uma pessoa produzir o "mal" quando lhe é conferido poder foi chamado de "efeito Lúcifer". O pesquisador fez diversos ensaios para entender esse movimento. E, se pudéssemos resumir a jornada de Zimbardo, a conclusão seria de que o poder e a pressão transformam as pessoas.

Quando analiso o cenário de negócios em que nossos líderes estão mergulhados, vejo que estamos em uma fábrica de "Lúcifers". As empresas estão cada vez mais pressionadas para obterem resultados em um ambiente global de alta competição.

Se analisarmos a realidade do Brasil, além da disputa internacional, temos nossas mazelas internas conhecidas e não resolvidas: um sistema engessado com custos elevados, salários indexados por dissídios coletivos incompatíveis com os custos, regime tributário pesado, leis trabalhistas ultrapassadas e problemas estruturais graves de logística, apenas para citar alguns. Enfim, a tempestade perfeita para tornar cada vez mais difícil a vida dos executivos.

Somo a todos esses fatores acionistas e conselhos de administração preocupados com o longo prazo no discurso, porque a cada reunião do conselho analisam o curto prazo com uma ferocidade capaz de eliminar o mais genial executivo que não cumpre as metas do trimestre. Há uma distorção evidente, consequência da imaturidade da estrutura de governança de grande parte das empresas.

Considerando o risco da ascensão ao poder para desencadear o efeito Lúcifer acrescido de doses fortes de pressão, instabilidade de mercado e intensa dificuldade para produzir resultados, temos a fórmula mágica para produzir líderes agressivos, com agenda pessoal acima da organização e com alto poder de destruição emocional de suas equipes.

Não vejo um futuro promissor para o desenvolvimento de líderes se não mudarmos a formatação e o cenário no qual eles estão inseridos. Não faz sentido investir em programas de treinamento falando sobre líder servidor ou inspirador. Isso termina quando cruzamos a porta de entrada da empresa.

Percebo uma esquizofrenia entre a realidade e o discurso sobre liderança. É como treinar as pessoas para agirem como monges orientadores e desembarcá-los na Normandia, no próprio Dia D.

Essa mudança precisa vir do topo. Acionistas agressivos e com expectativas somente de curto prazo não podem esperar líderes comprometidos, inspiradores e resilientes. Entendo os cansativos e repetitivos discursos sobre carência de líderes e apagão de talentos. Porém, recomendo uma reflexão acima dessa linha.

A maior carência não está no nível executivo. O verdadeiro apagão está na ausência de uma revisão transparente, coerente e realista dos valores e expectativas sobre o papel dos executivos.

Uma cúpula feroz não produzirá lideranças agregadoras. A tríade parece armada: acionistas endiabrados, conselheiros diabólicos e o próprio Lúcifer como CEO.

Se as organizações seguirem nesse caminho estarão rapidamente se especializando em um novo negócio: berçários do efeito Lúcifer ou sanatórios para executivos. E cuidado! Logo farão um IPO para abrir o capital e buscar expandir o negócio.


Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado

Barroso diz ser absurdo UE e Brasil não terem livre-comércio


José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, disse ser absurdo a União Europeia e o Brasil não terem um acordo de livre-comércio

Paul O'Driscoll/Bloomberg News
Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso
Presidente da CE, José Manuel Durão Barroso: "façamos um acordo União Europeia-Brasil"

Rio de Janeiro - O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, qualificou nesta segunda-feira de "absurdo" a União Europeia e o Brasil não terem um acordo de livre-comércio, durante uma conferência no Rio de Janeiro.

"Parece absurdo que a União Europeia tenha acordos de livre-comércio com o mundo inteiro menos com o Brasil", declarou Barroso em um ato na Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas.

Barroso foi recebido em Brasília na sexta-feira pela presidente Dilma Rousseff para discutir as negociações de associação entre a União Europeia e Brasil.

"Trago a Dilma e ao Brasil uma mensagem: façamos um acordo União Europeia-Brasil", disse o presidente do Executivo europeu.

Em 1999 a União Europeia e os países do Mercosul começaram a negociar um Acordo de Associação Estratégica que inclui uma cláusula de livre-comércio, além de tratados de cooperação em várias áreas.
Após um esfriamento das conversas, as negociações bilaterais ganharam força e em fevereiro deste ano Durão Barroso e Dilma apontaram que o tratado União Europeia-Brasil estaria pronto antes do fim de março.

O presidente da Comissão Europeia, que após dez anos no cargo será substituído em novembro pelo conservador Juncker, aproveitou o encontro com os economistas brasileiros para defender as reformas tributárias e do mercado de trabalho em vários países europeus.

Segundo ele "a crise mostrou que é necessária uma maior integração, embora a União Europeia não seja um estado federal como Estados Unidos, Brasil e Suíça".

Produção da Petrobras decepciona e meta é desafiadora


Petrobras produziu média de 2,008 milhões de barris de petróleo por dia no Brasil em junho, alta de 1,5% em relação ao mesmo mês do ano passado

Acordo salgado
Plataforma da Petrobras
Plataforma da Petrobras: analistas viram o crescimento como aquém das expectativas

Rio de Janeiro - O crescimento da produção de petróleo da Petrobras no Brasil em junho decepcionou, alimentando preocupações sobre o cumprimento da meta da estatal para o ano, disseram analistas de duas instituições em relatórios nesta segunda-feira.

A Petrobras produziu média de 2,008 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) no Brasil em junho, alta de 1,5 por cento em relação ao mesmo mês do ano passado e de 1,7 por cento ante maio, informou a estatal na noite de sexta-feira.

A empresa não registrava média de produção mensal no país acima de 2 milhões de bpd desde dezembro de 2012, mas ainda assim analistas viram o crescimento como aquém das expectativas.

"Embora em condições normais esse crescimento decepcionante juntamente com a deterioração contínua do seu balanço devam pressionar as ações, nós acreditamos que tais pontos de pressão fundamental devem continuar sendo compensados por notícias relacionadas à eleição --mais especificamente, os resultados das pesquisas eleitorais em curso", disse o Santander em relatório assinado por Christian Audi e Gustavo Allevato.

Uma vez que o mercado considera excessiva a intervenção da presidente Dilma Rousseff nas estatais, pesquisas de intenção de voto apontando piora no desempenho da governante, que tenta a reeleição, têm impulsionado as ações de empresas como a Petrobras.

As ações preferenciais da Petrobras operavam praticamente estáveis nesta segunda-feira. Por volta das 12h15, caíam 0,19 por cento, enquanto o Ibovespa subia 0,04 por cento.

No primeiro semestre, a produção de petróleo da Petrobras no país cresceu 1,4 por cento ante o mesmo período do ano passado, para 1,947 milhão de bpd, levantando dúvidas sobre o cumprimento da meta.

"Mesmo assim, ainda consideramos muito desafiante a meta de produção da empresa em 2014, que não as cumpre há dez anos", disse a Planner Corretora em boletim diário, fazendo referência às unidades que entrarão em operação no segundo semestre, e que poderiam ajudar a Petrobras a atingir seus objetivos.

Procurada, a Petrobras não se manifestou imediatamente sobre o assunto.

Anteriormente, a Petrobras informou que seu Plano de Negócios 2014/2018 "prevê no fim de 2014 um aumento na média de produção de 7,5 por cento, com margem de tolerância de 1 ponto percentual para mais ou menos, sobre a média de 2013, que foi de 1,931 milhão de barris por dia (bpd), somente no Brasil".

Apesar do aumento recente da produção do pré-sal, campos maduros da estatal declinaram. O Santander prevê que o pré-sal permanecerá em crescimento neste ano e deve representar 25 por cento da produção nacional da Petrobras até o final de 2014.

Economistas reduzem projeção de crescimento do PIB a 0,97%


Especialistas melhoraram ligeiramente a perspectiva para a inflação, de acordo com a pesquisa Focus do Banco Central

Camila Moreira, da
Ueslei Marcelino/Reuters
Um homem sai da sede do Banco Central, em Brasília
Banco Central: mediana das estimativas para o IPCA este ano passou a 6,44%

São Paulo - Economistas de instituições financeiras passaram a ver expansão econômica no Brasil abaixo de 1 por cento neste ano após novos sinais de fraqueza, ao mesmo tempo em que melhoraram ligeiramente a perspectiva para a inflação e mantiveram o cenário para a política monetária após o Banco Central ter mantido o patamar do juro básico na semana passada mas deixado as portas abertas para eventuais mudanças.

Em uma trajetória descendente que já dura oito semanas, a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto em 2014 caiu a 0,97 por cento na pesquisa Focus do BC divulgada nesta segunda-feira, contra 1,05 projetado anteriormente. No ano passado, o PIB cresceu 2,5 por cento.As expectativas de que a economia deve ter recuado no segundo trimestre aumentaram na semana passada com a queda de 0,18 por cento em maio do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), espécie de sinalizador do PIB.

Um dos maiores pesos sobre a economia é a indústria, e no Focus os agentes econômicos voltaram a piorar sua projeção, vendo agora uma contração da atividade de 1,15 por cento, ante queda de 0,90 por cento na semana anterior. 

Para 2015, a projeção para o crescimento do PIB foi mantida pela terceira semana em 1,50 por cento, enquanto a estimativa de crescimento da indústria caiu a 1,70 por cento, frente a 1,80 por cento. INFLAÇÃO Por outro lado, os agentes econômicos consultados no Focus reduziram a projeção para o IPCA, afastando-a um pouco do teto da meta do governo, que é de 4,5 por cento com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos. 

A estimativa para a inflação oficial em 2014 passou agora a 6,44 por cento, contra 6,48 por cento anteriormente. Depois de o IPCA ter estourado o teto em junho com 6,52 por cento em 12 meses, o mercado aguarda a divulgação na terça-feira do IPCA-15 de julho. Para 2015, a projeção no Focus para o IPCA foi elevada a 6,12, contra 6,10 por cento. 

Para os próximos 12 meses, sofreu alta de 0,03 ponto percentual, a 5,95 por cento. Entretanto, o Top-5 de médio prazo, com as instituições que mais acertam as projeções, continua vendo estouro da meta este ano, mantendo a projeção para o IPCA em 6,51 por cento. 

Para a política monetária, não houve alterações na perspectiva de que a Selic encerrará o ano no atual patamar de 11,00 por cento, depois de o BC ter decido na semana passada manter a taxa básica de juros nesse nível pela segunda vez seguida.

Diante da atividade fraca e da inflação elevada, o Comitê de Política Monetária (Copom) deixou as portas abertas para eventual mudança na política monetária, e os olhos agora se voltam para a ata da reunião, a ser divulgada na quinta-feira. Por enquanto, os economistas continuam vendo que novo ciclo de aperto monetário só começará em janeiro de 2015, com alta de 0,25 ponto percentual, sem alteração sobre a semana anterior, segundo o Focus.

“Fator decisivo para crescimento de escritório é o atendimento”

Jogo do mercado




Quando se propôs a fazer uma lista com os dez maiores escritórios de advocacia do Brasil, há quase uma década, o jornalista Alexandre Secco imaginou que uma simples busca na internet o ajudaria. Não foi bem assim. Se o setor não conhecia todos os seus gigantes, hoje ele não só sabe quem é quem, como também está mais organizado, mais estruturado e apoiado em indicadores objetivos para saber para onde ir.

Em certa medida, essa mudança se deve a publicações como o anuário Análise Advocacia, pioneiro em lançar luz sobre os escritórios e advogados mais admirados segundo as maiores empresas do Brasil e da qual Secco é editor. “Há um grande número de escritórios médios e poucos grandes que não têm a mesma visibilidade. Indicadores desse tipo são extremamente benéficos, porque coloca essas pessoas no mapa”, diz.

Seu trabalho faz dele um observador privilegiado das transformações do setor. A principal delas, aquela que ajudou a catalisar: “Não existe setor econômico organizado que não tenha seus índices, seus indicadores. O mercado de advocacia não tinha, hoje tem”, avalia.

De acordo com os critérios da Análise, executivos de 1,7 mil empresas, que abrangem 66 diferentes setores da economia, são convidados a responder quais são as bancas e profissionais que mais admiram. A partir disso, Secco e sua equipe fazem uma "fotografia" do quadro atual da elite da advocacia do Brasil.

Diante de um setor em lenta, mas constante, mutação, Secco, que não é dado a vaticínios, só consegue apontar uma "fórmula": atendimento é o fator decisivo para o crescimento de qualquer escritório. “Acompanhamos nesses dez anos uma série de estratégias, alternativas, sacadas, e o que a gente observou como elemento essencial é o bom atendimento, uma prestação de serviço jurídico adequado”. Fora isso, prefere deixar para o mercado dizer se as apostas deram certo.

Ele reconhece que há margem para transformações com as novas possibilidade oferecidas pela tecnologia, mas não acredita em nenhuma revolução. Secco vai na mesma linha ao falar do marketing jurídico. Nesse caso, ele vê certo comodismo do setor em se conformar com as restrições impostas pela Ordem dos Advogados do Brasil. “A OAB não deixa cinco coisas, mas existem outras 58 mil que podem ser feitas”.

O jornalista também não se empolga com a agitação em torno da mediação e arbitragem — este último, considerado por ele, um modelo caro e nem tão rápido quanto apregoam. Em visita à revista eletrônica Consultor Jurídico, Secco compartilhou suas perspectivas sobre o mercado.


Leia a entrevista:

ConJur — O que mais mudou no mercado da advocacia nos últimos dez anos?
Alexandre Secco — Naquela época a gente falava o que estava na moda era o escritório empresa — uma coisa que as pessoas repetiam, mas pouca gente sabia o que isso significava. Naquele momento, os escritórios começaram a achar bacana importar práticas de grandes empresas, mas que não funcionavam direito quando chegavam às bancas. Essa crise de identidade já está resolvida. Os escritórios hoje são administrados de uma forma mais adequada: são pessoais até o nível que devem ser e não querem mais copiar a Volkswagen.

ConJur — O que o escritório precisa para crescer hoje em dia?
Alexandre Secco — O fator decisivo, como sempre foi, é o atendimento. A forma como o cliente é atendido define mais do que tudo para onde se vai. Acompanhamos nesses dez anos uma série de estratégias, alternativas, sacadas... O que a gente observou como elemento essencial é o bom atendimento, uma prestação de serviço jurídico adequado. Não estou dizendo nem barata. Estou dizendo adequada, bem feita. Eu acho que esses escritórios foram aqueles que cresceram mais nestes últimos tempos e eu acredito que vão continuar sendo aqueles que vão progredir.

ConJur — A receita é antiga. Fora isso, alguma novidade?
Alexandre Secco — Vários escritórios fizeram apostas se deram bem, em teses tributárias, em questões constitucionais e por aí vai. Os criminalistas ganharam dinheiro como nunca em função de características do Brasil novo. É óbvio que existem nichos e oportunidades bem específicas. Mas essas são oportunidades que você precisa de feeling. Se eu souber dizê-las, não vão ser mais uma oportunidade, porque, assim como eu, outros 300 já perceberam. Esse tipo de negócio está muito associado a uma percepção imediata de oportunidade que ele sempre vai haver. Mas se pensarmos em uma receita para crescimento continuado e orgânico, como dizem, é o atendimento, não tem jeito.

ConJur — Como se dá esse crescimento?
Alexandre Secco — As pessoas crescem por aquisição. Hoje existem alguns profissionais no mercado brasileiro que o negócio deles não é propriamente a advocacia, mas é o negócio do Direito. Eles encontram boas oportunidades de escritórios no interior, compram esses escritórios, turbinam e depois revendem. Da mesma forma que você faz negócio com qualquer outro tipo de empresa, compra empresa e vende empresa. Isso é uma novidade aqui no Brasil, uma novidade relativamente recente. É uma forma de você montar operações grandes de forma mais rápida. Como é muito novo, eu não sei conseguem conviver com culturas diferentes pacificamente.

ConJur — Existe um teto para um escritório crescer?
Alexandre Secco — Só vamos ter uma resposta para essa pergunta observando o que vai acontecer com esses novos escritórios que cresceram rápido. Eles vão nos mostrar como é que lidaram com o próprio crescimento. Uma coisa é você crescer organicamente, outra é crescer de forma mais explosiva, fruto de fusões ou de outra forma. Em resumo, as várias faixas de tamanhos de escritório no Brasil conseguiram encontrar suas receitas e seus modelos de gestão. Os escritórios grandes conseguiram se adequar porque tiveram tempo para fazer isso.

ConJur — Tem algum palpite a respeito desses escritórios que não cresceram de forma orgânica?
Alexandre Secco — Vai depender de talento dessas pessoas para gerir esse crescimento, essencialmente.
ConJur — As modalidades de contratação por concorrência ou leilão criam, de alguma forma, um tipo de efeito colateral, como a inflação dos quadros para participar?

Alexandre Secco — Eu não sei o que os escritórios estão fazendo em termos de criar quadros ou não. Eles têm que se entender com quem os contrata. O que eu tenho visto é que aqueles escritórios que têm se organizado de forma adequada para participar de concorrência eles têm, sim, encontrado um bom mercado, como qualquer outro setor. Empresas públicas são bons clientes, pagam direito e há um mercado que você se organiza para conquistar ou não. Rigorosamente, eu não vejo nenhum problema.

ConJur — O poder público é o esteio do mercado da advocacia?
Alexandre Secco — Como cliente, não. Mas em outro sentido, sim. A gente ainda está decidindo uma série de questões criadas pelo Poder Público e essas questões ainda alimentam os caixas dos escritórios. Dessa forma, sim.

ConJur — Dentro dessas contratações, não vê o risco de se pagar um preço baixo demais?
Alexandre Secco — Em nenhum setor econômico que se dispôs a se organizar para participar de licitação isso aconteceu. Não tem nenhuma empresa suicida no mercado. Se ela se organiza é porque, teoricamente, está encontrando uma forma de ganhar alguma coisa com esse trabalho. Quem não fica satisfeito com isso, abandona. O mercado se organiza assim. O que temos visto na prática é que quando saem os editais e eles são ruins, não há interessados. Se eles são razoáveis, o mercado disputa e tenta ganhar.

ConJur — O mercado consegue se proteger?
Alexandre Secco — Eu não tenho dúvida disso. Não tenho absolutamente nenhuma dúvida disso.

ConJur — E como proteger o investimento dos escritórios que montam grande estruturas para atender grandes empresas, mas que, depois de um tempo, revisam os contratos para contratar uma banca que cobra menos?

Alexandre Secco — A gente está em um modelo de uma economia privada não protegida. Os contratos são privados. Eu acho que eles têm que se entender para fazer seus direitos valerem.

ConJur — Não tem como ser diferente? Um marco regulatório, por exemplo?
Alexandre Secco — A não ser que você queira que algum modelo de regulação da economia, coisa que eu entendo que é um pouco dramaticamente danoso, não. Em todas as relações comerciais você está sujeito a esse tipo de operação. Isso é uma característica típica do mercado e os escritórios têm que aprender uns com os outros.

ConJur — Vale a pena investir em conciliação e arbitragem?
Alexandre Secco — Não vejo essas áreas ainda hoje como carros-chefe de um grande número de escritórios. Não adianta imaginar que esse mercado de Direito vá sofrer uma transformação brutal se o nosso modelo jurídico não sofre. Nosso modelo de prestação de serviços jurídicos, do ponto de vista da esfera pública, é a mesma coisa. Houve algumas mudanças como processo eletrônico, mas são pontuais. Não houve uma mudança tão grande na economia. O sistema tributário continua o mesmo, o sistema de remessa de mercadorias para o exterior continua o mesmo, os grandes pilares da economia, tanto do ponto de vista regulatório, é tudo a mesma coisa. O escritório só pode reagir da mesma forma.

ConJur — O escritório vai continuar fazer o que ele sempre fez. É isso?
A
lexandre Secco — Tem muita gente confortável em um modelo jurídico em que os processos são decididos muito lentamente. O modelo de arbitragem não é um modelo barato, também não é um modelo extremamente rápido. Falava-se na arbitragem como uma panaceia e as pessoas já sabiam que não era. É um modelo diferente com seus custos, com seus problemas, com suas. Em um modelo público, o escritório já está mais adaptado, eventualmente tem os prazos a favor.

ConJur — A onda de cisões acabou ou ainda tem mais coisas para acontecer nessa área?
Alexandre Secco — Os escritórios estão começando a sentir os efeitos de uma economia que não é mais o que era. O sócio já não consegue encontrar mais espaço para crescer dentro do escritório. É um movimento natural que ele vá embora e forma uma empresa aos seus moldes. Para o cliente isso é muito interessante, porque ele costuma achar alternativas de profissionais muito qualificados geralmente a preços menores, porque a estrutura é mais enxuta. Eu gostaria que esse movimento continuasse. Do ponto de vista dos sócios de muitos escritórios me parece que é melhor a aposta da empresa mais enxuta.

ConJur — E a que o senhor credita a redução de fechamentos em escritórios?
Alexandre Secco — Tivemos um momento de quebradeira, que estava muito associado a uma euforia do tipo “vamos montar um escritório-empresa com não sei quantos sócios”. O mercado já não era assim, os próprios estrangeiros vieram para cá e não fizeram muita questão de ficar. Não é que nós temos um mercado tão pujante a ponto de você fazer todo tipo de estripulia.

ConJur — Quais as novidades na gestão de escritórios que o senhor tem visto?
Alexandre Secco — A maior novidade já tem mais de dez anos. São softwares de gestão de processos. Há dez ou 15 anos, eram coisas tão raras que foram dois ou três escritórios que desenvolveram seus próprios programas. Não encontravam sequer programadores para fazer isso e eles venderam esse negócio. A partir desse momento isso começou realmente a se espalhar e virar padrão. Fora isso, temos pouca coisa. Não tivemos grandes avanços em área nenhuma. Um ou outro disse que vai investir em marketing, outro tem um departamento de RH mais desenvolvido. Me espanta até que esses avanços tenham ocorrido de forma tão moderada.

ConJur — O que pode ser feito além disso, por exemplo?
Alexandre Secco — Bons escritórios têm uma demanda gigantesca por estágio, por mão de obra de jovem. Mas nenhum até hoje se arriscou a fazer algo parecido com o que fazem grandes empresas que é tornar o seu programa de estágio uma vitrine. A Ambev quando faz o seu programa de estágio, algo disputadíssimo, pensa também na imagem que ela está construindo, não só no fato de que ela está arregimentando profissionais brilhantes. Não vejo coisas desse tipo acontecendo em escritórios, que continuaram sendo aquilo que, na verdade, eles sempre foram: advogados com uma série de restrições no que diz respeito a sair do seu próprio ambiente.

ConJur — Quanto é preciso investir em tecnologia?
Alexandre Secco — Vou fazer uma comparação com uma agência de propaganda. O que ela vende de mais valioso é a criatividade. Nenhum computador faz. No Direito é rigorosamente a mesma coisa. Para se fazer uma sustentação oral no Supremo, escrever uma tese, é preciso uma pessoa. Assim como o publicitário é insubstituível, o advogado é insubstituível. Mas assim como o publicitário conta com ferramentas para facilitar seu trabalho, o advogado pode contar também. O advogado pode contar com a ferramenta de pesquisa, com a ferramenta de análise do processo, ele pode ter base de dados de juízes para avaliar como é que um vota ou deixa de votar. A tecnologia pode gerenciar o escritório de uma forma mais adequada e eficiente. A aplicação da tecnologia dentro de um escritório de advocacia é ilimitada. Não é o equipamento que define a qualidade daquilo que você vai fazer. Mas isso vai ajudar a chegar a alguns objetivos com mais rapidez e eficiência.

ConJur — As empresas de tecnologia têm sido capazes de adiantar novidades ou elas estão à reboque das necessidades dos escritórios?
Alexandre Secco — Sempre surge uma coisa ou outra nova, para que você possa gerir melhor a sua vida. Mas não se encontra nada revolucionário. Afinal, para ser revolucionário nessa área, talvez o Direito também precise mudar, além dos processos, os tribunais e tudo mais. Não é o que acontece. Essas ferramentas têm dado um ganho em usabilidade, em rapidez, em fatores não propriamente essenciais.

ConJur — Mas elas estão propondo necessidades novas para os advogados?
Alexandre Secco — Eu acho que sim. Grande parte dos escritórios ainda está muito distante das possibilidades do uso da tecnologia. O que essas ferramentas estão apresentando hoje é um beabá. Elas não estão mostrando nada, a meu ver, muito revolucionário. Se você tivesse um mercado mais maduro, no que diz respeito ao uso de tecnologia, talvez você estimulasse essas empresas a avançar. As empresas ainda têm um mercado mais básico para atender.

ConJur — O que dá para modernizar na questão de marketing jurídico? Existe uma margem que ainda dá para ser explorada ou está todo mundo trabalhando no limite?
Alexandre Secco — Tem muita margem. O marketing nesse tipo de empresa ainda é muito atrasado. Escritórios podem ter muito a ganhar construindo e gerenciando sua marca. Quando se fala sobre isso os escritórios acham que o problema se resolve chamando o designer e fazendo um logo. O problema é muito mais além. Quando se fala em branding, você pensa na marca do escritório de uma forma muito mais ampla. A forma como você atende o seu telefone é marketing. Ter alguém preparado para atender alguém e lidar com essa demanda é tão marketing quanto por uma anúncio em algum lugar. Eu falei agora do caso dos estagiários. Eu nunca vi alguém em escritório pegar essa demanda por estagiário e transformar isso em uma ação de marketing. Tem o produto que é um escritório de ponta; tem o interessado por este produto que é um estagiário bem formado. Contar para todo mundo que esse estagiário quer trabalhar nessa empresa pode gerar uma ação de marketing extraordinária. Isso sem fazer nada pelo que a Ordem dos Advogados do Brasil vá pegar no seu pé. O que eu acho é que os escritórios estão muito acomodados na ideia de que "a OAB não deixa". A OAB não deixa cinco coisas. Existem 58 mil que você pode fazer. Eu tenho a impressão que é isso.

ConJur — Com as gestões cada vez mais profissionalizadas em RH o advogado está participando mais disso no escritório?
Alexandre Secco — O mercado é muito variado e ele segue as mais diversas conformações. Eu não conheço um modelo que dá para se espalhar. Essa é um tipo de empresa muito diversificado no que diz respeito a estratégias de gestão. Nos últimos dez ou 15 anos teve uma série de escritórios saindo do pequeno e virando médios e grandes, porque houve um fluxo de dinheiro para patrocinar esse crescimento. Só se a economia daqui para frente não sustentar essas empresas, é que vamos conseguir verificar se um modelo de gestão é mais eficiente.

ConJur — Foi bastante comemorada a inclusão da advocacia no Supersimples. Acha que isso vai aumentar o número de escritórios ou o pessoal vai começar a trabalhar mais sozinho?
Alexandre Secco — Não adianta ter Supersimples, se não houver demanda para serviço jurídico. Pensando na quantidade de pessoas represadas pelo Exame de Ordem, já existe uma demanda reprimida gigantesca de gente que queria ingressar nesse mercado e não consegue. Existe também aqueles que não conseguem se colocar com um salário ou uma forma de trabalho adequados. O que tem acontecido é que muitos escritórios ou advogados têm patrocinado causas pequenas em tribunais especiais, se especializado em resolver demandas de bairro. O que é ótimo. Se ele encontrarem demanda para isso, e se forem remunerados para isso, eu acho excelente.

ConJur — O que mudou no perfil dos advogados?
Alexandre Secco — Os MBAs estão muito mais populares. A pós-graduação já virou uma coisa muito comum. Antes, se falasse de um advogado de elite, ele seria essencialmente formado pela PUC e pela USP. Hoje há outras escolas produzindo e jogando profissionais de elite no topo da carreira dentro dos escritórios. Foi formado nesse período um tipo de advogado que o Brasil não tinha, que é especializado em negócios, que entende de fusão, de aquisição. É claro sempre houve tudo isso, mas era menos pulverizado. Hoje tem mais gente que domina essa linguagem.

ConJur — As faculdades então têm formado melhor? Tem conseguido atender o mercado?
Alexandre Secco — Não sei se as escolas vêm formando melhor ou se é simplesmente uma questão de demanda. A USP e a PUC não conseguem mais abastecer o mercado inteiro. É preciso buscar profissionais em outras áreas, em outras escolas. Esses profissionais se qualificam, eles estudam e pronto, ocupam os lugares que têm para eles ocuparem. Eu não sei onde é que está a engrenagem. “Então, as outras escolas hoje tem o padrão da USP?” Eu não sei dizer. O que é evidente é que essas escolas não abastecem mais o mercado. Você tem uma quantidade enorme de escritórios e eles precisam de profissionais.

ConJur — Que tipo de curso os escritórios estão procurando nos advogados?
Alexandre Secco — É muito variado. Não há necessariamente um MBA para fazer. É possível fazer um curso qualquer relacionado a um aspecto do direito tributário em que o profissional está trabalhando. É possível fazer um curso relacionado a gestão de escritórios mais voltado a um aspecto não jurídico da sua carreira. Essa é outra característica dessa geração, mas que não é uma novidade: a especialização a nível extremo. A aposta dos escritórios nesse aspecto é que essa tendência sempre aumentou.

ConJur — O advogado deve procurar um nicho de trabalho e investir nele...
Alexandre Secco — O advogado que evolui dentro dos escritórios é o especializado. Hoje não é mais preciso se especializar no âmbito do direito. É possível se especializar e ir trabalhar no Cade. O que também não é novo. Enquanto isso estava aqui e acolá, hoje tem mais pessoas fazendo isso. É possível o advogado resolver que vai trabalhar junto a agência reguladora, ao TCU. O céu é o limite. Isso porque a economia permite, injeta dinheiro nesses assuntos. Então é possível que se contrate especialistas para isso.

ConJur — Essa busca por especialização tem se dado de forma proativa dentro dos escritórios ou o advogado corre atrás conforme a necessidade?
Alexandre Secco — Isso vem sendo uma iniciativa do advogado. Eu não conheço, de modo generalizado, um esforço dos escritórios para promover formação da sua mão de obra. O que também não é nenhum pecado. As empresas não saem por aí especializando mão de obra. Eu vejo muitos escritórios que estimulam indiretamente, permitindo que o profissional se afaste um ou dois anos para estudar. Há muita boa vontade dos escritórios de um modo geral, mas o interesse é do profissional. Se ele não estiver interessado na própria formação, vai dar o lugar para outro.

ConJur — A queixa do aviltamento de honorários é frequente. Acha que tem um piso a ser atingido?
Alexandre Secco — Eu acho que sempre dá para piorar. Eu estou muito curioso para saber o que vai acontecer daqui para frente, porque a gente está em um mercado embalado. Se a economia não der um cavalo-de-pau e embicar para uma zona mais positiva, talvez a gente tenha algum tipo de acomodação. As pessoas que contratam serviço de advocacia ainda não estão reclamando do preço. Eu acho que a gente ainda tem uma margem de manobra. Se o mercado continuar como está nada vai acontecer. Eventualmente você pode algum ou outro solavanco. Prova disso são essas cisões. A gente é obrigado a compreender que querem nos dizer alguma coisa.

ConJur — Qual é o futuro da advocacia?
Alexandre Secco — Olhando para advocacia praticada nos EUA, Europa ou Ásia é possível ver um pouco dos aspectos do futuro: mais advogados globalizados, envolvidos em operações de negócio. De modo geral todo o resto a gente tem aqui. Insisto no mesmo ponto. A economia vai dizer para onde esse mercado vai. Essa é uma área essencialmente ligada ao que tem em volta dela. Se amanhã o governo resolver fazer um mega programa de infraestrutura, para valer, o mercado vai ter a cara desse segmento.

ConJur — O futuro dos escritórios é ser full service ou bancas menores e mais especializadas tendem a crescer?
Alexandre Secco — O futuro é cada um saber identificar onde atuam melhor. Vimos alguns movimentos de escritórios pequenos que viraram full service e se deram bem. Outros que voltaram atrás. O segredo não é apostar num modelo, mas enxergar e tentar entender em que modelo a banca é capaz de sobreviver. Full service é muito caro, muito difícil. O que eu tenho notado é que muitas pessoas descobriram que elas não têm mais essa angústia. Estão felizes com as empresas que atuem ou em nichos muito específicos.

ConJur — O advogado, de modo geral, sabe reconhecer qual é seu limite?
Alexandre Secco — Eles têm aprendido a gerenciar esse processo com mais profissionalismo, não só no feeling. Aprenderam a lidar com ferramentas de gestão, a contratar consultorias. Muitos escritórios usam ferramentas relativamente sofisticadas para avaliar onde eles estão, para onde eles vão e o que eles podem ser. Eles têm como preocupação constante avaliar o posicionamento deles no mercado, se eu estou no lugar certo, se estou atuando na área certa, se eu deveria estar aqui e não ali. Eu acho que esses, realmente, têm dado grandes exemplos de sucesso.

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O candidato tem a possibilidade de tirar o visto de residência australiano e  governo oferece benefícios iguais aos profissionais locais

Por Infomoney

centro-de-entretenimento-350O governo australiano está importando profissionais de diversas áreas por falta de mão de obra no país. São mais de 192 carreiras, que vão de engenheiro civil a enfermeiro e médico, para pessoas de todo o mundo, inclusive para os brasileiros. A relação de todas as profissões foi divulgada neste mês na SOL (Skilled Occupations List), válida entre junho deste ano a julho de 2015. As oportunidades valem para profissionais com pouca ou vasta experiência nas áreas.

Para participar do processo, os interessados precisam ter a profissão reconhecida na Austrália pelo órgão certificador, ter nível avançado de inglês e atingir uma pontuação mínima dentro de um sistema criado pelo Departamento de Imigração. Esse sistema leva em conta diversas variáveis, como idade, ocupação, nível de inglês, tempo de trabalho, formação, entre outras. O candidato para uma vaga demandada na Austrália, caso preencha todos os requisitos, tem a possibilidade de tirar o visto de residência australiano. O governo oferece bons salários e benefícios iguais aos profissionais locais.

Índice de confiança do empresário industrial cai para o menor nível histórico



O levantamento mostra ainda que a falta de confiança é maior nas médias empresas

Por Agência Brasil

industria-4-350O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu para 46,4 pontos em julho, o menor valor da série histórica, que começou em 1999. Essa foi a quarta queda consecutiva e, desde março, o indicador, acumula retração de 6,1 pontos, informa pesquisa divulgada nesta sexta-feira (18), pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Icei varia de 0 a 100. Abaixo de 50 indica falta de confiança.

A pesquisa foi feita com 2.649 empresas entre 1º e 11 de julho. Na indústria extrativa, o Icei ficou em 50 pontos, a linha que separa o otimismo da falta de confiança. No setor de construção, o indicador caiu para 47,7 pontos e, na indústria de transformação, recuou para 45,6 pontos.

Entre os 28 setores da indústria de transformação pesquisados, apenas três – bebidas, farmacêutico e manutenção e reparação – ficaram acima dos 50 pontos. O levantamento mostra ainda que a falta de confiança é maior nas médias empresas, segmento em que o Icei caiu para 45,2 pontos. Nas grandes e pequenas indústrias, o índice baixou para 46,8 pontos.