Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
São Paulo - O advogado Francisco Antônio Stockinger, de Porto Alegre,
está entrando na Justiça em defesa de seis acionistas minoritários da Petrobras, que tiveram prejuízos em decorrência dos recentes escândalos da empresa, deflagrados pela Operação Lava Jato.
Segundo ele, qualquer investidor que teve perdas com a ação, motivadas por fraudes na gestão da empresa, pode entrar com o processo, independentemente do tamanho do prejuízo.
“As ações são individuais e se propõem a buscar uma restituição do valor perdido com a ação em decorrência da corrupção e também do superfaturamento de obras que elevaram artificialmente as cotações da empresa”, diz o advogado.
Ele está representando clientes que iniciaram seus investimentos na Petrobras em diferentes momentos e, portanto, tiveram diferentes níveis de prejuízo.
Stockinger diz que alguns de seus clientes tiveram perdas de mais de
80% ao comprar as ações em 2008, quando os ativos estavam cotados a 48
reais. No último fechamento, do dia 12 de janeiro, as ações da Petrobras
(PETR4) valiam 8,91 reais.
Mas de acordo com o advogado, mesmo investidores
que tenham comprado as ações mais recentemente e sofreram perdas
menores também têm justificativa para processar a empresa, já que o
processo não se baseia no tamanho da perda, mas no fato de que os
prejuízos foram gerados por atos ilícitos na gestão da estatal.
“O acionista não precisa ter investido em 2008, que foi o período de
maior perda. Mesmo se comprou há dois anos, ou no ano passado, mas teve
perda em decorrência dessa situação, é possível entrar com a ação”,
afirma o advogado.
As ações movidas contra a empresa têm base em diferentes tipos de
infração. Parte delas se refere aos artigos 157 e 158 da Lei das
Sociedades Anônimas, que dizem respeito à responsabilidade dos diretores
sobre a má gestão das empresas.
Também serão citados na defesa os artigos 932 e 933 do Código Civil,
que tratam dos prejuízos gerados em decorrência de atos ilícitos e
corrupção. E ainda o artigo 376 da Constituição, relacionado à infração
dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência por parte do poder público.
“Estamos promovendo a ação contra a União, que, em condição de
acionista controladora, escolheu a diretoria da Petrobras baseada em
critérios políticos para se beneficiar de apoio no Congresso Nacional. Houve desvio de função na Petrobras e ingerência política”, argumenta Stockinger.
Outros pontos a serem defendidos pelo advogado
são o superfaturamento de obras da empresa, que acabaram inflando o
valor patrimonial das ações, e a falta de transparência sobre a
viabilidade de alguns empreendimentos. “Os acionistas já perderam
dinheiro com isso e quando os valores desses empreendimentos forem
ajustados, o valor patrimonial da empresa cairá ainda mais e o prejuízo
será maior", afirma.
As ações promovidas contra a estatal serão encaminhadas à Justiça Federal.
Honorários
Stockinger não revelou qual é o honorário advocatício cobrado no
processo e afirmou que os valores são negociados com cada cliente.
Ele disse apenas que os clientes devem pagar uma taxa para custear as despesas no início do processo e um percentual da indenização recebida, caso a ação saia vitoriosa.
O advogado ressalta que, por mais que os acionistas ganhem a causa,
será recebido apenas o valor referente ao prejuízo gerado pelas ações
durante o período do investimento.
O processo não reivindica nenhum valor adicional, como por eventuais prejuízos morais causados aos acionistas.
Isso significa que o investidor que desejar entrar com a ação terá como
ganho máximo a reposição do valor perdido com o investimento, e ainda
terá que descontar dessa indenização os honorários advocatícios.
O advogado afirma que os clientes representados podem mover a ação
mesmo sem se desfazer das ações da Petrobras. Assim, por mais que o
prejuízo seja restituído aos acionistas, eles poderão manter o
investimento nas ações e esperar por uma recuperação dos papéis.
O prazo de duração do processo é imprevisível, mas Stockinger está
confiante sobre o resultado. "Com base nas investigações da Operação
lava jato e em pareceres do Tribunal de Contas da União e da
Controladoria-Geral da União, eu acredito que as ações podem sair
vitoriosas."
O industrial brasileiro teima em apostar no Brasil, apesar de todas as
dificuldades que lhe são impostas no país. Nem sempre consegue. A
participação da indústria de transformação no nosso PIB, que há duas
décadas ultrapassava os 30%, em 2004 havia caído para 18,5% e hoje já
está abaixo dos 13%.
A margem de lucro da indústria de manufatura vem sendo seriamente
deprimida, comprometendo sua capacidade de investimento, com reflexos
negativos no principal componente da poupança nacional. O PIB industrial
cresceu 1,6% em 2011, (-) 0,8% em 2012, 1,7% em 2013 e deverá ficar
próximo de zero em 2014. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a produção industrial recuou 1,6%, nos cinco
primeiro meses deste ano, e a geração de empregos no setor caiu 2,2%,
com o fechamento de 30 mil postos de trabalho apenas em maio.
Apesar de que na Alemanha a indústria de transformação ainda represente
25% da geração de riqueza, é normal que esta participação caia, na
medida em que os países se desenvolvem. Um estudo do Banco Mundial
demonstra que a partir de determinado nível de renda per capita, o setor
terciário passa gradativamente a ocupar uma parte do espaço da
indústria e manufaturados com maior conteúdo tecnológico substituem
parcialmente a produção que migra para países de custo mais baixo. No
Brasil, contudo, a desindustrialização começou antes do tempo, a sua
curva é bem mais acentuada e o avanço do conteúdo tecnológico deu lugar a
uma “reprimarização” da economia e da nossa pauta de exportação.
A participação dos manufaturados nas exportações brasileiras, que em
2007 era superior a 50%, decresceu para 40% em 2010 e para apenas 34% no
primeiro semestre de 2014. O volume exportado foi 19,3% menor do que no
mesmo período de 2013, levando a um saldo negativo de US$ 56 bilhões.
Em um ano o déficit da balança comercial de produtos manufaturados
alcançou US$ 106,4 bilhões. Mesmo com a queda dos preços das commodities
no mercado internacional, a sua participação nas exportações
brasileiras atingiu o patamar mais elevado dos últimos 35 anos. Mais da
metade do que exportamos no primeiro semestre foram bens primários como
soja, minério de ferro e petróleo. Em 2002, essa participação não
passava de 25%.
As nossas exportações representam os mesmos 1,3% das exportações
globais que representavam no início da década de 1980. Em 2011,
exportamos US$ 256 bilhões e a partir de então elas caíram para a faixa
de US$ 243 bilhões, justamente pela queda dos manufaturados. Por falta
de competitividade da indústria nacional, não temos conseguido avançar
na inserção do país nas cadeias globais de valor. O Brasil é um dos
países mais fechados e isolados do fluxo internacional de produção.
Estudo da consultoria Roland Berger mostra que os fabricantes de
autopeças no país vêm perdendo rentabilidade desde 2010. Uma das razões
apontadas é que em dez anos a produtividade do setor cresceu 21%,
enquanto o custo da mão de obra evoluiu 239%. Jaime Ardila, presidente
da GM para a América Latina, critica os gargalos à produtividade no
Brasil, como infraestrutura precária e legislações tributária e
trabalhista engessadas. Steve St. Angelo, presidente da Nissan para a
América Latina, diz que o Brasil exporta carros apenas para a Argentina,
devido ao alto custo de produção e deficiências de infraestrutura. Para
atender os demais países da região, fica cerca de US$ 5 mil mais barato
exportar a partir da fábrica nos Estados Unidos.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior
do Brasil (AEB) afirma que enquanto não resolvermos os nossos problemas
estruturais e continuarmos apostando em medidas paliativas como reduções
temporárias de impostos, não teremos uma participação expressiva no
comércio internacional. Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, e
hoje presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, diz
que o Brasil está ficando isolado no comércio internacional. Para
reverter esse quadro, segundo ele, precisamos promover uma verdadeira
campanha para reduzir os custos internos: “A máquina burocrática, o alto
custo da mão de obra e da energia, a ineficiência dos portos – tudo o
que representa o Custo Brasil – tem de ser atacado para que possamos
recuperar a competitividade das nossas indústrias”.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade
Católica (PUC-SP) afirma que o planejamento econômico brasileiro olha o
curto prazo. Políticas de juros e câmbio são feitas para segurar a
inflação, estimulada por uma política fiscal frouxa. A consequência é a
debilitação da indústria.
Estudo do Boston Consulting Group (BCG), indica que a indústria
brasileira de manufatura teve sério comprometimento da sua
competitividade nos últimos dez anos. Aumentos de salários, nos preços
da energia, valorização do câmbio e desempenho ruim da produtividade
levaram a produção no Brasil a custar em 2014 23% mais o que nos EUA,
contra um custo 3% menor em 2004. Salários aqui mais do que dobraram no
período, a eletricidade para a indústria subiu 90% e o gás natural 60%.
Tanto os EUA como o México, que tem custo de manufatura 9% inferior ao
americano, vem tendo crescimento moderado de salários e de custo de
energia, além de ganhos sustentados de produtividade.
Sem dúvida, o mercado interno brasileiro é atraente e um estímulo à
instalação de empresas no país, mas isso não tem sido suficiente para
compensar os obstáculos que o poder público vem plantando no nosso
ambiente empresarial. Sem contar jabuticabas como as NR12 e NR10,
verdadeiras armadilhas para a competitividade da indústria brasileira.
Os indicadores apresentados são mera consequência. Nada nos impede de
mudar tudo isso.
Carlos Rodolfo Schneider é empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE), crs@brasileficiente.org.br
Um grupo de acionistas minoritários da Petrobras entrará na Justiça
contra a estatal no Rio Grande do Sul pedindo indenização financeira.
O advogado Francisco Antônio Stockinger, que moverá as ações em Porto
Alegre, reúne a documentação necessária para acionar a Justiça na
capital gaúcha no final desta semana ou no início da próxima, em nome de
seis acionistas. Ele esclareceu que os processos contra a Petrobras e a
União serão individuais - ou seja, não haverá uma ação coletiva dos
minoritários - e que o objetivo é recuperar as perdas que os
investidores tiveram após os papéis da empresa despencarem na Bolsa de
Valores, em parte devido aos desdobramentos da operação Lava Jato.
"O objeto da ação é a redução do valor dos papéis da Petrobras, o que
resulta da redução do valor do próprio patrimônio da estatal. E isso é
decorrente do superfaturamento de obras, da (compra da) refinaria de
Pasadena (nos EUA) e de uma série de operações que deram prejuízo",
afirmou. "Queremos provar que houve má gestão (por parte da estatal) com
dolo aos acionistas."
Segundo Stockinger, a União será demandada na condição de acionista
controladora, responsável pela nomeação dos administradores que
colocaram a empresa na situação em que está hoje. "Há provas de que a
União nomeou a diretoria da Petrobras com interesse político. Isso já
demonstra um desvirtuamento dos objetivos da companhia, que deveria
estar pautada em favor dos acionistas", disse.
O advogado apresentará à Justiça Federal documentos públicos, como
relatórios do Tribunal de Contas, e buscará ter acesso a depoimentos da
própria investigação Lava Jato que comprovem a prática de dolo aos
acionistas com a motivação política como pano de fundo.
Stockinger afirmou que também está em contato com possíveis demandantes
em São Paulo e Minas Gerais. "Há outras pessoas interessadas", afirmou,
apontando que a iniciativa pode ser seguida em outras partes do país.
Indenização
Stockinger contou que alguns dos seis clientes que entrarão na Justiça
em Porto Alegre adquiriram as ações em 2008, quando o ativo valia R$ 48.
A indenização pedida na Justiça, segundo o advogado, corresponderá à
diferença entre o valor de compra e o de venda (no caso dos investidores
que já se desfizeram dos papéis) ou o valor no momento da liquidação da
sentença (para aqueles que ainda mantêm as ações).
O montante reivindicado por acionista, portanto, dependerá da
quantidade de ações adquiridas e do período em que ficou de posse delas.
Nesta segunda-feira, o papel PN da Petrobras fechou a sessão cotado a
R$ 8,91. "Não existe precedente (para o processo). É uma matéria nova no
Brasil", lembrou o advogado. A assessoria de imprensa da Petrobras
informou que a estatal "desconhece a existência de qualquer ação
judicial movida por acionistas minoritários no Rio Grande do Sul que
verse sobre queda no preço das ações da companhia".
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta terça-feira (13/01), que o governo não tem como objetivo fazer um "saco de maldades"
ou pacote de medidas, quando questionado sobre eventual aumento de
tributos em entrevista no Planalto. Segundo ele, o governo tem limitação
de gastos e está promovendo ajustes para preservar direitos e corrigir
distorções e excessos.
Ele citou as reformas em benefícios trabalhistas e previdenciários
encaminhadas ao Congresso e que devem trazer uma economia de R$ 18
bilhões este ano. "Essas distorções geram dispêndios e acabam com a
capacidade de incluir outros direitos", justificou. "Não é proporcional
renda vitalícia para quem tem condições de trabalhar", disse.
Levy afirmou que o governo fará eventualmente alguns ajustes na área
tributária. No entanto, disse que eventual aumento de imposto será
compatível com o aumento da poupança nacional e com o impacto nas
decisões das famílias. Segundo ele, elevação da carga tributária tem que
ter o mínimo de impacto na atividade econômica e nas empresas. Levy
afirmou que muitos jovens estão optando pelo empreendedorismo e cabe ao
governo criar as condições para esses negócios.
Ajuste fiscal
O ajuste fiscal é ferramenta essencial para ajudar no controle da inflação,
disse Levy. Ele afirmou que o controle dos gastos públicos, ao conter a
demanda econômica, faz o Banco Central subir menos os juros e melhora a
competitividade das empresas.
“O mix de política fiscal e monetária é importante. Existe uma
tentação, em todo o mundo, de jogar toda a responsabilidade [do controle
da inflação] para a política monetária, mas há uma disposição de a
política fiscal ajudar nessa questão”, declarou Levy.
Segundo Levy, a coordenação entre o Ministério da Fazenda, responsável
pelo corte de gastos, e o Banco Central, responsável por ajustar a taxa
Selic, é importante para manter a inflação sob controle. “A política
fiscal ajuda na questão de o Banco Central não precisar subir tanto os
juros e melhora a competitividade do país porque dá mais impulso para as
empresas, inclusive para exportar”, disse. O ministro argumentou que,
se o governo gasta muito, "fica pesado" para o Banco Central fazer tudo
sozinho.
O ministro reiterou que o ajuste fiscal ajudará o país a retomar o
crescimento e a criar empregos. No entanto, a recuperação da atividade
econômica só ocorrerá depois de algum tempo, quando os empresários
retomarem a confiança na economia e voltarem a investir. “Este será um
ano de ajuste, de equilíbrio. Estamos organizando tudo para a retomada
do crescimento”, destacou.
Levy comparou a economia com um jogo de futebol para explicar que a
retomada do crescimento demorará algum tempo. “A economia é como um time
que está sendo rearrumado no começo do segundo tempo para fazer gol.
Temos fome de fazer gol, mas também precisamos ter cuidado para não
tomar gol”, acrescentou.
Davos
Levy deve participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e levará ao
evento a mensagem de que "o Brasil é uma economia que tem grandes
recursos e com mudanças na sua política econômica".
O ministro lembrou que o Brasil passa por um processo de transformação.
"Temos uma geração nova, mais inserida na economia de mercado", disse.
"É um país com maturidade política", disse.
Imposto de Renda
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta terça-feira, 13,
durante um café da manhã com jornalistas, que não pretende "neste
momento" mudar as alíquotas do Imposto de Renda. Atualmente, a tabela do
IR acumula, desde 1996, defasagem de 64,3%. Apesar do Senado ter
aprovado reajuste de 6,5% para 2015, o governo tem defendido correção de
4,5%.
Reajuste de combustíveis
Sobre possíveis reajustes dos combustíveis, o ministro afirmou que a
Petrobrás vai, "cada vez mais", tomar decisões de preço segundo a
avaliação empresarial dela. "Crescentemente a Petrobrás fará suas
decisões como uma empresa", disse.
Nos últimos anos, o governo tem interferido nas decisões de reajuste da
empresa de modo que as decisões não causassem pressão inflacionárias. A
respeito disso, Levy respondeu que a Petrobrás é, "antes de tudo", uma
empresa. O ministro afirmou que não está discutindo ida para a
presidência do Conselho de Administração da Petrobrás e disse que os
conselheiros continuam trabalhando. "Não estou ciente de convocação para
assembleia", concluiu.
Energia
Depois das negociação na segunda-feira com a presidente Dilma Rousseff
de uma solução para a crise do setor elétrico, Levy defendeu o "realismo
tarifário" para a conta de luz.
O ministro confirmou que o Tesouro Nacional não fará mais o aporte de
despesas orçamentárias de R$ 9 bilhões para Conta de Desenvolvimento
Energético (CDE), fundo setorial que bancou a política de redução da
energia elétrica do setor implementada pela presidente Dilma no primeiro
mandato. "Essa é a decisão", afirmou. A previsão de gastos desses R$ 9
bilhões foi incluída na proposta de Orçamento de 2015 enviada ao
congresso e ainda em tramitação.
Segundo o ministro, o realismo tarifário será importante para ajudar na
consecução dos objetivos fiscais. Na sua avaliação, é melhor que o
consumidor pague os custos de energia elétrica do que o os
contribuintes. "Os gastos com a energia podem ser suportados pelo
contribuinte ou pelo consumidor, mas é menos eficiente ser pelo
contribuinte. Então, a decisão é trazer essas despesas para o ambiente
que lhe é natural. Na situação atual, é um volume muito significativo no
rol de despesas. A previsão é voltar para o que sempre foi (tarifas)",
justificou.
Questionado sobre se a recomposição tarifária dos R$ 9 bilhões que
serão repassados será feita de imediato, o ministro não deixou claro
qual será o impacto para as tarifas. "Não é completamente linear o que
significa para as tarifas".
Nem mesmo a queda do barril do petróleo, verificada nos últimos meses,
seguraram os investimentos para geração de energia limpa no ano passado
que cresceram 16% em relação a 2013, somando US$ 310 bilhões no todo o
mundo. O total ainda é menor que o registrado em 2011, de US$ 318
bilhões, mas é a primeira vez em três anos que o setor volta a crescer.
Os dados são de relatório anual da Bloomberg New Energy Finance
divulgado hoje.
A China puxou a expansão, com investimentos de US$ 89,5 bilhões, 32%
mais do que o país havia investido em 2013. Mas foi o Brasil que
registrou uma das maiores variações, de 88%, chegando a US$ 7,9 bilhões.
Em parte, isso pode ser explicado pelos baixos investimentos de 2013
nesse tipo de energia no Brasil, mas há também uma tendência de que os
recursos em fontes de energia limpa voltem a ganhar corpo. Em novembro, o
Brasil realizou seu primeiro leilão de energia solar, comprando 890 MW
para serem entregues nos próximos anos. A iniciativa pode dar segurança
para que novos projetos e investimentos surjam.
De acordo com o relatório da Bloomberg New Energy Finance, globalmente,
os grandes projetos para geração de energia solar foram o grande
destaque de 2014, com um incremento de 25% em relação a 2013. Somente no
desenvolvimento de plantas, equipamentos e desenvolvimento de novas
tecnologias foram gastos US$ 150 bilhões – é o maior investimento já
registrado para a categoria.
Costurar a criação da Ambev, adquirir o Burger King e
a Heinz foram bons treinos. O desafio que Lemann se impôs agora é
consertar o ensino público brasileiro
Esta matéria foi originalmente publicada na edição de agosto de 2014 de Época NEGÓCIOS
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Falar sobre a educação brasileira é repetir as mesmas reclamações
feitas há décadas: limitado orçamento, professores mal pagos, conteúdos
defasados, instalações públicas aos cacos e falta de interesse dos
alunos, entre tantos outros. Paradas no tempo, as escolas não conseguem
acompanhar a evolução pedagógica e tecnológica dos colégios privados de
elite. Mesmo no universo de colégios particulares como um todo, o número
de alunos ainda é restrito – são 8,6 milhões, pelas contas do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A
maior parte dos alunos brasileiros, mais de 41,4 milhões, frequenta
cursos do ensino fundamental à universidade em instituições públicas. O
número já foi maior – ao fim da década de 90, eram mais de 45 milhões. O
gap de qualidade vem desengatilhando uma migração em direção ao ensino
privado. De 2010 a 2013, o número de matriculados em escolas privadas
subiu 14%. Não à toa, o mercado educacional privado vive um momento
dourado, nos últimos anos, com a consolidação de diversas empresas
menores em grandes players com ambições globais.
[O melhor exemplo é a Kroton. Ao se fundir com a Anhanguera, em
2013, a empresa se tornou o maior grupo de educação do mundo em valor de
mercado, próximo dos US$ 8 bilhões. É mais de 1,5 milhão de alunos no
ensino superior, e com tanto potencial para crescer mais que suas ações
são as que mais se valorizaram na bolsa de valores nos últimos dois anos
e meio. Parece um contras-senso: a educação brasileira está mais rica,
mas o ensino público está encolhendo.]
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Lemann não é o primeiro empresário a se preocupar com a educação. Há
exemplos como a Fundação Bradesco, que atende mais de 100 mil alunos por
ano em colégios próprios (só para funcionários), ou a Fundação Roberto
Marinho (parte do Grupo Globo, que edita NEGÓCIOS), com conteúdo
educacional pela TV que já atingiu mais de 6 milhões de alunos. Há
instituições que contam com o apoio de empresários para criar modelos
pedagógicos a serem disseminados pelo Brasil, como é o caso do Instituto
Ayrton Senna, cujas metodologias atingem 2 milhões de alunos por ano.
O projeto de Lemann, porém, tem um escopo muito maior, na esteira do
seu mantra de que “sonhar grande custa o mesmo que sonhar pequeno”. E o
ritmo do sonho aumentou nos últimos anos. Todos os entrevistados
próximos a Lemann citam a pressa do empresário para levar uma qualidade
de ensino melhor ao maior número de brasileiros. Fala-se em 50 milhões
de pessoas impactadas, sendo um bom naco disto de estudantes. São
números audaciosos, não apenas porque a atual estatística é muito abaixo
disto, mas por se tratar de um quarto de toda a população brasileira,
algo que nem fundações com décadas de estrada conseguiram fazer. Os
métodos são os mais diversos: plataformas de ensino adaptado, algoritmos
para vestibular, aulas em vídeo, bolsas de pesquisa para educadores,
formações para professores e até inserções em novelas. Além disso,
Lemann tem dinheiro, tecnologia, profissionais gabaritados na área e,
talvez o mais importante, a admiração de todos os setores para conseguir
costurar acordos entre esferas e entidades tão distintas.
O investimento em educação é feito por diferentes institutos que
conversam entre si, numa malha encabeçada por Lemann que envolve
empreendedores, estudantes, executivos, professores, algumas das
universidades mais respeitadas do mundo e outras fundações que tentam
melhorar a educação no Brasil. São quatro os pilares com funções mais ou
menos definidas: a Fundação Estudar custeia bolsas de estudo para
graduação e pós-graduação e oferece treinamentos; a Fundação Lemann
testa tecnologias para melhorar em massa a qualidade da educação e
também distribui bolsas, mas apenas para pós-graduação; o gestor Gera
Venture investe em startups e compra operações educacionais que não têm
dinheiro para crescer; e o centro de estudos Lemann Center, em Stanford,
na Califórnia, incentiva pesquisas sobre alguns dos principais
problemas do setor no Brasil. As ações abarcam ensino básico,
fundamental, vestibular, graduação, pós-graduação, concursos públicos e
novos métodos de ensino. Também não é preciso estar dentro da sala de
aula: tecnologias para melhorar a gestão dos colégios e formar diretores
ou secretários de educação fazem parte do pacote.
Cada um dos quatro pilares segue à risca a mesma filosofia agressiva
criada por Lemann para transformar empresas em apuros em queridinhas da
bolsa de valores. Não é porque trabalham com algo intangível e tantas
vezes subjetivo como educação que os executivos da Fundação Lemann, por
exemplo, não têm metas agressivas, prazos que soam irreais – e bônus
polpudos caso o trabalho seja benfeito. Nos próximos cinco anos, todas
as iniciativas educacionais do projeto devem atingir mais de 30 milhões
de brasileiros. Mais da metade disto será de alunos do ensino básico.
O assunto se tornou tão relevante para Lemann que ocupa parte
considerável da sua atual rotina de trabalho. Sua presença é constante,
mesmo que passe a maior parte do ano em sua casa na Suíça. Ele participa
de reuniões de conselho das fundações, faz visitas ocasionais a
startups investidas, dá palestras para bolsistas das suas duas
fundações, organiza e participa de viagens para centros de excelência em
educação e conecta figuras que, no seu entender, podem contribuir de
alguma maneira com o projeto. “Uma coisa que ele diz muito é: ‘olha, tem
um cara que se formou com algum tipo de apoio, então fala com ele’”,
diz Paulo Blikstein, diretor do centro de pesquisa em educação Lemann
Center, na prestigiosa Universidade Stanford, na Califórnia. Tal qual
suas apostas em áreas onde não tinha tanta familiaridade no Banco
Garantia (a primeira de suas investidas no mundo dos negócios), Lemann
se cerca de técnicos que entendem de educação. É para eles que o
empresário explica suas ideias e como enxerga a evolução da educação no
país. “A grande inteligência do Jorge Paulo é que ele sabe que não é
educador, mas se cerca das pessoas que mais entendem disso”, diz
Blikstein.
Todas as ações da iniciativa educacional do empresário podem ser
divididas em quatro grupos: a base da pirâmide; as bolsas de estudo; a
pesquisa; e os investimentos.
Para comemorar seus 75 anos, em agosto, Lemann convidou
amigos como Bill Gates e Warren Buffett para um seminário de dois dias
em Harvard, no qual discutiu negócios
A base da pirâmide
A espinha dorsal é a Fundação Lemann, que se aventura pelos quatro
grupos, embora gaste “90% do seu tempo” na sua missão de melhorar a
qualidade da educação básica no Brasil, como afirma o diretor-geral da
fundação, Denis Mizne. Em 2002, Jorge Paulo já era um executivo
reconhecido e rico, ainda que estivesse longe das principais tacadas da
sua carreira. A cultura de meritocracia gerida no banco Garantia já
tinha virado um modelo de gestão. A fundação, então, nasce do desejo do
empresário de promover uma mudança aos moldes da deixada na história da
administração privada, mas na educação brasileira. “Se a educação é a
melhor maneira de uma pessoa atingir seu potencial individual, para o
Brasil atingir seu potencial como país a educação pública precisa
funcionar”, diz Mizne. Nos primeiros anos, a fundação tinha como foco
ajudar a formar diretores e traduzir livros com conceitos pedagógicos
interessantes. Era uma abordagem limitada. Ao fim da primeira década,
Mizne se sentou para conversar com um Lemann decidido a mudar o escopo
da sua fundação.
Até então, o advogado Mizne não tinha planos de trabalhar com educação.
Sua especialidade era a violência. Em 1997, fundou o Instituto Sou da
Paz, responsável por uma campanha popular na década de 90 contra a
violência, que usava celebridades posando com os polegares unidos em
frente ao rosto de forma que as mãos imitassem uma pomba de asas
abertas. Ao voltar ao Brasil, em 2010, após estudar nas universidades de
Yale e Columbia, Mizne buscava investidores para viabilizar novos
projetos dentro do instituto. Uma amiga lhe contou que Jorge Paulo
Lemann buscava alguém para liderar a fundação que levava seu nome. “Fui
lá conversar achando que ia tomar um dinheiro para o Sou da Paz”, diz
ele.
Mizne é um executivo cordial e astuto, capaz de conduzir uma conversa
sem perder por um minuto a atenção do interlocutor. Fisicamente, parece
uma versão menos histriônica de Steve Ballmer, o ex-executivo da
Microsoft conhecido pelos arroubos emocionais. Assumiu o posto cheio de
ideias e recebeu um conselho inesperado de Lemann: “Arrume a casa.
Deixe a gestão perfeita para crescer, mude de escritório e organize o
jurídico. Nos primeiros seis meses não quero saber de ideia”. Elas
viriam com o tempo, defendia Lemann. Para ter inspirações de como
deveria ser seu trabalho, Mizne apelou para outra das estratégias
conhecidas do empresário. Quando o Garantia comprou a Lojas Americanas,
em 1982, os donos do banco, sem saber patavina sobre varejo, escreveram
para um sujeito que conhecia muito o setor: Sam Walton, o mítico
fundador do Walmart. Walton não só respondeu à carta como aceitou
receber Sicupira e Lemann na sede da empresa, em Bentonville, nos EUA.
Mizne também fez seus contatos pelo mundo. Foi visitar países como
Cingapura e Coreia, ter reuniões com ministros da educação, conhecer
escolas com propostas modernas e fundações de bilionários que, tal qual
Lemann, vinham apostando em educação, como a Bill & Melinda Gates
Foundation e a Open Society, do megainvestidor George Soros.
De volta ao Brasil, Mizne começou sua gestão com uma pegada mais Vale
do Silício do que Oxford. Lemann tinha lhe deixado claro que o objetivo
do impacto em larga escala só seria alcançado com a introdução da
tecnologia na educação. Em vez de construir escolas ou criar métodos de
ensino próprio, um software online de qualidade pode ser traduzido para o
português e distribuído para milhares de escolas em segundos. Mizne
mapeou e entrou em contato com diversas startups e fundações
responsáveis por plataformas digitais de educação. Quando fazia sentido
(o que significa dizer que tem qualidade e consegue ter escala rápido), a
Fundação Lemann traduzia para o português e ajudava a disseminar. Hoje,
o principal exemplo é a Khan Academy, plataforma de educação digital
nascida das aulas de matemática que o americano Salman Khan dava à prima
pelo YouTube. Após atrair a atenção (e milhões de dólares em doações)
de gente como Bill Gates e Carlos Slim, Khan montou uma tecnologia que
ensina matemática, ciências e economia, entre outras áreas, com aulas
gravadas e exercícios na tela do computador. Conforme o aluno vai
acertando ou errando, a tecnologia identifica as áreas que ele domina e o
que ele precisa estudar mais. A dificuldade dos exercícios é
determinada pelo conhecimento do aluno, e não pelo ritmo de aprendizado
da classe. Por isso, mesmo dentro de uma mesma sala de aula, a Kahn
Academy mostra diferentes exercícios para diferentes alunos. Para
professores, a tecnologia compila um relatório com as notas e o
desempenho de cada aluno.
Em 2012, a Fundação Lemann fechou acordo com a Khan Academy para
traduzir e aplicar a tecnologia em escolas públicas pelo Brasil. Há dois
anos, eram 210 alunos na periferia de São Paulo com aulas apenas de
matemática. Hoje, são mais de 70 mil, nos estados de São Paulo, Paraná,
Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os colégios que
aderiram contam com carrinhos com laptops que percorrem as salas onde a
Khan será usada em aula. Quem compra o hardware é a escola.
A fundação
banca a plataforma, a formação do professor e o acompanhamento. “Hoje
tem fila de escola” esperando para participar, diz Mizne. Aberta para o
público em geral no começo do ano, a Khan Academy em português já atraiu
mais de 700 mil usuários. Após a Khan, a Fundação Lemann foi atrás de
outros projetos com escala. Em agosto de 2013, traduziu para o
português dois cursos da plataforma Coursera, que agrega material de
universidades como Stanford e Princeton. Com tradutores voluntários,
mais 26 cursos estarão em português em setembro. Também em setembro,
deve lançar o Programaê!, plataforma para ensino de programação a jovens
usando conteúdos do site americano Codeacademy, da própria Khan Academy
e do projeto Scratch, criado pelo Massachusetts Institute of Technology
(MIT) para crianças. Em novembro, fechou acordo com o Google para
produzir um canal de conteúdo educacional para o ensino médio no YouTube
chamado YouTube Edu.
[Fica claro que a Fundação Lemann, em vez de ter uma fórmula clara,
vai tateando para tentar encontrar o melhor jeito de aplicar essas
tecnologias ao atual currículo escolar, com a anuência de professores e
sem apelar para a falha estratégica de achar que colocar um laptop em
sala de aula já resolve todo o problema.]
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Só aulas de matemática usam a Khan Academy, por exemplo. Como fazer com
que a tecnologia impacte também aulas de geografia, história e
português sem atrapalhar o processo de ensino? É um dos principais
desafios de Mizne.
Para fazer o meio de campo
Até pelo interesse na área, a Fundação Lemann se tornou um ponto de
contato entre startups que misturam tecnologia e educação. Em algumas, a
fundação investiu, como é o caso da Geekie, dona de uma tecnologia de
aprendizado adaptativo. Em outras, financiou os testes da ferramenta de
gestão educacional criada pela startup WPensar em escolas públicas de
Niterói, como parte do concurso Start-Ed. Para outras, a fundação
encomenda projetos, como é o caso da plataforma de cursos Veduca. Na
primeira semana de setembro, Mizne estará à frente de uma excursão para o
Vale do Silício com dez empreendedores, como Carlos Souza, da Veduca, e
Claudio Sassaki, da Geekie. Na pauta, reuniões com investidores,
escolas e startups semelhantes. Não é a primeira: há dois anos, Mizne
liderou outra viagem para Califórnia e Nova York, desta vez com gente de
outras fundações e do governo.
Em alguns casos, este apoio é decisivo na formação da empresa. Foi o
que aconteceu com Thiago Feijão. No dormitório do Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA), onde estudava, Feijão criou uma plataforma para
professores acompanharem o desenvolvimento dos alunos em sala de aula,
chamada QMágico. Sem nenhuma experiência em educação, Feijão bateu na
porta da Fundação Lemann, que financiou o teste da tecnologia em quatro
escolas públicas em São José dos Campos, em 2012, com profissionais
próprios destacados para acompanhá-los. A equipe ainda ajudou Feijão a
definir o foco da startup e como montar a equipe. Sem este empurrão, não
haveria startup, diz Feijão. Pode parecer uma estratégia para “guardar
lugar” na hora de investir. Não foi o caso: quando abriu para
investidores, a QMágico não captou dinheiro nem da Fundação Lemann nem
do Gera.
Os exemplos mostram outra faceta da Fundação Lemann, além da de
financiadora que investe em diferentes plataformas: a de agregadora.
Converse com qualquer fundador de startup ou executivo de ONG do setor e
todos, em algum momento, vão mencionar que já se sentaram para
conversar com Mizne. No papel de articulador (facilitado pela rica
agenda de telefones de Lemann), a fundação se aproxima dos reguladores
por trás de políticas públicas que poderiam ajudar a resolver problemas
vistos de perto nas escolas apoiadas pela fundação. Por exemplo: no
papel, 84% das escolas brasileiras têm internet. Na realidade, a conexão
serve, em muitos casos, apenas a funções burocráticas. “Estamos
pensando no que precisamos para conseguir, em cinco anos, que todos os
alunos e professores do Brasil tenham internet de altíssima velocidade”,
diz. É uma meta privada, com impacto e exigência de envolvimento
públicos, o que obriga a fundação a se aventurar no nem sempre amigável
ambiente do governo. Como “desatadora de nós”, ela se junta à discussão
e, nas palavras de Mizne, cria condições (como levantar dados e conectar
profissionais de diferentes perfis) para agilizar a tomada de decisão.
Outra discussão é a envolvendo a Base Nacional Comum de Educação,
currículo nacional a ser cobrado dos alunos no ensino fundamental. São
casos onde a tríade prazo/meta/bônus, mágica no ambiente privado, pode
não ser tão eficiente.
As viagens para os EUA organizadas pela Fundação Lemann
incluem também outras ONGs de educação bancadas por empresas, como a
Inspirare, da família Gradin
As bolsas de estudos
A investida educacional mais popular de Jorge Paulo Lemann são as
bolsas distribuídas pela Fundação Estudar. Historicamente, a primeira
vez que o empresário pagou para que um jovem no qual via potencial
estudasse fora foi na década de 80, quando um sujeito chamado Carlos
Brito bateu à porta do banco Garantia pedindo dinheiro para um MBA em
Stanford. Tudo era feito informalmente até 1991, quando o empresário
oficializou a prática ao fundar a Fundação Estudar, com Telles e
Sicupira. Nos primeiros anos, a fundação ocupava uma mesa e, quando as
entrevistas precisavam ser feitas, salas de reunião dentro do Garantia.
Em 23 anos, a Fundação Estudar pagou pelos estudos de mais de 570
estudantes, dentro e fora do Brasil. Trata-se de um clubinho de entrada
limitada. Em 2013, mais de 31 mil inscritos enfrentaram seis etapas de
seleção, de provas à temida entrevista final com o conselho, até que
fossem definidos os 28 bolsistas.
O hábito de pagar bolsas de estudos surgiu da dificuldade de Lemann de
encontrar gente qualificada o suficiente para tocar alguns dos negócios
nos quais o Garantia e o 3G se aventuravam. A ideia era custear os
estudos dos executivos e aproveitá-los assim que voltassem, algo copiado
até hoje por consultorias. “Naquele momento, para um brasileiro ir para
o exterior era superdifícil”, diz Lemann, em vídeo, para comemorar os
20 anos do grupo. Como um banco de investimento vive de fazer negócios
no Brasil, melhorar a formação de executivos era bom para o mercado e,
consequentemente, para o Garantia. Não há obrigação de que os
beneficiados trabalhem em algumas das empresas de Lemann. Ainda assim,
ali é o destino de muitos. Basta olhar o topo do organograma de Heinz,
Ambev e AB InBev: Bernardo Hees, João Castro Neves e Brito, o precursor,
foram bolsistas da Estudar.
Em 20 anos, a Fundação Estudar já deu 500 bolsas. Para Lemann, “é um
número pequeno”. Há um ano, o grupo está ampliando seu alcance com
cursos de preparação
Há uma obrigação (mais moral que formal) do estudante pagar as bolsas
em até oito anos. Houve calotes, mas foram poucos. A devolução do
dinheiro, em parcelas, é parte de um movimento maior que implica no
reembolso por parte dos bolsistas. Não à toa, duas das etapas de seleção
para a Estudar envolvem os ex-bolsistas. Na primeira, eles entrevistam
os candidatos. Logo depois, se reúnem para trocar impressões sobre eles e
eliminar os que não acham aptos. Aí está outro dos mantras de Lemann em
ação: gente boa atrai gente boa. O contato entre quem procura e quem já
ganhou uma bolsa também forma uma rede de contatos que extrapola áreas
de estudo, profissões e idade. Bolsistas, ex-bolsistas, empresários e
membros do conselho da Fundação Estudar se encontram anualmente. Nos
primeiros anos, uma sala de reuniões do Garantia era suficiente. No
início do mês passado, 350 pessoas se reuniram no hotel Unique, na Zona
Sul de São Paulo. Ali, conhecidos se reveem, novas relações
profissionais são formadas, quem ganhou bolsa se apresenta e quem já
pagou a sua diz o que tem feito da vida. “É fenomenal o calibre das
pessoas. Só tem gente interessante e apaixonada”, diz Gabriel Benarrós,
manauara de 25 anos que terminou a gradução em Stanford com bolsa da
fundação. Na entrevista final, ele e mais cinco pessoas passaram uma
hora sendo avaliados pelo conselho da fundação – Jorge Paulo Lemann,
inclusive. Passou, foi para Stanford e, no último ano da graduação,
emendou um mestrado. Em uma das aulas, bolou um sistema de venda de
ingressos. Voltou ao Brasil com um investimento do professor e lançou o
Ingresse em março de 2012. Hoje, com mais de R$ 10 milhões recebido de
investidores, a startup já vendeu mais de 200 mil ingressos para mais de
2 mil eventos. No mercado, a Ingresse é vista como uma potencial
ameaça à dominação de Ingresso Fácil, Tickets For Fun e Ingresso.com.
Três anos após receber a bolsa, Benarrós era um dos palestrantes no
encontro deste ano, falando sobre empreendedorismo a quem queria entrar.
O ciclo, então, recomeça.
Lemann não é o único do 3G a investir em educação. Marcel
Telles fundou o Ismart em 1999 para oferecer bolsas de estudo a jovens
pobres com alto potencial no ensino fundamental. Hoje, são 924 bolsistas
em colégios como o Bandeirantes (SP)
Para as massas
O limitado grupo cresce ao ritmo de mais ou menos 30 novos bolsistas
por ano. “É um número pequeno em relação ao tamanho do país. Porque 500
jovens, em 20 anos, é nada”, diz Lemann, no vídeo. Há três anos, a
Fundação Estudar tomou um novo caminho. A dupla Rodrigo Teles e Fabio
Tran, dividindo a liderança a partir de janeiro de 2013, traçou um
modelo para atingir mais estudantes, enquanto achava uma fonte de
receita própria. Hoje, o dinheiro vem de reembolso e doações dos
ex-bolsistas, dos três mantenedores (Ambev, o banco BTG Pactual e a
Falconi Consultores de Resultados) e de empresas como a Cosan e o
Itaú-Unibanco. “Temos buscado construir produtos que tenham receita
própria e recorrente”, diz Tran. “A fórmula encontrada foram
treinamentos pagos”, diz, no segundo andar do sobrado que a Fundação
Estudar ocupa na Vila Madalena, em São Paulo. O modelo é parecido com o
das bolsas tradicionais, com uma diferença: quem não passa na seleção
paga para entrar.
Um bom exemplo é o Personal Prep, curso que ajuda estudantes do ensino
médio a preparar os documentos para tentar entrar em faculdades fora do
país, lançado em 2013. Ele é composto por aulas gravadas em vídeo e
orientações presenciais por quem já passou pelo processo. Os mais bem
posicionados na seleção feita pela Fundação Estudar fazem de graça. Quem
não passou paga entre R$ 1,5 mil e R$ 20 mil. Parte da margem vai para a
fundação, parte para financiar os custos de quem passou por mérito. O
nível de sucesso é alto: metade dos alunos aprovados nas dez melhores
universidades americanas neste ano saiu do curso, diz Tran. É o tipo de
estatística que todo colégio adoraria trompetear para atrair mais
alunos. Outros dois treinamentos são o LabX, curso de formação de
liderança que dura dois fins de semana e custa até R$ 570 por pessoa, e a
conferência de carreira Ene, onde empresas pagam para que estudantes
selecionados façam um “pitch” (uma apresentação falada das próprias
qualificações) de si mesmo. Somadas, as três iniciativas devem atingir
quase 3 mil alunos em um ano, cem vezes mais que o número de bolsas. Não
é a mesma coisa que estudar em Stanford, por exemplo, mas aumenta o
alcance da Fundação Estudar, como Lemann quer. Espera-se também outra
consequência dos treinamentos: com mais procura, a Fundação Estudar
deverá crescer de tamanho, abrindo espaço para outros jovens em
ascensão. “Para viver a meritocracia, devemos ter uma organização
crescendo. Se não cresce, não tem como promover as pessoas”, diz Tran.
De novo, é a cartilha de Lemann em ação.
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[No LabX, a Fundação Estudar também treina quem possa replicar o
conteúdo por conta própria. Além dos 23 estados brasileiros, o evento já
tem datas marcadas em Nova York e Boston.]
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As bolsas da Estudar não são as únicas financiadas pelo executivo.
Desde 1999, a Fundação Lemann distribuía bolsas exclusivamente para
pós-graduações em Harvard. Nos anos seguintes, estudantes foram mandados
para outras faculdades respeitadas, como Columbia, Yale e Stanford, mas
ainda de forma fragmentada. Em 2011, uma das ações de Mizne foi juntar
todas as bolsas sob um mesmo projeto, chamado Lemann Fellowship. Há uma
sobreposição: a Fundação Estudar também distribui bolsas de pós, mas a
tendência é que acabe ficando apenas com a graduação, segundo Tran. E
ainda que se trate do mesmo produto – financiamento estudantil –, a
Lemann Fellowship tem suas particularidades. Só ganha gente mais
avançada na carreira, que esteja disposta a “dedicar suas vidas a
enfrentar os principais problemas sociais brasileiros”, na definição de
Mizne. Chamados de Lemann Fellows, eles vão fazer mestrados e doutorados
em sete faculdades prestigiosas (Harvard, Stanford, Columbia, Oxford,
Illinois, Ucla e Yale). É gente que, de volta ao Brasil, trabalhará, em
sua maioria, em qualquer esfera do governo. Não à toa, mais de 60% dos
Felllows estudam gestão e políticas públicas. Eles incorporam a aposta
da fundação em destravar, dentro do governo, alguns dos nós observados
nas escolas. Ao contrário da política de reembolso da Estudar, os Lemann
Fellows não precisam pagar a bolsa. O retorno ao Brasil, porém, é quase
inegociável.
“Moralmente, eles têm de voltar. Por enquanto, estamos indo pela
cenoura. Se precisar, vamos pelo porrete (risos)”, diz Mizne. Em vez da
violência da piada, a fundação apelou para a agenda telefônica de
Lemann. Para facilitar este retorno, Mizne organiza encontros nos quais
os bolsistas recém-chegados se encontram com figuras de projeção do
cenário político e econômico brasileiro. Nos últimos anos, Lemann
Felllows se sentaram para conversar com o ex-ministro do Supremo
Tribunal Federal Joaquim Barbosa, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, o empresário Guilherme Leal e o presidente do Banco Central
Alexandre Tombini, entre outros. Não é difícil acomodá-los na mesma
sala: trata-se de um grupo ainda menor que o da Fundação Estudar. No
total, são cerca de 200, com quase 50 novos por ano. O plano de Mizne é
formar 500 nos próximos cinco anos, sendo que 50 farão parte de uma
elite ainda mais limitada: seja no setor público ou privado, eles terão a
responsabilidade de encarar um problema de altíssimo impacto. É gente
como o economista Leandro Costa. No começo de 2013, ele foi aceito como
pesquisador convidado no Lemann Center, em Stanford. Lá, conduziu uma
pesquisa para medir o impacto que o Programa de Alfabetização na Idade
Certa (PAIC), criado pelo governo do Ceará, teve no desempenho dos
alunos. Ao fim da bolsa, voltou ao Brasil como funcionário do Banco
Mundial (antes, era um prestador de serviços), onde atua como consultor
de projetos educacionais com tecnologia. Quando governos têm projetos
educacionais, mas não a verba para fazê-los, recorrem ao Banco Mundial,
que lhes empresta dinheiro e ajuda no planejamento técnico. Entre as
referências que Costa usa ao dar esta consultoria estão não apenas as
pesquisas do Lemann Center mas também algumas das iniciativas da
Fundação Lemann.
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[Tal qual bolsistas da Fundação Estudar, os Lemann Fellows também
se reúnem uma vez por ano. Em 2014, o encontro foi em um sítio em Itu
(SP), com a presença de Jorge Paulo Lemann.]
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A pesquisa em Stanford
Alguns dos Lemann Fellows têm um destino especial durante a pesquisa.
Em 2011, o Lemann Center foi fundado em Stanford por uma parceria entre o
empresário e quatro professores de educação especializados em Brasil.
Único brasileiro entre os professores, Paulo Blikstein é um sujeito
magro de olhos claros e calvície pronunciada. Com os americanos Eric
Bettinger, David Plank e Martin Carnoy, ele lidera estudos, organiza
eventos e orienta brasileiros interessados no assunto. Cada um deles
ganha uma bolsa de até US$ 70 mil. Durante os dez anos que estão
previstos no contrato que fundou o Lemann Center, 150 brasileiros
passarão por lá, entre mestres, doutores, formadores de educadores e
empreendedores.
Além de fortalecer seu currículo, os bolsistas desenvolvem pesquisas
que, entregues aos tomadores de decisão, ajudarão na definição de
políticas públicas. É o caso da cientista social Luana Marotta, bolsista
por duas vezes. No mestrado, estudou o impacto da separação entre os
melhores e os piores alunos no colégio. A sala de aula dos melhores
tende a ter melhor desempenho, mas a qualidade na sala dos piores também
cai. Luana descobriu que misturar alunos aleatoriamente faz mais bem ao
desempenho geral da escola que separar os melhores dos piores. Já
Tassia Cruz estuda no seu doutorado como a distribuição do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (Fundef) beneficia e prejudica os estados brasileiros. Para
não ficar só na teoria, o centro de estudo paga para que os bolsistas
voltem ao Brasil durante as férias para trabalhar dentro de órgãos
educacionais.
O centro de estudos, na sua visão, é uma ponte que mantém aberta a
comunicação entre o Brasil e um dos polos de inovação em tecnologia
educacional. Os Lemann Fellows que por lá passam também são “moralmente
obrigados” a voltar ao Brasil. Na cabeça de Blikstein, o momento que o
Brasil atravessa na educação lembra dois marcos da história recente: o
plano Real e a bossa nova. Em ambos, argumenta ele durante um café nos
Jardins, Zona Sul de São Paulo, o cenário estava preparado com uma massa
crítica de economistas e músicos, respectivamente, com formações
acadêmica sólidas. Bastava uma fagulha para que, juntos, algo que soava
impossível conseguisse ser realizado. “Às vezes, esta fagulha acontece
no vácuo. Inspiração acontece o tempo todo, mas para virar um movimento,
precisa ter pessoas que saibam”, diz. Seu temor era que a fagulha
viesse, mas o Brasil a perdesse por falta de preparo. O Lemann Center,
os Lemann Fellows e a Fundação Estudar ajudariam a evitar este vácuo.
Além das matérias tradicionais, a plataforma de ensino do
Eleva também ensinará às crianças “habilidades da vida”, como
comunicação e perseverança
Os investimentos
Desengatilhar negócios não passa apenas pelas cabeças, mas também pelo
dinheiro necessário para fazê-los. É onde entra o Gera Venture, braço da
estratégia educacional de Lemann que mais lembra os negócios que
fizeram seu nome. O gestor nasceu em 2010, pela vontade das fundadoras,
Duda Falcão e Rafaela Vilella, ambas com experiência no mercado
financeiro, de investir em educação. Um dia, quando já tinha saído do
Pactual e trabalhava na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, Duda
conheceu Ana Vitória, filha de Jorge Paulo, que deu a dica: “Meu pai
quer fazer algumas coisas de educação, bate um papo com ele”. Ela foi, o
plano caiu nas graças de Lemann e as duas fundaram a única organização
educacional de Lemann com fim lucrativo. Não que eventuais ganhos voltem
ao bolso de Lemann: todos os lucros do Gera são repassados à Fundação
Lemann. Como a fundação financia quase todos os outros projetos,
espera-se que a estratégia educacional pare de pé sozinha. Aí está outro
dos mantras de Lemann: se o negócio é bom mesmo, você consegue dinheiro
com outras pessoas. No molde da criação da Fundação Lemann, o primeiro
ano do Gera foi de estudo e viagens.
Após rodar o mundo, Duda e Rafaela
definiram duas atuações claras do gestor em 2011: fazer aportes em
startups de tecnologia educacional e comprar operações educacionais para
acelerar seu crescimento, ambas restritas ao ensino básico. Pelo
primeiro, o Gera investiu em seis startups, sendo quatro delas
brasileiras: a já citada Geekie (junto à Fundação Lemann), a Rota dos
Concursos, especializada em estudos para concursos públicos, a Starline,
responsável por um sistema que torna a correção de provas 50% mais
rápida e barata, e a MindLab, sistema de aprendizado usando jogos de
tabuleiro. Nesta última, o gestor vendeu sua participação. As outras
duas startups são estrangeiras: a plataforma de vídeos Kaltura e o
estúdio de games educativos Mangahigh. Em todas, o Gera é minoritário.
É o modelo contrário à outra divisão. Tal qual as investidas do 3G, a
parte de growth do Gera só entra em negócios quando é majoritário, e
para influenciar diretamente na administração. Desde 2011, a companhia
comprou dois tradicionais colégios de ensino básico do Rio de Janeiro, o
Elite e o Ponto de Encontro. Ambos serviram de base para a criação da
Eleva, uma holding de escolas que deverá ter “cinco ou seis espalhadas
pelo Brasil” e “um número relevante de alunos”, segundo Rafaela. Faz
parte do plano também desenvolver uma nova plataforma de ensino única a
ser usada em todos os colégios da Eleva nos próximos anos, nos moldes de
outras plataformas, como o Sistema Anglo de Ensino. “Temos uma
estrutura interna que só estuda modelos pedagógicos e acadêmicos pelo
mundo que estão dando certo”, diz ela. Algumas das tecnologias
investidas serão acopladas à plataforma, como os algoritmos da Geekie e
os games educativos da Mangahigh. Além da capital carioca, fontes
próximas à operação dizem que o Gera vem negociando com colégios no
Nordeste, Norte e Centro-Oeste, onde a concorrência é menor. O Gera não
confirma a informação. Quando os negócios forem fechados, porém, o
modelo tende a se repetir: 100% do capital é comprado e a administração
ficará a cargo de um time de gestão montado pelo Gera. Duda, uma das
fundadoras, virou coCEO da Eleva com Bruno Elias, executivo com
experiência nos mercados educacional e financeiro. “Nosso foco é escola
para classe B e C. Hoje, elas competem em termos de aprovação no IME e
no ITA com qualquer escola do Brasil, mas estamos perdendo para escolas
da classe A”, diz Rafaela. O objetivo final é levar qualidade de ensino
da classe A com um boleto da classe C.
De todas as iniciativas, a única criada para dar lucro é o Gera. Não
que Lemann queira ficar ainda mais rico: todos os ganhos vão direto para
a Fundação Lemann
A holding ainda terá um alcance limitado em termos de número de alunos.
É parte, porém, de uma estratégia que deverá ganhar corpo em médio
prazo e que, somadas às demais iniciativas, ajudará Lemann a chegar
àquele mágico e desejado número de 50 milhões de pessoas impactadas por
seus investimentos em educação. O empresário não descarta nenhuma
oportunidade de levar conhecimento em grande escala aos brasileiros. No
mês passado, durante a novela Geração Brasil, da Rede Globo, o ator
Murilo Benício, na pele do empresário Jonas Marra, passou mais de um
minuto explicando em cadeia nacional de TV o que é a Khan Academy. A
cena teve influência de Lemann – funcionários da sua fundação e
roteiristas da novela se reuniram para discutir o assunto. Fazer menção
na novela não é o que se espera quando se discute popularização da
educação. Pode até ser motivo de risada para pedagogos mais
tradicionais. Não seria uma reação inédita a algo que Lemann se propõe a
fazer. Muita gente também gargalhou ao ouvir do próprio Lemann, décadas
atrás, o seu sonho de virar o controlador de alguns gigantes do
capitalismo global.
Com o apoio de três pesquisadores americanos, Blikstein
sugeriu a Lemann um centro de estudo focado só na educação brasileira
dentro da prestigiosa Stanford. Em dez anos, o Lemann Center receberá
mais de 150 brasileiros
O
empresário Julio Gerin de Camargo pediu à Justiça Federal para receber
perdão judicial por ter apontado desvios de dinheiro ligados a contratos
na Petrobras, em um dos processos envolvendo a operação “lava jato”.
Depois de ter firmado delação premiada e assumido pagamento de propina
de US$ 30 milhões, ele disse que se encaixa nos critérios para ser
perdoado, conforme petição apresentada no último sábado (10/1).
A advogada Beatriz Catta Preta,
defensora de Camargo, reconhece no documento que é “escassa” a
jurisprudência nesse tipo de pedido, mas relata que o benefício tem sido
concedido “corriqueiramente” quando alcançado o principal objetivo: a
confissão e a identificação de outras pessoas.
O empresário
afirmou ter repassado o valor a Fernando Falcão Soares, o Fernando
Baiano, para que a Petrobras comprasse sondas de perfuração para águas
profundas. Baiano, segundo ele, “mantinha um compromisso de confiança”
com o ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, responsável pela área
internacional. Camargo disse ainda que uma de suas empresas, a Piamonte,
fez o pagamento em contas bancárias, algumas delas movimentadas pelo
doleiro Alberto Youssef.
Todos os quatro viraram réus
em um dos processos da “lava jato”. De acordo com Julio Camargo,
“procedem por completo os fatos narrados na denúncia” oferecida pelo
Ministério Público Federal. Assim, ele alega que merece o perdão ao ter
ajudado a identificar participantes da ação criminosa, cumprindo ao
menos um dos critérios fixados na Lei 12.850/2013 — que trata sobre
organizações criminosas e aborda termos para colaboração.
Pela
lei, o perdão pode ser solicitado pelo réu, pelo Ministério Público
e pelo delegado de polícia. Caso o juiz federal Sergio Fernando Moro
negue o benefício, a alternativa apresentada pela defesa é que a pena
seja reduzida em dois terços ou substituída por restritiva de direitos.
“Obra de ficção”
Embora o doleiro Alberto Youssef também tenha firmado acordo de delação
premiada, sua defesa afirma que ele nunca teve relações com a área
internacional da Petrobras. De acordo com o advogado Antonio Figueiredo Basto, o cliente só assumiu contato com Paulo Roberto Costa, que comandava o setor de abastecimento.
A
defesa do ex-diretor Nestor Cerveró alega que as acusações do MPF são
“despidas de provas” e que a compra de sondas foi aprovada em colegiado
pela diretoria da Petrobras. O advogado Mário de Oliveira Filho,
que representa Fernando Baiano, define a denúncia como uma “peça de
ficção”. Segundo ele, Fernando tem duas empresas especializadas em
“detectar” negócios e intermediar a relação entre companhias, sem
“relação íntima” com diretores da Petrobras.
Clique aqui para ler a petição.
Processo: 5083838-59.2014.404.7000 *Texto alterado às 20h37 do dia 12 de janeiro de 2015 para correção.