terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A indústria teimosa


O coordenador do Movimento Brasil Eficiente faz um balanço do setor no Brasil

Indústria (Foto: GERJ)

O industrial brasileiro teima em apostar no Brasil, apesar de todas as dificuldades que lhe são impostas no país. Nem sempre consegue. A participação da indústria de transformação no nosso PIB, que há duas décadas ultrapassava os 30%, em 2004 havia caído para 18,5% e hoje já está abaixo dos 13%.

A margem de lucro da indústria de manufatura vem sendo seriamente deprimida, comprometendo sua capacidade de investimento, com reflexos negativos no principal componente da poupança nacional. O PIB industrial cresceu 1,6% em 2011, (-) 0,8% em 2012, 1,7% em 2013 e deverá ficar próximo de zero em 2014. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial recuou 1,6%, nos cinco primeiro meses deste ano, e a geração de empregos no setor caiu 2,2%, com o fechamento de 30 mil postos de trabalho apenas em maio.

Apesar de que na Alemanha a indústria de transformação ainda represente 25% da geração de riqueza, é normal que esta participação caia, na medida em que os países se desenvolvem. Um estudo do Banco Mundial demonstra que a partir de determinado nível de renda per capita, o setor terciário passa gradativamente a ocupar uma parte do espaço da indústria e manufaturados com maior conteúdo tecnológico substituem parcialmente a produção que migra para países de custo mais baixo. No Brasil, contudo, a desindustrialização começou antes do tempo, a sua curva é bem mais acentuada e o avanço do conteúdo tecnológico deu lugar a uma “reprimarização” da economia e da nossa pauta de exportação.

A participação dos manufaturados nas exportações brasileiras, que em 2007 era superior a 50%, decresceu para 40% em 2010 e para apenas 34% no primeiro semestre de 2014. O volume exportado foi 19,3% menor do que no mesmo período de 2013, levando a um saldo negativo de US$ 56 bilhões.

Em um ano o déficit da balança comercial de produtos manufaturados alcançou US$ 106,4 bilhões. Mesmo com a queda dos preços das commodities no mercado internacional, a sua participação nas exportações brasileiras atingiu o patamar mais elevado dos últimos 35 anos. Mais da metade do que exportamos no primeiro semestre foram bens primários como soja, minério de ferro e petróleo. Em 2002, essa participação não passava de 25%.

As nossas exportações representam os mesmos 1,3% das exportações globais que representavam no início da década de 1980. Em 2011, exportamos US$ 256 bilhões e a partir de então elas caíram para a faixa de US$ 243 bilhões, justamente pela queda dos manufaturados. Por falta de competitividade da indústria nacional, não temos conseguido avançar na inserção do país nas cadeias globais de valor. O Brasil é um dos países mais fechados e isolados do fluxo internacional de produção.

Estudo da consultoria Roland Berger mostra que os fabricantes de autopeças no país vêm perdendo rentabilidade desde 2010. Uma das razões apontadas é que em dez anos a produtividade do setor cresceu 21%, enquanto o custo da mão de obra evoluiu 239%. Jaime Ardila, presidente da GM para a América Latina, critica os gargalos à produtividade no Brasil, como infraestrutura precária e legislações tributária e trabalhista engessadas. Steve St. Angelo, presidente da Nissan para a América Latina, diz que o Brasil exporta carros apenas para a Argentina, devido ao alto custo de produção e deficiências de infraestrutura. Para atender os demais países da região, fica cerca de US$ 5 mil mais barato exportar a partir da fábrica nos Estados Unidos.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) afirma que enquanto não resolvermos os nossos problemas estruturais e continuarmos apostando em medidas paliativas como reduções temporárias de impostos, não teremos uma participação expressiva no comércio internacional. Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, e hoje presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, diz que o Brasil está ficando isolado no comércio internacional.  Para reverter esse quadro, segundo ele, precisamos promover uma verdadeira campanha para reduzir os custos internos: “A máquina burocrática, o alto custo da mão de obra e da energia, a ineficiência dos portos – tudo o que representa o Custo Brasil – tem de ser atacado para que possamos recuperar a competitividade das nossas indústrias”.

Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) afirma que o planejamento econômico brasileiro olha o curto prazo. Políticas de juros e câmbio são feitas para segurar a inflação, estimulada por uma política fiscal frouxa. A consequência é a debilitação da indústria.

Estudo do Boston Consulting Group (BCG), indica que a indústria brasileira de manufatura teve sério comprometimento da sua competitividade nos últimos dez anos. Aumentos de salários, nos preços da energia, valorização do câmbio e desempenho ruim da produtividade levaram a produção no Brasil a custar em 2014 23% mais o que nos EUA, contra um custo 3% menor em 2004. Salários aqui mais do que dobraram no período, a eletricidade para a indústria subiu 90% e o gás natural 60%. Tanto os EUA como o México, que tem custo de manufatura 9% inferior ao americano, vem tendo crescimento moderado de salários e de custo de energia, além de ganhos sustentados de produtividade.

Sem dúvida, o mercado interno brasileiro é atraente e um estímulo à instalação de empresas no país, mas isso não tem sido suficiente para compensar os obstáculos que o poder público vem plantando no nosso ambiente empresarial. Sem contar jabuticabas como as NR12 e NR10, verdadeiras armadilhas para a competitividade da indústria brasileira. Os indicadores apresentados são mera consequência. Nada nos impede de mudar tudo isso.

Carlos Rodolfo Schneider é empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE), crs@brasileficiente.org.br

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