sexta-feira, 20 de maio de 2016

MP só pode acessar processo disciplinar da OAB com autorização judicial

Reserva de jurisdição







O Ministério Público só pode ter acesso a documentos sigilosos de processos disciplinares da Ordem dos Advogados do Brasil se tiver autorização judicial. Foi o que definiu nesta quarta-feira (18/5) a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça. Os ministros Mauro Campbell Marques e Herman Benjamin ficaram vencidos, pois votaram pelo não conhecimento do recurso.

A maioria dos ministros acompanhou o relator, ministro Humberto Martins, para quem o parágrafo 2º do artigo 72 do Estatuto da Advocacia estabelece o sigilo dos processos disciplinares. O dispositivo diz que só podem ter acesso às informações dos procedimentos as partes, seus defensores e a autoridade judiciária competente.

O MP, portanto, não está autorizado a ter acesso aos autos dos processos ainda em trâmite sem autorização judicial, definiu o ministro Humberto. Para ele, a OAB tem autonomia para definir seus procedimentos internos, e somente o Judiciário pode decidir quando eles podem ser suplantados.  E o sigilo dos procedimentos disciplinares, segundo o ministro, está relacionado à segurança dos envolvidos nas causas.

O julgamento foi concluído nesta quarta depois da leitura de voto-vista do ministro Og Fernandes. Segundo ele, as prerrogativas do MP não autorizam que ele acesse informações sigilosas se não há permissão legal. Conforme votou o ministro, a lei deixa clara a “reserva de jurisdição”. O ministro Raul Arajújo Filho ressaltou que o sigilo faz parte da paridade de armas entre defesa e acusação.

Vencidos, os ministros Mauro Campbell e Herman Benjamin votaram pela aplicação da Súmula 7 ao caso. O dispositivo proíbe que o STJ analise recursos que tratem de matéria que não foi questionada nas instâncias inferiores. O ministro Humberto, entretanto, afirmou que a matéria estava “implicitamente prequestionada”, afastando a aplicação da súmula.


REsp 1.217.271

Temer vai mostrar balanço sobre como encontrou finanças








Ueslei Marcelino / Reuters
Presidente em exercício, Michel Temer, dá discurso em posso de ministros, dia 12/05/2016
Michel Temer: ideia é transmitir a mensagem de que o governo funciona e não está paralisado como na gestão da presidente afastada
Vera Rosa e Tânia Monteiro, do Estadão Conteúdo

Brasília - Aconselhado a mostrar resultados o mais rápido possível, o presidente em exercício Michel Temer vai apresentar na segunda-feira, 23, um balanço de como encontrou as finanças do País, com os principais problemas da administração de Dilma Rousseff, e anunciará seu plano para sair do vermelho.

A ideia é transmitir a mensagem de que o governo funciona e não está paralisado como na gestão da presidente afastada.
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Além da proposta de revisão da meta fiscal que será enviada ao Congresso naquele dia, Temer e os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil), Romero Jucá (Planejamento) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) farão uma prestação de contas sobre a situação herdada e o atual rombo, que pode ultrapassar R$ 150 bilhões.

A ofensiva de comunicação também tem o objetivo de deixar claros os motivos da mudança na meta e por que sacrifícios precisam ser feitos para ajustar as contas públicas. Embora aliados do governo tenham batizado esse inventário de "herança maldita", Temer prefere não usar esta expressão.

"Não chamamos de herança maldita porque quem falava isso eram eles", afirmou Geddel, numa referência ao termo usado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para citar os problemas deixados pelo antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso.

Questionado sobre as dificuldades que o Palácio do Planalto terá para aprovar medidas amargas no Congresso, diante das brigas entre aliados do Centrão, o ministro tentou jogar água na fervura.

"Esse é um governo de solução, sem intrigas nem futricas. Aqui não tem centrão nem centrinho. Minha tarefa é construir consensos e administrar dissensos", disse à reportagem.


Prazo


A ordem de Temer é para que todos os ministérios façam um levantamento minucioso de dívidas, desvios e do que pode ser cortado em cada pasta. Nem tudo ficará pronto em prazo tão escasso e mais adiante haverá um relatório maior sobre a herança recebida, para fazer um contraponto com Dilma.

Na prática, o grupo do presidente em exercício quer passar a imagem de que o governo vai "falar menos e produzir mais". Dilma, porém, já prepara forte reação e está usando sua página no Facebook para que ministros de seu governo respondam às críticas feitas pela equipe de Temer.

"Temos uma batalha a ser travada no Senado contra o impeachment e vamos defender o mandato da presidenta Dilma até o fim", disse o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Edinho Silva. "O PT governou o Brasil por 13 anos e formulou políticas públicas que continuam sendo referência não só aqui como no exterior."

O ministro da Educação, Mendonça Filho, afirmou ter encontrado restos a pagar do ano passado de R$ 1,58 bilhão, além de R$ 236 milhões de dívidas vencidas na área de cultura. Henrique Eduardo Alves, do Turismo, disse ter cancelado R$ 16 milhões reservados pelo antecessor Alessandro Teixeira - que ficou apenas 20 dias à frente da pasta - para obras de infraestrutura.

Alves já havia sido titular do Turismo com Dilma, deixando o ministério quando o PMDB rompeu com o Planalto. Ele cancelou também um edital de promoção do tour da tocha olímpica, de R$ 10 milhões, aprovado quando a chama percorria o País havia mais de uma semana. O dinheiro será usado para a campanha de publicidade dos Jogos.

 As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

G7 concordará com abordagem do tipo "faça do seu jeito"





Reuters
g7 na Baviera
Líderes do G-7: conforme os anos de impressão agressiva de dinheiro ampliaram os limites da política monetária, a resposta do G7 para a inflação anêmica e o crescimento baixo se tornou ainda mais fragmentada
 
 
Da REUTERS


Sendai - Uma divergência entre as políticas fiscais e as taxas de câmbio deve abrir espaço para o G7 concordar com uma resposta do tipo "faça do seu próprio jeito" para lidar com os riscos que prejudicam o crescimento econômico global em sua reunião de líderes financeiros nesta sexta-feira.

Conforme os anos de impressão agressiva de dinheiro ampliaram os limites da política monetária, a resposta do G7 para a inflação anêmica e o crescimento baixo se tornou ainda mais fragmentada.

Os líderes financeiros que se reúnem em Sendai, no Japão, procuraram aconselhamento de acadêmicos proeminentes, incluindo o ganhador do prêmio Nobel e economista Robert Shiller, sobre maneiras de impulsionar o crescimento em um simpósio informal antes da reunião oficial do G7 desta sexta-feira.

Participantes do simpósio concordaram que, ao invés de se apoiarem em estímulos fiscais de curto prazo ou na política monetária, reformas estruturais combinadas com investimento apropriado são as soluções para alcançar o crescimento sustentável, disse uma fonte do G7.

Se assim for, isso deve frustrar as esperanças do Japão de reunir apoio sobre a necessidade de uma ação fiscal coordenada para incentivar a demanda global.

A Alemanha não mostrou sinais de que vai responder aos pedidos do Japão e Estados Unidos para ampliar os estímulos fiscais e, ao contrário, vem alertando sobre os perigos do excessivo afrouxamento monetário.

Mas autoridades do G7 já sinalizaram que não vão se opor se o Japão pedir uma ação mais forte usando as ferramentas fiscais e monetárias além de reformas estruturais - voltadas para as necessidades de cada país.


Discurso do ministro José Serra por ocasião da cerimônia de transmissão do cargo de ministro de estado das Relações Exteriores









Brasília, 18 de maio de 2016


Queria saudar inicialmente o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal;

O presidente do STJ, ministro Francisco Falcão;

Ministro Herman Benjamin, ministro Rogério Schietti e ministro Paulo Moura;

Queria cumprimentar, e através dele todos os deputados aqui presentes, o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Pedro Vilela;

E o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, meu colega do Senado, Aloysio Nunes, através de quem cumprimento todos os nossos queridos amigos senadores;

Queria saudar excelentíssimo ex-presidente da República, José Sarney, que, considero, teve um papel fundamental no processo de redemocratização do nosso país e merece ser reconhecido em todos os tempos por este papel.

Quero cumprimentar o senhor Núncio Apostólico, dom Giovanni d´Aniello, em nome de quem cumprimento os demais embaixadores estrangeiros acreditados junto ao governo brasileiro;

E dar aqui o meu abraço ao embaixador Mauro Vieira, ex-ministro de estado das Relações Exteriores, a quem agradeço a prestatividade, diria assim, e toda a colaboração nesse processo de transição do comando do Ministério. Quero dizer a ele que considero um homem que teve uma trajetória pública exemplar.

Quero agradecer também, muito enfaticamente, ao presidente Michel Temer pela confiança ao convidar-me para assumir este ministério, bem como pela paciência de revisar e pela aprovação deste Delineamento da Nova Política Externa Brasileira, que apresentarei hoje. O presidente leu ao meu lado, linha por linha, fazendo seus comentários, que naturalmente levei em conta. Quero dizer que trinta e três anos de convivência com Michel Temer, seja no mesmo lado ou em lados diferentes da vida política, foram sempre acompanhados de uma relação constante de amizade, respeito mútuo e permanente diálogo.

E quero por último, aqui agradecer a presença dos meus colegas de Ministério, são muitos, eu os saúdo em nome do ministro Romero Jucá, que, quis o destino, vai ter um papel junto comigo fundamental para a recuperação das finanças do Itamaraty.

Creio que os outros ministros entenderão por que escolhi o ministro Jucá para representá-los nesta saudação.

Deixe me dizer também de minha alegria em passar a integrar uma instituição de grande tradição e de marcada contribuição histórica ao nosso país. Deixe me dizer também da satisfação em conviver com um corpo de funcionários de reconhecida competência e espírito público. Eu espero aqui transmitir algumas ideias essenciais a respeito da nova política externa brasileira. Tenho e terei, como sempre em minha vida pública, os olhos voltados para o futuro e não para os desacertos do passado.

Primeira diretriz:

1. A diplomacia voltará a refletir de modo transparente e intransigente os legítimos valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia, a serviço do Brasil como um todo e não mais das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior. A nossa política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não do governo e jamais de um partido. Essa nova política não romperá com as boas tradições do Itamaraty e da diplomacia brasileira, mas, ao contrário, as colocará em uso muito melhor. Medidas que, em outros momentos, possam ter servido ao interesse nacional, quero dizer, podem não ser mais compatíveis com as novas realidades do país e com as profundas transformações em curso no cenário internacional.

Segunda diretriz:

2. Estaremos atentos à defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país, em qualquer regime político, em consonância com as obrigações assumidas em tratados internacionais e também em respeito ao princípio de não ingerência.

Terceira diretriz:

3. O Brasil assumirá a especial responsabilidade que lhe cabe em matéria ambiental, como detentor na Amazônia da maior floresta tropical do mundo, de uma das principais reservas de água doce e de biodiversidade do planeta, assim como de matriz energética limpa e renovável, a fim de desempenhar papel proativo e pioneiro nas negociações sobre mudança do clima e desenvolvimento sustentável. Lembro que, se fizermos bem a lição de casa, poderemos receber recursos caudalosos de entidades internacionais interessadas em nos ajudar a preservar as florestas e as reservas de água e biodiversidade do planeta, uma vez que o Brasil faz a diferença nessa matéria.

Quarta diretriz:

4. Na ONU e em todos os foros globais e regionais a que pertence, o governo brasileiro desenvolverá ação construtiva em favor de soluções pacíficas e negociadas para os conflitos internacionais e de uma adequação de suas estruturas às novas realidades e desafios internacionais; ao mesmo tempo em que se empenhará para a superação dos fatores desencadeadores das frequentes crises financeiras e da recente tendência à desaceleração do comércio mundial. O comércio mundial está se contraindo a galope, eu diria.

Quinta diretriz:

5. O Brasil não mais restringirá sua liberdade e latitude de iniciativa por uma adesão exclusiva e paralisadora aos esforços multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio, como aconteceu desde a década passada, em detrimento dos interesses do país. Não há dúvida de que as negociações multilaterais da OMC são as únicas que poderiam efetivamente corrigir as distorções sistêmicas relevantes, como as que afetam o comércio de produtos agrícolas. Mas essas negociações, infelizmente, não vêm prosperando com a celeridade e a relevância necessárias, e o Brasil, agarrado com exclusividade a elas, manteve-se à margem da multiplicação de acordos bilaterais de livre comércio. O multilateralismo que não aconteceu prejudicou o bila teralismo que aconteceu em todo o mundo. Quase todo mundo investiu nessa multiplicação, menos nós. Precisamos e vamos vencer esse atraso e recuperar oportunidades perdidas.

Sexta diretriz:

6. Por isso mesmo, daremos início, junto com o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, com a cobertura da CAMEX e em intensa consulta com diferentes setores produtivos, a um acelerado processo de negociações comerciais, para abrir mercados para as nossas exportações e criar empregos para os nossos trabalhadores, utilizando pragmaticamente a vantagem do acesso ao nosso grande mercado interno como instrumento de obtenção de concessões negociadas na base da reciprocidade equilibrada. Nada seria mais equivocado, errôneo, nesta fase do desenvolvimento brasileiro, do que fazer concessões sem reciprocidade. Não tem sentido.

Sétima diretriz:

7. Um dos principais focos de nossa ação diplomática em curto prazo será a parceria com a Argentina, com a qual passamos a compartilhar referências semelhantes para a reorganização da política e da economia. Junto com os demais parceiros, precisamos renovar o Mercosul, para corrigir o que precisa ser corrigido, com o objetivo de fortalecê-lo, antes de mais nada quanto ao próprio livre-comércio entre seus países membros, que ainda deixa a desejar, de promover uma prosperidade compartilhada e continuar a construir pontes, em vez de aprofundar diferenças, em relação à Aliança para o Pacifico, que envolve três países sul-americanos, Chile, Peru e Colômbia, mais o México. Como disse Enrique Iglesias, muito bem observado, não podemos assistir impassíveis à renovação de uma espé ;cie de Tratado de Tordesilhas, que aprofundaria a separação entre o leste e o oeste do continente sul-americano.  Em relação ao México, será prioritário aproveitar plenamente o enorme potencial de complementaridade existente entre nossas economias e hoje das nossas visões internacionais.

Oitava diretriz:

8. Vamos ampliar o intercâmbio com parceiros tradicionais, como a Europa, os Estados Unidos e o Japão. A troca de ofertas entre o Mercosul e a União Europeia será o ponto de partida para avançar na conclusão de um acordo comercial que promova maior expansão de comercio e de investimentos recíprocos, sem prejuízo aos legítimos interesses de diversos setores produtivos brasileiros. Como disse o ministro Mauro, houve a troca de ofertas, nós vamos agora examinar quais são as ofertas da União Europeia. Com os Estados Unidos, nós confiamos em soluções práticas de curto prazo para a remoção de barreiras não-tarifárias, que são, no mundo de hoje, as essenciais. No mundo de hoje não se protege, do ponto de vista comercial, com tarifas. Se protege com barreiras não-tarifárias. Quero dizer qu e o Brasil nesse sentido é o mais aberto do mundo. Nós não temos nenhuma barreira tarifária, ao contrário de todos os outros que se apresentam como campeões do livre comércio. Com os Estados Unidos, confiamos em soluções práticas de curto prazo, eu repito, para a remoção de barreiras não-tarifárias, e de regulação que entorpecem o intercâmbio. Daremos igualmente ênfase às imensas possibilidades de cooperação em energia, meio ambiente, ciência, tecnologia e educação.

Nona diretriz:

9. Será prioritária a relação com parceiros novos na Ásia, em particular a China, este grande fenômeno econômico do século XXI, e a Índia. Estaremos empenhados igualmente em atualizar o intercâmbio com a África, o grande vizinho do outro lado do Atlântico. Não pode esta relação restringir-se a laços fraternos do passado e às correspondências culturais, mas, sobretudo, forjar parcerias concretas no presente e para o futuro. Ao contrário do que se procurou difundir entre nós, a África moderna não pede compaixão, mas espera um efetivo intercâmbio econômico, tecnológico e de investimentos. Nesse sentido, a solidariedade estreita e pragmática para com os países do Sul do planeta terra continuará a ser uma diretriz essencial da diplomacia brasileira. Essa é a estratégia Sul-Sul correta, não a que chegou a ser praticada com finalidades publicitárias, escassos benefícios econômicos e grandes investimentos diplomáticos. É importante ter a noção clara de que os diferentes eixos de relacionamento do Brasil com o mundo não são contraditórios nem excludentes, sobretudo dado o tamanho da nossa nação. Um país do tamanho do Brasil não escolhe ou repele parcerias, busca-as todas com intensidade, inspirado no seu interesse nacional. Vamos também aproveitar as oportunidades oferecidas pelos foros inter-regionais com outros países em desenvolvimento, como por exemplo os BRICS, para acelerar intercâmbios comerciais, investimentos e compartilhamento de experiências. E, com sentido de pragmatismo, daremos atenção aos mecanismos de articulação com a África e com os países &aacut e;rabes.

Décima diretriz:

10. Nas políticas de comércio exterior, o governo terá sempre presente a advertência que vem da boa análise econômica, apoiada em ampla e sólida consulta com os setores produtivos. É ilusório supor que acordos de livre comércio signifiquem necessariamente a ampliação automática e sustentada das exportações. Só há um fator que garante esse aumento de forma duradoura: o aumento constante da produtividade e da competitividade. Se alguém acha que basta fazer um acordo e abrir, que isso é condição necessária suficiente, está enganado. É preciso investir no aumento constante da competitividade e da produtividade. Daí a ênfase que será dada à redução do custo Brasil, mediante a eliminação das distorções tributárias que en carecem as vendas ao exterior e a ampliação e modernização da infraestrutura por meio de parcerias com o setor privado, nacional e internacional. O custo Brasil hoje é da ordem de 25%, ou seja, uma mercadoria brasileira idêntica a uma mercadoria típica média dos países que são nossos parceiros comerciais, custa, por conta da tributação, dos custos financeiros, dos custos de infraestrutura, dos custos tributários, 25% a mais. Imagine-se o desafio que nós temos por diante. E apenas assumi o ministério, eu me dei conta, conversando com nosso embaixador na China, o Roberto Jaguaribe, do esforço de nossas embaixadas para atrair investimentos nestes setores básicos da economia. O Roberto estava trabalhando inclusive para seduzir os capitais chineses a virem ao Brasil, investir em parceria com o Estado brasileiro nas obras de infraestrutura. Esse esforço será multiplicado, tenho certeza, com sucesso.

Aqui encerro as diretrizes, mas se eu tivesse que acrescentar uma a mais, me alongar, que valeria a pena se alongar, eu citaria uma que temos que cumprir, colaborando com os ministérios da Justiça, da Defesa e da Fazenda, no que se refere à Receita Federal: a proteção das fronteiras, hoje o lugar geométrico do desenvolvimento do crime organizado no Brasil, vamos ter isso claro, que se alimenta do contrabando de armas, contrabando de mercadorias, que é monumental, e do tráfico de drogas. Em especial, nos empenharemos em mobilizar a cooperação dos países vizinhos para uma ação conjunta contra essas práticas criminosas que tanto dano trazem ao nosso povo e à nossa economia.

Por último, não menos importante, quero reafirmar meu compromisso com as comunidades brasileiras no exterior e o bom funcionamento de nosso serviço consular. Continuaremos a dar atenção prioritária à garantia dos direitos dos cidadãos brasileiros, onde quer que eles estejam.

Dirijo-me agora ao corpo de funcionários do ministério. Nós vamos recuperar a capacidade de ação do Itamaraty, acreditem. Num período de grandes transformações e, por que não dizer, incertezas no cenário internacional e de promissoras mudanças internas, a nossa diplomacia, não tenho dúvida, terá de, gradualmente, atualizar-se e inovar, e até mesmo ousar, promovendo uma grande reforma modernizadora nos objetivos, métodos e técnicas de trabalho. A diplomacia do século XXI não pode repousar apenas na exuberância da retórica e no tom auto-laudatório dos comunicados conjuntos. Precisa ter objetivos claros e ser a um só tempo discurso político e resultado concreto.

Os diplomatas brasileiros despertam o orgulho do país e o respeito dos parceiros do Brasil no exterior. Quero valorizar a carreira diplomática, assim como as demais carreiras do serviço exterior. Respeitar o critério do mérito. Não discriminar em favor dos amigos do rei ou de correligionários de um partido político. Quero progressivamente retirar o Itamaraty da penúria de recursos em que foi deixado pela irresponsabilidade fiscal que dominou a economia brasileira nesta década. Quero reforçar a casa, e não enfraquecê-la. Vamos restaurar o orgulho das novas gerações em servir ao Itamaraty e, sobretudo, ao Brasil. A Casa será reforçada, e não enfraquecida. E no governo do presidente Temer, o Itamaraty volta ao núcleo central do governo.

Meu programa de ação corresponderá à minha tradição na vida pública: trabalhar muito, apresentar e receber ideias, tomar iniciativas, delegar responsabilidades, cobrar resultados e promover negociações efetivas, bem como ter presença marcante, longe de cumprir um calendário de visitas inócuas, para “cumprir tabela”.

Estes são compromissos que apresento hoje. Este é o convite que faço a todos os servidores desta Casa, a fim de que façamos um esforço comum para valorizar o Itamaraty e pelo êxito de um governo que enfrentará, como todos sabemos, desafios imensos, mas que criará, se Deus quiser, as condições para a reconstrução do sistema político, o fortalecimento da representatividade da nossa democracia e a volta do crescimento da produção e do emprego.

Muito obrigado, mãos à obra, vamos em frente.

G7 debate crescimento mundial e instabilidade do câmbio







Kyodo / Reuters
Reunião do G7 sobre finanças no Japão
G7: equilíbrio entre política monetária acomodatícia, reativação orçamentária e as reformas estruturais necessárias protagonizam o encontro
 
 
Da AFP


A reunião de Finanças do G7 teve teve início nesta sexta-feira no Japão, com debates sobre os meios para revigorar uma economia mundial apática, no primeiro dia de um encontro em que ressurgirá a delicada questão dos recentes sobressaltos nos mercados de divisas.

O equilíbrio entre política monetária acomodatícia, reativação orçamentária e, a mais longo prazo, as reformas estruturais necessárias para um crescimento duradouro, protagonizam o encontro entre os sete grandes países industrializados.
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Os ministros da Economia e presidentes de bancos centrais de Japão, país anfitrião, Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Canadá, assim como a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, se reúnem em Akiu, uma pequena estação termal da região de Sendai, no nordeste do arquipélago nipônico. Espera-se que eles abordem, de uma vez por todas, a questão da "guerra de divisas" recentemente ressuscitada pelo Japão.

Tóquio deixou entrever a possibilidade de uma intervenção nos mercados de câmbio diante da valorização do iene, o que torna sua economia menos competitiva.

Já um dia antes da abertura da reunião, o ministro francês da Economia, Michel Sapin, excluiu qualquer possibilidade de usar a arma cambial para dar uma vantagem competitiva à sua economia, assegurando que não haverá "guerra de divisas".

Embora ninguém reconheça o estímulo orçamentário para alimentar sua economia, não há unanimidade: França e Japão apostam em uma certa flexibilidade, embora devam reduzir seus déficit orçamentários.

A Alemanha é reticente e pede reformas, embora pareça "mais flexível do que nos últimos tempos", segundo o ministro francês da Economia, Michel Sapin.
 

Brexit, Grécia e evasão fiscal


A possibilidade de uma saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) após o referendo de 23 de junho é outro tema de preocupação, que provavelmente será abordado na reunião.

A evasão fiscal também está na agenda por conta do escândalo dos "Panama Papers". O G7 espera apoiar a declaração de meados de abril do G20-Financeiro, que reúne também os grandes países emergentes. Reunido em Washington, o grupo reafirmou a "importância prioritária à transparência financeira".

Embora não haja nenhuma declaração comum prevista para o sábado, ao encerramento da reunião, será publicado um plano de ação para lutar contra o financiamento do terrorismo, que se intensificou desde os atentados de Paris de 13 de novembro.

A situação da Grécia, ausente do programa oficial, também deve aparecer nas discussões das quais participará o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici.

O FMI acentuou na quinta-feira sua pressão sobre os credores europeus da dívida grega, ao pedir pedindo que eles concedam ao país um "longo período de carência" e não exijam a aplicação de novas medidas de austeridade.


Economia está pior do que eu imaginava, diz Meirelles





Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central
Henrique Meirelles, ministro da Fazenda do governo provisório: “eu encontro nos números uma situação pior do que esperava”
 
 
Carla Simões e Raymond Colitt, da Bloomberg


A economia está em pior situação do que imaginava antes de assumir o Ministério da Fazenda, há uma semana, disse Henrique Meirelles, em entrevista à Bloomberg.

“Eu encontro nos números uma situação pior do que esperava”, disse ele em seu gabinete em Brasília, referindo-se em grande parte ao orçamento federal.

Contudo, o governo interino liderado por Michel Temer está em melhor posição para conseguir a aprovação de medidas econômicas no Congresso do que o de Dilma Rousseff, disse Meirelles, acrescentando que os brasileiros atualmente estão mais conscientes de que será preciso fazer sacrifícios para o crescimento retornar. “O governo mudou, assim como a disposição do Congresso e mesmo a capacidade de negociação do próprio governo”, disse ele.

Meirelles, 70, disse em várias oportunidades que o reforço das contas públicas e a contenção do aumento da dívida pública são prioritários para reconstruir a confiança na economia, golpeada pela recessão.

Sua equipe econômica está elaborando uma proposta de reforma da Previdência e um membro do governo disse no início desta semana que ativos estatais poderão ser vendidos para levantar recursos.

O gabinete de Temer também está tentando renegociar as dívidas dos estados antes de o Supremo Tribunal Federal se posicionar a respeito. Uma decisão judicial para que os estados paguem juros simples em vez de compostos privaria o governo federal de um total estimado em R$ 402 bilhões (US$ 113 bilhões) em receitas, segundo algumas estimativas.

Michel Temer foi empossado como presidente interino do Brasil na semana passada, depois que o Senado afastou Dilma Rousseff temporariamente do cargo para submetê-la a um julgamento de impeachment.

Ele incumbiu Henrique Meirelles, o ex-presidente do Banco Central conhecido por ter domado a inflação, de recolocar nos trilhos uma economia que perdeu seu status de grau de investimento no ano passado em meio a um déficit orçamentário recorde.

A equipe de Meirelles anunciará sua meta orçamentária para 2016 na segunda-feira e a expectativa é que mostre déficit primário em vez do superávit buscado pelo governo anterior. O senador Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, disse na quinta-feira que o déficit está em torno de R$ 200 bilhões.

O governo aposta que o Congresso agirá rapidamente sobre suas propostas se compreender a verdadeira dimensão do rombo orçamentário.

“A população tem expectativa de resultado, não há dúvida”, disse Meirelles.

Os micos e os acertos da primeira semana de Temer no poder





Marcos Corrêa/PR
Presidente Interino Michel Temer recebe Beto Richa, Governador do Paraná e o Deputado Antonio Imbassahy. (Brasília - DF, 18/05/2016)
Presidente Interino Michel Temer recebe Beto Richa, Governador do Paraná e o Deputado Antonio Imbassahy: como foi a largada intensa do governo Temer
São Paulo – Foram apenas sete dias, mas parece muito mais. Como já era esperado, a primeira semana do governo interino de Michel Temer (PMDB) – completada ontem - foi para lá de intensa. 

“Este governo começou já em terceira marcha”, afirma Michael Mohallen, professor da FGV Rio. “É um governo que chega muito acelerado. Há muita ansiedade e pouca articulação”.
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Nesse contexto, escorregões são inevitáveis. Nos primeiros sete dias da nova gestão, os erros ofuscaram até mesmo os acertos da equipe do peemedebista. Veja um balanço:

 

ERROS

O arranjo polêmico

A primeira aparição de Temer como presidente interino da República, de cara, causou controvérsia. Escoltado por uma equipe ministerial 100% masculina e branca, o governante provisório perdeu a chance de sinalizar, logo no início, que – para além das questões pertinentes à economia – sua gestão também estaria alinhada com temas caros para a sociedade, como a igualdade racial e de gênero.

Ao mesmo tempo, apesar da lacuna na representação feminina e de minorias, não faltaram no novo ministério nomes ligados ao escândalo de corrupção da Petrobras. Ao menos 7 de seus 22 ministros foram citados durantes as investigações da Operação Lava Jato.

O fim do Ministério da Cultura


Jean-Paul Pelissier / Reuters
Equipe do filme "Aquarius" protesta contra o impeachment no tapete vermelho do Festival de Cannes, dia 17/05/2016
Equipe do filme "Aquarius" protesta contra o impeachment no tapete vermelho do Festival de Cannes, dia 17/05/2016


Da mesma forma que subestimou o impacto que um gabinete sem mulheres teria na opinião pública, o presidente interino Michel Temer também não conseguiu prever o quanto a extinção de pastas como o Ministério Da Cultura poderia dar o que falar.

Desde que a pasta perdeu o status de ministério, uma jornada de protestos e ocupações capitaneadas por artistas tomaram o país. Ao mesmo tempo, o governo, empenhado em encontrar uma mulher de renome para liderar a nova secretaria, recebeu ao menos cinco recusas como resposta.

Diante da negativa de nomes como da cantora Daniela Mercury, da atriz Bruna Lombardi e da jornalista Marília Gabriela, Temer acabou escolhendo mais um homem para chefiar o núcleo cultural do governo.

No afã de apresentar um suposto retrato mais eficiente do governo, Temer deu um tiro no pé.

“Em termos simbólicos do que representa o Ministério da Cultura, é um erro. Em termos econômicos, não deve trazer resultados para o governo porque não é um ministério que tem um uso grande de recursos”, afirma Marcos Vinicius Pó, professor de ciências políticas da UFABC.

Mais que um cálculo político equivocado, o arranjo polêmico da equipe ministerial pode revelar uma deficiência da atual gestão. “Temer não tem articulação com a opinião pública”, afirma o professor da FGV.

Se no seu discurso de posse, o presidente interino fez um claro aceno ao mercado e à bancada religiosa do Congresso, ele não fez o mesmo para movimentos próximos ao governo petista.

Faltou media training


Foram apenas sete dias de governo, mas foi tempo suficiente para que ministros de Temer tivessem que “desdizer” declarações polêmicas concedidas por eles mesmos. 

Na segunda, o ministro Alexandre de Moraes (Justiça) afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que Temer não precisaria necessariamente escolher para o cargo de procurador-geral da República o nome mais votado entre juristas – tradição nas escolhas dos últimos anos.

Poucas horas depois da publicação da entrevista, o presidente interino afirmou à GloboNews que iria manter a tradição de seus antecessores e escolher o mais votado na categoria.

Um dia depois, foi a vez do ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmar que o tamanho do SUS precisaria ser revisto. Horas depois, ele mesmo veio a público para negar o teor de suas declarações.

“Não há um plano geral de ação. Com exceção da área fiscal, cada ministro vai levando um pouco de sua agenda ou da agenda que apoia a sua base de apoio”, afirma Marcos Vinicius Pó, professor de ciências políticas da UFABC.

 

ACERTOS


A equipe econômica “dos sonhos”
Ueslei Marcelino / Reuters
Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, dia 17/05/2016
Henrique Meirelles:


Uma bola dentro dos primeiros dias de Temer no comando do Planalto foi o anúncio da nova equipe econômica – classificada por economistas como um “time dos sonhos”.

O pelotão da área fiscal até pode ser “dos sonhos”, mas o problema é que a realidade política brasileira não é nada fácil. “O governo está ficando cada vez mais fragmentado, o que aumenta o custo de negociação para os políticos”, diz o professor da UFABC.


O ministério mais equilibrado 


Para além das polêmicas que acompanharam a apresentação do novo gabinete, o arranjo ministerial de Temer revela um objetivo claro da atual gestão: garantir uma base de apoio sólida no Congresso.

Estudo da Pulso Público revela que, ao lado da equipe do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a equipe do peemedebista é a mais equilibrada em termos partidários e a mais coerente com o Congresso desde a redemocratização.

A consultoria chegou a essa conclusão após calcular a taxa de coalescência do gabinete de Temer. Tal indicador mede a proporção entre a importância dos partidos da base aliada no Congresso e a quantidade de ministérios recebidos por cada legenda. Ele vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, mais proporcional é a repartição do poder entre as siglas da coalizão.

No caso do governo Temer, a taxa de coalescência está em 0,805. Durante o segundo mandato da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), não passou de 0,714 – o pior desempenho nesse quesito desde o governo Collor.

Faz sentido que, no momento atual, o peemedebista tenha se atentado a criar um governo coerente com as forças do Legislativo. Ele tem pouco tempo - bem menos do que os 180 dias de julgamento do impeachment - para mostrar a que veio. Sem apoio, dificilmente, conseguirá tirar medidas impopulares do papel - muitas delas necessárias para que a economia volte aos trilhos.

No entanto, para os analistas ouvidos por EXAME.com, ter um ministério equilibrado não é tudo em termos de governabilidade. “É suficiente como ponto de largada, mas não vai ser suficiente para outras questões”, diz Mohallen. “Por mais que um político seja da base do governo, ele sempre vai ter o compromisso com a sua base como termômetro”.

A questão, agora, é se Temer conseguirá superar a antecessora em termos de habilidades políticas. Até o momento, ele dá sinais de que - pelo menos no diálogo com o Congresso – já deu um baile no tom do segundo mandato de Dilma Rousseff, que foi afastada do cargo no último dia 12.