terça-feira, 1 de novembro de 2016

Venezuelanos começam a pesar dinheiro ao invés de contar notas

O bolívar, que chegou a ser uma das moedas mais fortes do mundo, agora é um estorvo. Para fazer qualquer compra é preciso levar centenas de notas



No balcão de uma mercearia no leste de Caracas, Humberto González retira as fatias de queijo branco salgado da balança e as substitui por uma pilha de notas de bolívares entregues pelo cliente. A moeda está tão desvalorizada e cada compra exige tantas notas que, em vez de contá-las, ele prefere pesá-las.

“É triste”, diz González. “A esta altura eu acho que o queijo vale mais.”

Esse é também um dos sinais mais claros de que a hiperinflação pode estar tomando conta de um país que se recusa a publicar dados de preços ao consumidor regularmente. Não é em todo lugar que estão pesando o dinheiro, mas isso está se popularizando, o que lembra cenas de alguns dos episódios de hiperinflação mais caóticos do século passado: a Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial, a Iugoslávia na década de 1990 e o Zimbábue uma década atrás.

“Quando começam a pesar dinheiro, esse é um sinal de que a inflação está fora de controle”, disse Jesús Casique, diretor financeiro da consultoria Capital Market Finance. “Mas os venezuelanos não sabem exatamente como está a situação porque o governo se recusa a publicar números.”


Mochilas cheias de dinheiro


O bolívar, que chegou a ser uma das moedas mais fortes do mundo, agora é um estorvo. Para fazer qualquer compra é preciso levar centenas de notas. As pessoas colocam pilhas de dinheiro nas mochilas e se aventuram pelas ruas assoladas pelo crime e os lojistas guardam o dinheiro em caixas e gavetas que transbordam. Diante da falta de dados oficiais, os economistas precisam adivinhar qual é a taxa da inflação. As estimativas para este ano vão de 200 por cento a 1.500 por cento.

Até agora, com o bolívar afundando, o governo se recusava a imprimir notas de maior valor. A nota de 100 bolívares – a maior do país – vale menos do que dez centavos de dólar.

No entanto, algumas semanas atrás, o governo solicitou discretamente a cinco empresas que apresentassem ofertas para imprimir bolívares de maior valor – 500, 1.000, 5.000, 10.000 e talvez 20.000 –, segundo uma pessoa com conhecimento direto do pedido.

As notas deveriam estar prontas a tempo para pagar as bonificações do Natal. Normalmente, uma encomenda dessas leva de quatro a seis meses para ser entregue e, por enquanto, nenhuma oferta foi escolhida. A fim de minimizar tempo e custos, o governo está considerando trocar apenas a cor, não o layout, das notas atuais, e acrescentar zeros, disse a pessoa. O banco central disse que não faria comentários.


Pablo Escobar


Enquanto isso, pessoas como Bremmer Rodrigues, 25, gerente de uma padaria no subúrbio de Caracas, não sabem o que fazer com seus sacos de dinheiro. Todos os dias a padaria recebe centenas de milhares de bolívares, que ele esconde pelo escritório até embalá-los para depositar no banco. Ele disse que se alguém o visse, poderia confundi-lo com um traficante.

“Eu me sinto como Pablo Escobar”, disse ele. “É uma montanha de dinheiro, cada dia mais.”


Codesul projeta criar corredores de infraestrutura


A ideia é criar um caderno com cronograma de ações e valores para ser entregue pelos governadores em Brasília

 

Da Redação

 

redacao@amanha.com.br
Governadores do Codesul projetam criar corredores de infraestrutura

Os governadores dos Estados que compõem o Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) querem incentivar a formação de grandes corredores rodoviários entre Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. A ideia é ligar os quatro Estados, formando um corredor de rodovias federais para melhorar o transporte e o escoamento de produção na região. 

Em reunião nesta segunda-feira (31) no Palácio Iguaçu, em Curitiba, o governador Beto Richa, que preside o Codesul, e os governadores Raimundo Colombo (SC) e José Ivo Sartori (RS) anunciaram que a intenção é identificar esses principais corredores rodoviários e ferroviários e detectar quais os pontos (regiões) necessitam de investimentos federais na infraestrutura. 

“Esse encontro foi importante para afinarmos o discurso e nos unir em torno de mudanças que protejam o interesse dos Estados”, declarou Richa. “O foco é a ampliação do porcentual de investimentos em infraestrutura no orçamento federal. Com aumento de investimentos em infraestrutura vamos ajudar não só o Sul, mas o país, a encontrar o caminho de desenvolvimento e de geração de empregos”, afirmou. 

A ideia é reunir a informação de cada Estado e criar um caderno com cronograma de ações e valores para ser entregue pelos governadores em Brasília. Alguns exemplos de possíveis corredores rodoviários que fazem parte da proposta são: BR-163, BR-158, BR-153, BR-101, BR-280.

"Nos interessa especialmente a ligação com Santa Catarina e nos interessa atender a população do Sul do Rio Grande do Sul. A produção agrícola representa metade do PIB do Estado. Os corredores nacionais e regionais vão trazer ganhos muito grandes no futuro”, afirmou o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori. 

De acordo com o secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná, José Richa Filho, é possível unir esforços em torno de corredores que são interessantes para os quatro Estados. “É o caso da BR-163 que entra pelo Mato Grosso do Sul e avança pelo Paraná, Santa Catarina e vai até um pedaço do Rio Grande do Sul. É possível unir mais de uma rodovia, como a BR-487, a Boiadeira, descer pela PR- 158, no centro do Estado, e voltar até a 163 que vai até o final do Rio Grande do Sul. Esse é um dos corredores possíveis”, explicou.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

STF estabelece tese de repercussão geral para questão da desaposentação


Foto: Nelson Jr./SCO/STF


O Supremo Tribunal Federal aprovou, nesta quinta-feira (27/10), a tese de repercussão geral relativa à decisão tomada nessa quarta (26/10), por maioria de votos, em que o Plenário considerou inviável o recálculo do valor da aposentadoria por meio da chamada desaposentação.

A tese fixada foi: “No âmbito do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por hora, previsão legal do direito à ‘desaposentação’, sendo constitucional a regra do artigo 18, parágrafo 2º, da Lei 8.213/1991”.

O placar do julgamento da desaposentação terminou 7 a 4, tendo prevalecido o entendimento do ministro Dias Toffoli, que apresentou sua tese em sessão de outubro de 2014. Na ocasião, foi acompanhado por Teori Zavascki.

Toffoli afirmou que, embora não exista vedação constitucional expressa à desaposentação, também não há previsão desse direito. Ele ressaltou que a Constituição Federal dispõe de forma clara e específica que compete à legislação estabelecer as hipóteses em que as contribuições previdenciárias repercutem diretamente no valor dos benefícios, como é o caso da desaposentação, que possibilitaria a obtenção de benefício de maior valor a partir de contribuições recolhidas após a concessão da aposentadoria.


Veja como cada ministro entendeu a questão:
 


Rosa Weber

A ministra seguiu o entendimento do relator do Recurso Extraordinário 661.256, ministro Luís Roberto Barroso, de que a legislação é omissa no que diz respeito à desaposentação. Na visão da ministra, não existe proibição legal expressa a que um aposentado do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que tenha continuado a trabalhar obtenha novo benefício, com base nas novas contribuições.

A ministra observou que a filiação à previdência social é um vínculo jurídico que gera direitos e obrigações recíprocas e as novas contribuições vertidas pelo aposentado, por sua continuidade ou retorno ao mercado de trabalho, devem ser consideradas para cálculo de novo benefício. “Não identifico no artigo 18, parágrafo 2º, da Lei 8.213/1991, vedação expressa à desaposentação, considerada a finalidade de, a partir do cômputo de novo período aquisitivo, obter mensalidade de aposentadoria de valor maior” afirmou.


Edson Fachin


O ministro Edson Fachin acompanhou a divergência aberta pelo ministro Dias Toffoli, dando provimento ao RE 661.256 por entender que o STF não pode suplantar a atuação legislativa na proteção aos riscos previdenciários. Em seu entendimento, cabe ao legislador, ponderando sobre o equilíbrio financeiro e atuarial do RGPS, dispor sobre a possibilidade de revisão de cálculo de benefício de aposentadoria já concedido em razão de contribuições posteriores.

O ministro Fachin destacou que a Constituição Federal consagra o princípio da solidariedade e estabelece que a Seguridade Social será financiada por toda sociedade, de forma direta e indireta. Ressaltou que o legislador constitucional, ao tratar da previdência social, dispôs que especificamente sobre os riscos que devem estar cobertos pelo RGPS, mas atribuiu ao legislador infraconstitucional a responsabilidade de fixar regras e critérios a serem observados para a concessão dos benefícios previdenciários.


Luís Roberto Barroso

 
Relator do RE 661.256, o ministro Luís Roberto Barroso reafirmou o voto proferido por ele em outubro de 2014 quando deu provimento parcial ao recurso no sentido de considerar válido o instituto da desaposentação. Na sessão de hoje, ele aplicou a mesma conclusão ao RE 381.367, de relatoria do ministro Marco Aurélio. Quanto ao Recurso Extraordinário 827.833, o ministro Barroso reajustou o voto para negar provimento, ao entender que não há possibilidade de acumulação de duas aposentadorias pelo RGPS.



Luiz Fux

 
Para o ministro Luiz Fux, o instituto da desaposentação desvirtua a aposentadoria proporcional. “No meu modo de ver, trata-se de expediente absolutamente incompatível com o desiderato do constituinte reformador que, com a edição da Emenda Constitucional 20/1998, deixou claro seu intento de incentivar a postergação das aposentadorias”, disse o ministro ao ressaltar que a contribuição de uma pessoa serve para ajudar toda a sociedade. Segundo ele, a obrigatoriedade visa preservar o atual sistema da seguridade e busca reforçar a ideia de solidariedade e moralidade pública, entre outras concepções. Dessa forma, o ministro Luiz Fux deu provimento aos recursos extraordinários 661.256 e 827.833 e negou provimento ao RE 381.367.


Ricardo Lewandowski




O ministro Ricardo Lewandowski acompanhou a corrente vencida que reconheceu o direito do segurado à desaposentação. Segundo ele, diante da crise econômica pela qual passa o país, não é raro que o segurado da previdência se veja obrigado a retornar ao mercado de trabalho para complementar sua renda para sustentar a família. Para o ministro é legalmente possível ao segurado que retorna ao mercado de trabalho renunciar à sua primeira aposentadoria para obter uma nova aposentadoria mais vantajosa. “A aposentadoria, a meu ver, constitui um direito patrimonial, de caráter disponível, pelo que se mostra legítimo, segundo penso, o ato de renúncia unilateral ao benefício, que não depende de anuência do estado, no caso o INSS”, concluiu.


Gilmar Mendes

 
O ministro Gilmar Mendes votou no sentido de negar o direito à desaposentação por entender que, se o segurado se aposenta precocemente e retorna ao mercado de trabalho por ato voluntário, não pode pretender a revisão do benefício, impondo um ônus ao sistema previdenciário, custeado pela coletividade. Para o ministro o artigo 18, parágrafo 2º, da Lei 8.213/1991, não deixa dúvida quanto à vedação da desaposentação no âmbito do ordenamento previdenciário brasileiro. “O dispositivo é explícito ao restringir as prestações da Previdência Social, na hipótese dos autos, ao salário-família e à reabilitação profissional”, afirmou. Da mesma forma, segundo ele, o Decreto 3.048 é “cristalino” quanto à  irreversibilidade e à irrenunciabilidade da aposentadoria por tempo de contribuição.

“Não se verifica, portanto, uma omissão normativa em relação ao tema em apreço. As normas existem e são expressas na vedação à renúncia da aposentadoria de modo a viabilizar a concessão de outro benefício com o cálculo majorado”, disse o ministro, acrescentando que o conteúdo das normas está em consonância com preceitos adotados no sistema constitucional de Previdência Social, especificamente os princípios da solidariedade e do equilíbrio financeiro e atuarial da seguridade social. O ministro citou dados da Advocacia Geral da União de que um eventual reconhecimento do direito à desaposentação pelo STF teria impacto de R$ 1 bilhão por mês aos cofres da Previdência Social. Para ele, se a matéria deve ser revista, isso cabe ao Congresso Nacional, com base nos parâmetros que a Constituição Federal determina, e não ao Poder Judiciário.


Marco Aurélio

 
Em seu voto, o ministro Marco Aurélio manteve sua posição já proferida como relator do RE 381.367, favorável à possibilidade de desaposentação, assegurado ainda ao contribuinte o direito ao recálculo dos proventos da aposentadoria após o período de retorno à atividade, adotando a mesma posição nos demais recursos.


Celso de Mello

 
O ministro Celso de Mello relembrou no início de seu voto a histórica afirmação pelo STF, em seus julgados sobre o Regime Geral da Previdência Social, dos postulados da solidariedade, universalidade, equidade e do equilíbrio financeiro e orçamentário. O parágrafo 5º do artigo 195 da Constituição estabelece a necessidade de existência de fonte de custeio para a criação ou ampliação de benefício, explicitando o princípio do equilíbrio atuarial.

A alteração introduzida em 1997 na Lei 8.213/1991 previu explicitamente que o aposentado que permanecer em atividade não faz jus a prestação da previdência, exceto salário família e reabilitação profissional. Isso revelou a intenção do legislador, que deixou de autorizar um direito que poderia ser entendido pelo beneficiário como estabelecido. A lacuna antes existente na legislação quanto ao tema não implicaria, nesse caso, a existência do direito. “Esse tema se submete ao âmbito da própria reserva de parlamento, que deve estar subordinada ao domínio normativo da lei”, afirmou.


Cármen Lúcia

 
Em seu voto, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia adotou a posição segundo a qual não há fundamento na legislação que justifique o direito à desaposentação. “Me parece que não há ausência de lei, embora essa seja matéria que possa ser alterada e tratada devidamente pelo legislador”. A Lei 8.213/1991 trata da matéria, e o tema já foi projeto de lei, portanto, para a ministra, não houve ausência de tratamento da lei, apenas o tratamento não ocorreu na forma pretendida pelos beneficiários. Os preceitos legais adotados, por sua vez, são condizentes com os princípios da solidariedade e com a regra do equilíbrio atuarial. Com informações da Assessoria de Imprensa do STF. 


Empresa de tecnologia de hospitais Vitta comprou a Katu

 

 

Empresa de tecnologia de hospitais Vitta comprou a Katu, criadora de prontuários eletrônicos em nuvem



 
 
São Paulo- A desenvolvedora de tecnologias de gestão e pagamentos para clínicas e hospitais Vitta anunciou fusão com a Katu Sistemas, dona do ClinicWeb, criadora de prontuários eletrônicos em tecnologia de computação em nuvem.
 
O valor do negócio não foi revelado. A fusão, em que a Vitta será majoritária, cria uma das maiores empresas nacionais de tecnologia em saúde, atendendo cerca de 9 milhões de pacientes. A companhia estima transacionar 1,4 bilhão de reais em 2017 com o sistema de pagamentos.
 
O sistema, usados por redes como o Einstein e o Hospital do Coração, movimenta cerca de 400 mil exames por mês.
 
A Vitta já recebeu aportes de mais de 3 milhões de dólares e tem entre os investidores Arpex Capital e Finvest.


GE anuncia fusão com setor petroleiro da Baker Hughes


Segundo o acordo, a GE controlará 62,5% da nova entidade

 




O conglomerado industrial americano General Electric (GE) anunciou nesta segunda-feira a fusão de suas atividades tecnológicas com as de serviço do setor de petróleo e gás da companhia Baker Hughes, para criar uma nova empresa, que gerará 32 bilhões de dólares por ano.

Segundo o acordo, revelado em um comunicado, a GE dará aos acionistas da Baker Hughes um dividendo excepcional de 7,4 bilhões de dólares e controlará 62,5% da nova entidade.

Maior concorrente, CCR pode ficar de fora de leilão de aeroportos

  1.  

    CCR já demonstrou interesse no leilão de aeroporto de Salvador, mas sinalizou que condições atuais podem não ser interessantes

     

    Por Estadão Conteúdo

     

  2. São Paulo – A CCR não descarta a possibilidade de ficar fora do próximo leilão de aeroportos, que concederá à iniciativa privada os terminais de Fortaleza, Florianópolis, Porto Alegre e Salvador.

    Considerada grande candidata para o certame, em particular para a concessão do aeroporto de Salvador, na qual já anunciou repetidas vezes interesse, agora a companhia sinaliza que o projeto como está sendo desenhado pode não ser atraente.

    Em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o presidente da CCR, Renato Vale, indicou que, se mantidas as condições sinalizadas hoje, o grupo de concessões pode não disputar os ativos.
    O executivo critica, por exemplo, o fluxo de passageiros divulgado até agora. Nas apresentações mais recentes do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, sinaliza-se com um crescimento histórico do tráfego de passageiros da ordem 9,27% no caso do aeroporto de Salvador, considerando dados a partir de 2003, e a projeção contida no mesmo gráfico aponta para uma estimativa de expansão de 4,55% ao ano de 2016 em diante. Mas a queda da demanda verificada nos últimos dois anos não aparece, salienta. Ou seja, o gráfico parte de uma base que já não é mais realidade após esse período de recessão.

    Vale explica que no caso do aeroporto de Confins, em Minas Gerais, do qual a CCR é acionista, o volume de passageiros vem registrando queda desde 2015, consolidando uma redução de quase 18% de 2014 até agora. O movimento de passageiros nos aeroportos está diretamente ligado ao fluxo de caixa esperado e uma frustração na demanda pode derrubar a taxa interna de retorno da concessão. “Mesmo que essa taxa de crescimento futura se realize, teria cerca de 20% menos de receita na partida, então a taxa de retorno calculada pelo investidor nem de longe vai chegar.”

    Vale também questiona se, na prática, o governo incluiu na nova modelagem para os aeroportos premissas mais realistas, como indicou que faria, tais como taxa de retorno mais elevada e custo financeiro maior. Sua suspeita se baseia no fato de que, para ele, o novo valor de outorga proposto parece pouco menor se comparado com o montante indicado pelo governo anterior. A outorga foi reduzida de R$ 1,490 bilhão para R$ 1,187 bilhão no documento mais recente. “A diferença não é muito importante”, avalia. “Não conheço o fluxo dessa modelagem, mas deve ter sido usado algo parecido com a versão anterior”, completa.

    Segundo o executivo, dadas as atuais condições de mercado, um projeto de infraestrutura deveria ter taxa de retorno de pelo menos 14% a 15% para ser atrativa. “Mas depende do projeto, depende da condição”, pondera, indicando que a companhia pode enxergar oportunidades adicionais em algum ativo.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.



Chefs franceses querem barrar o negócio da Bayer com a Monsanto


Chefs franceses assinam carta aberta na internet contra a compra da Monsanto pela Bayer; eles denunciam o que chamam de “a invasão dos pesticidas"




A compra da multinacional de biotecnologia Monsanto pela empresa química alemã Bayer num negócio de 66 bilhões de dólares conseguiu o impossível: unir chefs estrelados franceses em prol de uma causa comum. Diferenças gastronômicas foram postas de lado no movimento que, segundo eles, pretende alertar sobre a crescente venda — e, consequente, consumo — de alimentos com agrotóxicos.

A carta aberta divulgada pelo site francês de gastronomia Atabula conta com as assinaturas de Michel e Sébastien Bras, pai e filho que comandam um restaurante no departamento de Aveyron várias vezes presente na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo; Yannick Alléno, dono de um estabelecimento com três estrelas no Guia Michelin e cozinheiro do ano em 2014 pelo guia francês Gault et Millau; Mauro Colagreco, considerado o melhor chef francês pelo guia britânico Best Restaurant em 2015 e Olivier Roellinger, premiado internacionalmente pelo talento no preparo de frutos do mar. Todos eles denunciam o que chamam de “a invasão dos pesticidas em nossos pratos” em um negócio que representa uma ameaça para a diversidade de alimentos, para a saúde humana e para o meio ambiente.

A transação entre Bayer e Monsanto — chamada pelos chefs de um “casamento dos infernos” — foi anunciada em setembro em mais um episódio na concentração do mercado global de insumos agrícolas. As americanas Dow Chemical e DuPont se uniram em julho deste ano. A chinesa ChemChina deve concluir até 2017 a compra da suíça Syngenta. Todos os negócios ainda carecem de aprovação dos órgãos reguladores.

Foi nesse contexto que surgiu a carta aberta redigida pelo ex-editor do Guia Michelin e fundador do site Atabula, o francês Franck Pinay-Rabaroust. O jornalista lançou o manifesto em seu site e solicitou o apoio de todos os chefs e associações que se identificassem com a causa. “Os grandes chefs da cozinha francesa são figuras midiáticas e influenciadores de opinião. Eles podem e devem promover o debate político”, explica.

Segundo o autor, a carta surgiu de uma necessidade pessoal de expressar seu descontentamento e sua preocupação com as consequências da transação entre Bayer e Monsanto. “Esta nova empresa que nasce tem uma ambição muito perigosa que diz respeito a todos nós: controlar toda a cadeia alimentar, da terra onde cresce a semente até o alimento que chega no nosso prato. Não podemos aceitar de cabeça baixa, temos que agir”, afirma Pinay-Rabaroust.

A carta ganhou rapidamente o apoio de todos profissionais de restaurantes e, consequentemente, visibilidade nas mídias sociais. Para se ter ideia da repercussão, a carta aberta já foi assinada por mais de 20.000 pessoas ligadas aos negócios de alimentação, como restaurantes, bares e cafés do mundo todo.

Em trecho da carta, os chefs apoiam a causa no papel de “ardentes defensores da culinária e da arte de comer bem, comprometidos cotidianamente na valorização dos bons produtos, dos pequenos produtores e de valores fundamentais como o apoio à biodiversidade, meio ambiente e a saúde dos clientes”. Para eles, uma das principais preocupações está no fato de que “os agrotóxicos e os organismos geneticamente modificados (OGM) constituem um perigo exposto em nosso prato e uma fonte de inquietude para os agricultores que veem limitada a liberdade de plantar e de cultivar determinadas sementes e não conseguem preços competitivos no mercado”.

Os profissionais alertam que “sem um produto saudável e de qualidade, sem a diversidade de plantio, o cozinheiro não pode expressar o seu talento criativo” e assinam embaixo que “no futuro, por causa dos transgênicos e de diferentes produtos químicos oriundos da indústria agroquímica, a variedade de cultivo não existirá mais”, fazendo um apelo à “responsabilidade e à tomada de consciência coletiva”.


Defesa da tradição


O chef Armand Layachi, do restaurante Le Goût Juste, em Montpellier, soube do manifesto por meio da associação Euro-Toques França. Com sede em Bruxelas, a associação representa todos os chefs franceses na Europa que se engajam pela defesa da qualidade dos alimentos e na proteção da herança culinária francesa.

Todos os chefs associados se comprometem a garantir aos seus clientes uma alimentação saudável e segura vinda de alimentos frescos e da estação. Como membro engajado, Layachi diz que “alertar sobre os perigos dos transgênicos e dos agrotóxicos é mais que proteger a saúde dos clientes, trata-se de proteger as gerações futuras e mostrar para as multinacionais que elas não vão ditar as regras”.

Para o chef, que utiliza somente produtos orgânicos de agricultores locais, utilizar qualquer produto para cozinhar hoje em dia significa envenenar os clientes em pequenas doses. Ele acredita que os pequenos agricultores — os poucos que ainda dominam a arte do cultivo orgânico — em pouco tempo não vão mais conseguir competir com o preço dos alimentos modificados produzidos em larga escala. “Nós, chefs, se quisermos garantir a saúde de nosso clientes vamos ter que trabalhar com uma gama limitadíssima de alimentos. É como limitar um pintor às cores preta e branca”, acredita.

Defensor árduo da agricultura orgânica, Layachi crê que a variedade de alimentos, sabores e aromas só será recuperada se o homem voltar aprender a trabalhar a terra sem o uso da biotecnologia. “Precisamos reaprender a cultivar e usar o solo de forma inteligente, sustentável e eficaz. Para mim isso é questão de segurança alimentar”.

Layachi não está sozinho nessa crença. Seu discurso é similar ao de Nicolas Bricas, agrônomo da Unesco e chefe de projetos sobre segurança alimentar nos países do hemisfério sul. Segundo ele, o monopólio do mercado mundial de insumos agrícolas vai completamente em desencontro com o que se busca hoje em termo de agroecologia, ciência que estuda a agricultura desde uma perspectiva ecológica e sustentável.

“A transação entre Bayer e Monsanto coloca em cheque a diversidade genética das plantas e a diversidade das diferentes formas de cultivo de acordo com o meio ambiente”, afirma. E isso não mudará tão cedo. Segundo Bricas, os agricultores não têm alternativas a não ser utilizar certos produtos que protegem a colheita de doenças e predadores, em particular as monoculturas. Esse fato explica o poder das multinacionais de insumos agrícolas e também o porquê de muitos agricultores defenderem o uso dos agrotóxicos.

O caminho para reverter o cenário atual é aumentar os investimentos em pesquisas que acelerem a transição da agricultura que conhecemos hoje para um modelo de produção sustentável, que utilize menos água e tenha o menor impacto possível na biodiversidade. Nesse sentido, cartas abertas, como a do site Atabula, são importantes para a diversidade de opiniões nos debates sobre agricultura e gastronomia. Afinal, é como diz o provérbio: a boa comida é a base para a felicidade genuína.