O governo da Eslováquia informou que retirou toneladas de
carne de frango brasileira de seu mercado, depois que o produto foi alvo
de exames que detectaram salmonela e outros problemas. O anúncio foi
feito às vésperas de uma reunião nesta segunda-feira, 3, entre ministros
de Agricultura da Europa para avaliar se devem ou não tomar medidas
contra os produtos brasileiros depois da eclosão da Operação Carne
Fraca. Os testes foram realizados depois que as autoridades de Bruxelas
instruíram cada um dos 28 governos do bloco a manter vigilância sobre os
produtos brasileiros.
A decisão do governo eslovaco já havia sido tomada na sexta-feira, 31, enquanto o recolhimento dos produtos foi realizado neste fim de semana. "A carne brasileira foi importada para a Eslováquia pela Holanda e Polônia", confirmou a ministra de Agricultura do país, Gabriela Matecna, indicando que o volume chegaria a 21 toneladas. "Nossos veterinários imediatamente ordenaram que a carne fosse retirada do mercado, já que ela tinha sido distribuída a 54 restaurantes", disse, em um comunicado.
O governo optou por suspender
imediatamente as vendas de carnes brasileiras no país. Desde o caso da
fraude no Brasil, Bratislava indica que já examinou 341 produtos vindos
do País. 17 deles estavam fora dos padrões. "Vamos continuar a fazer as
inspeções, focadas em especial em armazéns que são postos de
comercialização para consumidores e restaurantes", disse o chefe do
serviço veterinário da Eslováquia, Jozef Bires.
"Os exames mostraram que dois produtos de origem brasileira e que estavam implicados no escândalo foram importados, mesmo depois das garantias da UE de que esses produtos não entrariam em nossos mercados", disse a ministra.
De acordo com ela, dos 66 testes sensoriais realizados, dez não foram aprovados e envolviam carne de frango.
O caso eslovaco foi identificado depois que a Europa ordenou que 100% das importações de carnes brasileiras fossem controladas nas fronteiras. Bruxelas quer garantias ainda de que o sistema de controle sanitário no Brasil seja independente.
Depois de reuniões em Brasília, a Comissão Europeia informará nesta segunda-feira o que ouviu das autoridades brasileiras. O tema será um dos principais entre os ministros de Agricultura. A reportagem apurou que não se espera uma decisão. Mas os comentários dos 28 governos devem ser fundamentais para que a Comissão examine um embargo total.
Por enquanto, apenas as 21 empresas citadas na Operação Carne Fraca estão impedidas de exportar.
No
plenário do Parlamento Europeu, o tema também será tratado nesta
segunda-feira. Deputados vão questionar a Comissão Europeia sobre as
medidas adotadas. Bruxelas admite que deve sofrer pressões por parte de
deputados, principalmente de representantes de países exportadores de
carne e que competem com o Brasil.
De acordo com documentos obtidos pela reportagem, entre janeiro de 2016 e março de 2017, 55 carregamentos de carnes brasileiras foram detectados com problemas sanitários na Europa (Agência Estado, 2/4/17)
PF prepara indiciamentos dos alvos da Carne Fraca e alerta sobre esquema
A
Polícia Federal considera ter reunido elementos para indiciar na
próxima semana os 37 alvos da Operação Carne Fraca, por supostos crimes
de corrupção, advocacia administrativa e fraudes em fiscalizações
federais e vai individualizar os apontamentos de supostos crimes à saúde
pública e contra o consumidor.
Os investigados são funcionários do Ministério da Agricultura, executivos e donos de frigoríficos e empresas de alimentos processados, entre elas, nomes da JBS e da BRF, alvos das prisões e buscas do dia 17 de março, realizadas em 7 estados: São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Comandada por três delegados da PF, em Curitiba, a equipe da Carne Fraca tem a convicção de ter descoberto um esquema criminoso de indicações políticas, em cargos chaves do Ministério da Agricultura, em especial no Paraná e Goiás, que tinha como contrapartida a obrigação de arrecadar propinas para partidos como PMDB, PP e PDT com empresários do setor de carnes e embutidos.
O delegado Maurício Moscardi Grillo - que trabalha junto com os delegados Roberto Biasoli e William Tito - iniciou o relatório parcial de indiciamento dos alvos para apresentar ao juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal, em Curitiba, até o dia 17 - dos alvos, 26 estão presos preventivamente.
Os policiais trabalham na conclusão do cruzamento de dados das quebras de sigilos bancários e fiscais dos investigados - ainda não tornadas públicas - e dos 13 mil grampos telefônicos e telemáticos feitos em 2016, com o material apreendido nas buscas. São 195 malotes carregados de documentos, agendas, anotações, provas que estão sob análise.
O relatório de indiciamento dos alvos deve trazer, entre outros elementos, as análises de alimentos produzidas pelo Ministério da Agricultura, nas 21 empresas alvos da Carne Fraca, que apontam adulteração em produtos, bem como os grampos que revelam tratativas dos empresários com os fiscais para liberar cargas de produtos enviados para China, Espanha e Itália.
Corrupção sistêmica
A suspeita da polícia é que o esquema descoberto envolvendo fiscais do Paraná, Goiás e Minas Gerais, pode ter sido espelhado nas demais superintendências do Ministério da Agricultura, nos Estados, e nos serviços de inspeção de produtos de origem animal (Sipoas). Nas duas últimas semanas foram ouvidos depoimentos de produtores rurais, agentes públicos e outras testemunhas que indicaram nomes de fiscais, políticos que seriam os responsáveis por suas indicações e fatos específicos de fraudes. O material será enviado aos Estados de origem dos fatos, para abertura de novas investigações.
"É como se fosse uma Lava Jato da área de Agricultura", afirmou um investigador, com acesso aos inquéritos. O ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho, apontado na Carne Fraca como um dos líderes do esquema e preso desde o dia 17, iniciou negociação com a polícia para fazer um acordo de delação premiada e pode ampliar o foco da Carne Fraca.
Sob ataque
O impacto da operação no mercado internacional,
decorrente da forma como ela foi divulgada no dia da deflagração,
provocaram um efeito devastador nas vendas de carnes e embutidos
nacionais. Nas últimas duas semanas, as exportações despencaram, fruto
de embargos dos países compradores, o consumidor nacional ficou
apavorado e governo e setor produtivo reagiram duramente.
Em 12 anos de Polícia Federal, o delegado Maurício Moscardi vive seu momento de maior tensão da carreira. Desde o dia em que comandou a deflagração da Carne Fraca, ele virou o principal alvo dos ataques contra a operação, inclusive de entidades de classe da polícia.
Fuzilado publicamente por ter gerado prejuízos - ainda incalculáveis - à cadeia produtiva de carnes e embutidos do Brasil, Moscardi fechou a porta da sala 211, no segundo andar da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, para a imprensa. Tem evitado atender jornalistas e vira as noites acordado para concluir o relatório de indiciamento dos alvos - três deles ligados a BRF e JBS.
Os bloqueios internacionais à carne brasileira anunciados nos quatro cantos do hemisfério fizeram o presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, acusarem publicamente a PF de erros na condução da operação. Coordenador da Carne Fraca e também um dos cabeças da
Operação Lava Jato, não é a
primeira vez que o delegado vira alvo de ataques.
Em 2013, ele conduziu a Operação G7, deflagrada no Acre, que levou para cadeia empresários e pessoas do governo do Estado ligados ao governador Tião Viana (PT). No escândalo Petrobrás, ele também foi alvo de dossiê que o acusava de agir politicamente contra o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto com outros delegados da força-tarefa.
A interlocutores próximos, Moscardi tem dito que a conclusão do inquérito provará que há riscos decorrentes da corrupção que a Carne Fraca investiga, no Ministério da Agricultura. E que houve falha na interpretação da imprensa sobre as afirmações que fez sobre uso de papelão nas linhas de produção das empresas alimentícias, uso de substâncias cancerígenas se aplicas em altas doses e sobre os riscos à saúde.
E tem negado erros nas investigações.
Em palestra na última semana, o delegado falou sobre os ataques. "Críticas virão, mas devemos ter foco no trabalho. Meu trabalho visa atender à coletividade e a sociedade como um todo. Não são fáceis as críticas, mas tenham a certeza que trabalharei sempre para melhorar nosso País. Se precisar ser criticado muitas vezes mas tiver a certeza que a vida dos brasileiros irá melhorar, continuarei neste caminho. Aprender a lidar com críticas faz parte do jogo."
Defensiva
A JBS informou, por meio de assessoria de imprensa, que "opera de acordo com a legislação e mantém rígidos padrões e processos para garantir a qualidade dos seus produtos" e que "não compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcionários e tomará as medidas cabíveis".
A BRF informou que "não compactua com práticas ilícitas. "Ao ser informada da operação da PF, a companhia tomou imediatamente as medidas necessárias para a apuração dos fatos. Essa apuração será realizada de maneira independente e caso seja verificado qualquer ato incompatível com a legislação vigente, a BRF tomará as medidas cabíveis e com o rigor necessário". Informou ainda que "todas as medidas tomadas pela empresa e seus técnicos estão plenamente de acordo com os mais elevados níveis de governança e compliance e de forma nenhuma ferem qualquer preceito ético ou legal do Brasil e dos países para os quais ela exporta seus produtos".
O PMDB afirmou que não autoriza ninguém a falar em nome do partido e que está à disposição da justiça para qualquer esclarecimento (Agência Estado, 2/4/17)
Governo dá sinal verde a 3 frigoríficos alvos da Carne Fraca
Duas semanas depois da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, o governo deu sinal verde para que três dos 21 frigoríficos investigados voltassem a operar normalmente, depois da conclusão de um trabalho de auditoria que não encontrou problemas. São eles: Argus, de São José dos Pinhais (PR), Breyer, de União da Vitória (PR) e Frigosantos, de Campo Magro (PR).
A decisão, tomada no início da noite de sexta-feira, 31, permite que eles voltem a exportar, segundo informou ao Estado o secretário executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki. E os retira do Regime Especial de Fiscalização (REF), no qual toda a produção é checada pelos fiscais antes de deixar o estabelecimento.
Esse foi o saldo das três primeiras auditorias concluídas. Há outras seis ou sete em fase final, apenas aguardando informações complementares dos frigoríficos. As demais ainda estão em curso.
Só o fim de cada auditoria permite ao governo dizer, com todo o embasamento possível, que os produtos daquele frigorífico são seguros. A auditoria envolve, entre outros procedimentos, exames que detectam risco de contaminação, presença de bactérias ou o uso de substâncias proibidas. Ela também verifica se há fraudes econômicas, como o excesso de água no frango ou de amido nos embutidos.
Os resultados que ficaram prontos até agora não indicaram nenhum risco à saúde, disse Novacki. Ele espera receber uma nova remessa de laudos na próxima segunda-feira, 3. Pelas informações preliminares que recebeu, foram encontradas novas fraudes econômicas, mas não problemas de contaminação. Ele não descartou a hipótese de novas interdições.
Exportações.
Os principais mercados compradores de carne e derivados brasileiros foram reabertos ao longo das últimas duas semanas, mas um balanço divulgado na sexta-feira mostrava 18 mercados totalmente fechados ao produto brasileiro. Entre eles, estão vários países do Caribe. Por isso, está sendo programada uma reunião com embaixadores dessa região nesta semana.
Na segunda-feira, chega uma missão de técnicos da Arábia Saudita, que ficará no País por nove dias e visitará as 25 plantas autorizadas a exportar para lá. O país segue importando carne brasileira, exceto dos 21 frigoríficos alvos da operação, e reforçou sua inspeção.
Uma missão jamaicana já se encontra no País. Também há uma delegação da Coreia do Sul, que já tinha programado a vinda antes do escândalo e agora coleta informações adicionais. O país asiático está em fase de aprovação de frigoríficos que exportarão carne suína para lá.
A Agricultura enviou na semana passada informações complementares para a China, União Europeia, Japão e México. Este último é um dos grandes mercados que segue fechado. Porém, já há sinais que as compras serão retomadas assim que as informações adicionais chegarem lá
(Agência
Estado)
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