Medida anunciada pelo presidente americano, impondo uma tarifa extra de 25% contra o aço e de 10% contra o alumínio, provocou reação imediata de vários países.
O presidente americano Donald Trump acendeu o estopim de uma guerra comercial global ao anunciar, na quinta-feira, 1º, a adoção de barreiras tarifárias à exportação de aço e alumínio. Nesta sexta-feira, 2, houve uma reação global generalizada contra a medida,
com vários países ameaçando retaliar os Estados Unidos impondo também
barreiras contra produtos americanos. “Não vamos ficar sentados e ver
nossa indústria ser afetada por essa medida”, afirmou o presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Segundo apurou o Estado, governos de países
potencialmente afetados pela medida já consideram formar uma aliança
internacional em um megaprocesso na Organização Mundial do Comércio
(OMC), na tentativa de fazer pressão para que a medida de Trump não abra
um precedente para outros setores.
O presidente americano quer impor uma taxa de 25% sobre as
importações de aço e de 10% contra o alumínio estrangeiro, numa medida
para proteger a indústria local. No Twitter, fez uma espécie de defesa
das guerras comerciais: “Quando um país está perdendo vários bilhões de
dólares em comércio com praticamente todos os países com que faz
negócios, guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar.”
As reações foram imediatas. A União Europeia indicou que vai
responder de forma “firme”, com tarifas de importação também de 25%
sobre cerca de ¤ 3,5 bilhões em fluxo de comércio americano. Isso
incluiria as exportações agrícolas, mas também afetaria marcas de
dimensões globais dos EUA, como motos Harley-Davidson ou roupas Levi’s,
citadas por Juncker.
Cecilia Malmstrom, comissária de Comércio da Europa, confirmou que
Bruxelas está “discutindo diferentes medidas” contra produtos
americanos. “Estamos olhando para tudo, desde levar o caso à OMC,
sozinhos, com parceiros, mas também medidas de salvaguarda ou possíveis
retaliações”, disse.
Uma primeira etapa do processo na OMC deve ser lançada em breve. Nos
bastidores, o Estado apurou que diplomatas consideram uma ação conjunta
para mostrar a unidade da comunidade internacional contra Trump. Em
2002, algo parecido foi realizado por Europa, Brasil, Japão e vários
outros governos contra medidas similares adotadas por George W. Bush.
Num raro comunicado de apoio à Europa, o governo russo indicou que
compartilha das preocupações dos governos europeus. “Vamos analisar
nossa relação comercial com Washington”, disse Dmitri Peskov, porta-voz
do Kremlin.
Mesmo o principal parceiro comercial dos EUA, o Canadá, deixou clara
sua irritação com a medida de Trump. “Essa tarifa será inaceitável”,
disse o ministro de Comércio do Canadá, François-Philippe Champagne.
(O
Estado de S.Paulo)
Empresas norte-americanas criticam proposta de taxação do aço e alumínio
As tarifas sobre importação de aço e alumínio anunciadas pelo
presidente Donald Trump foram rejeitadas pelos demais setores da
economia dos Estados Unidos, que alertaram para o aumento de preços de
seus produtos e o risco de retaliação por parte de outros países, na
forma de barreiras às exportações americanas.
O temor de que a medida provoque uma guerra comercial em escala
global provocou quedas nos mercados acionários em todo o mundo nos dois
últimos dias. O porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Garry
Rice, afirmou que as barreiras afetarão não apenas os fornecedores
externos de aço e alumínio dos EUA, mas as indústrias dentro do país que
dependem desses insumos para fabricar seus produtos finais - entre os
quais estão carros, eletrodomésticos, latas, aviões e máquinas.
Na sexta-feira, Trump voltou a defender sua ofensiva protecionista,
que acentuou as divisões entre seus principais assessores econômicos.
"Quando um país (EUA) está perdendo bilhões no comércio com virtualmente
todos os países com os quais transaciona, guerras comerciais são boas e
fáceis de ganhar", escreveu o presidente no Twitter.
O anúncio das tarifas foi feito de forma atabalhoada na quinta-feira,
sem que os detalhes finais da decisão estivessem finalizados. Trump
disse que as alíquotas serão de 25% para o aço e de 10% para o alumínio e
que a assinatura da medida ocorrerá apenas na próxima semana.
Segurando latas de sopa Campbell's, do refrigerante Coca-Cola e da
cerveja Budweiser, o secretário do Comércio, Wilbur Ross, tentou
minimizar o impacto da decisão sobre o preço final de bens que usam aço e
alumínio. "Em uma lata de sopa Campbell's há cerca de 2,6 centavos de
aço. Se o preço subir 25%, isso equivale a seis décimos de 1 centavo",
afirmou em entrevista à rede CNBC. "Quem no mundo vai se importar com
isso?"
Em entrevista à TV Bloomberg, Ross indicou que não deverá haver
exclusão de países na aplicação das medidas. "Entre as opções que eu
apresentei, o presidente Donald Trump escolheu essa, que é a imposição
de tarifas sobre todos os produtos de todos os países."
BRASIL
Segundo maior exportador de aço para os EUA no ano passado, o Brasil
pediu para ser poupado das barreiras sob o argumento de que exporta aço
semiacabado, finalizado por siderúrgicas americanas.
Especialista em comércio internacional e professor da Universidade
Brandeis, em Boston, Peter Petri afirmou que as tarifas elevarão de
maneira acentuada os preços do aço e do alumínio, o que será uma ameaça
para indústrias que os utilizam em suas linhas de montagem. "É por isso
que as ações da Boeing, Caterpillar e General Motors - que são
importantes usuários de aço e alumínio - caíram depois do anúncio de
Trump", observou.
Setores que não dependem desses insumos também podem sofrer em razão
da provável retaliação por parte de outros países. Um dos mais
vulneráveis é o agropecuário. Petri ressaltou que os segmentos
potencialmente afetados empregam muito mais pessoas do que as indústrias
que Trump quer proteger.
Segundo ele, a afirmação do presidente de que guerras comerciais "são
boas e fáceis de vencer" contraria tudo o que historiadores e
economistas escreveram sobre o assunto. "Guerras comerciais aumentam os
preços, desestabilizam cadeias de fornecimento e matam oportunidades de
negócios. Grandes países como a China e os Estados Unidos podem sofrer
menos que os menores, mas não haverá vencedores."
Segundo o Instituto Americano de Ferro e Aço, o setor emprega 140 mil
pessoas de forma direta e quase 1 milhão de maneira indireta. Só a
indústria automobilística garante 7 milhões de postos de trabalho
diretos e indiretos, disse em nota Matt Blunt, presidente do Conselho
Americano de Política Automotiva. O executivo afirmou que a alta de
preços de aço e alumínio colocará os fabricantes americanos em
desvantagem em relação a concorrentes globais.
Veículos foram o quinto maior produto de exportação dos Estados
Unidos no ano passado, com embarques de US$ 130 bilhões, o equivalente a
8,4% do total. As exportações de aço americanas foram de US$ 12,49
bilhões (0,8%) no mesmo período, mostram dados do Departamento do
Comércio.
"Não se equivoquem, isso é um imposto sobre as famílias americanas",
declarou o presidente da Federação Nacional do Comércio, Matthew Shay.
"Essas tarifas ameaçam destruir mais empregos nos EUA do que criar, ao
mesmo tempo em que enviam sinais alarmantes a nossos parceiros
comerciais e diminuem os mercados para produtos americanos no exterior"
.
(O Estado de S.Paulo)