O governo brasileiro insistirá na proposta de que a
Embraer participe das decisões estratégicas da joint venture que está
sendo negociada com a Boeing, a maior fabricante de aeronaves do mundo.
Para isso, propõe que a brasileira tenha ao menos um representante no
conselho de administração da nova companhia e que sua participação seja
em torno de 20% e não os 10% da proposta colocada na mesa pela
americana. Detentor de uma Golden share (ação que dá direito a veto em
importantes decisões) na Embraer desde a privatização, em 1994, o
governo federal tenta buscar um consenso antes de a proposta ser
encaminhada pelas empresas ao presidente Michel Temer.
No início da semana que vem, uma nova reunião de trabalho
com equipes dos ministérios da Defesa e da Fazenda será realizada para
discutir a oferta apresentada pela Boeing. O grupo é composto também por
representantes do Comando da Aeronáutica e do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco detém, por meio de
sua empresa de participações, a BNDESPar, 5,4% do capital da Embraer.
Nesta quinta-feira, 12, em resposta a um questionamento da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre notícias divulgadas pelo
Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, a Embraer
respondeu, remetendo a um fato relevante publicado em dezembro do ano
passado, que “a Embraer e a Boeing Co. têm mantido entendimentos,
inclusive por meio do grupo de trabalho do qual o Governo Brasileiro
participa, com vistas a avaliar possibilidades para potencial combinação
de negócios”.
Informa, ainda, que esses negócios “poderão eventualmente
incluir a criação de outras sociedades com participação conjunta na área
de aviação comercial, deixando por outro lado separadas as demais
atividades notadamente aquelas vinculadas à área de defesa e,
possivelmente, também a área de aviação executiva, que permaneceriam
exclusivamente com a Embraer”.
O interesse da Boeing é reforçar, com a aquisição, sua
atuação na aviação comercial de médio porte, segmento no qual a Embraer
figura entre as três maiores fabricantes mundiais. O acordo, que
envolve, por exemplo, a fabricação de aviões de 150 lugares, está em
negociação desde o ano passado, quando a Airbus surpreendeu o mercado
global ao anunciar a compra de 50,1% do programa de jatos comerciais da
Bombardier.
Depois de concretizado o negócio com a Boeing, a marca
Embraer usada nos jatos comerciais deixaria de existir, permanecendo
apenas nas aeronaves produzidas pela Embraer Defesa, como o KC 390 e o
Tucano. A proposta de associação prevê que Embraer Defesa detenha
participação minoritária na receita da nova empresa, criada a partir da
junção da Embraer com Boeing.
O ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna evita falar sobre
as negociações. Ao jornal “O Estado de S. Paulo” limitou-se a dizer
“estamos trabalhando nisso”. Apesar de também não ter estipulado uma
data para a conclusão do negócio (“a tendência é que saia um acordo, mas
não há prazo”), as informações no governo é de que as discussões “estão
avançadas”. As preocupações das Forças Armadas, segundo fontes do
Planalto, estão sendo levadas em conta pela Boeing e as empresas estão
chegando a um consenso.
O governo entende a pressa da Boeing e sabe que este é um
“negócio de oportunidade”. Há ainda a perspectiva de que o acordo
facilite a entrada dos aviões militares, como o cargueiro KC 390 e o
Tucano, no mercado europeu, onde a Boeing tem uma estratégia de
marketing muito mais agressiva e maior penetração. Além disso, os aviões
terão o custo barateado porque as compras de peças pela empresa
norte-americana são feitas em escala maior. O governo sabe, também, que a
Boeing está de olho na transferência de tecnologia e no conhecimento
dos engenheiros especializados da Embraer.
Na nota enviada à CVM, a Embraer reitera que “não há
garantia de que a referida combinação de negócios venha a se concretizar
ou quando poderá ocorrer”. “Quando e se definida a estrutura para
combinação de negócios, sua eventual implementação estará sujeita à
aprovação não somente do Governo Brasileiro, mas também dos órgãos
reguladores nacionais e internacionais e dos órgãos societários das duas
companhias.”
https://www.istoedinheiro.com.br/governo-quer-representante-da-embraer-em-conselho-de-joint-venture-com-boeing/