segunda-feira, 14 de maio de 2018

Startups elevam ganhos do agronegócio

Thiago Martins
Empresas desenvolvem tecnologias que transportam a revolução 4.0 para o campo e ajudam a otimizar produção, controle e manejo.

As agrotehs, startups que oferecem tecnologias voltadas ao agronegócio, estão ajudando a impulsionar ainda mais o segmento responsável por 22% do PIB nacional, que em 2017 foi de R$ 6,6 trilhões.

Enquanto algumas oferecem soluções que contribuem com o aumento da produtividade, outras auxiliam na tomada de decisão, analisando grande volume de dados.

Entre elas está a CowMed, de Thiago Martins, que monitora e avalia questões nutricionais, sanitárias e reprodutivas de vacas. “Brinco que nosso grande negócio é expressar a ‘opinião’ da vaca para o produtor.”

A tecnologia é embarcada em coleira usada pelos animais. “O equipamento emite dados sobre o comportamento de ruminação, que é indicador da saúde animal.” O desenvolvimento do produto começou em 2010 e foi lançado há dois anos.

“O idealizador foi meu pai. Ele é professor universitário e foi fazer doutorado em Portugal. Na Europa, conheceu sistemas de monitoramento de vaca chamado pedômetro. Na volta, sugeriu que eu, aluno de engenharia mecânica, e Leonardo, meu irmão, aluno de engenharia elétrica, iniciássemos pesquisa sobre o assunto.”

Atualmente, a tecnologia atende 50 propriedades. “Depois que a solução chegou ao mercado, percebemos a necessidade de assessorar o pecuarista na interpretação dos dados e passamos a oferecer plano de monitoramento de saúde e bem-estar animal”, conta.

Ele mantém equipes que acompanham e interpretam dados 24 horas por dia. “Quando identificamos que algo está errado emitimos alerta ao proprietário.”

Segundo ele, pelas variáveis dos dados, muito mais que dar alertas, as vacas dão ‘opinião’. “Identificamos, por exemplo, quando estão se preparando para parir, quando estão com estresse térmico, se estão gostando da comida ou prestes a ficar doentes. Com base nessas informações, os pecuaristas tomam medidas preventivas e evitam o adoecimento dos animais.”

Ele conta que um cliente reduziu em 50% a taxa de descarte de animal por ano. Já a produção de outro produtor passou de 28 litros de leite por vaca/dia, para 38 litros por vaca/dia.

“Não é milagre, é que agora os produtores ‘escutam’ as vacas e elas estão felizes, por isso, entregam mais qualidade.” Até o final do ano a empresa espera monitorar 20 mil animais. Hoje, monitora quatro mil.


Pesquisa


Pós-doutorado em genética e manejo de culturas agrícolas, o CEO da Smartbreeder, Eder Giglioti, atua há 25 anos na área de pesquisa.
Legenda: Eder Giglioti


“Sempre busquei uma solução inteligente para otimizar a performance e a gestão do manejo das plantações, porque os produtores gastam muito com insumos para controlar doenças, pragas e fazer adubação.”

Segundo ele, pela complexidade de cada cultura, os produtores perdem 40% do investimento, porque não acertam onde, como e quando usar os insumos de maneira ideal.

“Assim, fazem mais aplicações de produtos e o volume de adubação tem de ser maior. E por não fazerem o manejo adequado, não atingem a produtividade ideal.”

Giglioti ressalta que vivemos a quarta revolução da agricultura. “É revolução da informação, mas mais que informações precisas, o produtor precisa tomar decisões assertivas e isso é possível por meio de modelagens matemática e algoritmos.”

A plataforma desenvolvida pela Smartbreeder utiliza tecnologia de big data, inteligência artificial, dados em nuvem e conhecimentos de biologia, física, medicina e estatística.

“Trabalhamos com essa camada de inteligência e orientamos os produtores. As recomendações incluem desde o dimensionamento de equipe necessária para uma ação até locais onde há cultura de bicho-da-seda, apiários e assentamentos. Analisamos mais de 100 milhões de dados”, afirma.

A plataforma foi desenvolvida e validada ao longo de seis anos e chegou ao mercado no final de 2015. “A solução já foi empregada em dois milhões de hectares de cana-de-açúcar e ajudou a aumentar a produção em seis milhões de toneladas.”

Giglioti tem como meta, até 2019, atender 300 mil hectares de plantações e chegar a 1,5 milhão de hectares em 2020.


Queimada


“O nível de perdas de plantações e florestas atingidas por incêndios é muito grande e todo o sistema de detecção e controle sempre foi feito manualmente, contando com apoio da sociedade”, afirma o CEO da Sintecsys, Rogério Cavalcante.


Legenda: Rogério Cavalcante


Para sanar o problema, a empresa desenvolveu algoritmo e utiliza câmeras acopladas em torres para detectar focos de incêndio localizados em um raio de até 15 km de distância.

“A tecnologia é 100% nacional e consiste em câmera que gira 360º em busca de fumaça. Ao identificar um foco de fumaça é emitido alerta para o operador do sistema, que realiza a triangulação de imagens e obtém a coordenada do foco.”

Segundo ele, a tecnologia reduz o tempo de detecção de 40 para cinco minutos. Além disso, reduz em mais de 90% o tempo de duração do incêndio e em 100% a aplicação de multas ambientais. “Oferecemos o sistema por meio de locação.”

A empresa está no mercado desde 2016 e espera crescer 60% este ano em contratos assinados. “Dentro de dois anos pretendemos começar o processo de internacionalização, porque já existe demanda.”

Cavalcante destaca que o produto também pode evitar catástrofes ambientais provocadas por incêndios, como as que ocorrem nos Estados Unidos, Austrália e Portugal.

Segundo ele, para ter acesso ao serviço o proprietário investe R$ 6,9 mil por mês. “Um único ponto é capaz de monitorar a propriedade inteira, porque abrange cerca de 20 mil hectares. Os proprietários podem se unir e adicionar novas torres ao sistema, abrangendo área cada vez maior.”


Empresa monitora territórios para orientar tomada de decisão


No mercado há dez anos, a plataforma Agrotools, de Sergio Rocha, é uma startup que cresceu e conquistou inserção nacional e internacional. A empresa desenvolveu sistema que identifica à distância o que acontece em um determinado território.



Legenda: Sergio Rocha


“Em um país com dimensões como o nosso é importante ter informações sobre as áreas de interesse de nossos clientes, para que eles saibam se ela está sofrendo consequências das mudanças climáticas ou se é apropriada ao plantio de soja, milho, algodão etc.”

Ele diz que isso é possível usando a tecnologia geomática – técnica que integra todos os meios usados para a aquisição e gerenciamento de dados espaciais, como cartografia, mapeamentos digitais, sensoriamento remoto, sistemas de informações geográficas, hidrografia e imagens de satélite.

“Um dos alicerces da empresa é a nossa capacidade de traduzirmos essas informações, que resultam em webmaps. Além disso, nesses dez anos, colecionamos muitos dados, suprindo a carência de dados na área de agronegócio existente no País.”

Ele afirma que a empresa faz curadoria e arquiteta esses dados de maneira que respondam a algum desafio do agronegócio em áreas como cadeia de suprimentos, crédito, seguro ou mesmo em relação a compliance. “O agronegócio moderno não admite mais a produção em área que prejudique as futuras gerações ou que demande a destruição de florestas.”

Rocha conta que a Agrotools tem linha de produtos só de compliance. “Atestamos, por exemplo, que o produtor não tem trabalho escravo, não está em área indígena, não desmata, não ocupa área de preservação. Usamos a geotecnologia para isso. Esse tipo de informação vira atributo e estratégia de vendas para toda a cadeia.”

A empresa tem entre seus clientes grandes varejistas que querem entender a origem dos produtos de seus fornecedores.

“Não orientamos o produtor sobre como melhor aproveitar o território, mas sim como aquele território está sendo tratado. Nossa agenda é fora da porteira. Os clientes utilizam esses dados para saber se podem acessar crédito melhor, seguro mais adequado, ou atrair comprador de melhor qualidade e obter melhor preço”, afirma.

“Usamos inteligência de dados para melhorar o posicionamento do produtor. Nosso ator principal é o território, que é o conector disso tudo.”

Rocha diz que mais de 15% das maiores empresas do agronegócio são atendidas pela Agrotools – bancos, seguradoras, indústrias, trades etc. “Eles, por sua vez, têm milhares de fornecedores. Nós os ajudamos a saberem mais sobre esses fornecedores.”

O empresário afirma que as informações fornecidas contribuem com a tomada de decisão dos clientes e com a transformação digital desses negócios. “As grandes corporações conseguem ser mais automatizadas e entender para quem estão dando crédito ou de quem estão comprando. Assim, criam grau de entendimento do risco mais qualificado.”

O negócio possui escritório na Argentina e já atendeu clientes de diversos países. “Vendemos a inteligência dos dados para determinado objetivo.”

Rocha diz que o mundo tecnológico que estava muito distante do mundo agro está se aproximando com muita velocidade.

“Isso estava represado e agora está vindo com grande velocidade. Há dez anos, falávamos praticamente sozinhos e ficávamos roucos ao tentar mostrar que a revolução agro 4.0 estava para acontecer. Agora, já aconteceu de fato e fomos um dos indutores. Lideramos o mercado de utilização de dados.”


 (O Estado de S.Paulo, 13/5/18)

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Divisão de áreas da Embraer com Boeing prolonga negociação, dizem fontes


Empresa brasileira avalia implicações em caso de separação de unidade de jatos comerciais, venda de seu controle e divisão do portfólio de jatos executivos

 




São Paulo – A decisão de separar a unidade de jatos comerciais da Embraer, vender seu controle e dividir o portfólio de jatos executivos, ajudou a ganhar apoio do governo brasileiro para uma operação entre as duas empresas, mas criou outras dores de cabeça, segundo as fontes.

Os negociadores estão agora analisando detalhes dos contratos de serviço de longo prazo entre as empresas e como distribuir os milhares de engenheiros da Embraer, muitos dos quais migraram entre projetos militares e civis durante a carreira.

Representantes da Boeing e da Embraer não responderam imediatamente a pedido de comentários sobre o assunto.

As empresas anunciaram no mês passado que estavam em negociações para criar uma nova companhia focada em aviação comercial, o que excluiria a divisão de produtos militares da Embraer e “potencialmente” sua unidade de jatos executivos. Isso ajudou a superar as preocupações do governo sobre o controle soberano dos programas militares da Embraer. O governo tem poder de veto sobre decisões estratégicas da empresa.

“Estou bastante otimista”, disse nesta semana o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, responsável pela força-tarefa que supervisiona as negociações, quando questionado sobre a negociação. “Está em estágios avançados e deve ser resolvido este ano.”

A proposta original da Boeing, uma aquisição direta da Embraer, poderia já estar concluída e tem se mostrado mais desafiador fazer uma oferta que exclua a área de defesa da fabricante brasileira de um eventual acordo, disseram fontes.

Os jatos de 70 a 130 assentos da Embraer, que competem com o programa C-Series projetado pela canadense Bombardier, respondem por cerca de 60 por cento da receita da Embraer e por quase todo o lucro operacional da fabricante brasileira.

A divisão de defesa da Embraer mal obteve lucro nos últimos anos, uma vez que o governo brasileiro cortou gastos militares em um esforço para fechar déficit orçamentário.

A Embraer também vem perdendo dinheiro com uma nova linha de jatos executivos, já que esse mercado continua estagnado.

As empresas ainda não chegaram a uma decisão final sobre a inclusão da unidade junto com a divisão de jatos comerciais em uma nova empresa, na qual a Boeing teria cerca de 80 por cento de participação, segundo duas fontes.



Natura quer acelerar expansão de lojas físicas no Brasil; ações disparam após balanço

Por Flavia Bohone



SÃO PAULO (Reuters) - A Natura pretende acelerar a expansão de lojas físicas no Brasil, como parte da estratégia de crescimento da empresa e em um momento de recuperação gradual da economia, afirmou o diretor-presidente da fabricante de cosméticos, João Paulo Ferreira. 

Atualmente, a Natura tem 19 lojas próprias no Brasil e, segundo o executivo, a expansão deve ir além das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, embora ele não tenha apresentado números. 

O aumento das lojas, assim como o crescimento da multicanalidade, faz parte do foco da empresa em aumentar a participação de mercado da empresa no Brasil. 

As ações da empresa disparavam na bolsa paulista nesta sexta-feira, subindo 15,6 por cento às 14:10, e liderando a ponta positiva do Ibovespa, que caía 0,6 por cento. 

Os ganhos dos papéis vinham após a empresa reportar seus resultados para o primeiro trimestre, que mostraram lucro em bases comparáveis e pró-forma, revertendo prejuízo sofrido um ano antes.. 

Em teleconferência para comentar os resultados, executivos da empresa reforçaram que os números mais recentes mostram que a Natura está no caminho para entregar suas metas de médio prazo. 

A equipe do Itaú BBA elevou a recomendação para as ações da Natura para ‘outperform’, com preço-alvo de 40 reais. Segundo a equipe do banco, os resultados “absolutamente impressionantes” de todas as operações internacionais foi o principal destaque do primeiro trimestre. 

“A aquisição da The Body Shop parecia um passo muito arriscado... Esse trimestre oferece alguma prova de que o risco de execução da The Body Shop pode ser alto, mas menor do que pensávamos e que os ventos favoráveis das operações na América Latina e da Aesop (embora pequena) são muito fortes para serem ignorados”, escreveram os analistas do banco. 

O presidente da Natura afirmou ainda que a Argentina é um país estratégico, onde a companhia vem ganhando participação de mercado nos últimos três anos, e que a empresa está protegida para o atual momento de volatilidade cambial no país. 

“A volatilidade não nos preocupa muito porque estamos totalmente protegidos por diversas razões”, disse Ferreira, acrescentando que a Natura possui produção local na Argentina, além de importar e também exporta a partir do país.


Heineken compra fatia minoritária na Belize Brewing

Estadão Conteúdo


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A holandesa Heineken, segunda maior cervejaria do mundo, anunciou hoje a compra de uma fatia minoritária na Belize Brewing Company Ltd., por valor não especificado.

A Belize Brewing é importadora e distribuidora de marcas da Heineken em Belize desde 2016.

No Brasil, a Heineken é controladora das marcas Schin, Baden Baden e Eisenbahn. Fonte: Dow Jones Newswires.

Brasil assume liderança mundial na produção de soja, segundo EUA


Brasil assume liderança mundial na produção de soja, segundo EUA
No período 2018/19, Brasil deverá desbancar os Estados Unidos, até então líderes mundiais.


O Brasil passa a liderar a produção mundial de soja a partir da próxima safra. No período 2018/19, o país deverá desbancar os Estados Unidos, até então líderes mundiais. A previsão é do próprio governo americano e foi divulgada hoje (10) pelo Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).Na avaliação do órgão norte-americano, o Brasil deverá obter uma produção de 117 milhões de toneladas de soja, um pouco acima dos 116,5milhões dos americanos.

Os produtores dos Estados Unidos já iniciaram o plantio da safra 2018/19. Os brasileiros vão levar as máquinas ao campo só no segundo semestre do ano.

Clima e produtividade são fundamentais para a concretização dessa estimativa de liderança do Brasil. As previsões ainda vão alternar muito durante o desenvolvimento das lavouras.

Se o país conseguir superar os norte-americanos, a soja se somará a café, suco de laranja, açúcar e carne bovina, produtos que o país já tem a liderança mundial na produção.

O Brasil já é o maior exportador de soja do mundo, graças ao apetite chinês. Na safra 2018/19, os chineses deverão importar 103 milhões de toneladas de soja e os brasileiros vão exportar 72 milhões.

Brasil, Estados Unidos e Argentina, líderes mundiais, ainda precisam definir as áreas de plantio da oleaginosa, mas, com base nos dados atuais, o Usda prevê uma safra mundial de 354,5 milhões de toneladas de soja, acima dos 337 milhões de 2017/18.

A Conab também divulgou dados sobre a produção de soja no Brasil nesta quinta-feira (10). Na avaliação do órgão governamental, a produção nacional será de 117 milhões nesta safra 2017/18, 2 milhões a mais do que estava previsto em abril último.

 (Folha de S.Paulo, 11/5/18)

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Cade age bem ao insistir na solução arbitral para caso entre particulares


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A arbitragem tem sido cada vez mais utilizada na solução de controvérsias empresariais. A dinâmica atual das relações e operações comerciais não mais permite a utilização da via tradicional do Poder Judiciário para a solução de conflitos cada dia mais complexos. Dentre tais conflitos, destacam-se as questões relacionadas ao direito da concorrência.

Os atos de concentração entre empresas (por exemplo, fusões, incorporações e aquisições, dentre outros) que se enquadrem nas hipóteses previstas no artigo 88 da Lei 12.529/2011 devem ser notificados ao Cade para que sejam analisados os aspectos concorrenciais da operação e o seu impacto no mercado.


No desempenho de sua competência, que aliás deve ser por todos aplaudida, o Cade passou a admitir que as partes envolvidas em determinada operação e o próprio conselho celebrem um Acordo em Controle de Concentração (ACC), cuja finalidade é sanear os problemas que aquela operação acarretaria à livre concorrência e que poderiam inviabilizar a sua aprovação, além de prever as formas de resolução de conflitos entre os particulares envolvidos.

Nessa esteira, em 2014, foi celebrado o primeiro ACC prevendo utilização da arbitragem como método de resolução de conflito privado entre as participantes da operação.

Nesse ACC, referente ao caso Bovespa/Cetip, se previu que, caso não se chegasse a um acordo em 90 dias sobre o preço cobrado pela, hoje, B3 aos entrantes no mercado, um procedimento arbitral, administrado pelo CAM-CCBC, deveria ser instaurado para a resolução da questão.

Dentre as vantagens da utilização da arbitragem institucional em questões empresariais complexas, como as relacionadas ao direito da concorrência, inclui-se o tempo até a decisão definitiva, o custo, a previsibilidade dos atos do procedimento e a especialidade do julgador.

Não obstante o louvável esforço dos juízes nacionais, um processo judicial somente alcança a sua decisão definitiva depois de anos, face ao congestionamento existente e os infindáveis recursos previstos em lei. Na arbitragem, a média de duração dos procedimentos é de 17 meses, com decisão irrecorrível.

Ainda mais importante, nas arbitragens os casos são julgados por especialistas na matéria, que dispõem de tempo para uma análise pormenorizada dos fatos e documentos, muitas vezes de caráter estritamente técnico. O magistrado, que, sem dúvida, é uma pessoa brilhante e acima média, tanto que passou em um concurso dificílimo, não tem tempo ou disponibilidade de tratar da mesma forma os milhares de processos sob a sua responsabilidade.

Além disso, uma instituição arbitral tem regulamento próprio, reunindo as melhores práticas para o desenvolvimento do procedimento, oferece uma estrutura administrativa para um rápido fluxo de documentos e, normalmente, dispõe de um hearing center completo e equipado com a mais alta tecnologia, permitindo uma incomparável administração do procedimento.

Muito se critica o custo envolvido na arbitragem. As tabelas de despesas divulgadas pelas instituições arbitrais possibilitam prever com segurança os valores cobrados a título de taxa de administração, honorários dos árbitros e demais eventuais despesas, dando uma primeira impressão de que o custo na condução do procedimento arbitral é gigantesco. O valor de um processo judicial, haja vista o valor cobrado a título de taxa judiciária e o teto normalmente estabelecido, pode parecer mais atrativo do que aquele despendido em uma arbitragem.

No entanto, as custas posteriores, o gasto com advogados, a impossibilidade temporal de se chegar ou mesmo antever a decisão final trazem danos incalculáveis às empresas. O custo-benefício de um procedimento célere e definitivo pende, enormemente, para a arbitragem.

Diante de todas essas vantagens, o Cade agiu bem ao insistir na solução arbitral para as controvérsias entre particulares, oriundas das decisões prolatadas. Jamais em tempo algum se cogita substituir ou suprimir a competência do Cade, mas como os efeitos das decisões concorrenciais afetam partes privadas, que precisariam do Judiciário para resolvê-las, a arbitragem surge como um caminho eficaz, sério e economicamente viável, para trazer às partes afetadas e, em última análise, ao próprio mercado a segurança jurídica por todos almejada.


 https://www.conjur.com.br/2018-mai-09/carlos-forbes-cadeage-bem-usar-arbitragem-entre-particulares


O peso do maior rigor ambiental chinês


Eduardo Leduc, da Andef: as restrições chinesas encareceram defensivos


O endurecimento da fiscalização ambiental na China desde o ano passado está provocando mudanças relevantes na dinâmica global do agronegócio, sobretudo nas áreas de defensivos, algodão e carne suína. E, se no segmento de agroquímicos as mudanças têm afetado o Brasil de maneira negativa, pelo menos neste momento, nos outros dois mercados os reflexos são positivos.

Em 2017, mais de 700 fábricas de empresas químicas chinesas foram fechadas por irregularidades ambientais, e cerca de 30 mil companhias foram multadas. Como o país é um importante exportador de defensivos genéricos, o movimento reduziu a oferta global de produtos como glifosato e gerou alta de preços, que ainda tende a se intensificar. Segundo Pequim, as matérias-primas originadas na China deverão subir 15% nos próximos dois anos.

"Temos informações de aumentos de preços entre 15% e 30% neste ano no Brasil. Mas tem caso de matéria-prima que ficou 70% mais cara", afirma Eduardo Leduc, presidente do conselho diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

Para as empresas de agroquímicos que atuam no país, os problemas começaram a aparecer no segundo semestre do ano passado. Em novembro, Rodrigo Gutierrez, presidente da israelense Adama no país, reclamou que já não tinha glifosato para vender havia três meses – e isso que a múlti é controlada pela estatal ChemChina.

Segundo Silvia Fagnani, diretora do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), houve queda de 50% na produção chinesa de glifosato.

Para analistas e executivos, no longo prazo as restrições chinesas poderão beneficiar a indústria brasileira, na forma de novos investimentos na ampliação da produção local. "Química com tecnologia limpa é muito mais cara. No fim, era uma competição desleal da China com outros países", afirma Leduc.

Também por causa das mudanças na China, a alemã Basf já vem ampliando os aportes no Brasil. Nos últimos cinco anos, investiu cerca de US$ 100 milhões e dobrou a capacidade de formulação de fungicidas e inseticidas no país.

A Adama também não quer sofrer com dependência. A empresa planeja investir entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões para ampliar sua produção no Brasil. Até 2019, pretende implantar mais duas unidades em seu complexo em Londrina (PR), que já tem três plantas, e planeja outras duas fábricas até 2020 em Taquari (RS).

A indústria de fertilizantes vem sendo impactada pelas mudanças chinesas há mais tempo. Oito anos atrás, o país passou a limitar o consumo de carvão, o que afetou a indústria de nutrientes derivados do nitrogênio, que utiliza o insumo. Os preços subiram, e agricultores e indústrias tiveram que se adaptar no mundo todo. Hoje, a China usa apenas 50% de sua capacidade de produção de fertilizantes nitrogenados.

O endurecimento das regras ambientais no país asiático também provocou o fechamento de fábricas de tecidos sintéticos, cujos resíduos não tratados poluem rios e o ar. As que não fecharam tiveram de se adequar, e os preços da fibra sintética ficaram mais salgados. Com isso, afirma Victor Ikeda, analista do Rabobank, as fibras naturais tem sido beneficiadas, e o Brasil pode ter boas oportunidades.

O Brasil é um dos cinco maiores países produtores e exportadores de algodão, e o aumento da demanda pela commodity – e dos preços – levou a um crescimento de 21,9% da área plantada no país neste ciclo 2017/18, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), na safra internacional 2017/18, que terminará em agosto, a demanda global por algodão crescerá 4,9%, para 26,2 milhões de toneladas de pluma. Segundo a Conab, o Brasil deverá exportar 975 mil toneladas, 17% a mais que em 2016/17. E o cenário poderá ser até mais favorável a depender dos desdobramentos da guerra comercial entre a China e os EUA.

Outro segmento que vem sentindo os efeitos das leis ambientais mais duras na China é o de proteínas animais. Em 2016, cerca de metade dos 800 milhões dos suínos do mundo estavam no país, a maior parte em granjas com até 500 animais. Aproximadamente 200 mil foram fechadas com o compromisso chinês de reduzir a poluição nos rios, e o número caiu para 350 milhões.

"A China tinha como proposta aumentar a produção de suínos, mas esbarrou na legislação ambiental. Acontece que a classe média e o consumo de carne suína seguem aumentando", lembra o economista Felippe Serigati, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Ainda não é possível afirmar que o Brasil vá abocanhar parte da demanda adicional da China decorrente da redução da oferta doméstica, mas há sinais promissores nesse sentido. Isso porque o país asiático já é um cliente importante para os exportadores brasileiros. No ano passado, importou 48,9 mil toneladas de carne suína do Brasil (US$ 100,6 milhões). Em fevereiro, foi o principal destino dos embarques do Brasil – absorveu 28,4% de exportações que somaram 310,5 mil toneladas.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), no primeiro trimestre do ano as exportações brasileiras de carne suína para a China somaram 39,2 mil toneladas, 152% mais que no mesmo período de 2017. Hong Kong foi o destino de 46,4 mil toneladas, um incremento de 23% na mesma comparação.

 

Metas de Pequim


Em dezembro de 2015, sob crescente pressão da comunidade internacional, o governo chinês anunciou diversos objetivos ambientais que terão de ser alcançados por Pequim e arredores no médio prazo, entre os quais está uma diminuição de 40% na concentração das partículas mais poluentes no ar até 2020 na comparação com os patamares de 2013. A meta é reduzir a presença na atmosfera de partículas de diâmetro inferior a 2,5 milésimos de milímetro – as mais nocivas – de forma que não superem, na média diária, os 64 microgramas por metro cúbico.

Em 2013, essa média superava a expressiva marca de 100 microgramas no corredor Pequim-Tianjin-Hebei. Diminuir a dependência do carvão é outra importante meta fixada pelo governo da China. O carvão é a principal fonte de energia no país asiático, que responde por aproximadamente metade do consumo mundial da matéria-prima. A produção de carvão, entretanto, é a causa de 70% da poluição de partículas inferiores a 2,5 milésimos de milímetro e de 80% das emissões de dióxido de carbono.

O país também estabeleceu como meta manter o consumo doméstico de carvão abaixo do limite de 4,1 bilhões de toneladas e reduzir para 58%, até 2020, a participação desse combustível em sua matriz energética.

Em 2016, a fatia desse combustível fóssil na matriz energética chinesa recuou para 62%, ante um percentual de 64% em 2015.

(Assessoria de Comunicação, 8/5/18)