(BrianAJackson/Thinkstock)
São Paulo – O mundo da moda vem
passando por transformações. Sob os olhares de consumidores cada vez
mais atentos à origem de seus produtos, grandes marcas e varejistas têm
se comprometido a erradicar o abuso de suas cadeias de suprimento.
Irregularidades no setor, em geral, são
facilitadas pela natureza da indústria têxtil, marcada por complexas e
diferentes redes de abastecimento dispersas geograficamente,
subcontratos e terceirizações.
Um exemplo notável é a fábrica de Rana
Plaza, em Bangladesh (onde os funcionários faziam roupas e acessórios
para um punhado de marcas populares incluindo Walmart, H&M, Zara e Primark) que desmoronou há cinco anos, matando mais de mil pessoas e ferindo gravemente mais de 2500. O evento revelou o descumprimento de normas básicas de segurança e também o lado obscuro da indústria de roupas.
O desastre fez com que as pessoas olhassem com mais atenção para a cadeia de produção da moda, ao modelo fast fashion
e aos trabalhadores por trás das roupas que vestimos. Em última
análise, a questão que ganhou força desde então é a da transparência.
Após o evento Rana Plaza, a ONG
internacional Fashion Revolution criou o Fashion Transparency Index, que
analisa dezenas de varejistas e os classifica em cinco áreas
principais: política e compromissos, governança, rastreabilidade, “know,
show e fix” (respostas aos problemas da cadeia) e questões emergentes.
O objetivo é esclarecer as políticas e
práticas de cada empresa para ver o quão transparentes elas são com seus
clientes sobre materiais e mão de obra. Na edição 2018 do índice,
a pontuação média entre 150 grandes marcas e varejistas internacionais
analisadas foi de 21%, o que aponta para a enorme quantidade de trabalho
que ainda precisa ser feito.
E o Brasil não vai ficar de fora. Em
outubro, será lançado o primeiro índice de transparência voltado para as
marcas que atuam por aqui. O “Índice de Transparência da Moda Fashion
Revolution” será desenvolvido pela equipe Fashion Revolution Brasil.
O projeto tem como parceiro técnico o Centro de Estudos em
Sustentabilidade da FGV (FGVces), e como apoiador institucional, a
Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex).
Para esta primeira edição, 20 marcas
foram escolhidas para a análise, de acordo com uma amostra baseada em
faturamento e representatividade no segmento de atuação, de forma a
examinar a diversidade do setor: Animale, Farm, Malwee, Osklen,
Brooksfield, Marisa, Havaianas, Pernambucanas, C&A, Hering, Cia.
Marítima, Melissa, Riachuelo, John John, Moleca, Renner, Ellus, Le Lis
Blanc, Olimpikus e Zara.
“Entendemos que o primeiro passo é trazer
essas questões à luz, expondo as complexidades dessa cadeia tão
ramificada. Ao exigir maior transparência da indústria, estamos
encorajando maior fiscalização, vigilância e prestação de contas, que
por sua vez, levam a mudanças na prática”, diz Eloisa Artuso,
coordenadora nacional do projeto do Índice.
“A publicação de informações sobre
condutas e práticas socioambientais ajuda a construir a imagem da marca
e, com isso, a confiança dos consumidores e investidores. Do outro lado,
cria confiança com fornecedores e parceiros, o que acaba trazendo maior
eficiência e um ambiente de trabalho mais satisfatório”, acrescenta.
Em entrevista ao site EXAME,
Eloisa compartilhou detalhes sobre a metodologia do Índice e potenciais
mudanças que uma lufada de mais transparência pode causar na indústria
têxtil brasileira, que representa o quinto maior mercado do mundo no
setor. Vem muito mais transformação por aí.
Confira:
Qual o(s) objetivo(s) de um “Índice de Transparência da Moda”?
O objetivo é que o ITM se torne uma
ferramenta construtiva na promoção de melhorias para toda a indústria e
de informação para o consumidor. Além de chamar a atenção das empresas
para importantes questões que envolvem sua cadeia produtiva e podem
impactar seus negócios, uma análise como essa pode demonstrar a
necessidade de mais incentivos e políticas públicas em prol de maior
transparência e sustentabilidade na indústria da moda, além de se tornar
um instrumento útil para ONGs, sindicatos e grupos da sociedade civil
que atuam diretamente com produtores e trabalhadores e na proteção dos
direitos humanos e do meio ambiente. Do ponto de vista do consumidor, o
ITM inspira mais pessoas a pesquisarem sobre as marcas que consomem,
apoiando uma mudança de comportamento que já vem sendo notada.
De que forma um índice de
transparência pode impactar a produtividade, imagem e competitividade da
cadeia do vestuário brasileira?
Estudos recentes da Ethical Trading
Initiative mostram que a transparência não prejudica a competitividade
das marcas, mas sim aprimora, pois ela ajuda a criar um campo de atuação
mais nivelado entre marcas. A publicação de informações sobre condutas e
práticas socioambientais ajuda a construir a imagem da marca e, com
isso, a confiança dos consumidores e investidores. Do outro lado, cria
confiança com fornecedores e parceiros, o que acaba trazendo maior
eficiência e um ambiente de trabalho mais satisfatório (as pessoas
querem trabalhar para um empregador justo e honesto). Além disso, o ITM
pode permitir o monitoramento público e a ação coletiva com ONGs e
sindicatos, o que pode ser uma maneira mais eficiente e rápida de
identificar e resolver problemas. Com dados acessíveis e detalhados da
cadeia produtiva, é possível incentivar melhores práticas de compras
internamente, trazer luz às responsabilidades de todos ao longo do
processo e ajudar a indústria como um todo a avançar.
Que mudanças são previstas no âmbito
da avaliação e adequação da metodologia global do índice de
transparência ao contexto brasileiro? Quais as peculiaridades da cadeia
brasileira, pontos positivos e negativos?
O Fashion Revolution Brasil estabeleceu
uma parceria com o FGVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da
Fundação Getúlio Vargas) para a avaliação e adequação da metodologia ao
contexto brasileiro. O questionário nacional sofreu pequenos ajustes,
que não prejudicam a comparabilidade com os resultados do índice global.
Essa adequação ocorreu principalmente dentro da seção “Tópicos em
Destaque” onde temos espaço para eleger assuntos emergentes e urgentes
atual e localmente. Depois de pesquisarmos e consultarmos diferentes
especialistas da indústria brasileira, definimos que seria importante
trazer foco para as questões de igualdade racial e condições do
trabalhador imigrante na cadeia da moda.
O Brasil é um dos grandes players
mundiais no setor, sendo o quinto maior produtor têxtil, o quarto maior
parque de confecção e o segundo maior produtor de denim, por exemplo. O
país é ainda, autossuficiente na produção de algodão e a última cadeia
têxtil completa do Ocidente, oferecendo desde a produção das fibras,
passando pelos processos de fiação, tecelagem, beneficiamentos e
confecção até chegar no varejo. O Brasil dispõe de uma grande variedade
de matérias-primas, possui polos produtivos em diferentes regiões com
capacidades específicas, comunidades tradicionais e saberes locais
valiosos como rendas, bordados e outros trabalhos manuais.
Por outro lado, o país apresenta
problemas relacionados a condições de trabalho precárias e análogas à
escrava, necessita de maiores investimentos em inovação e
sustentabilidade, sofre com altas cargas tributárias, com a falta de
qualificação da mão de obra e com a concorrência de matérias-primas ou
produtos manufaturados vindos dos países asiáticos. Com isso, as
demandas do setor estão se transformando, os modelos de negócios estão
sendo questionados e sentindo a real necessidade de se aprimorarem ou
reinventarem. O ITM brasileiro, por sua vez, permitirá um olhar para um
recorte do mercado e seus padrões emergentes de divulgação de
informações sobre toda a cadeia de valor, apontando um caminho que
considera a capacidade e responsabilidade das empresas em promover
mudanças.
O que difere o índice de
transparência, enquanto investida voluntária e autorregulada, das
exigências legais que recaem sobre os negócios nos aspectos relacionados
à responsabilidade social e ambiental?
Cumprir integralmente a lei é a exigência
mínima para qualquer empresa. Portanto, não se trata de uma questão de
responsabilidade social ou ambiental, mas de um ponto de partida, a ser
fiscalizado pelos órgãos competentes. O ITM analisa as marcas de acordo
com a disponibilização de dados públicos em seus canais de comunicação.
Ele não tem, sob hipótese alguma, a intenção de ser um atestado de
veracidade das informações disponibilizadas, nem de verificação ou
julgamento da qualidade das práticas declaradas pelas empresas
avaliadas. Portanto, o ITM não é um selo de qualidade ou um certificado
de responsabilidade socioambiental: ele dá visibilidade às afirmações
das empresas sobre as práticas que declaram adotar, trazendo à tona
dados sobre políticas, aspectos e progressos com relação a direitos
humanos e sustentabilidade ambiental. É importante ressaltar que o
Fashion Revolution não está endossando as marcas analisadas no ITM,
independentemente de como elas pontuam.
O índice vai envolver outros segmentos da moda, como calçados e acessórios?
Sim, a seleção teve como premissa que a
primeira edição do ITM no Brasil avaliaria 20 marcas, e com isso,
definimos os segmentos que deveriam ser contemplados e o número de
empresas que seriam consideradas em cada um, com o objetivo de examinar a
diversidade do setor. Assim, fizemos um recorte de marcas dentro de 5
segmentos: varejo; jeans/jovem/casual; luxo/adulto; calçados; e
esporte/praia. Considerando a relevância de cada um desses segmentos
definimos a quantidade de marcas a ser analisada em cada um deles (seis,
cinco, quatro, três e duas marcas, respectivamente). Em seguida,
selecionamos as marcas a serem analisadas, de acordo com a sua
importância no segmento.
Só para termos uma ideia da dimensão
do índice proposto, as 20 marcas selecionadas correspondem a que
porcentagem do volume total de vendas do setor?
O setor é predominantemente formado por
grupos de capital fechado, que não são obrigados a divulgar publicamente
seus resultados, onde operam marcas com posicionamentos diferentes e
contam também com operações de vendas em múltiplos canais, tanto
próprios como de terceiros, de licenciados e mesmo online. Assim, não há
como fazermos uma estimativa desse percentual. Por esse mesmo motivo,
não foi possível basear a pesquisa em valores exatos sobre o
faturamento, volume de produção ou outros indicadores objetivos da
presença das empresas/marcas no mercado. Para a seleção do ITM a
relevância das marcas atuantes em cada um dos segmentos foi avaliada com
base em uma combinação dos critérios objetivos disponíveis e da
importância percebida de cada marca dentro seu grupo.
O setor de manufatura do vestuário de
moda brasileiro tem sido alvo de inúmeras denúncias de exploração de mão
de obra por grandes e pequenas marcas. De que forma o índice abordará
essas questões?
A análise do índice está dividida em 5
seções: Políticas e Compromissos; Governança; Rastreabilidade; Conhecer,
Comunicar e Resolver e Tópicos em Destaque, e dentro delas temos
diversas questões que abordam como os temas sociais e ambientais são
tratados pelas marcas tanto no nível da empresa quanto na cadeia de
fornecimento.
Alguns exemplos do que procuramos em
nossa pesquisa com relação a condições trabalhistas são: políticas sobre
contratos e termos de emprego e se os trabalhadores são obrigados a
assiná-los; se existem políticas explicitando salários, remuneração e
igualdade de pagamento; a que padrão de período de férias os
trabalhadores da cadeia de fornecimento têm direito; quais são as
políticas específicas da marca para garantir que os direitos dos
trabalhadores estrangeiros ou migrantes sejam respeitados; quem são os
responsáveis por gerenciar questões sociais e ambientais dentro da
empresa, desde o nível de diretoria até a equipe de nível inferior e a
nível de fornecedores; políticas sobre como as condições de vida,
habitação/dormitórios devem ser (seguras, limpas e fornecer certas
comodidades); como os fornecedores são instruídos quando ao subcontratar
ou terceirizar o trabalho; como a empresa identifica seus impactos
materiais e humanos e impactos ambientais (matriz de materialidade ou
semelhante); qual o plano estratégico da marca para melhorar
progressivamente os direitos humanos e os impactos ambientais (desde que
os objetivos estratégicos sejam mensuráveis e com prazos).
Abusos cometidos no setor em geral são
facilitados pela natureza dessa indústria, marcada por complexas e
diferentes redes de abastecimento dispersas geograficamente,
subcontratos e terceirizações. Como é possível mudar esse cenário e como
o índice abordará essa questão?
Entendemos que o primeiro passo é trazer à
luz essas questões, expondo as complexidades dessa cadeia tão
ramificada. Ao exigir maior transparência da indústria, estamos
encorajando maior fiscalização, vigilância e prestação de contas, que
por sua vez, levam a mudanças na prática. O ITM possui duas seções que
abordam especificamente o nível de detalhamento em que as marcas
rastreiam os diferentes níveis de suas cadeias. Na seção
‘Rastreabilidade’ procuramos informações em listas de fornecedores nos
níveis 1, 2 e 3, e as melhores práticas, neste caso, são aquelas que
estão alinhadas com os requisitos do Transparency Pledge: nome da
fábrica, nome da holding, endereço, tipo de produtos/serviços, número
aproximado de trabalhadores, em formato pesquisável e para download
(excel ou pdf), e com atualizações anuais.
Já na seção ‘Conhecer, Comunicar e
Resolver’ buscamos informações sobre como a marca avalia seus
fornecedores, como funcionam os processos de auditoria e em qual
frequência e se a marca compartilha os resultados dessas avaliações.
Procuramos averiguar também o que acontece quando não conformidades são
encontradas: a porcentagem dessas fábricas, o processo de remediação e
se os resultados das atividades de remediação são compartilhados
publicamente. Analisamos ainda como é verificada a exatidão das
avaliações, por exemplo, se existem auditorias não anunciadas e se as
marcas divulgam meios para que funcionários e trabalhadores da cadeia
possam se queixar ou denunciar questões internas.
Como será o envolvimento dos
diferentes stakeholders, fornecedores, varejistas, sociedade civil, ONGS
e ativistas na construção do índice? E como diferentes conflitos de interesse serão geridos no processo de desenvolvimento desse instrumento?
Sugerimos algumas ações para diferentes
stakeholders que tenham os resultados do ITM em mãos. Aos cidadãos,
recomendamos que encorajem mais divulgações públicas das marcas sobre
suas cadeias de fornecimento; que entrem em contato com os dirigentes
das marcas e peçam que implementem um regulamento garantindo que as
marcas sejam responsáveis pelo impacto gerado nas vidas de seus
trabalhadores, e que relatem de forma transparente seus impactos sociais
e ambientais em toda a cadeia de valor usando uma estrutura comum.
Pedimos às marcas e varejistas para tomar
passos concretos e imediatos para divulgar suas listas de fornecedores
em formato pesquisável e publicar informações mais fáceis de entender
sobre seu desempenho, progresso e impacto social e ambiental, em toda a
cadeia de fornecimento; aumentar as comunicações de sustentabilidade/RSC
(informações relevantes mais fáceis de encontrar e mais simples de
entender); publicar detalhes de contato direto do departamento de
sustentabilidade/RSC em seus sites. Aos governos e formuladores de
políticas, recomendamos que ajam nos seguintes sentidos: implementar e
aplicar melhor as leis existentes que têm o objetivo de proteger os
trabalhadores e o meio ambiente; legislar e apoiar a transparência, ex.
divulgação padronizada das marcas sobre os problemas sociais e
ambientais; tornar as empresas e seus executivos responsáveis pelo que
acontece nas cadeias de fornecimento da empresa, independentemente se a
empresa tenha controle direto ou onde no mundo podem estar havendo
abusos.
Por fim, incentivamos ONGs e sindicatos a
também encorajar as marcas a publicarem informações mais detalhadas de
suas cadeias e listas de fornecedores; e pedir aos dirigentes das marcas
que processos de due diligence sejam obrigatórios e que relatórios
sejam padronizados. Quando sindicatos, ONGs e trabalhadores têm uma
lista de onde as marcas estão produzindo e informações de como atuam,
fica muito mais fácil para resolver problemas rapidamente, pois tais
questões podem ser abordadas diretamente com as marcas.
A nossa metodologia contempla o
engajamento com as marcas pesquisadas. Para isso, foram realizados
eventos para estabelecer um canal de conexão e comunicação com elas,
além de encontros presenciais para tirar dúvidas relacionadas ao
questionário e atender quaisquer outras demandas, e assim, evitar
possíveis conflitos.
As informações fornecidas pelas empresas serão auditadas?
Não serão. A análise se baseia somente nas informações publicamente disponíveis, disponibilizadas pelas próprias marcas.
Em relação aos impactos ambientais
negativos associados à moda, que ações efetivas e tangíveis para mitigar
impactos associados à geração de resíduos sólidos, consumo de água e
uso intensivo de produtos químicos tóxicos, por exemplo, serão
avaliadas?
Serão enfocadas diversas questões
ambientais ao longo de toda a análise, desde políticas e procedimentos
das empresas nas suas próprias instalações e dos fornecedores, até
investimentos em projetos e programas colocados em prática para mitigar
impactos e solucionar problemas. Dentro disso, abordamos assuntos como a
existência de listas de substâncias restritas (muitas marcas dizem que
têm uma, mas não publicam a lista em si); ações para lidar com resíduos e
promover a reciclagem de materiais diversos e excedentes têxteis pré e
pós consumo; consumo de água e pegada hídrica – como as marcas lidam com
a quantidade de água que usam na matriz, lojas e suas recomendações
para fornecedores; políticas e procedimentos para tratamento de
efluentes por nível de fornecedor; e consumo de energia e pegada de
carbono.
Para alinhar o trabalho que o Fashion
Revolution desenvolve em escala global com relação aos ODSs da ONU,
dentro dos ‘Tópicos em Destaque’, escolhemos analisar de forma mais
aprofundada algumas destas questões dentro do tema ‘Resíduos’. Dentro
dele, estamos buscando informações sobre como as marcas estão reduzindo o
descarte, reciclando ou reaproveitando os excedentes de produção ou das
lojas, e investindo em recursos voltados à economia circular.
Procuramos pelo volume total de materiais de fontes renováveis,
sustentáveis e circulares e se as marcas implementam avaliações como
Environmental Profit & Loss, para medir os custos e benefícios que
elas geram para o meio ambiente.
Desde que surgiu, há três anos, a
metodologia do índice internacional de transparência da moda já mudou
duas vezes, o que gerou diferentes resultados entre uma edição e outra.
Por exemplo, em 2017 a C&A pontuava 34 e na edição atual fez 53. A
Levis em 2016 aparecia no topo, com 77, e na edição 2017 fez 35. O que
motivou as mudanças na metodologia dos índices e como é possível avaliar
o progresso real das empresas dessa forma?
Em 2016, o Índice de Transparência da
Moda foi efetivamente um projeto piloto, então quando decidimos
continuar produzindo o Índice com financiamento garantido para as
edições 2017, 2018 e 2019 (com espaço para futura extensão), tomamos a
decisão estratégica de fazer uma consulta muito mais ampla sobre a
metodologia para garantir que naquele momento estivéssemos criando algo o
mais robusto e forte possível. As mudanças na metodologia depois de
2016 foram feitas com base na contribuição de um grupo muito maior de
stakeholders. Agora, estamos usando a mesma metodologia ano a ano e
podemos medir o progresso. Entre 2017 e 2018, as únicas alterações
feitas foram muito pequenas em termos de esclarecimento de texto e, em
seguida, na última seção, onde nos concentramos em diferentes “tópicos
em destaque” a cada ano.
É por isso que a pontuação da Levi’s
mudou significativamente entre 2016 e 2017. No entanto, a Levi’s recebeu
uma pontuação mais alta em 2018 (47%), um aumento com relação a sua
pontuação em 2017 (35%). A razão pela qual eles pontuaram mais é porque
estão divulgando mais em 2018 do que na revisão de 2017. A razão pela
qual a C&A recebeu uma pontuação maior em 2018 em relação aos
resultados de 2017, é porque eles também estão divulgando mais agora do
que no ano passado. Por exemplo, no último ano, a C&A começou a
publicar fornecedores de nível 2 além do nível 1.
Ao invés de um “índice de
transparência” por que não falar em um “índice de sustentabilidade” da
moda ou numa certificação de responsabilidade socioambiental para a
moda?
O Fashion Revolution luta por maior
transparência na indústria da moda porque acreditamos que é o primeiro
passo para construir uma indústria mais segura, justa e limpa. A
transparência leva a uma maior prestação de contas porque, se as
empresas divulgam informações publicamente sobre suas políticas,
práticas e impactos, elas querem garantir que as informações sejam
precisas e significativas – e isso, por si só, ajuda a gerar mudanças
positivas. Não somos uma empresa de auditoria ou de certificação, há
muitas certificações focadas em sustentabilidade por aí – mas não
estamos tentando ser isso.
Basicamente, a página 23 do relatório
global de 2018 explica isso: o Fashion Transparency Index não oferece
uma análise aprofundada do conteúdo, qualidade ou precisão das
políticas, procedimentos, desempenho e progresso de uma empresa em
qualquer área específica. A verificação das práticas demarcas e
varejistas está além do escopo deste estudo.
Projetamos a metodologia para fornecer
insights que revelem padrões de divulgação, que sejam comparáveis ao
longo do tempo e permitam que as marcas vejam onde estão com relação a
transparência em comparação com as outras empresas. Somente pesquisas in
loco feitas por ONGs, sindicatos, acadêmicos e órgãos certificadores
podem revelar os verdadeiros impactos das políticas e práticas das
marcas na realidade. Isso está além do escopo do nosso estudo.
https://exame.abril.com.br/negocios/como-sera-o-primeiro-indice-de-transparencia-da-moda-do-brasil/