Como o agronegócio vem se tornando um dos grandes laboratórios de P&D do país – e a contribuição do Sul nesse cenário
Por Karine Menoncin
karine.menoncin@amanha.com.br
Enquanto o Brasil estava
prestes, em 1958, a ser campeão do mundo pela primeira vez, a estrutura
de dupla hélice do DNA já havia sido descoberta em 1953; o Sputnik I
recém havia sido lançado ao espaço, em 1957, e a medicina dava seus
primeiros passos rumo ao transplante de órgãos. Sem o mesmo alarde,
distante dos holofotes urbanos, outras descobertas mudariam a paisagem
econômica ao longo da segunda metade do século 20, e iriam compor o que
se chamou de Revolução Verde. O uso de máquinas e insumos agrícolas
redimensionou a escala da produção de alimentos ao oportunizar um grande
salto de produtividade, baseado no melhoramento genético, uso de
fertilizantes e sistemas de irrigação. Havia, porém, uma lacuna – uma
certa despreocupação com a sustentabilidade da revolução agrícola. Cinco
décadas depois, este é um dos focos de atenção dos laboratórios e
centros de pesquisa que comandam a inovação no campo brasileiro, em
busca de tecnologias que não apenas aumentem a produtividade, mas
otimizem o tempo do produtor, reduzam o consumo de insumos e atenuem os
impactos ambientais.
No
Sul, a Stara, sediada em Não-Me-Toque (RS), é uma das empresas que
abraçaram com maior sucesso essa missão. Desde o sucesso da sua
capinadeira dirigível com braços flutuantes, em 1970, a empresa busca
antecipar-se às necessidades dos produtores. “Fomos chamados de loucos
quando falamos que um trator iria se comunicar com um satélite, através
de um GPS. Mas estávamos enxergando nessa tecnologia uma grande
oportunidade”, recorda Gilson Trennepohl, presidente da companhia. Se a
conexão via GPS já é uma realidade em boa parte das lavouras, a
fabricante de máquinas agrícolas aposta agora em uma plataforma
conectável com a Telemetria Stara, tecnologia que permite ao produtor
acessar em tempo real e de forma simples e intuitiva as informações dos
equipamentos – basta que tenha à mão um dispositivo móvel, como
smartphone ou tablet, com acesso à internet. Dados como o mapa de
dosagem, de velocidade e transpasse [ato de monitorar para não aplicar defensivo em uma área onde o produto já foi usado]
são armazenados na nuvem e integrados com as plataformas de gestão,
gerando informações importantes para auxiliar o produtor na tomada de
decisão na propriedade. Essa e outras iniciativas fizeram com que a
empresa fosse reconhecida pela multinacional alemã SAP, com quem mantém
parcerias de pesquisa, como o Melhor Cliente Referência da marca no
Brasil, em 2017. Hoje, 55% da receita da Stara é fruto de produtos
lançados nos últimos três anos.
Outro
exemplo do Sul é a Falker Automação Agrícola. Quando nem existia o
conceito de startups, a empresa já despontava na incubadora tecnológica
da Cientec, fundação do governo gaúcho extinta recentemente. Há 13 anos,
a companhia desenvolve produtos com tecnologia própria, fornecendo
equipamentos para coleta, organização e uso de informações agronômicas.
Um de seus últimos lançamento é o FarmLink, sistema sem fio que permite
monitorar a umidade do solo em tempo real, proporcionando um controle
efetivo da irrigação. A conexão via internet é opcional para permitir
acesso remoto, já que a comunicação entre as antenas é feita por rádio
até a estação central. Dessa forma, os dados estão sempre disponíveis na
fazenda. É investindo na funcionalidade dos seus produtos que a empresa
já atua em mercados de mais de dez países da América Latina.
“É
importante conhecer bem o agronegócio para, então, desenvolver soluções
para o produtor. A tecnologia precisa ser acessível para quem está no
campo. É o caso dos drones, que só farão parte do dia a dia do
agricultor quando tiverem um manuseio mais fácil e um valor realmente
acessível”, ensina Marcio Albuquerque, diretor da Falker. Atualmente, um
aparelho como esse pode custar até R$ 100 mil. O negócio é tão
promissor que despertou até mesmo o interesse de companhias de outras
áreas, como a fabricante de equipamentos de informática Positivo, do
Paraná. A empresa criou a Eleva, startup para comercializar seu próprio
drone (veja mais detalhes em “A solução que vem do céu”, ao final desta reportagem).
Melhoramento genético
A
tecnologia, entretanto, não está embarcada só nas máquinas inteligentes
ou satélites, mas em cada grão produzido, literalmente. Com a genética e
com a biotecnologia, as plantas ficaram mais resistentes a ataques de
pragas e mais bem adaptadas às condições climáticas de cada região. Os
próprios defensivos agrícolas são desenvolvidos com moléculas que
permitem a seletividade, para que atuem de forma localizada e, assim,
gerem menor impacto ambiental. Os avanços também estão onde os olhos
sequer podem perceber. A nanotecnologia trabalha com partículas 50 mil
vezes menores do que a espessura de um fio de cabelo, e entre muitas
outras possibilidades permite investigar como são fibras, células,
partículas e moléculas para, então, desenvolver sensores capazes de
identificar doenças e até mesmo comandar sistemas nanoparticulados que
liberam insumos agrícolas e veterinários (vacinas e fármacos) de forma
gradual, prolongando o tempo de efeito.
Foram
avanços como esses que permitiram aumentar a produção agrícola
enormemente. Enquanto a área plantada cresceu 65% nos últimos 25 anos, a
produtividade no Brasil foi quase multiplicada por quatro, de acordo
com estudos feitos pelo Banco do Brasil. É essa matemática que explica a
proeza de Santa Catarina que, mesmo com apenas 1,3% do território
nacional, é o quinto maior produtor brasileiro de alimentos. “Nossa
tecnologia está dentro de cada grão exportado, já que o mercado
internacional é muito qualificado e requer que estejamos aptos,
especialmente na produção de commodities”, destaca Luiz Antônio
Palladini, diretor de ciência, tecnologia e inovação da Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Com
13 estações de pesquisa, a Epagri se concentra no melhoramento genético
de plantas, além de pesquisar novas técnicas de manejo e pós-colheita
para reduzir o uso de insumos e gerar um produto mais limpo, de menor
contaminação do meio ambiente – tanto para o produtor quanto para o
consumidor. O retorno é efetivo: segundo o balanço social da estatal, a
cada real investido na Epagri, os brasileiros foram beneficiados com R$
5,88. No ano passado, o retorno global das tecnologias geradas pela
empresa de pesquisa catarinense, considerando a contribuição de todos os
agentes para o uso dessas soluções, foi estimado em R$ 5,2 bilhões (veja mais detalhes em “Os entraves da pesquisa” quais são os fatores que ainda freiam o desenvolvimento no agronegócio).
No
Paraná, mais de 240 variedades de plantas melhoradas, como trigo,
algodão, arroz, cítricos, feijão, mandioca e batata, foram desenvolvidas
em 46 anos pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Ao todo, são 16
fazendas experimentais, 23 estações agrometeorológicas e 25
laboratórios de diferentes áreas de especialidade. “Hoje, trabalhamos
especialmente com o melhoramento de milho, trigo, arroz e feijão. Mas
nossas frentes de trabalho também abarcam a chamada agricultura
contemporânea, com um programa voltado à pesquisa e ao desenvolvimento
de energias renováveis, a partir de biodiesel, biomassa, biogás e
energia solar e eólica”, conta o diretor de pesquisa Tiago Pellini. Uma
vertente menos aparente, mas igualmente importante, é a das tecnologias
de processo, como o plantio direto e a rotação de culturas. “É
importante incentivar essas práticas para evitar o esgotamento do solo.
Aqui no Paraná, na safra de verão, 90% dos hectares são ocupados pela
soja. Antes, tínhamos mais equilíbrio com o milho, que hoje está
reduzido a menos de 10% da área total de verão”, admite Pellini.
O
cenário do restante do Brasil não foge disso. Se há quatro décadas era
impensável produzir grãos no Cerrado, a implementação de tecnologias
possibilitou o cultivo em áreas anteriormente consideradas improdutivas
por conta da baixa fertilidade natural e acidez acentuada. No início da
década de 1970, aproximadamente 4,5 milhões de hectares estavam ocupados
com agricultura. Em 2016, a área passava de 20,5 milhões, segundo a
Embrapa. “A tecnologia foi capaz de incorporar o Cerrado [na produção brasileira de grãos],
mantendo a biodiversidade da região. Conseguimos também produzir soja
em regiões mais frias e hoje se colhe o grão de norte a sul. Fizemos
adaptação de cultivares e conseguimos grande penetração em várias
regiões”, orgulha-se Kepler Euclides Filho, pesquisador da Secretaria de
Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa).
O
desenvolvimento genético de animais é um capítulo à parte. O grupo
gaúcho Vibra é apenas um exemplo. A companhia migrou da produção de
frangos para a genética avícola. Hoje, a companhia trabalha em dois
segmentos diretamente ligados: a multiplicação genética de matrizes de
aves com a marca Agrogen e a produção e comercialização de carne de
frango com as marcas Nat Verde e Ávia. A empresa atua em conjunto com a
Cobb-Vantress, líder mundial das casas genéticas de aves. “Ocupamos uma
posição de destaque na multiplicação genética de matrizes de aves no
país. E, ainda, estamos entre as poucas indústrias brasileiras que detêm
o controle total da cadeia produtiva – incluindo granjas, incubatórios,
laboratórios, fábricas de ração e frigoríficos”, comemora Gerson
Muller, diretor-superintendente do Grupo Vibra.
Santa
Catarina também adicionou ousadia à avicultura. Em março, o Estado se
tornou o primeiro do mundo a ter um projeto de compartimentação da
avicultura de corte. No sistema de produção fechado da Seara Alimentos
de Itapiranga, os ovos, os pintainhos, o abate e os caminhões de ração
devem circular dentro de um limite territorial. O frango precisa nascer,
desenvolver-se e ser abatido dentro de uma unidade geográfica – neste
caso, em 28 municípios do extremo-oeste catarinense. A intenção é
reduzir o risco de introdução de doenças, aumentando o controle de
qualidade.
Do GPS ao big data
Nos
anos 1990, um sistema eletrônico de navegação militar chegava aos
consumidores de todo o mundo. O GPS era uma novidade – ainda mais no
campo. Rapidamente, embarcou nas máquinas agrícolas e tornou o trabalho
mais eficiente a partir de sistemas que possibilitam a geração de mapas
de produtividade. Tornou-se possível conhecer a fundo os aspectos da
lavoura, como as características físicas, químicas e de compactação do
solo, além de controlar possíveis doenças e pragas. Com isso,
monitora-se a variabilidade da produção, tanto sob o aspecto
quantitativo como da qualidade dos grãos. “Identificando as falhas, o
agricultor consegue gerenciar melhor a utilização dos insumos no momento
certo, no local que precisa e na quantidade adequada. Além do aumento
da produtividade, também é um sistema que promove a sustentabilidade”,
assinala José Paulo Molin, presidente da Associação Brasileira de
Agricultura de Precisão (AsBraAP) e professor da USP.
Se
o GPS já transformou os processos, desde a preparação do solo até a
colheita, os novos ventos que sopram parecem aposentar de vez os
cadernos de anotações. A agricultura digital é muito mais do que uma
roupagem nova para velhos conceitos. Nessa nova revolução, agora
composta por bytes, a utilização de sensores refinados e robôs com
inteligência artificial é uma realidade bastante próxima. A apropriação
do big data – um grande conjunto de dados armazenados – permite criar
simulações computacionais que indicam como cada cultura se comporta em
diferentes condições, a partir de informações coletadas para identificar
padrões. Para Pellini, do Iapar, é preciso encarar essa nova etapa. “As
áreas clássicas das ciências agronômicas precisam se integrar a uma
série de conhecimentos de áreas não clássicas das ciências agrárias,
como as possibilidades provindas da automação, TI, robótica,
inteligência artificial e bioinformática. A existência de todos esses
dados não prescinde da necessidade de se ter gente preparada para
trabalhar com isso”, pondera o diretor do Instituto Agronômico do
Paraná.
A agricultura de
precisão já beneficiou milhares de cooperados da Coamo em toda a área de
ação da cooperativa no Paraná, em Santa Catarina e no Mato Grosso do
Sul, desde 2012. O programa é respaldado pela pesquisa e conta com
tecnologia de ponta para o trabalho que inclui desde a retirada do solo
para análise até a aplicação dos corretivos. Foi essa tecnologia que
solucionou o problema da lavoura da família Bocato, de Boa Esperança, na
região centro-oeste do Paraná. A primeira área recebeu a agricultura de
precisão há três anos. Como o resultado foi satisfatório, os Bocato
começaram a aplicar em outra parte da propriedade. A técnica já foi
aplicada em 90% dos 130 alqueires.
Cleber
Bocato conta que começou a notar melhora já no primeiro ano após a
aplicação dos corretivos. “Foi uma grande mudança. A área era bastante
manchada e ficou uniforme, igualando a produtividade e aumentando a
produção”, sintetiza. Ele salienta que a tecnologia reduziu o custo,
aumentando a produção. “Houve ganhos de produtividade, pois as manchas
mostravam que as lavouras tinham algum tipo de deficiência, o que levava
a diminuir a colheita nessas áreas. Agora, está tudo uniforme,
produzindo igual”, conta Cleber, que trabalha em parceria com o pai José
e os irmãos Edvaldo e Luiz.
Segundo
o engenheiro agrônomo Luiz Oliveira, do Departamento Técnico (Detec) da
Coamo, em Boa Esperança, os cooperados da região estão buscando novas
tecnologias para que possam melhorar a produtividade e a renda das
famílias. “No caso da família Bocato, a ideia de fazer a agricultura de
precisão surgiu após várias tentativas sem sucesso de resolver um
problema de baixo rendimento em um lote da propriedade. Variedades e
fungicidas foram trocados, sistemas aprimorados, mas nada de saber o que
acontecia. Até que a agricultura de precisão mostrou o que precisava
ser corrigido. A resposta veio já na primeira safra, aumentando a
produtividade na área”, comenta Oliveira.
A
Cotrijal desenvolve o Ciclus, que difunde a tecnologia obtida através
de outro projeto, o Aquarius. Criado ainda no ano 2000, o Aquarius é
voltado à pesquisa em agricultura de precisão. Os primeiros estudos
foram realizados por uma parceria entre as empresas Stara, Monsanto,
Massey Ferguson e Serrana Fertilizantes. A Fazenda Anna, no interior de
Não-Me-Toque (RS), foi o campo de provas para os experimentos. A
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) passou a atuar no projeto em
2004, mesmo ano em que o primeiro implemento concebido pela pesquisa
chegou ao mercado. No ano seguinte, a Cotrijal também integrou-se,
quando a cidade passou a ser denominada a Capital Nacional da
Agricultura de Precisão. “Aqui na região da Cotrijal temos produtores
colhendo 66 sacas a 70 sacas de soja por hectare e 170 sacas a 240 sacas
de milho por hectare – e isso é uma média, o que significa dizer que há
quem colha 80, 90 sacas de soja. Uma produtividade excelente, que nos
orgulha, porque é referência para todo o país.”, destaca Nei Mânica,
presidente da Cotrijal. Em solo gaúcho também se encontra a primeira
instituição de ensino superior do Brasil voltada exclusivamente ao
ensino, pesquisa e extensão em cooperativismo: a Faculdade de Tecnologia
do Cooperativismo – Escoop, com sede em Porto Alegre. A instituição foi
avaliada com conceito 4 (numa escala até 5) pelo Ministério da
Educação.
Do boi ao peixe
Em
menor escala, a pecuária e a aquicultura também vêm incorporando
avanços. Uma parceria conjunta da Embrapa, Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca (SEAP) investirá R$ 57 milhões nos próximos quatro
anos para oferecer pacotes tecnológicos e pesquisas científicas
necessárias de modo a elevar a produção de tambaqui, tilápia e camarão. O
programa BRS Aqua pretende melhorar desde a qualidade das matrizes
reprodutoras até a tecnologia de processamento de rações, já que esse
insumo responde por 82% do custo. Para gerenciar o maior rebanho
comercial do mundo, o Brasil também investe em soluções de bem-estar
animal, nutrição, sanidade e rastreabilidade. “Há 40 anos importávamos
carne. Hoje, a genética para o desenvolvimento de novos animais gerou
uma grande transformação para a cadeia da carne, tanto de bovinos quanto
suínos e ovinos. Melhoramos a genética de forrageiras, fazemos a
seleção e oferta de cultivar e, atualmente, somos exportadores. No
leite, a genética e o manejo também cresceram muito. Enfim, em qualquer
área que olharmos, tem protagonismo dos produtores nesse processo”,
sublinha Kepler Euclides Filho, pesquisador da Embrapa há 44 anos.
Aliadas
aos produtores, as cooperativas são parceiras no campo e nos
laboratórios. São elas os principais pontos de acesso da agricultura
familiar e dos pequenos produtores com o que vem sendo desenvolvido em
termos tecnológicos. Em Santa Catarina, ganha espaço o uso da tecnologia
RFID baseada no uso da radiofrequência para aperfeiçoar o sistema de
rastreabilidade. O projeto, conhecido como Canal Azul, permite o uso de
uma espécie de etiqueta eletrônica inteligente implantada nos lacres dos
contêineres, controlando todo o processo de preparação, transporte aos
portos, embarque e chegada ao destino final, no exterior.
Os entraves da pesquisa
Para
chegar às colheitadeiras inteligentes, que se ajustam sobre o melhor
caminho, ou às estações de irrigação que interagem com sensores
meteorológicos, ligando ou desligando conforme necessário, foi
necessário investir muito tempo – e dinheiro – em Pesquisa &
Desenvolvimento (P&D). “Para produzir uma planta ou 1 milhão delas, a
estrutura é a mesma. Então, é realmente custoso [fazer pesquisa]”,
confirma Luiz Antônio Palladini, diretor do Epagri. Centros de pesquisa
financiados por verbas públicas amargaram um corte de 25% dos
investimentos em relação ao ano passado. O orçamento do Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) foi limitado a R$
4,6 bilhões.
A alternativa
encontrada por centros de pesquisa como a Embrapa foi intensificar
parcerias para manter projetos em andamento. “Os investimentos estão
muito baixos, pois o Brasil tem vivido dificuldades econômicas e
passamos por um contingenciamento nos últimos três anos. Esperamos que a
recuperação da economia ajude a pesquisa”, preocupa-se Kepler Euclides
Filho, pesquisador da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento da
Embrapa. Em 2017, as despesas com pesquisa foram de aproximadamente R$
66,8 milhões – um terço abaixo dos R$ 96,9 milhões investidos na área em
2016. Esse foi o menor orçamento desde 2010.
Em
Santa Catarina, a Epagri conta com 180 pesquisadores focados em
pesquisa aplicada. Com safras recordes nos últimos anos, os orçamentos
destinados à empresa de pesquisa foram mantidos de forma estável. “Por
sorte, Santa Catarina tem acreditado no desenvolvimento e pesquisa e,
então, vem proporcionando recursos. É suficiente, mas não tudo que
desejaríamos. Tem de se aplicar sempre mais verbas, pois a P&D pode
estagnar se houver um acúmulo de dois ou três anos sem aporte”, defende
Palladini. Só no instituto paranaense Iapar, mais de mil pessoas – entre
pesquisadores, analistas, técnicos agrícolas e servidores – dedicam-se a
diferentes programas de pesquisa.
A solução que vem do céu
Não
faz muito tempo que a palavra drone entrou no vocabulário dos
brasileiros. Mas, se antes eram utilizados basicamente para a captura de
imagens áreas, hoje os superequipamentos já estão nas mais diversas
funções, desde a entrega de encomendas ao reconhecimento de situações de
perigo em grandes multidões. Na agricultura, encontrou um habitat
natural. Um drone bem empregado acaba sendo uma espécie de funcionário,
de olhar apurado e presteza no trabalho, com a vantagem de vigiar tudo
do alto. Apostando nisso, a startup Eleva lançou o superdrone Eleva
Spray 150. O equipamento é a primeira incursão no agronegócio do Grupo
Positivo, holding paranaense com investimentos no setor de ensino,
gráfica, entretenimento e na produção de computadores, tablets e
celulares. O protótipo pesa 150 quilos e tem capacidade de estocar até
80 litros de insumo por operaçã
Medindo
cinco metros de largura e com seis metros de barra de pulverização, o
Eleva Spray 150 está em processo de desenvolvimento final para
comercialização já a partir do ano que vem, tanto no Brasil quanto nos
Estados Unidos, Argentina e Austrália, mercados globais com
características semelhantes às grandes áreas de produção rural
brasileiras. Além do Vant – veículo aéreo não tripulado –, o sistema
conta com uma estação de controle, a GS – Ground Station, de onde é
possível coordenar a pilotagem manual ou automatizada. “Uma vantagem da
Eleva é que a legislação brasileira para uso de Vants é baseada na
europeia, que é a mais restritiva mundialmente. Portanto, as
certificações no Brasil vão garantir que o equipamento esteja preparado
para passar nos testes no exterior também. Essa é a principal premissa
para ganharmos escala com agilidade”, projeta Celso Faria de Souza,
diretor técnico da Eleva.
Um
dos trunfos do superdrone é o efeito downwash, que impulsiona para
baixo os defensivos, gerando economia de insumos e mais segurança
operacional. Além disso, o equipamento pode ser utilizado à noite,
quando algumas condições estão mais favoráveis à pulverização: maior
umidade, menor temperatura, menos ventos e maior facilidade da planta
para absorver os defensivos sistêmicos, entre outros. Adicionalmente, há
diversas pragas com comportamento noturno, tornando esse tipo de
pulverização mais efetiva e menos danosa à natureza e aos insetos, como
as abelhas.