quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Magazine Luiza se torna rede de varejo mais valiosa do Brasil ao ultrapassar Carrefour e Renner


A rede vem em trajetória ascendente desde 2015, quando seu valor era de R$ 300 milhões. Naquele ano a Magazine Luiza atingiu sua mínima histórica, negociando papéis a R$ 0,96. Desde então acumulou 16,75% de valorização

 

 

Magazine Luiza se torna rede de varejo mais valiosa do Brasil ao ultrapassar Carrefour e Renner
A Magazine Luiza (MGLU3) fechou o pregão desta quarta-feira (17) em alta de 1,6%, precificando suas ações em R$ 161,75, transformando a rede na varejista mais valiosa do Brasil, ultrapassando o Carrefour Brasil (CRFB3) e as Lojas Renner (LREN3). Com o valor fechado no pregão, a empresa de Luzia Helena Trajano atingiu valor de mercado de R$ 30 bilhões, ante o valor de R$ 29,1 bilhão da varejista francesa, que encabeçava a lista, e R$ 25,3 bilhões da loja de roupas fundada no sul do País.
A rede vem em trajetória ascendente desde 2015, quando seu valor era de R$ 300 milhões. Naquele ano, a Magazine Luiza atingiu sua mínima histórica, negociando papéis a R$ 0,96. Desde então, acumulou 16,75% de valorização até chegar no patamar atual.

Grande parte do crescimento da empresa se deu por sua entrada no mundo da tecnologia, aplicando conceitos de omni-chanel, integrando lojas físicas e virtual. O grande ponto de virada da Magazine Luiza foi quando Frederico Trajano acumulou os postos de CEO e presidente do grupo. De cara o primogênito de Luiza Helena modernizou processos e cortou diversos custos, como viagens executivas, renegociou contratos de lojas, realizou novos acordos com sindicatos e até cortou gastos de energia.

Em 2016, um relatório da Credit Suisse colocou a Magazine Luiza na lista de sete empresas de varejo que conseguiriam sobreviver ao apocalipse do setor graças a sua atuação e integração em diversos canais. Hoje o e-commerce da marca já representa um terço do total de vendas da varejista.



 https://www.istoedinheiro.com.br/magazine-luiza-se-torna-rede-de-varejo-mais-valiosa-do-brasil-ao-ultrapassar-carrefour-e-renner/

Paris se prepara para ser sede financeira pós-Brexit

  

Capital francesa é a que mais vem atraindo bancos e fundos de investimentos que deixarão Londres

 

 

 Andrei Netto, Correspondente / Paris, O Estado de S.Paulo 

 

 

Paris está a um passo de se tornar o novo centro do mercado financeiro na Europa continental, após o Brexit, o divórcio entre Londres e Bruxelas. Ponto forte da economia do Reino Unido, a City começa a viver os efeitos dramáticos da separação. Mais de 5 mil postos de trabalho em bancos, seguradoras e fundos de investimento deverão ser fechados em Londres e transferidos para a capital francesa e Frankfurt, na Alemanha, já a partir de 29 de março, quando a separação será confirmada. 

Para o governo britânico, as perdas decorrentes da migração devem chegar a € 82 bilhões (R$ 359 bilhões) só em impostos sobre serviços financeiros que deixarão de existir. 

 Estima-se que 3,5 mil postos de trabalho podem ser transferidos para Paris depois do Brexit
Estima-se que 3,5 mil postos de trabalho podem ser transferidos para Paris depois do Brexit Foto: REUTERS/Charles Platiau




A questão é crucial para a relevância do mercado londrino porque 20% da receita das instituições vem da venda de seus produtos financeiros no Espaço Econômico Europeu (EEE), que será abandonado por Londres com o divórcio. Desde que o plebiscito ocorreu, em junho de 2016, autoridades britânicas lutam para não perder instituições financeiras e postos de trabalho. Paris e Frankfurt disputam o espólio. 

Desde que atraiu a Autoridade Bancária Europeia (EBA), cuja sede se situava em Londres, a França teria sido escolhida pelo gestor de fundos BlackRock e pelo JP Morgan Chase, segundo o jornal britânico Financial Times, e estaria perto de confirmar a transferência de efetivos do Bank of America e do Citigroup para Paris. Nomura, Morgan Stanley, Goldman Sachs e Wells Fargo são outros exemplos de instituições que se preparam para uma transferência parcial para Paris. 

Contatadas pelo Estado, instituições financeiras que estariam deixando Londres alegam que não podem se pronunciar em razão das negociações do Brexit ainda em curso, mas as transferências são dadas como certas ou bem encaminhadas no meio parisiense. 

Mais de 70 empresas de gestão de ativos, grandes ou pequenas, já pediram autorização da EBA para atuar a partir de Paris. E dados divulgados na semana passada pelo secretário britânico do Tesouro, John Glen, confirmam os prognósticos mais sombrios previstos pelo Banco da Inglaterra - o banco central britânico. De acordo com a autoridade monetária, no primeiro dia após o desligamento do Reino Unido da União Europeia 5 mil empregos terão sido fechados pelas instituições na City. Reunidas, as maiores empresas financeiras em Londres somam 15 mil trabalhadores. 


Centro de trading

 

Nesse cenário, a disputa entre Paris e Frankfurt pela “herança” de Londres começa a se inclinar em favor da capital francesa, que tende também a se transformar na “capital das finanças” da Europa. Segundo o Financial Times, “Paris está a um passo de triunfar como o centro de trading da Europa pós-Brexit”. 

Nos últimos meses, os sinais dessa transição se multiplicam. De acordo com o monitoramento criado pela consultoria em administração Sia Partners, Frankfurt estaria ficando para trás na escolha das direções de empresas de finanças. Até aqui, a consultoria agrega 2.482 postos de trabalho em curso de mudança para Paris e 1.946 para a cidade alemã. Dublin, na Irlanda, com 903 postos, é o terceiro destino preferido, à frente de Amsterdã, na Holanda, com 355 vagas transferidas.
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O dia do Brexit no Reino Unido

“Os bancos e gerentes de fundos tentarão concentrar suas operações de corretagem em um único local da União Europeia”, entende Christian Noyer, ex-presidente do Banco Central da França e hoje um dos líderes da campanha em favor de Paris. “Isso não significa que Londres não será o maior centro financeiro. Mas Paris poderia se tornar o maior polo de corretagem da Europa Ocidental.” 

Europlace, o lobby público-privado que trabalha em favor da divulgação da capital francesa, projeta que 3,5 mil postos de trabalho poderão ser transferidos de Londres para Paris, a maior parte para o distrito de negócios de La Défense, na periferia oeste parisiense. Uma parte do sucesso francês diz respeito ao repatriamento de postos de trabalho abertos nas últimas décadas por filiais de instituições do país em Londres, casos dos bancos BNP Paribas, Société Générale e Credit Agricole. HSBC também decidiu reforçar seus efetivos na capital francesa, que vai agregar outros 200 trabalhadores na sede da Autoridade Bancária Europeia. 

“A chegada dessa instituição reforça ainda mais a posição de La Défense como verdadeira porta de entrada internacional. Nossa política em matéria de atratividade já vem dando frutos”, comemora Patrick Devedjian, presidente do departamento de Hauts-de-Seine, onde La Défense se localiza.


 https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,paris-se-prepara-para-ser-sede-financeira-pos-brexit,70002546471

Juventude e ousadia mudam o campo em todo o Sul


Várias startups estão surgindo no entorno das cooperativas em uma das regiões mais vocacionadas para a agricultura

 

Com reportagem de Italo Bertão Filho

 

italo@amanha.com.br
Frísia, de Carambeí (PR), realiza a DigitalAgro, uma feira que apresenta soluções inovadoras para as cooperativas de produção do estado



É madrugada, a cidade ainda dorme, mas, faça chuva ou tempo bom, o produtor rural tem de acordar para medir a temperatura dos animais da criação e só depois é que pode voltar ao sono dos justos. Sediada em Chapecó, no oeste catarinense, a startup Gravitwave quer acabar com essa rotina de milhares de agricultores brasileiros. O principal produto da companhia é o Coopig, um sistema web que possibilita controlar a produtividade de animais. O software congrega indicadores de temperatura e mortalidade, consumo de água e ração, aplicação de medicamentos e ocorrência de doenças, entre outras variáveis.

Para Iskailer Rodrigues, cofundador da empresa, o Coopig possibilita que as indústrias e cooperativas tenham acesso em tempo real aos dados de produção, e assim possam fazer uma gestão mais eficiente dos recursos. “Administrar uma fazenda é como dirigir um carro. As empresas guiavam olhando o retrovisor. Acabavam olhando para o passado, para 15 ou 20 dias atrás, e não para um dado atualizado diariamente”, explica Rodrigues. O empreendedor catarinense teve de investir R$ 100 mil para o começo das operações em 2016, após ganhar um prêmio do programa Sinapses da Inovação, iniciativa do governo de Santa Catarina. E o cheque bancou 60% do valor de que ele precisava para o pontapé inicial na sua agrotech, ou agtech, como são em geral conhecidas as startups do agronegócio. 

O sistema lançado por Rodrigues dá ao agricultor a possibilidade de controlar remotamente a propriedade. Ocorrendo qualquer alteração na produção, uma notificação é enviada ao seu celular. Todas as pontas – produtor, técnicos agropecuários e cooperativas de produção – estão integradas em um mesmo site de informações. Utilizado por 42 produtores rurais, o Coopig também gerencia uma etapa da linha de produção da Cooper A1, de Palmitos, município situado na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A startup já prepara o lançamento do Cocoricó, voltado à avicultura, para este ano. 

A Gravitwave negocia a implantação do novo sistema nas operações da Copagril, cooperativa de produção sediada em Marechal Cândido Rondon (PR). A partir do novo sistema, Rodrigues estima que a empresa terá uma base de 240 produtores utilizando o software, dos quais 140 têm foco na produção de aves. Na visão dele, a avicultura tem urgência no controle da produtividade das granjas. “Se você deixa um suíno três horas abaixo da temperatura ideal, ele diminui a produtividade. Se o mesmo ocorre com a ave, ela morre. O impacto é mais evidente. Por isso os avicultores têm maior aceitação com a tecnologia porque eles não têm apenas prejuízo e, sim, perda total”, exemplifica.  

Para Lara Moraes, supervisora de agribusiness da PwC Brasil, as cooperativas estão atentas e são as principais difusoras da inovação no seu raio de atuação. “Elas têm papel fundamental na promoção de tecnologias disruptivas, pois é imperativo fazer com que o produtor passe a utilizar inovações no campo”, defende. Para Ernani Carvalho da Costa Neto, coordenador do Núcleo de Estudos de Agronegócio da ESPM-Sul, as startups ligadas ao cooperativismo ainda estão pulverizadas. “Até este momento, não há um movimento claro. As cooperativas que perceberem isso antes poderão se aproveitar desse pioneirismo. Quem está fazendo esse investimento hoje são grandes empresas de tecnologia”, analisa o professor. “Essa postura será mais exigida no tempo competitivo que vivemos. O sucesso de hoje não assegura o de amanhã”, adverte. Ainda que em uma velocidade insuficiente, o campo tem atraído a atenção de jovens empreendedores. De acordo com estimativas da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), as agetechs crescem, em média, 70% ao ano, em um mercado que movimenta aproximadamente R$ 15 bilhões. Em menos de dois anos surgiram no Brasil mais de 75 novos negócios do gênero – 15% deles com receita anual superior a R$ 300 mil.

Historicamente um estado fomentador do agronegócio brasileiro, o Rio Grande do Sul também vem desenvolvendo múltiplas iniciativas de empreendedorismo tecnológico aplicado à economia rural. Um levantamento realizado pela ABStartups aponta o Rio Grande em quarto lugar em número de filiadas à entidade, superado apenas por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Voltando-se ao promissor mercado das startups, o Sebrae-RS criou o programa StartupRS Agrotech para fomentar as empresas que desenvolvem soluções para o agronegócio. Em sua primeira edição, o programa selecionou dez startups de diferentes regiões do estado para aprimorarem o trabalho entre junho e outubro de 2018. “Os dispositivos conectados e o uso de inteligência artificial e big data são algumas das tecnologias aplicadas para resolver problemas reais dessa cadeia que vai do campo à mesa. É uma revolução para o agronegócio brasileiro”, pontua Debora Chagas, coordenadora estadual de startups e economia digital do Sebrae-RS.

O Sicredi também vem trabalhando soluções digitais para integrar e aproximar suas atividades, tradicionalmente voltadas ao financiamento rural. Em março, a cooperativa de crédito inaugurou um núcleo de inovação no Tecnosinos, parque tecnológico instalado no campus central da Unisinos, em São Leopoldo (RS), para partilhar o mesmo ambiente das startups instaladas no local. Em julho, o Sicredi lançou o Inovar Juntos, programa que reunirá startups para apresentar soluções para desafios, como conectar associados pessoa jurídica e pessoa física (market place) e coleta de dados para perfil de investidor, por exemplo. A instituição financeira selecionará até 20 startups para um Pitch Day, em setembro, em que as empresas apresentarão suas propostas. As escolhidas passarão para as fases seguintes e, por fim, haverá uma avaliação dos resultados para possível parceria comercial.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deu um empurrão que pode alavancar o desenvolvimento de startups no país. A instituição criou o BNDES Garagem, que destinará R$ 10 milhões para apoiar a criação e aceleração de startups neste e no próximo ano. O banco fez, em julho, uma chamada pública para convidar empresas que dão apoio às startups, chamadas de aceleradoras. Depois dessa fase, a empresa vencedora selecionará, em novembro, 60 startups inovadoras. Em setembro do ano que vem, mais 60 serão escolhidas. Na seleção, a prioridade será dada àquelas que apresentarem soluções relacionadas ao planejamento estratégico do BNDES, como educação, saúde, segurança, economia criativa e meio ambiente. O objetivo do banco é reunir em um único espaço programas de criação de startups e de aceleração de negócios inovadores, local de coworking (compartilhamento de espaço e de recursos), laboratórios de inovação, universidades e escolas de negócios, gestores de fundos de investimentos e grandes empresas de tecnologia.


Inspiração no Vale do Silício


O Paraná está logo atrás do Rio Grande do Sul no ranking da ABStartups, ocupando o quinto lugar. Com auxílio técnico do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) lançou em abril o Programa de Inovação do Cooperativismo Paranaense visando a disseminar práticas inovadoras dentro das cooperativas. “Queremos fazer com que as cooperativas do Paraná tenham acesso às tecnologias de diagnóstico de competências e metodologias de implantação da inovação em seus ambientes”, projeta José Roberto Ricken, presidente do Ocepar. Em agosto, um grupo de presidentes de cooperativas deve viajar a Boston, nos Estados Unidos, para um período de imersão no MIT, como também em startups da região.

Desde o ano passado, a Frísia Cooperativa Agroindustrial, de Carambeí (PR), realiza a DigitalAgro (foto), uma feira que apresenta soluções inovadoras para as cooperativas de produção do estado. A iniciativa foi fruto de uma viagem dos dirigentes da Frísia ao Vale do Silício, na Califórnia. “Vimos que era praticamente impossível ter sucesso na agricultura e na pecuária sem ter essas inovações por perto. Quando retornamos, começamos a discutir que precisávamos ter um evento voltado à agricultura”, relembra Emerson Moura, superintendente da cooperativa.

Com aporte de R$ 5 milhões em sua segunda edição, a Digital Agro não pretende concorrer com feiras já consolidadas como a Expodireto, de Não-Me-Toque (RS), por exemplo. Tanto é que o conceito é totalmente diferente: o objetivo é ser reconhecida como a primeira feira agrícola 100% voltada para inovação no Brasil. Moura percebe que eventos como a Digital Agro são essenciais para a modernização do modelo do cooperativismo, que é desenvolvido da mesma forma há décadas. “Se não tiver aplicação das novas tecnologias que fazem revigorar suas margens e aumentar a rentabilidade, e se continuar alocada na produção em que os custos vêm aumentando e as margens vêm diminuindo bastante, a cooperativa está fadada a desaparecer”, analisa. 

A Digital Agro faz parte de um projeto maior da cooperativa, o Centro de Inovação Frísia, que pretende discutir com as startups novas tecnologias que possam ser aplicadas às atividades da agroindústria. No que depender da vontade dos cooperativistas empreendedores do Paraná, Carambeí pode se tornar, quem sabe, a capital do “Vale do Silício” rural que começa a fincar raízes em toda a região Sul. 


Um hub para startups

 Com diversas ramificações, a área da saúde foi um dos setores mais impactados pelo advento das startups. Uma das healthtechs mais conhecidas do país é a Dr. Consulta, sistema que conecta uma rede de centros médicos, oferecendo consultas e exames que podem ser realizados até no mesmo dia da solicitação. É uma alternativa para pessoas que não podem investir muito em saúde, pois não há mensalidade: os pacientes pagam apenas pelo serviço que recebem. Atenta ao movimento do setor, a Unimed Porto Alegre (foto) lançou, no ano passado, o programa de aceleração Bem Startup Unimed, em parceria com a aceleradora Grow+. O programa consiste em alocar uma empresa dentro da estrutura da cooperativa durante seis meses para que a startup possa auxiliar a Unimed em seus processos e também ganhar know-how e experiência de mercado. É como se a cooperativa fosse um hub de startups, emprestando sua credibilidade às pequenas empresas. Além disso, a Unimed também investe R$ 100 mil na startup – metade em consultoria com profissionais especializados em administração de empresas e novos negócios. 

O grande desafio da Unimed tem sido mudar sua cultura organizacional para a inserção de uma startup nas rotinas de trabalho. “Todas as empresas tradicionais trabalham com um formato próprio. A novidade gera um desconforto na medida em que se começa a trazer startups para dentro e fazer com que elas trabalhem juntamente com os funcionários”, revela o médico Salvador Gullo Netto, diretor de provimento e líder do programa. Para dar início à primeira edição do projeto, a Unimed Porto Alegre alocou apenas uma empresa em suas operações. A startup realiza a análise técnica de exames laboratoriais de rotina realizados pela cooperativa. A opção por ter apenas uma investida é momentânea, pois faz parte da estratégia abranger sucessivamente mais empresas ao longo dos anos. A segunda edição do programa está em fase final de preparação, e outras duas devem ocorrer em 2019. “Não estamos muito preocupados com o número de empresas, mas sim com o resultado que as healthtechs podem nos proporcionar, no sentido de mexer com a cultura da cooperativa médica”, avalia Gullo Netto.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Registro de transferência de titularidade precisa de publicação no Inpi, fixa STJ

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Ainda que a transferência de titularidade de uma marca seja feita entre as partes, com assinatura do documento de cessão, o ato só é válido perante terceiros depois da averbação e publicação na Revista de Propriedade Industrial. Isso porque o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) é o órgão oficial para analisar direitos relativos à propriedade industrial.

O entendimento foi fixado pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ao reformar acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo e autorizar a penhora de marca. A decisão garantirá créditos em processo de execução, devido a ausência de publicação do ato de transferência da marca pela autarquia.

De acordo com a relatora, ministra Nancy Andrighi, os artigos 136 e 137 da Lei de Propriedade Industrial dispõem que a cessão de marca deve ter anotação pelo Inpi.

No caso, a ministra afirmou que não houve controvérsia sobre a ausência de decisão de acolhimento do pedido de anotação da cessão. Na verdade, segundo ela, há elementos que indicam que o requerimento formulado pelos devedores no Inpi não foi deferido porque faltaram esclarecimentos sobre o objeto social da empresa.

“Não tendo havido publicação da anotação da cessão do registro marcário em questão (lembre-se que o pedido dos recorridos sequer foi deferido pela autarquia), é de se reconhecer a possibilidade da penhora da marca conforme postulado pelos recorrentes, pois a transferência, em razão do não cumprimento do disposto no artigo 137 da LPI, não operou efeitos em relação a eles”, disse  a ministra.


Penhora 

 
As partes firmaram acordo em que foi reconhecida dívida de R$ 400 mil, acerca de prestação de serviços advocatícios. Como o débito não foi pago, os credores ajuizaram execução em que pleitearam a penhora da marca de titularidade dos devedores.

Em primeiro grau, o magistrado considerou que havia provas de que os executados cederam e transferiram a titularidade da marca a terceiros em 2006, com pedido de anotação junto ao Inpi em 2007.

O pedido de penhora foi negado e a decisão foi mantida pelo TJ-SP, sob o argumento de que não seria possível deferir pedido de penhora da marca que não pertence mais aos executados. Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ.


Clique aqui para ler o acórdão.
REsp 1761023


 https://www.conjur.com.br/2018-out-14/registro-troca-titularidade-publicacao-inpi

Industrializados perdem participação nas exportações em 2018


As vendas de automóveis para o exterior caíram 13,8% de janeiro a setembro, revela MDIC 

 

Por Agência Brasil 

 

redacao@amanha.com.br
As vendas de automóveis para o exterior caíram 13,8% de janeiro a setembro, revela MDIC


Mesmo com a recuperação significativa das exportações nos últimos anos, os produtos industrializados continuam a perder participação nas vendas externas brasileiras. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a fatia dos manufaturados nas exportações caiu de 36% nos nove primeiros meses de 2017 para 35,2% no mesmo período deste ano. 

Em valores absolutos, a venda de bens industrializados acumula alta de 6,8% nos nove primeiros meses do ano na comparação com os mesmos meses de 2017, totalizando US$ 63,2 bilhões. Este é o maior valor para o período desde 2013. As vendas de produtos básicos, no entanto, têm apresentado melhor desempenho neste ano, reduzindo o peso dos manufaturados na balança comercial. Beneficiadas pela alta da cotação internacional do petróleo e da soja, as exportações de produtos básicos saltaram 15,7% nos nove primeiros meses do ano. A participação dos bens primários nas exportações totais subiu de 47,6% de janeiro a setembro do ano passado para 50,4% nos mesmos meses de 2018.

As exportações de manufaturados têm sido beneficiadas pela alta do dólar, que subiu 21,9% de janeiro a setembro. O câmbio torna mais competitiva a venda de produtos industrializados, enquanto as exportações de commodities (bens primários) dependem mais das cotações internacionais de minérios e de produtos agropecuários. Segundo o MDIC, o bom desempenho das exportações de manufaturados em 2018 concentra-se em cinco produtos. A maior alta, de 353%, foi registrada nas vendas de plataformas para extração de petróleo na comparação entre os nove primeiros meses de 2018 e os mesmos meses do ano passado. Em seguida, vêm partes de motores e turbinas para aeronaves (101,2%), óleos combustíveis (70,2%), motores para veículos e partes (24,7%) e máquinas para terraplanagem (22,9%).

As vendas externas de produtos industrializados poderiam registrar desempenho melhor não fosse a situação nos países vizinhos. A crise cambial na Argentina, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, prejudicou as exportações de veículos. De janeiro a setembro, o valor das vendas de automóveis de passageiros caiu 13,8%. As exportações de veículos de carga recuaram 14,2%. A Argentina é um dos principais compradores de veículos brasileiros.



 http://www.amanha.com.br/posts/view/6401

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Dólar recua em linha com exterior e favoritismo de Bolsonaro no Datafolha


O dólar opera em queda ante o real na manhã desta quinta-feira, 11, pressionado pela desvalorização da divisa dos EUA no exterior e após a pesquisa Datafolha divulgada na noite de quarta-feira (10) indicar um favoritismo de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno da eleição presidencial – com 58% dos votos válidos ante seu adversário Fernando Haddad (PT), com 42%.

A perspectiva do feriado nacional de sexta-feira, 12, no entanto, pode ainda apoiar alguma demanda defensiva durante a sessão, por precaução.

Ainda que essa sondagem venha reforçar a percepção no mercado de que a eleição de Bolsonaro pode estar bem encaminhada, a correção de baixa do dólar ante o real está mais discreta. Isso porque estão surgindo dúvidas em relação à agenda liberal do presidenciável do PSL, que não participará de nenhum debate até o dia 18, por determinação médica.

Bolsonaro vem mudando o tom de seu discurso sobre privatizações e reformas. Passou a defender um processo de reforma da Previdência mais moderado do que o esperado e já sinalizou ser contrário às privatizações do setor elétrico e de bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. 

Também já indicou restrições à venda de ativos da Petrobras e defendeu nesta quarta-feira a adoção de 13º salário a beneficiários do programa Bolsa Família. Neste caso, ele quer atrair votos sobretudo no Nordeste do País, região onde ele perdeu para seu adversário Fernando Haddad no primeiro turno.
Na noite de quarta-feira, Bolsonaro afirmou em entrevista à RecordTV que o economista Paulo Guedes, que o assessora, tem carta branca para formular propostas, mas que somente “bate o martelo” depois de falar com ele. 

O mercado está de olho em Guedes, que está sendo investigado pelo Ministério Público, e poderá, se o capitão reformado for eleito, ser seu ministro da Fazenda. O “chefe” pediu medidas no sentido de ter um “dólar compatível e uma taxa juros menor possível”. Para isso, o time econômico da campanha de Bolsonaro prepara estudo detalhado para medidas de estímulo ao mercado de capitais e desoneração dos investimentos no setor produtivo.

Haddad, por sua vez, conseguiu nesta quarta apoios importantes do PDT, da Rede e da corrente “esquerda para valer”, do PSDB, que reúne cerca de 5 mil militantes nas redes sociais e deve participar de um ato público com o candidato nesta Quinta-feira.
Também na quarta, o ex-ministro e ex-governador Jaques Wagner (PT), senador eleito pela Bahia e um dos coordenadores da campanha de Haddad, afirmou que nomes de ministros de um eventual governo petista podem começar a ser anunciados antes da eleição a fim de acalmar os eleitores desconfiados com o partido.

Segundo Wagner, essa preocupação tem sido demonstrada por Haddad e, por isso, as pastas da Educação, Fazenda e Justiça podem ter divulgados “nomes que tranquilizem a população”.

Os investidores tende a monitorar as próximas pesquisas, propostas econômicas e os nomes de ambos os lados que poderão eventualmente compor os futuros governos.

No exterior, o ambiente negativo generalizado reflete receios de aperto monetário mais rigoroso nos EUA, além de maiores tensões comerciais entre EUA e China e perspectivas de expansão econômica global mais fraca. 

Às 9h52 desta quinta-feira, o dólar à vista caía 0,83%, a R$ 3,7322. O dólar futuro de novembro recuava 0,60%, a R$ 3,7405.


Inovação à brasileira


Como o agronegócio vem se tornando um dos grandes laboratórios de P&D do país – e a contribuição do Sul nesse cenário

 

Por Karine Menoncin

 

karine.menoncin@amanha.com.br
Como o agronegócio vem se tornando um dos grandes laboratórios de P&D do país – e a contribuição do Sul nesse cenário


Enquanto o Brasil estava prestes, em 1958, a ser campeão do mundo pela primeira vez, a estrutura de dupla hélice do DNA já havia sido descoberta em 1953; o Sputnik I recém havia sido lançado ao espaço, em 1957, e a medicina dava seus primeiros passos rumo ao transplante de órgãos. Sem o mesmo alarde, distante dos holofotes urbanos, outras descobertas mudariam a paisagem econômica ao longo da segunda metade do século 20, e iriam compor o que se chamou de Revolução Verde. O uso de máquinas e insumos agrícolas redimensionou a escala da produção de alimentos ao oportunizar um grande salto de produtividade, baseado no melhoramento genético, uso de fertilizantes e sistemas de irrigação. Havia, porém, uma lacuna – uma certa despreocupação com a sustentabilidade da revolução agrícola. Cinco décadas depois, este é um dos focos de atenção dos laboratórios e centros de pesquisa que comandam a inovação no campo brasileiro, em busca de tecnologias que não apenas aumentem a produtividade, mas otimizem o tempo do produtor, reduzam o consumo de insumos e atenuem os impactos ambientais. 

No Sul, a Stara, sediada em Não-Me-Toque (RS), é uma das empresas que abraçaram com maior sucesso essa missão. Desde o sucesso da sua capinadeira dirigível com braços flutuantes, em 1970, a empresa busca antecipar-se às necessidades dos produtores. “Fomos chamados de loucos quando falamos que um trator iria se comunicar com um satélite, através de um GPS. Mas estávamos enxergando nessa tecnologia uma grande oportunidade”, recorda Gilson Trennepohl, presidente da companhia. Se a conexão via GPS já é uma realidade em boa parte das lavouras, a fabricante de máquinas agrícolas aposta agora em uma plataforma conectável com a Telemetria Stara, tecnologia que permite ao produtor acessar em tempo real e de forma simples e intuitiva as informações dos equipamentos – basta que tenha à mão um dispositivo móvel, como smartphone ou tablet, com acesso à internet. Dados como o mapa de dosagem, de velocidade e transpasse [ato de monitorar para não aplicar defensivo em uma área onde o produto já foi usado] são armazenados na nuvem e integrados com as plataformas de gestão, gerando informações importantes para auxiliar o produtor na tomada de decisão na propriedade. Essa e outras iniciativas fizeram com que a empresa fosse reconhecida pela multinacional alemã SAP, com quem mantém parcerias de pesquisa, como o Melhor Cliente Referência da marca no Brasil, em 2017. Hoje, 55% da receita da Stara é fruto de produtos lançados nos últimos três anos.

Outro exemplo do Sul é a Falker Automação Agrícola. Quando nem existia o conceito de startups, a empresa já despontava na incubadora tecnológica da Cientec, fundação do governo gaúcho extinta recentemente. Há 13 anos, a companhia desenvolve produtos com tecnologia própria, fornecendo equipamentos para coleta, organização e uso de informações agronômicas. Um de seus últimos lançamento é o FarmLink,  sistema sem fio que permite monitorar a umidade do solo em tempo real, proporcionando um controle efetivo da irrigação. A conexão via internet é opcional para permitir acesso remoto, já que a comunicação entre as antenas é feita por rádio até a estação central. Dessa forma, os dados estão sempre disponíveis na fazenda. É investindo na funcionalidade dos seus produtos que a empresa já atua em mercados de mais de dez países da América Latina. 

“É importante conhecer bem o agronegócio para, então, desenvolver soluções para o produtor. A tecnologia precisa ser acessível para quem está no campo. É o caso dos drones, que só farão parte do dia a dia do agricultor quando tiverem um manuseio mais fácil e um valor realmente acessível”, ensina Marcio Albuquerque, diretor da Falker. Atualmente, um aparelho como esse pode custar até R$ 100 mil. O negócio é tão promissor que despertou até mesmo o interesse de companhias de outras áreas, como a fabricante de equipamentos de informática Positivo, do Paraná. A empresa criou a Eleva, startup para comercializar seu próprio drone (veja mais detalhes em “A solução que vem do céu”, ao final desta reportagem). 


Melhoramento genético

 A tecnologia, entretanto, não está embarcada só nas máquinas inteligentes ou satélites, mas em cada grão produzido, literalmente. Com a genética e com a biotecnologia, as plantas ficaram mais resistentes a ataques de pragas e mais bem adaptadas às condições climáticas de cada região. Os próprios defensivos agrícolas são desenvolvidos com moléculas que permitem a seletividade, para que atuem de forma localizada e, assim, gerem menor impacto ambiental.  Os avanços também estão onde os olhos sequer podem perceber. A nanotecnologia trabalha com partículas 50 mil vezes menores do que a espessura de um fio de cabelo, e entre muitas outras possibilidades permite investigar como são fibras, células, partículas e moléculas para, então, desenvolver sensores  capazes de identificar doenças e até mesmo comandar sistemas nanoparticulados que liberam insumos agrícolas e veterinários (vacinas e fármacos) de forma gradual, prolongando o tempo de efeito.

Foram avanços como esses que permitiram aumentar a produção agrícola enormemente. Enquanto a área plantada cresceu 65% nos últimos 25 anos, a produtividade no Brasil foi quase multiplicada por quatro, de acordo com estudos feitos pelo Banco do Brasil. É essa matemática que explica a proeza de Santa Catarina que, mesmo com apenas 1,3% do território nacional, é o quinto maior produtor brasileiro de alimentos. “Nossa tecnologia está dentro de cada grão exportado, já que o mercado internacional é muito qualificado e requer que estejamos aptos, especialmente na produção de commodities”, destaca Luiz Antônio Palladini, diretor de ciência, tecnologia e inovação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Com 13 estações de pesquisa, a Epagri se concentra no melhoramento genético de plantas, além de pesquisar novas técnicas de manejo e pós-colheita para reduzir o uso de insumos e gerar um produto mais limpo, de menor contaminação do meio ambiente – tanto para o produtor quanto para o consumidor. O retorno é efetivo: segundo o balanço social da estatal, a cada real investido na Epagri, os brasileiros foram beneficiados com R$ 5,88. No ano passado, o retorno global das tecnologias geradas pela empresa de pesquisa catarinense, considerando a contribuição de todos os agentes para o uso dessas soluções, foi estimado em R$ 5,2 bilhões (veja mais detalhes em “Os entraves da pesquisa” quais são os fatores que ainda freiam o desenvolvimento no agronegócio).  

No Paraná, mais de 240 variedades de plantas melhoradas, como trigo, algodão, arroz, cítricos, feijão, mandioca e batata, foram desenvolvidas em 46 anos pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Ao todo, são 16 fazendas experimentais, 23 estações agrometeorológicas e 25 laboratórios de diferentes áreas de especialidade. “Hoje, trabalhamos especialmente com o melhoramento de milho, trigo, arroz e feijão. Mas nossas frentes de trabalho também abarcam a chamada agricultura contemporânea, com um programa voltado à pesquisa e ao desenvolvimento de energias renováveis, a partir de biodiesel, biomassa, biogás e energia solar e eólica”, conta o diretor de pesquisa Tiago Pellini. Uma vertente menos aparente, mas igualmente importante, é a das tecnologias de processo, como o plantio direto e a rotação de culturas. “É importante incentivar essas práticas para evitar o esgotamento do solo. Aqui no Paraná, na safra de verão, 90% dos hectares são ocupados pela soja. Antes, tínhamos mais equilíbrio com o milho, que hoje está reduzido a menos de 10% da área total de verão”, admite Pellini.

O cenário do restante do Brasil não foge disso. Se há quatro décadas era impensável produzir grãos no Cerrado, a implementação de tecnologias possibilitou o cultivo em áreas anteriormente consideradas improdutivas por conta da baixa fertilidade natural e acidez acentuada. No início da década de 1970, aproximadamente 4,5 milhões de hectares estavam ocupados com agricultura. Em 2016, a área passava de 20,5 milhões, segundo a Embrapa. “A tecnologia foi capaz de incorporar o Cerrado [na produção brasileira de grãos], mantendo a biodiversidade da região. Conseguimos também produzir soja em regiões mais frias e hoje se colhe o grão de norte a sul. Fizemos adaptação de cultivares e conseguimos grande penetração em várias regiões”, orgulha-se Kepler Euclides Filho, pesquisador da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

O desenvolvimento genético de animais é um capítulo à parte. O grupo gaúcho Vibra é apenas um exemplo. A companhia migrou da produção de frangos para a genética avícola. Hoje, a companhia trabalha em dois segmentos diretamente ligados: a multiplicação genética de matrizes de aves com a marca Agrogen e a produção e comercialização de carne de frango com as marcas Nat Verde e Ávia. A empresa atua em conjunto com a Cobb-Vantress, líder mundial das casas genéticas de aves. “Ocupamos uma posição de destaque na multiplicação genética de matrizes de aves no país. E, ainda, estamos entre as poucas indústrias brasileiras que detêm o controle total da cadeia produtiva – incluindo granjas, incubatórios, laboratórios, fábricas de ração e frigoríficos”, comemora Gerson Muller, diretor-superintendente do Grupo Vibra. 

 Santa Catarina também adicionou ousadia à avicultura. Em março, o Estado se tornou o primeiro do mundo a ter um projeto de compartimentação da avicultura de corte. No sistema de produção fechado da Seara Alimentos de Itapiranga, os ovos, os pintainhos, o abate e os caminhões de ração devem circular dentro de um limite territorial. O frango precisa nascer, desenvolver-se e ser abatido dentro de uma unidade geográfica – neste caso, em 28 municípios do extremo-oeste catarinense. A intenção é reduzir o risco de introdução de doenças, aumentando o controle de qualidade.


Do GPS ao big data 

 Nos anos 1990, um sistema eletrônico de navegação militar chegava aos consumidores de todo o mundo. O GPS era uma novidade – ainda mais no campo. Rapidamente, embarcou nas máquinas agrícolas e tornou o trabalho mais eficiente a partir de sistemas que possibilitam a geração de mapas de produtividade. Tornou-se possível conhecer a fundo os aspectos da lavoura, como as características físicas, químicas e de compactação do solo, além de controlar possíveis doenças e pragas. Com isso, monitora-se a variabilidade da produção, tanto sob o aspecto quantitativo como da qualidade dos grãos. “Identificando as falhas, o agricultor consegue gerenciar melhor a utilização dos insumos no momento certo, no local que precisa e na quantidade adequada. Além do aumento da produtividade, também é um sistema que promove a sustentabilidade”, assinala José Paulo Molin, presidente da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP) e professor da USP. 

Se o GPS já transformou os processos, desde a preparação do solo até a colheita, os novos ventos que sopram parecem aposentar de vez os cadernos de anotações. A agricultura digital é muito mais do que uma roupagem nova para velhos conceitos. Nessa nova revolução, agora composta por bytes, a utilização de sensores refinados e robôs com inteligência artificial é uma realidade bastante próxima. A apropriação do big data – um grande conjunto de dados armazenados – permite criar simulações computacionais que indicam como cada cultura se comporta em diferentes condições, a partir de informações coletadas para identificar padrões. Para Pellini, do Iapar, é preciso encarar essa nova etapa. “As áreas clássicas das ciências agronômicas precisam se integrar a uma série de conhecimentos de áreas não clássicas das ciências agrárias, como as possibilidades provindas da automação, TI, robótica, inteligência artificial e bioinformática. A existência de todos esses dados não prescinde da necessidade de se ter gente preparada para trabalhar com isso”, pondera o diretor do Instituto Agronômico do Paraná.  

A agricultura de precisão já beneficiou milhares de cooperados da Coamo em toda a área de ação da cooperativa no Paraná, em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul, desde 2012. O programa é respaldado pela pesquisa e conta com tecnologia de ponta para o trabalho que inclui desde a retirada do solo para análise até a aplicação dos corretivos. Foi essa tecnologia que solucionou o problema da lavoura da família Bocato, de Boa Esperança, na região centro-oeste do Paraná. A primeira área recebeu a agricultura de precisão há três anos. Como o resultado foi satisfatório, os Bocato começaram a aplicar em outra parte da propriedade. A técnica já foi aplicada em 90% dos 130 alqueires. 

Cleber Bocato conta que começou a notar melhora já no primeiro ano após a aplicação dos corretivos. “Foi uma grande mudança. A área era bastante manchada e ficou uniforme, igualando a produtividade e aumentando a produção”, sintetiza. Ele salienta que a tecnologia reduziu o custo, aumentando a produção. “Houve ganhos de produtividade, pois as manchas mostravam que as lavouras tinham algum tipo de deficiência, o que levava a diminuir a colheita nessas áreas. Agora, está tudo uniforme, produzindo igual”, conta Cleber, que trabalha em parceria com o pai José e os irmãos Edvaldo e Luiz.

Segundo o engenheiro agrônomo Luiz Oliveira, do Departamento Técnico (Detec) da Coamo, em Boa Esperança, os cooperados da região estão buscando novas tecnologias para que possam melhorar a produtividade e a renda das famílias. “No caso da família Bocato, a ideia de fazer a agricultura de precisão surgiu após várias tentativas sem sucesso de resolver um problema de baixo rendimento em um lote da propriedade. Variedades e fungicidas foram trocados, sistemas aprimorados, mas nada de saber o que acontecia. Até que a agricultura de precisão mostrou o que precisava ser corrigido. A resposta veio já na primeira safra, aumentando a produtividade na área”, comenta Oliveira. 

A Cotrijal desenvolve o Ciclus, que difunde a tecnologia obtida através de outro projeto, o Aquarius. Criado ainda no ano 2000, o Aquarius é voltado à pesquisa em agricultura de precisão. Os primeiros estudos foram realizados por uma parceria entre as empresas Stara, Monsanto, Massey Ferguson e Serrana Fertilizantes. A Fazenda Anna, no interior de Não-Me-Toque (RS), foi o campo de provas para os experimentos. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) passou a atuar no projeto em 2004, mesmo ano em que o primeiro implemento concebido pela pesquisa chegou ao mercado. No ano seguinte, a Cotrijal também integrou-se, quando a cidade passou a ser denominada a Capital Nacional da Agricultura de Precisão. “Aqui na região da Cotrijal temos produtores colhendo 66 sacas a 70 sacas de soja por hectare e 170 sacas a 240 sacas de milho por hectare – e isso é uma média, o que significa dizer que há quem colha 80, 90 sacas de soja. Uma produtividade excelente, que nos orgulha, porque é referência para todo o país.”, destaca Nei Mânica, presidente da Cotrijal. Em solo gaúcho também se encontra a primeira instituição de ensino superior do Brasil voltada exclusivamente ao ensino, pesquisa e extensão em cooperativismo: a Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo – Escoop, com sede em Porto Alegre. A instituição foi avaliada com conceito 4 (numa escala até 5) pelo Ministério da Educação. 


Do boi ao peixe

 Em menor escala, a pecuária e a aquicultura também vêm incorporando avanços. Uma parceria conjunta da Embrapa, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP) investirá R$ 57 milhões nos próximos quatro anos para oferecer pacotes tecnológicos e pesquisas científicas necessárias de modo a elevar a produção de tambaqui, tilápia e camarão. O programa BRS Aqua pretende melhorar desde a qualidade das matrizes reprodutoras até a tecnologia de processamento de rações, já que esse insumo responde por 82% do custo. Para gerenciar o maior rebanho comercial do mundo, o Brasil também investe em soluções de bem-estar animal, nutrição, sanidade e rastreabilidade. “Há 40 anos importávamos carne. Hoje, a genética para o desenvolvimento de novos animais gerou uma grande transformação para a cadeia da carne, tanto de bovinos quanto suínos e ovinos. Melhoramos a genética de forrageiras, fazemos a seleção e oferta de cultivar e, atualmente, somos exportadores. No leite, a genética e o manejo também cresceram muito. Enfim, em qualquer área que olharmos, tem protagonismo dos produtores nesse processo”, sublinha Kepler Euclides Filho, pesquisador da Embrapa há 44 anos.

Aliadas aos produtores, as cooperativas são parceiras no campo e nos laboratórios. São elas os principais pontos de acesso da agricultura familiar e dos pequenos produtores com o que vem sendo desenvolvido em termos tecnológicos. Em Santa Catarina, ganha espaço o uso da tecnologia RFID baseada no uso da radiofrequência para aperfeiçoar o sistema de rastreabilidade. O projeto, conhecido como Canal Azul, permite o uso de uma espécie de etiqueta eletrônica inteligente implantada nos lacres dos contêineres, controlando todo o processo de preparação, transporte aos portos, embarque e chegada ao destino final, no exterior. 


Os entraves da pesquisa

 Para chegar às colheitadeiras inteligentes, que se ajustam sobre o melhor caminho, ou às estações de irrigação que interagem com sensores meteorológicos, ligando ou desligando conforme necessário, foi necessário investir muito tempo – e dinheiro – em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). “Para produzir uma planta ou 1 milhão delas, a estrutura é a mesma. Então, é realmente custoso [fazer pesquisa]”, confirma Luiz Antônio Palladini, diretor do Epagri. Centros de pesquisa financiados por verbas públicas amargaram um corte de 25% dos investimentos em relação ao ano passado. O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) foi limitado a R$ 4,6 bilhões.

A alternativa encontrada por centros de pesquisa como a Embrapa foi intensificar parcerias para manter projetos em andamento. “Os investimentos estão muito baixos, pois o Brasil tem vivido dificuldades econômicas e passamos por um contingenciamento nos últimos três anos. Esperamos que a recuperação da economia ajude a pesquisa”, preocupa-se Kepler Euclides Filho, pesquisador da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa. Em 2017, as despesas com pesquisa foram de aproximadamente R$ 66,8 milhões – um terço abaixo dos R$ 96,9 milhões investidos na área em 2016. Esse foi o menor orçamento desde 2010.

Em Santa Catarina, a Epagri conta com 180 pesquisadores focados em pesquisa aplicada. Com safras recordes nos últimos anos, os orçamentos destinados à empresa de pesquisa foram mantidos de forma estável. “Por sorte, Santa Catarina tem acreditado no desenvolvimento e pesquisa e, então, vem proporcionando recursos. É suficiente, mas não tudo que desejaríamos. Tem de se aplicar sempre mais verbas, pois a P&D pode estagnar se houver um acúmulo de dois ou três anos sem aporte”, defende Palladini. Só no instituto paranaense Iapar, mais de mil pessoas – entre pesquisadores, analistas, técnicos agrícolas e servidores – dedicam-se a diferentes programas de pesquisa.


A solução que vem do céu

 Não faz muito tempo que a palavra drone entrou no vocabulário dos brasileiros. Mas, se antes eram utilizados basicamente para a captura de imagens áreas, hoje os superequipamentos já estão nas mais diversas funções, desde a entrega de encomendas ao reconhecimento de situações de perigo em grandes multidões. Na agricultura, encontrou um habitat natural. Um drone bem empregado acaba sendo uma espécie de funcionário, de olhar apurado e presteza no trabalho, com a vantagem de vigiar tudo do alto. Apostando nisso, a startup Eleva lançou o superdrone Eleva Spray 150. O equipamento é a primeira incursão no agronegócio do Grupo Positivo, holding paranaense com investimentos no setor de ensino, gráfica, entretenimento e na produção de computadores, tablets e celulares. O protótipo pesa 150 quilos e tem capacidade de estocar até 80 litros de insumo por operaçã

Medindo cinco metros de largura e com seis metros de barra de pulverização, o Eleva Spray 150 está em processo de desenvolvimento final para comercialização já a partir do ano que vem, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, Argentina e Austrália, mercados globais com características semelhantes às grandes áreas de produção rural brasileiras. Além do Vant – veículo aéreo não tripulado –, o sistema conta com uma estação de controle, a GS – Ground Station, de onde é possível coordenar a pilotagem manual ou automatizada. “Uma vantagem da Eleva é que a legislação brasileira para uso de Vants é baseada na europeia, que é a mais restritiva mundialmente. Portanto, as certificações no Brasil vão garantir que o equipamento esteja preparado para passar nos testes no exterior também. Essa é a principal premissa para ganharmos escala com agilidade”, projeta Celso Faria de Souza, diretor técnico da Eleva.

Um dos trunfos do superdrone é o efeito downwash, que impulsiona para baixo os defensivos, gerando economia de insumos e mais segurança operacional. Além disso, o equipamento pode ser utilizado à noite, quando algumas condições estão mais favoráveis à pulverização: maior umidade, menor temperatura, menos ventos e maior facilidade da planta para absorver os defensivos sistêmicos, entre outros. Adicionalmente, há diversas pragas com comportamento noturno, tornando esse tipo de pulverização mais efetiva e menos danosa à natureza e aos insetos, como as abelhas.