Confiantes na expansão da economia, montadoras, redes de restaurantes, empresas de tecnologia e grupos varejistas voltam a contratar
As
últimas semanas do ano estão movimentadas além do normal na sede da
empresa sul-africana de tecnologia Dimension Data no Brasil, no bairro
paulistano do Morumbi. Enquanto o time operacional acelera a entrega dos
projetos de 2018 para seus 350 clientes no País – entre eles BR
Distribuidora, Riachuelo, Hospital Oswaldo Cruz e Neoenergia –, o
presidente Jefferson Anselmo acompanha in loco a contratação de 200
novos funcionários. Eles serão incorporados, com salário médio inicial
de R$ 6 mil, ao quadro de empregados da companhia, hoje com 410 pessoas.
O processo seletivo, focado em candidatos com experiência nas áreas de
tecnologia, marketing e comercial, é o pilar do maior plano de expansão
da subsidiária brasileira, uma das que apresenta o melhor desempenho
global do grupo, dono de um faturamento de US$ 8 bilhões. Durante o ano,
as contratações estavam congeladas até que as turbulências políticas e
econômicas se dissipassem.
“Recebemos da matriz a missão de dobrar o
tamanho da nossa operação até 2020, algo que só é possível com o
recrutamento de novas mentes brilhantes”, disse Anselmo à DINHEIRO,
durante uma pausa entre uma entrevista e outra. “Como uma empresa de
tecnologia, nossa maior riqueza é o conhecimento, a propriedade
intelectual que está nas pessoas.”
A missão do executivo, no entanto, não tem sido fácil. Segundo
cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
outubro 12,3 milhões de desempregados buscavam um lugar ao sol no
mercado de trabalho. Mesmo assim, para conseguir preencher as vagas, a
Dimension Data teve de fazer parceria com ONGs dedicadas à recolocação
profissional de refugiados, com universidades e escolas técnicas, além
de algumas empresas caça-talentos. “O desemprego encheu o mercado de
novos candidatos, mas não solucionou o endêmico desafio da baixa
qualificação da mão-de-obra brasileira”, afirmou Anselmo, que comemorou a
contratação de engenheiros sírios e venezuelanos nesta semana. “Por
isso, cada vez mais, compor uma equipe competente e bem-treinada exige
paciência e investimento para reter talentos.”
A retomada do emprego, de fato, está promovendo um rali entre as
grandes empresas. Para alcançar o objetivo de dobrar de tamanho nos
próximos 12 meses, a empresa de TI Topmind decidiu pulverizar seu
processo de contratação de 126 funcionários nas próximas semanas, na
cidade paranaense de Londrina e na capital paulista. Outras 80 vagas
serão preenchidas nas unidades de Minas Gerais e Rio de Janeiro, algo
ousado para uma empresa de 360 funcionários. “Definimos um projeto para
contratar e, principalmente, fidelizar esses novos colaboradores”, disse
a CEO da empresa, Sandra Maura. A estratégia, segundo ela, consiste em
oferecer uma remuneração atrativa e um ambiente de trabalho agradável.
“Mesmo com tanta gente desempregada no mercado, temos de escolher os
melhores, treinar os profissionais e buscar um índice baixo de
rotatividade. A nossa está na casa de 2%, abaixo da média geral de 5%.”
TECNOLOGIA
O segmento que promete ser um dos principais palcos da disputa por bons
currículos nesse novo cenário é o tecnológico. “O setor é o que mais
vem demandando vagas”, diz Fernando Morette, diretor de operações do
site de empregos da Catho. Dos 30 cargos com maior oferta de vagas
disponíveis atualmente na plataforma, 12 são diretamente relacionados a
essa atividade. A indiana TCS, de serviços de TI, é uma das empresas
cuja área de RH tem cumprido uma agenda bem movimentada nos últimos
meses. Desde março, a companhia ampliou sua equipe em mais de 500
pessoas. E agora vai contratar mil profissionais no Brasil até julho de
2019. O plano é preencher metade dessas vagas até o fim do ano. As
oportunidades se dividem entre o centro de desenvolvimento, instalado em
Londrina (PR), e os escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro.
“Temos percebido que os nossos clientes estão mais otimistas”, afirma
Tushar Parikh, CEO local da TCS. O grupo atende grandes empresas em
segmentos como finanças, mineração, bens de consumo, e óleo e gás.
“Nosso objetivo é chegar a 4 mil profissionais no prazo de dois a quatro
anos.”
Especializada em transformação digital, a brasileira CI&T também
está à caça de programadores, desenvolvedores e afins. A empresa abriu
480 vagas neste ano, das quais 100 ainda estão disponíveis nas operações
em Campinas, São Paulo e Belo Horizonte. “Crescemos a uma taxa média de
30% nos últimos anos”, diz Marcelo Trevisani, executivo-chefe de
marketing da CI&T, dona de uma receita de R$ 498 milhões em 2017.
“Se conseguimos navegar bem em um ambiente que não era favorável, a
expectativa é que a demanda aumente ainda mais com a economia em
crescimento.” As contratações acompanham investimentos recentes da
companhia, entre eles, a transformação de seu centro de tecnologias
digitais, em Belo Horizonte, em um hub de exportação para projetos
internacionais. Hoje, 40% do faturamento já vem do exterior, por meio de
clientes como Coca-Cola, McDonald’s e Johnson & Johnson.
A expectativa pela retomada não está restrita às empresas de
tecnologia. A consultoria americana de recrutamento Robert Half
antecipou à DINHEIRO dados da 6ª edição do Índice de Confiança,
realizada em novembro e que será divulgada na próxima semana. Foram
realizadas 1.161 entrevistas com profissionais empregados, desempregados
e responsáveis pelo RH em companhias de diversos setores. O índice, que
mede a percepção quanto ao mercado de trabalho, foi de 55,3, o maior da
série histórica, iniciada em julho de 2017. Entre os recrutadores, 70%
acreditam que 2019 será melhor que 2018 em relação à criação de vagas.
No âmbito geral, outros 70% apontaram a definição do cenário eleitoral
como o fator preponderante para esse reaquecimento. “Com maior
previsibilidade, as empresas estão mais dispostas a assumir riscos e a
desengavetar projetos que estavam suspensos”, diz Mário Custódio,
diretor associado da Robert Half.
Um dos mais afetados pela crise dos últimos anos, o varejo vem
reforçando esse sentimento de maior confiança. “Estou percebendo um
clima mais positivo entre os empresários”, diz Carlos Wizard, fundador
da Sforza, holding que reúne negócios como as redes de fast food KFC,
Pizza Hut e Taco Bell. “Se o novo governo obtiver sucesso na reforma da
Previdência, nas privatizações e na redução do tamanho do Estado,
acredito que o Brasil entrará em um ciclo virtuoso de crescimento
sustentável.” Sob essa perspectiva, a Sforza anunciou, em novembro, um
plano de investimento de R$ 1,6 bilhão para os próximos cinco anos. No
período, a projeção é gerar 45 mil empregos nos restaurantes, a partir
da expansão do número atual de 250 lojas para 1.250 unidades, uma alta
de 400%. Os aportes incluem ainda o Mundo Verde, rede de produtos
naturais e orgânicos, e a Hub Fintech, de meios de pagamento.
FARMÁCIAS
Dono das redes Drogaria São Paulo e
Drogaria Pacheco, o grupo DPSP também segue essa toada de expansão. A
empresa planeja manter um ritmo de abertura de cem lojas por ano.
Hoje,
são mais de 1,3 mil. Nessa trilha, além dos programas de estágio e de
trainees, que contabilizam cerca de 170 vagas, a companhia tem mais de
mil oportunidades disponíveis, a maioria delas voltadas a atendentes e
farmacêuticos. “Estamos seguindo as perspectivas do setor, que tem
previsão de crescimento entre 8% e 9% para 2019”, afirma Liliane
Cammarano, gerente-executiva de recursos humanos da DPSP. Na avaliação
de Nilson Pereira, CEO da consultoria Manpower, esse início de
recuperação em segmentos como o varejo vem sendo guiado pela oferta de
vagas operacionais, em detrimento de posições mais estratégicas. “Com a
flexibilização do crédito e a perspectiva de aumento do consumo, as
empresas estão reativando postos de trabalho para ampliar sua capacidade
de atendimento e de vendas”, afirma o executivo. A Heineken é mais uma
que aposta na volta dos consumidores às prateleiras. O grupo tem 600
contratações para fazer. “Neste ano, tivemos um crescimento de 12% em
relação ao número de vagas no ano passado”, observa Raquel Guarinon
Zagui, vice-presidente de Recursos Humanos da Heineken no Brasil.
Um movimento semelhante é registrado pela maior rede hoteleira do
mundo com 9 mil hotéis, a Wyndham. O presidente da operação na América
Latina, o mexicano Alejandro Moreno, está capitanenando a abertura de 34
hoteis no País entre 2018 e 2019, e a contratação de 5 mil funcionários
operacionais na região, cerca de 2,8 mil deles no Brasil. “Estamos em
uma fase sensacional de expansão das operações no Brasil”, afirma
Moreno, que somente em novembro assinou a carteira de trabalho de 200
novos funcionários com a abertura do Wyndham Gramado Termas Spa, no Rio
Grande do Sul. “Vamos acelerar no nosso mais ambicioso plano de
crescimento.”
Em outra frente, Pereira, da Manpower, aponta outras indústrias que
investiram fortemente até 2014 e que, com a chegada da crise, passaram a
operar com grande capacidade ociosa. “Pouco a pouco, essas companhias
estão abrindo novos turnos e reativando linhas de produção.” Esse é o
caso de grandes montadoras, como Volkswagen e Mercedes-Benz. No caso da
VW, a retomada das vendas de veículos motivou o anúncio de contratação
de 800 pessoas nesta semana. Cerca de 500, muitos deles que tiveram seus
contratos suspensos nos últimos anos, em razão da queda dos mercados,
serão reincorporados para a fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná,
onde será produzido o T-Cross, primeiro SUV da Volkswagen a ser
fabricado no País. “A Volkswagen vive um excelente momento, com a maior
ofensiva de produtos da nossa história e uma forte retomada das vendas”,
disse Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen América Latina.
“Crescemos em 2018 mais do que o dobro da indústria e fechamos o ano com
uma sólida segunda posição. Anunciamos a contratação de 250 empregados
na nossa fábrica de motores, em São Carlos, no interior de São Paulo, em
razão do aquecimento do mercado interno e da ampliação do contrato de
exportação.”
Já a Mercedes-Benz está contratando 600 novos colaboradores para
aumentar os seus volumes de produção de caminhões para a crescente
demanda no mercado brasileiro em 2019. “As empresas de transporte estão
olhando com mais otimismo para o cenário econômico em função do controle
de índices como a inflação, taxa de juros e câmbio, além da expectativa
pelo crescimento do PIB”, disse Philipp Schiemer, presidente da
Mercedes-Benz América Latina. “Isso traz a desejada previsibilidade nos
negócios, gerando segurança para que clientes invistam na renovação de
frota. Estamos novamente ao lado deles nesse momento de retomada”.