segunda-feira, 22 de abril de 2019

Quer ser sócio dele com R$ 1.000?


Plataformas e corretoras oferecem Certificados de Operações Estruturadas para clientes de varejo. Compensa?

Crédito: David Ryder/Getty Images
Certificados permitem apostar nas ações das maiores empresas americanas em reais (Crédito: David Ryder/Getty Images )


Investimentos que misturam títulos de renda fixa com ações e opções, os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) caíram no gosto do público. No ano passado, segundo a B3, foram emitidos R$ 11 bilhões nesses papéis. Segundo estimativas do mercado, cerca de R$ 3 bilhões em novas emissões chegaram ao mercado no primeiro trimestre. O que contribuiu para esse crescimento foi o movimento das corretoras e plataformas eletrônicas de distribuição de investimentos, que estão tornando os COE mais acessíveis. Antes restritos a investidores com pelo menos R$ 50 mil disponíveis, essas aplicações agora podem ser adquiridas por até R$ 1.000. Vale a pena investir?

Para entender o que são esses investimentos é preciso voltar um pouco no tempo. Como instrumento específico, os COE foram regulamentados em 2016. No entanto, aplicações parecidas surgiram no início da década passada. Eram os chamados fundos de investimento com capital garantido. Eles destinavam-se a investidores que queriam ganhar com ativos de risco, como ações ou moedas, mas sem colocar seu capital em risco. Para permitir isso, os COE montam estruturas um pouco mais complexas. A maior parte do capital investido vai para papéis de renda fixa muito seguros, como títulos do Tesouro. O rendimento do dinheiro neles aplicado é garantido e bastante previsível, o que permite preservar o principal investido. A parcela restante do capital é dedicada a ativos de alto risco, cujo potencial de ganho compensa os eventuais prejuízos.
Pregão da Bolsa de Nova York: nos mercados maduros, os COE são populares em estratégias de diversificação dos riscos (Crédito:Johannes Eisele / AFP)
Por exemplo, se os juros forem de 10% ao ano, o gestor de um COE vai aplicar 91% do dinheiro do investidor em um título de baixo risco com essa rentabilidade. Os 9% restantes vão para aplicações de risco. Mesmo que a estratégia falhe e os 9% sejam perdidos, o rendimento do dinheiro restante vai preservar o capital principal. “Esse tipo de aplicação atrai mais interesse em tempos de volatilidade nos mercados”, diz Marcelo Missioneiro, chefe da mesa de operações estruturadas da Nova Futura Investimentos. “Notamos um forte aumento da demanda, especialmente com a manutenção da taxa Selic no patamar atual.” Com a Selic mais baixa, o investidor tem menos desvantagens em se expor a um eventual período de rentabilidade zero se puder, em contrapartida, surfar na volatilidade dos ativos de risco. Na ponta do lápis, o custo de oportunidade é de 6,5% ao ano. “É um bom percentual, mas é muito menos do que os 14% de dois anos atrás”, diz Rafael Giovani, diretor de distribuição da corretora Necton.

Os COE que oferecem exposição a empresas internacionais vêm se tornando populares. A plataforma Easynvest, por exemplo, está oferecendo um COE que investe nas ações da Amazon, Microsoft, Anglo American e CVS. Com duração de dois anos, o investimento inicial é de R$ 1.000. “A possibilidade de investir em ações de fora com valores pequenos atrai muitos investidores”, diz Fabio Macedo, diretor comercial da empresa. Segundo Macedo, o maior desafio é educar os investidores para eles entenderem as características desse produto. “O volume no Brasil é pequeno, mas em mercados mais maduros, como Estados Unidos e Europa, o volume de COE é gigantesco.” O maior atrativo para o investidor é a possibilidade de diversificação, apostando, por exemplo, na oscilação dos preços de commodities como ouro ou petróleo, e na variação das taxas de câmbio.
Rafael Giovani, diretor da Corretora Necton: “O COE tem características parecidas com as das aplicações de renda fixa” (Crédito:Divulgação)
EM FATIAS Em geral, os certificados são emitidos por bancos, que montam operações estruturadas de grande porte e cobram uma taxa de administração pelo serviço. Os bancos têm sido reticentes em divulgar esses percentuais, mas em geral as taxas oscilam ao redor de 2% do total. Percentuais superiores tornam os produtos menos competitivos. Uma vez estruturado, o certificado é dividido em fatias menores, que são distribuídas pelos portais e corretoras. A contraparte do risco é o banco. “O COE tem características parecidas com as aplicações de renda fixa”, diz Giovani, da Necton. “Se o banco tiver problemas de solvência, o investidor do COE será afetado.”


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O fundo que compra brigas


O Harbour quer investir nos litígios brasileiros

O fundo que compra brigas
Ellora MacPherson, do Harbour: atuação em mercados grandes e em paraísos fiscais 



Investidores que se sentiram lesados pelo administrador de seus fundos de investimento, ao notar que o saldo em conta aos poucos vinha sendo dilapidado. São casos como esse que têm sido financiados pelo fundo inglês Harbour, especialista em investir em casos sob litígio. O fundo, com cerca de US$ 1 bilhão em ativos sob gestão, aterrissa no Brasil com o foco em conflitos que se desenrolam em câmaras de arbitragem.

“Aportamos recursos nos custos advocatícios e correlatos, e em caso de vitória na disputa ficamos com uma parte do valor”, diz Ellora MacPherson, diretora de investimentos do Harbour. Segundo a executiva, se a parte apoiada pelo fundo perder a disputa na Justiça, o Harbour assume o prejuízo. 

Com cerca de 11 anos de atuação, o Harbour investiu até o momento em cerca de 100 casos. Desse total, 47 já foram encerrados, com uma taxa de 70%.

O setor de infraestrutura será um dos focos de atuação no país, diante da crescente demanda por arbitragem para resolver entreveros. “Na câmara de arbitragem os processos são muito mais céleres do que no judiciário comum”, diz Renata Duarte de Santana, da CS Consulting, representante do Harbour no país. A consultoria brasileira ficará responsável por fazer uma primeira análise sobre os casos em potencial que poderão receber recursos do fundo, verificando as chances de sucesso em cada um deles.

O mercado é amplo. Segundo a Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês), o Brasil é o quinto país em número de partes envolvidas em processos de arbitragem. À sua frente, apenas Estados Unidos, Ilhas Virgens dos Estados Unidos, Belize e França. O Harbour tem operações em 14 países, tanto mercados grandes quanto paraísos fiscais. “Em muitos casos empresas multinacionais tem trustes com operações financeiras sediadas em países assim”, explica Ellora.


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O plano para a construtora sem dono



Depois da gestão turbulenta do sul-coreano Mu Hak You, a Gafisa anuncia nova direção — e o desejo de construir o caminho pelo qual se recupere

 

Crédito: Divulgação
Sem parar: a manutenção das obras é um dos desafios da nova gestão da incorporadora (Crédito: Divulgação)

Uma característica une boa parte das principais incorporadoras brasileiras. Mesmo após o boom de aberturas de capital do setor, em 2007, muitas delas seguiram com um sobrenome forte à frente dos negócios: Horn, na Cyrela; Nigri, na Tecnisa; Menin, na MRV; Zarzur, na EZTec; e Borenstein, na Helbor. Até pouco tempo, a Gafisa destoava dessa corrente. Com uma estrutura acionária pulverizada, a gestão da empresa não era personificada em um “dono”. Esse perfil ganhou outro contorno em setembro de 2018, quando o sul-coreano Mu Hak You, por meio da gestora GWI, consolidou uma participação relevante e passou a ditar os rumos da operação. Entre outras medidas polêmicas, a nova gestão fez severos cortes na equipe, assumiu todos os assentos no Conselho de Administração, suspendeu pagamentos a fornecedores e, com o caixa pressionado, promoveu um questionado programa de recompra de ações. Seis meses depois, o investidor saiu de cena. E deixou como herança um grande ponto de interrogação sobre o futuro da companhia. Agora, sob uma nova perspectiva, a Gafisa tenta juntar os cacos e construir as bases de sua recuperação.

Os primeiros passos foram dados na manhã da segunda-feira 6. Em assembleia, os acionistas confirmaram Roberto Luz Portella como novo CEO. O executivo já integrava o Conselho de Administração desde meados de março e vai acumular também os cargos de diretor financeiro e de relações com investidores, em substituição a Ana Recart, braço direito de Mu Hak You. “Antes de aceitar qualquer convite, eu fiz uma análise crítica da empresa. Não vim totalmente cru ao assumir a posição”, afirma Portella. “O mercado ficou realmente atônito, sem saber para onde ia a Gafisa. Agora, cabe a mim mostrar esse caminho.”

Portella não estará sozinho nessa empreitada. No Conselho, o executivo terá a companhia de seis nomes. Entre eles, Nelson Tanure, investidor conhecido por mirar empresas em dificuldades financeiras e operacionais. Com apenas 500 ações da Gafisa, ele já manifestou interesse em ampliar consideravelmente essa fatia. A nova composição ganhou um voto de confiança dos acionistas, que deram sinal verde para um primeiro aumento de capital, por meio da emissão de até 26 milhões de novas ações ordinárias, dentro do limite autorizado pelo estatuto atual. O preço fixado do papel é de R$ 6,02, abaixo da cotação da empresa na quarta-feira 17, de R$ 6,96. “Não nos interessa fazer uma emissão com preço alto e captar 20%, 30%. Queremos 100%”, diz o CEO. No mercado, estima-se que a captação alcance até R$ 160 milhões. Em busca de fôlego no caixa, também foi aprovada a emissão de debêntures conversíveis de até US$ 150 milhões. Ao mesmo tempo, o aumento do limite de capital para 120 milhões de ações estará em pauta em nova assembleia, em 23 de abril.
No comando: Roberto Luz Portella foi escolhido para liderar a reestruturação da Gafisa (Crédito:Claudio Gatti)
Enquanto aguarda a injeção de capital, Portella faz um diagnóstico dos problemas da Gafisa. Uma das principais constatações é a histórica falta de um comando centralizado, que permitiu o avanço de “núcleos de poder” dentro da empresa. Em relação ao passado mais recente, ele destaca a ausência de uma gestão que representasse, de fato, os interesses dos demais acionistas. Agora, a ideia é permitir que diretoria e Conselho trabalhem muito próximos, em um modelo no qual os membros do colegiado possam ter mais participação nas decisões operacionais. Ao mesmo tempo, ele entende que essa abertura para o diálogo não deve se limitar ao público interno. “A Gafisa é muito fechada. Para recuperar a credibilidade e chamar capital, precisamos conversar com os investidores potenciais, o mercado financeiro e os clientes.”

na mira Essas estratégias terão o apoio de comitês de reestruturação, de governança, de investimentos e de auditoria. Algumas questões do passado serão alvo dessas iniciativas. E de eventuais buscas por ressarcimentos. Apontada por um grupo de minoritários, uma suposta fraude na cisão dos negócios com a Tenda, em 2017, é uma delas. Bem como uma série de medidas tomadas pela gestão anterior. “Não posso prejulgar ninguém, mas posso investigar. Até mesmo para que os acionistas e o mercado tenham a segurança de que isso não irá se repetir”, afirma Portella. Em paralelo, os segmentos no radar da incorporadora, mais conhecida pelos empreendimentos de média e alta renda, também serão reavaliados. Não estão descartadas as entradas em frentes como parcerias público privadas (PPPs), hotelaria e produtos mais populares.
Os primeiros sinais da nova gestão são bem vistos por fontes consultadas pela DINHEIRO. Mas há percalços à frente. “A empresa precisa se capitalizar, pois tem um endividamento muito alto”, diz Shin Lai, analista da Upside. Hoje, as dívidas da Gafisa somam R$ 889,4 milhões, sendo que 39% desse montante vencerá em 2019. “Mas também é preciso dar uma resposta operacional ao mercado, com a manutenção de projetos e o anúncio de lançamentos.” Marcelo Apovian, sócio da consultoria Signium, ressalta que o novo quadro tem o perfil ideal para a reestruturação da empresa e a atração de recursos. “Minha dúvida é saber o quanto esse capital vai durar, especialmente em um momento em que a economia não dá sinal de retomada.” Esse cenário parece não assustar Portella. “Nosso desafio não é de um ou dois anos. É de longo prazo”, afirma. “Mas vamos convencer o mercado que a Gafisa agora tem um rumo.”


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O futuro do grupo de Flávio Augusto e Carlos Wizard, com R$ 200 mi a mais


Com novo aporte, grupo Wiser Educação vislumbra desde aquisições até uma oferta inicial pública de ações, ou IPO

 


O Grupo Wiser Educação, que tem os empresários Flávio Augusto da Silva e Carlos Wizard Martins como principais acionistas, usará uma nova injeção de capital de 200 milhões de reais para investir tanto no que lhe trouxe renome quanto em frentes mais tecnológicas.

O grupo das escolas de idiomas Wise Up e NumberOne recebeu o aporte do fundo de private equity Kinea Investimentos, que aporta de 80 a 300 milhões de reais em empresas de médio e grande porte em troca de participações minoritárias. Em sociedade com o Itaú Unibanco, o Kinea já havia investido 1,2 bilhão de reais em oito negócios — incluindo a rede de idiomas Wizard, pertencente ao Grupo Multi, criado por Martins e vendido para o britânico Pearson Education em 2014.

Tanto o capital quanto a “propriedade financeira e intelectual” do Kinea Investimentos serão úteis para o futuro do Wiser Educação, que pode passar “de aquisições até um IPO” (oferta pública inicial de ações), de acordo com Silva.

A rede de escolas de idiomas focada no público adulto Wise Up foi fundada por Flávio Augusto da Silva em 1995, que em 2013 vendeu as 396 unidades por um bilhão de reais para a hoje Somos Educação. Dois anos depois, recomprou as 250 unidades remanescentes por 390 milhões de reais, com foco em “recuperar a empresa”. 

Carlos Wizard Martins entrou para o negócio em 2017, adquirindo 35% da Wise Up por 200 milhões de reais, após sua cláusula de não-competição com a venda do Grupo Multi expirar. No mesmo ano, eles adquiriram a rede mineira de escolas de idiomas NumberOne.


Flávio /Wise UpAugusto da Silva Flávio Augusto da Silva, criador da Wise Up
Flávio Augusto da Silva, criador da Wise Up (Flávio Augusto da Silva/Wise Up/Divulgação)


A transação de 200 milhões de reais ainda pode estar sujeita à aprovação de órgãos reguladores, como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). 

Se confirmada, a nova injeção de capital, combinada à geração de caixa do grupo, “dá flexibilidade para investir em tecnologia associada à educação”. Um exemplo dos aportes laterais do Wiser Educação é o site MeuSucesso.com, de aulas online sobre empreendedorismo, que ganhará um escritório nos Estados Unidos. “Esse é apenas um de nossos investimentos na área de edtechs [startups em educação]. Podemos adquirir operações e integrá-las aos nossos negócios”, afirma Silva.

Mesmo assim, boa parte do capital irá para a principal atividade do Wiser Educação: suas escolas de idiomas. A Wise Up possui 300 unidades e atende 95 mil alunos, enquanto a mineira NumberOne concentra 25 mil estudantes em suas 120 escolas. Nos últimos 18 meses, o grupo abriu 60 dessas unidades.

O investimento de 200 milhões de reais deve acelerar os planos, seja na abertura de novas escolas ou na aquisição de mais redes idiomas. O Wiser Educação projeta ir de 420 unidades a 1.000 até o final de 2021. Uma das principais ações para concretizar o plano é oferecer treinamento e crédito a futuros franqueados, totalizando 120 milhões de reais em financiamento facilitado.

Para Silva, a proliferação de diversas escolas de idiomas não é justificativa para desacelerar o ritmo de expansão. “Sempre atuamos em um mercado com concorrência. Eu e o Carlos [Wizard Martins] somos os mais relevantes e agora estamos juntos. Muitas redes se reduziram com os últimos anos de crise econômica, enquanto nosso grupo só cresceu. Isso já comprova o nosso potencial de crescimento.”

Superintendência do Cade aprova aquisição pela B3 de 100% das ações do Portal

Resultado de imagem para logo da b3

A Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, a operação entre a B3 e o Portal de Documentos S.A. O ato pela aprovação está publicado no Diário Oficial da União desta quarta-feira, 17. 

Segundo informações disponíveis no sistema do Cade, a operação consiste na aquisição pretendida pela B3 de 100% das ações do Portal de Documentos S.A., ou seja, na compra de controle e abrange todas as atividades do Portal. 

De acordo com a justificativa apresentada para o negócio, a B3, com a operação, “pretende expandir sua atuação em serviços e soluções ofertados a instituições financeiras para auxiliá-las no acesso e registro de informações e documentos referentes a financiamentos de veículos e financiamentos imobiliários”. “Com a Operação a B3 pretende aumentar e diversificar a oferta de produtos aos bancos que atuam na cadeia de crédito de veículos e imóveis.”

O Portal é uma companhia fechada cujos negócios compreendem três segmentos principais. O primeiro está relacionado às atividades do Portal como intermediário de instituições financeiras em procedimentos de cobrança de clientes inadimplentes dessas instituições, assessorando na emissão de notificações e protestos. 

O segundo tem por foco o registro eletrônico de documentos em cartórios, e o terceiro está relacionado a questões imobiliárias, incluindo registro de escrituras e assessoria nos procedimentos de cobrança e execução de dívidas.


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Futuro em equilíbrio


Pedro Passos relembra os caminhos que o levaram à sociedade na Natura e expõe sua visão do papel que cabe à iniciativa privada na construção de um mundo mais justo, sustentável — e que gere riqueza

Foto: Claudio Gatti
Quem entra no escritório da Anima Investimentos, no Jardim Europa, em São Paulo, se depara com diversas obras de arte. O ambiente da instituição que cuida das finanças da família Ruggiero Passos não lembra, nem de longe, os locais que pavimentaram a trajetória de sucesso de Pedro Passos. Foi orientando o chão de fábrica da Natura que ele Passos mostrou ser um executivo diferente, cuja missão, além de desenvolver a equipe, era aprender ao lado dela. Se a Natura é hoje uma companhia que fatura R$ 13,3 bilhões e registra lucro líquido anual de R$ 381,7 milhões, muito se deve ao trabalho dele, considerado uma pessoa fundamental para a criação dessa gigante mundial do mercado de beleza e cuidados pessoais.

Foi numa partida despretensiosa de futebol que Passos conheceu o amigo e sócio Guilherme Peirão Leal, em 1976. O encontro mudaria o seu destino. Não era um exímio jogador, confessa, mas reza a lenda que foi um lateral-direito muito esforçado. Leal, que atuava na mesma faixa de campo, como quarto zagueiro, viu nesse empenho a característica essencial para um executivo promissor. Levou o companheiro de time para a Ferrovia Paulista (Fepasa) e depois para o embrionário projeto da Natura. “A atitude do Pedro no futebol, como também a sua formação, fez dele um candidato para a posição mais importante que eu tinha para preencher nos quadros da Natura”, diz Leal, hoje com 69 anos. “Durante o trabalho na Fepasa, ele conseguiu aumentar a receita proveniente da venda de sucata em mais 1.000% de um ano para o outro.” No entanto, não foi tão simples para que Passos aceitasse a proposta do amigo. “Eu saí de uma multinacional para trabalhar com o Guilherme e o Luiz Seabra, mas deixei claro que eu gostaria de virar sócio da empresa em algum momento. Acho que revelei um pouco da minha atitude empreendedora naquela época, quando ainda nem se falava em empreendedorismo”, relembra Passos.

O desafio era grande. A começar pela troca de cargo: da direção de uma multinacional com mais de 700 funcionários por uma pequena indústria em momento incipiente, com menos de 20 empregados — isso, embora já tivesse 10 anos de existência. Num primeiro momento, até mesmo a família desaprovou a escolha. A convite de Guilherme Leal, Passos assumiu, em 1983, o cargo de gerente geral da YGA, que fabricava e comercializava produtos de perfumaria e maquilagem com a marca L’arc en Ciel. “Eu já tinha certa admiração pelo que a Natura vinha fazendo. Era uma marca nacional que se expunha a uma concorrência com as grandes empresas multinacionais, que já estavam presentes aqui no Brasil naquele momento”, comenta Passos. Com experiência em diversos tipos de indústrias, Passos era a peça que faltava para a Natura destravar. Enquanto Seabra era tido como o “filósofo” por trás da empresa, Leal era arrojado e inventivo. Passos, por sua vez, misturava as duas coisas, dando vida aos sonhos dos sócios, trabalhando diretamente com a fábrica para conhecer os problemas da operação. “Sempre fui mais envolvido com a gestão executiva. Aprendi muito com o que costumamos chamar de chão de fábrica. Além dos cursos formais que fiz, minha grande escola foi conversar com a turma que está com a mão na massa, próximo ao cliente e na fabricação”, diz.
    Foto: Sergio Zacchi
MODELO DE GOVERNANÇA Em 1988, as cinco empresas que faziam parte do Sistema Natura se fundiram e Passos tornou-se o diretor superintendente da nova empresa. Dez anos depois, o executivo ascendeu ao cargo de presidente de operações da Natura Cosméticos. Sob sua liderança, a companhia solidificou a operação. As vendas cresceram mais de cinco vezes, a gestão se profissionalizou, a imagem sustentável da marca Natura foi consolidada. Além disso, em 2001, ele inaugurou um complexo industrial em Cajamar (SP). O espaço é voltado à pesquisa e desenvolvimento de cosméticos, treinamento e logística. “Ter o Pedro ao nosso lado, por mais de 30 anos, tem sido muito construtivo. Sua visão empresarial, capacidade de trabalho, pragmatismo e comprometimento com um Brasil mais ético, contribuíram e contribuem muito para a contínua construção da Natura”, afirma Luiz Seabra.

Passos deixou a presidência da empresa em 2005 e se tornou o terceiro copresidente do conselho de administração. Mas o modelo de governança implementado por ele é tido como referência pelo mercado. Hoje, a Natura tem diversos certificados de empresa sustentável e é um exemplo não só para empresas brasileiras como para as estrangeiras. “A Natura busca cumprir com os princípios de sua criação, de ser uma empresa que realmente preza o meio ambiente”, diz Luiz Marcatti, CEO da consultoria Mesa Corporate Governance. “Esse posicionamento sustentável tem trazido resultados bastante consistentes para a empresa.”
Engana-se, porém, quem pensa que a vida de Passos se restringe à Natura. Hoje, o executivo divide seu tempo entre a empresa de cosméticos, a ONG Instituto Semeia, que presta consultoria e fomenta parcerias público-privadas (PPPs) para a administração de parques públicos no Brasil; a ONG SOS Mata Atlântica, da qual ele é presidente desde 2013; os conselhos do Instituto Endeavor, da FAPESP e do hospital A.C. Camargo. “O Pedro Passos contribui há 15 anos como conselheiro voluntário da SOS Mata Atlântica e está à frente da ONG desde 2013. Sob seu comando, foram instituídas metas em todos os setores e definidas prioridades para uma atuação com mais foco em resultados, sem deixar de lado a importância do relacionamento e engajamento com os nossos públicos”, diz Marcia Hirota, diretora-executiva da entidade.

A amizade de Passos e Leal não fica restrita somente à Natura. Eles habitam o mesmo prédio e pensam juntos até na hora de investir. “Nós participamos do conselho da Natura de forma bastante ativa, mas também temos alguns investimentos juntos. Coinvestimos em alguns negócios, como na Raia Drogasil, e somos acionistas e parceiros numa outra empresa chamada Bresco”, diz Leal.
Nos últimos anos, a exemplo de Leal, que chegou a ser candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva nas eleições de 2010, Passos também tem atuado em órgãos ligados à política. Ex-presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ele é um dos integrantes do movimento “Você Muda o Brasil”, ao lado de empresários como Rubens Menin, da MRV; Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza; Paulo Kakinoff, da Gol; e Walter Schalka, da Suzano. Durante o último período eleitoral, o grupo se reuniu diversas vezes com o público para debater alternativas para mudar o País. “Eu participo de alguns movimentos. Nós achávamos importante a população se envolver mais no processo eleitoral. A nossa ideia era provocar uma reflexão”, diz Passos. Em tempos de devastação massiva da natureza, nomes como o de Passos serão cada vez mais impactantes para a manutenção do meio ambiente.

O dilema da compra da Avon

A possibilidade da aquisição da Avon por parte da Natura mexeu com os ânimos dos investidores. Em 22 de março, quando a multinacional brasileira confirmou as negociações, suas ações ordinárias fecharam o pregão com queda de 7,78%. Para a Avon, o efeito foi oposto: seus papéis avançaram 10% na Bolsa de Nova York (Nyse). A reação do mercado adiou o desfecho do negócio. A aposta da Natura é ampliar as possibilidades de ganhos no mercado americano, onde a Avon já tem uma grande estrutura logística e importante penetração por meio do canal de venda direta. “Apesar de contar com algumas lojas da The Body Shop, a Natura ainda não tem uma presença forte nos EUA. Um dos fatores positivos é que essa seria uma aquisição barata, já que a Avon vem sofrendo bastante”, diz Andres Estevez, analista do banco Brasil Plural. A consolidação do negócio criaria a 5ª maior companhia de cuidados pessoais e produtos de beleza no mercado mundial, com cerca de US$ 10 bilhões em vendas. Entretanto, o mercado investidor olha com cautela para a operação. Segundo um relatório do BTG Pactual, o posicionamento ‘eco-friendly’ da Natura poderia entrar em risco com a chegada da Avon. Além disso, por atuarem com categorias de produtos muito similares, as empresas poderiam demorar a criar sinergia. A negociação está sendo tocada nos EUA e envolve bancos de investimentos como Goldman Sachs, Morgan Stanley e UBS.


“Muitos empresários ainda vivem à base de proteção ou de estímulos fiscais. Isso precisa acabar”

Pedro Passos defende a abertura comercial e a segurança jurídica para que o País estimule a competitividade e o empreendedorismo

Por participar do movimento “Você Muda o Brasil”, que incentiva o voto consciente, ao lado de outros empresários, o sr. tem pretensões de ingressar na política nas próximas eleições?
Como cidadão, temos de participar. Alguns participam como eleitores, outros como candidatos. Temos que estimular a cidadania e a cobrança em prol dos direitos. Minha participação na política deve ser nesse sentido. Agora, não me vejo tendo uma participação político partidária. No meu papel de empresário, posso dar uma contribuição maior, discutindo o País, inclusive me expondo publicamente. Mas isso sempre pela ótica do empresário, que obviamente se envolve com questões que vão além da própria empresa.
Quais são os maiores desafios para quem empreende no Brasil?
O Brasil é um país muito complexo para o empresário, seja para aquele que está iniciando, seja para o empresário mais estabelecido. As complexidades são de várias ordens. Mas, destaco, primeiramente, os processos burocráticos de relação com o governo. O segundo aspecto é o tributário. Trata-se de um grande nó, que atrapalha o desenvolvimento do País. Não estou falando do tamanho da carga tributária, mas sim da complexidade e da insegurança jurídica. Mesmo que você pague tudo certo e faça tudo direito, existe sempre uma dupla interpretação. Esse nível de estímulos negativos é o que faz com que o País tenha um menor nível de empreendedorismo ou de empresas que são bem-sucedidas em vista do que poderia ter. Outra questão é que o Brasil é um país fechado à competição. Ainda estamos num modelo ultrapassado. Precisamos abrir a economia brasileira para ter mais competição. A competição estimula a inovação, o empreendedorismo, a criação de novas empresas, diminui custos e aumenta a produtividade. O governo precisa parar de tratar de forma desigual setores e empresas. No Brasil, muitos empresários ainda vivem à base de proteção ou de estímulos fiscais. Isso precisa acabar. Se implementarmos essa agenda de simplificação e de homogeneização de tratamento, tenho a impressão de que nós daremos uma boa acelerada nos investimentos nacionais e estrangeiros no País.

As declarações do governo Bolsonaro em relação ao meio ambiente são vistas como uma ameaça à agenda ambiental do planeta. Isso também acontece nos Estados Unidos, com Donald Trump. Mesmo assim, algumas empresas e estados americanos seguem com uma agenda sustentável. Qual é o papel da iniciativa privada nisso?
O papel da iniciativa privada é fundamental para o desenvolvimento em questões ambientais e de impacto social. Independentemente de governos específicos, vemos que essa agenda ganha corpo no mundo inteiro, pois é algo que a sociedade quer. As mudanças climáticas são evidentes para todos hoje, além de serem uma realidade para a comunidade científica. O mundo já mudou nessa direção. Seria uma loucura lutarmos contra essa agenda. Na verdade, temos de tirar proveito dela. Nos Estados Unidos, apesar das sinalizações do governo de Donald Trump no sentido contrário, as corporações adotaram essa agenda muito rapidamente. Apesar dos incentivos à indústria do carvão americana, quem mais emprega hoje é a indústria das energias alternativas. A China também está fazendo muita coisa nessa direção. É um movimento irreversível.

A sustentabilidade é, atualmente, um dos termos mais citados pelas empresas. A Natura é uma referência nisso. Mas existem corporações que são acusadas de praticar boas ações de ‘fachada’. Como o sr. enxerga isso?
Existe um grupo de empresas que faz isso mais por marketing profissional do que por uma mudança de práticas real. Mas, a sociedade moderna tem instrumentos poderosos. A agenda do ‘greenwash’, do marketing de fachada, está perdendo espaço porque hoje o consumidor está dentro das empresas. As redes sociais são muito poderosas e estão cada vez mais influentes.


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terça-feira, 9 de abril de 2019

Lemann diz que cultura da 3G está sob ataque por causa da Kraft

Os críticos atacaram a 3G de Lemann, que junto com Warren Buffett criou a Kraft Heinz em uma fusão de 2015

 



O bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann está tentando mudar a percepção de que sua empresa de private equity, a 3G Capital Partners Ltd., dedica toda a sua estratégia ao corte de custos e não faz o suficiente para desenvolver marcas de consumo.

“Nossa cultura está sob ataque por causa dos resultados da Kraft Heinz“, disse Lemann a estudantes nesta semana em um evento antes da Brazil Conference at Harvard & MIT, referindo-se à gigante dos alimentos embalados que sofreu uma baixa contábil de US$ 15,4 bilhões em fevereiro. “Eles dizem que viemos do mundo das finanças, que somos traders, não pensamos muito no que os clientes querem.

Que nós estávamos mais preocupados em cortar custos.”A Kraft Heinz Co. caiu 27% em 22 de fevereiro após anunciar a baixa contábil e um corte de dividendos. Os críticos atacaram a 3G de Lemann, que junto com Warren Buffett criou a Kraft Heinz em uma fusão de 2015. Eles argumentaram que, com a preocupação de cortar custos, a empresa ignorou as mudanças de gosto dos consumidores por seus produtos, que incluem cachorros-quentes Oscar Mayer e macarrão com queijo Kraft.