segunda-feira, 13 de março de 2023

"Cervelat é um produto suíço por excelência"


Grelhada ou não, as salsichas "cervela" são apreciadas em toda a Suíça. Keystone / Laurent Gillieron

A diversidade da Suíça se reflete em sua culinária. Recentemente publicado, o livro "O Patrimônio Culinário Suíço" pinta um retrato tanto gastronômico como cultural da cozinha regional suíça. 

Entrevista.

Um apanhado. Este é o termo que vem imediatamente à mente para descrever este livro de 661 páginasLink externo. O autor, o jornalista de gastronomia Paul Imhof, viajou anos pela Suíça recolhendo informações de um vasto leque de pessoas ativas nas áreas de agricultura, restaurantes e comércio de alimentos, mas também em bibliotecas. O resultado é uma coleção abrangente de dados sobre cada produto, incluindo suas origens, história, método de produção e área de distribuição.

Este trabalho reúne em um único livro um inventário culinário realizado entre 2005 e 2008 pela Associação do Patrimônio Culinário Suíço com a apoio dos cantões e especialistas de diferentes campos (acadêmicos, históricos, setoriais etc.), sob mandato da Confederação, e que tem sido constantemente atualizado desde então. O objetivo do inventário é fornecer uma visão o mais abrangente possível dos produtos da culinária suíça. Para serem incluídos, os produtos devem atender a três critérios: serem ainda consumidos, existirem há pelo menos 40 anos e terem uma ligação especial com a Suíça.

Mas este livro, que enumera mais de 450 produtos, não é um simples inventário. Proporciona também uma melhor compreensão da Suíça e de seu povo. "De fato, a tradição culinária é também uma viagem através da história, geografia, cultura e sociologia de um país", destaca Olivier Girardin, presidente da Associação do Patrimônio Culinário Suíço.

swissinfo.ch: O que diz o patrimônio culinário sobre a Suíça?

Olivier Girardin: Existem vários produtos regionais suíços. Temos um patrimônio muito rico, o que mostra que a Suíça é um país de confluências no centro da Europa, com várias culturas e diversas fronteiras. Essa diversidade se reflete em sua culinária.

 O livro "Patrimônio Culinário Suíço" está disponível em francês desde o final de 2022. Uma versão em alemão será publicada na primavera de 2023. Editions infolio

Semelhante patrimônio mostra também como se vivia no mundo rural, onde nada se perdia e tudo se transformava. A cozinha suíça inclui uma grande variedade de queijos, mas também embutidos e carnes secas, o que atesta o cuidado tomado na conservação dos produtos. Esta herança culinária está ligado ao fato de uma grande parte do território se situar nas montanhas, onde no inverno só se podia comer o que se podia conservar.

swissinfo.ch: Em suma, trata-se sobretudo da cozinha rural de um país relativamente pobre. Estamos bastante longe do esplendor da cozinha de Versalhes...

O.G.: Perfeitamente. Este caráter rural e relativamente pobre é um elemento central do patrimônio culinário da Suíça. Mas a Suíça é também um país industrial – e esse é o lado mais moderno dessa herança – onde os produtos provêm da nossa indústria alimentar com grandes grupos como a Nestlé. Entre os produtos clássicos deste tipo estão a famosa pasta alimentícia Cenovis ou a mostarda Thomy.

swissinfo.ch: Os pontos em comum da cozinha suíça têm sido evocados, mas existem também grandes diferenças entre as regiões?

O.G.: Existem, naturalmente, produtos típicos de diferentes regiões. Por exemplo, o cardo é muito conhecido em Genebra, mas não em outras partes da Suíça. No leste do país, existe um tipo de milho (Riebelmais) [GA1] que não é encontrado em todos os lugares.

Mas, além dos produtos, é interessante notar que o vínculo com a alimentação é diferente de acordo com a região. Podemos ver que na Suíça de língua alemã, as pessoas são mais sensíveis ao modo de produção, por exemplo, com alimentos orgânicos. Na Suíça latina, as pessoas são mais sensíveis à gastronomia local. O aspecto gustativo é muito mais acentuado no lado latino do que no lado alemão, onde o bem-estar do animal é tido mais em conta.

É interessante notar que se utiliza de um produto para falar sobre diferenças culturais entre a Suíça alemã e a Suíça latina. De fato, fala-se da "barreira do rösti", embora seja consumido também na Suíça francófona. A identidade está também ligada à alimentação, e por isso é importante para a coesão nacional saber o que se come noutras partes do país.

O.G.: Podemos constatar que ele ganhou interesse. Os restaurantes gourmets incluem de bom grado produtos locais em seu cardápio. Assistimos também a um ressurgimento do interesse do público em consumir produtos regionais sazonais, o que está em sintonia com os tempos.

Por outro lado, no consumo quotidiano, a conservação desse patrimônio é um pouco menos evidente. Transmiti-la aos jovens é um verdadeiro desafio.

swissinfo.ch: Alguns produtos até desaparecem completamente. Por quê?

O.G.: Há uma mudança nos hábitos alimentares. A sociedade moderna perdeu de certa forma o hábito de cozinhar, o que contribui para o desaparecimento de produtos – por exemplo, o refogado de porco – que requerem uma preparação mais longa ou mais complexa.

Além disso, muitos produtos que são processados para serem preservados requerem grande conhecimento por parte de artesãos como açougueiros, padeiros ou queijeiros. Contudo, o processamento de alimentos tornou-se altamente industrializado, o que levou à perda de parte desse conhecimento.

No entanto, há também novos produtos que vão surgindo e que ultrapassaram o fatídico limite de 40 anos para serem inscritos no patrimônio culinário. É o caso, por exemplo, do azeite do Ticino, um dos últimos produtos que incluímos no patrimônio.

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swissinfo.ch: Recentemente, tem-se falado muito de ecologia e de circuitos curtos. Será esta uma oportunidade para o nosso patrimônio culinário?

O.G.: Com efeito, penso que esse retorno às nossas raízes é uma oportunidade. É o oposto de uma globalização em que os alimentos são totalmente homogeneizados. É preciso explicar que os produtos inscritos no patrimônio culinário andam de mãos dadas com o conhecimento, a produção ecológica, o consumo racional e a tradição.

swissinfo.ch: No exterior, as pessoas costumam perguntar qual é o produto ou prato típico da Suíça. Qual é a resposta mais frequente?

O.G.: Muitas vezes pensamos no fondue ou na raclette. Tais produtos têm a vantagem adicional de serem fáceis de transportar e preparar. Há também queijos, como o gruyère ou o tête de moine (cabeça de monge), que fazem também muito sucesso no mercado de exportação, embora as quantidades produzidas não sejam as mesmas para ambos.

swissinfo.ch: Portanto, o queijo é realmente o produto suíço por excelência...

O.G.: Sim, o queijo e tudo o que lhe está associado. Mas também há salsichas. A Suíça tem cerca de 450 delas! Para mim, se tivesse de escolher um único produto suíço por excelência, seria a cervela; todo mundo consome, em todas as regiões. Também podemos notar a importância da categoria de produtos de panificação e confeitaria, pois é a mais representada em número de especialidades inscritas no patrimônio culinário suíço.

Olivier Girardin Kamerazuki56

swissinfo.ch: Outra questão que se coloca frequentemente é qual é o prato tradicional suíço de Natal. Qual é a resposta?

O.G.: Depende, porque a tradição não é a mesma em todas as regiões. Mas hoje em dia, é claro que o fondue chinês ou o peru é o prato mais popular. No entanto, é entre as sobremesas que devemos procurar um produto tradicional que seja comum a todo o país, com o büche de Noël (tronco de Natal) que, mesmo não sendo especificamente suíço, é consumido em toda a Suíça. Há também pães de erva-doce e todos os biscoitos de Natal que se encontram em todo os lugares, mesmo que apresentem variedades regionais.

swissinfo.ch: Poderíamos promover melhor os produtos suíços no exterior?

O.G.: Um dos melhores produtos exportados é o queijo. Esta é uma tradição muito longa que às vezes remonta a séculos, por exemplo com o sbrinz. Mas é importante compreender que a Suíça produz apenas 50% de seus alimentos. Consequentemente, a exportação de produtos alimentares não é realmente um problema; nosso forte são produtos de nicho.

No entanto, espero que este livro ajude a tornar este rico patrimônio mais conhecido no exterior. Meu sonho seria que cada embaixada suíça possuísse um exemplar.

Adaptação: Karleno Bocarro


 

Vinícolas devem pagar R$ 7 milhões por caso de trabalho escravo


Uma parte é por danos morais coletivos e outra, individuais 
 
 
Os valores do dano moral coletivo serão revertidos para entidades, fundos ou projetos visando a recomposição do dano


O Ministério Público do Trabalho (MPT) informou ter assinado um termo de ajuste de conduta (TAC) com as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton, envolvidas no flagrante de trabalho análogo à escravidão ocorrido em Bento Gonçalves (RS), em 22 de fevereiro. Pelo acordo, as vinícolas se comprometeram a pagar R$ 7 milhões em indenizações, sendo R$ 5 milhões por danos morais coletivos e R$ 2 milhões por danos individuais, a ser dividido entre os resgatados. O prazo de pagamento é de 15 dias a partir do fornecimento da listagem dos beneficiados.

"Os valores do dano moral coletivo serão revertidos para entidades, fundos ou projetos visando a recomposição do dano", destacou o MPT, em nota. Conforme as investigações, as três vinícolas envolvidas no caso contrataram mão de obra terceirizada fornecida pela Fênix Serviços Administrativo, que teria então mantido os trabalhadores, a maioria de origem baiana, em condições degradantes. Pelos termos do TAC, as vinícolas gaúchas se comprometeram a zelar pela obediência de princípios éticos ao contratar trabalhadores diretamente ou de forma terceirizada; abster-se de participar ou praticar aliciamento, de manter ou admitir trabalhadores por meios contrários à legislação do trabalho, de utilizar os serviços de empresas de recrutamento inidôneas; garantir e fiscalizar áreas de alojamentos, vivência e fornecimento de alimentação e somente contratar serviços de terceirização com empresas com capacidade econômica compatível com a execução do serviço contratado.

Também será preciso que elas fiscalizassem as medidas de proteção à saúde e à segurança do trabalho adotadas pelas terceirizadas e exijam o registro regular em carteira de todos os trabalhadores contratados para prestação de serviços, bem como os pagamentos de salários e verbas rescisórias. As três vinícolas terão de promover, entre outras empresas do setor e entre associados de suas cooperativas, estratégias de conscientização e orientação, contemplando seminários sobre boas práticas e cumprimento de legislação sobre direitos trabalhistas e direitos humanos, inclusive abordando temas de segurança, saúde e medicina do trabalho e trabalho em condições análogas à de escravo. O descumprimento de cada uma das cláusulas fica sujeito a multa de R$ 300 mil por violação.

Em decisão paralela, o juiz Silvonei do Carmo, da 2ª Vara do Trabalho de Bento Gonçalves, concedeu pedido de liminar feito pelo MPT e autorizou o bloqueio de R$ 3 milhões de Pedro Augusto Oliveira de Santana, dono da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda. Isso porque o empresário se recusou a assinar o TAC com o MPT. A quantia foi bloqueada de modo a garantir o pagamento de indenizações em caso de eventual condenação criminal. A empresa já pagou, emergencialmente, no dia do resgate dos trabalhadores, R$ 1,1 milhão em verbas rescisórias.

Em 22 de fevereiro, uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 207 trabalhadores que enfrentavam condições de trabalho degradantes em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. O resgate ocorreu depois que três trabalhadores que fugiram do local contataram a PRF, em Caxias do Sul (RS), e fizeram a denúncia. Atraídos pela promessa de salário de R$ 3 mil, os trabalhadores relataram enfrentar atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas e oferta de alimentos estragados. Eles revelaram ainda que, desde que chegaram, no início do mês, eram coagidos a permanecer no alojamento, sob pena de pagar multa por quebra do contrato de trabalho. A PF prendeu um empresário baiano responsável pela empresa, que foi encaminhado para o presídio de Bento Gonçalves. Em notas, as vinícolas envolvidas disseram que desconheciam as irregularidades praticadas contra os trabalhadores recrutados pela empresa prestadora de serviços terceirizados.

Com Agência Brasil

 

Tarcísio diz que prevê a privatização da Sabesp para 2024

Sabesp » Institucional » Marca » Como aplicar a marca

 

 

 

O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), disse nesta segunda-feira, 13, que prevê a privatização da Sabesp em 2024, sendo que a assinatura do contrato com a IFC, agência do Banco Mundial, para estruturação da capitalização deve ocorrer até o fim deste mês. Ao participar de almoço com empresários promovido pelo Lide, o governador salientou que serão avaliados no estudo a ser contratado todos os pontos de atenção, caso, por exemplo, de como serão prestados os serviços em áreas não rentáveis.

“Acredito que é uma operação que pode transcorrer no ano que vem”, afirmou Tarcísio, ao ser questionado sobre o prazo da privatização da companhia de saneamento.

O governador ponderou que é preciso fazer a operação com cuidado, já que se trata de um projeto grande porte.

Por outro lado, citou a experiência com privatização, mencionando a transferência ao capital privado da Eletrobras, ao demonstrar confiança na venda da Sabesp.

 

Rodoanel 

 

O governador de São Paulo disse também que está confiante que o leilão do trecho Norte do Rodoanel, que será feito na terça-feira, 14, será bem-sucedido. “Estou confiante de que o leilão do Rodoanel de amanhã será bem-sucedido”, comentou.

O trecho Norte do Rodoanel vai consumir investimentos de R$ 4 bilhões e, segundo Tarcísio, em 2026 ele estará totalmente pronto.

Fazendo um paralelo com o seu tempo de ministro da Infraestrutura, Tarcísio brincou que já estava com saudades de bater o martelo num leilão de concessões e privatização.

 

Obras 

 

O governador de São Paulo voltou a afirmar que não vai paralisar nenhum projeto ou obra que vieram de governadores anteriores. “Não vamos paralisar nada que veio do governo anterior. Foi assim que fiz quando estive à frente do Ministério da Infraestrutura e assim vou fazer no Governo do Estado de São Paulo. Obras não são de um governo ou de outro, são do Estado, comentou Tarcísio.

De acordo com ele, as pessoas não entendem e não aceitam obras paradas porque “obras paradas não geram taxas de retorno financeiro ou social”. “Vamos tocar”, disse.

E para o governador, fazer São Paulo crescer com desenvolvimento social é possível porque o Estado de São Paulo tem espaço para reduzir despesas e ganhar fôlego para investimentos. “Acreditamos na aliança de investimento público e privado”, reforçou.

 

Pfizer anuncia compra da Seagen por US$ 43 bilhões


 Nova logo da Pfizer - PFARMA

 

 

 

A Pfizer anunciou a compra da empresa de biotecnologia Seagen e sua classe pioneira de medicamentos contra câncer por US$ 43 bilhões. Sob os termos do acordo, a Pfizer pagará US$ 229 por ação em dinheiro. As empresas esperam que o acordo seja finalizado no final deste ano ou no início do ano que vem.

O total de US$ 43 bilhões inclui dívidas, disse uma porta-voz da Pfizer. É provável que a empresa enfrente o escrutínio dos reguladores antitruste, que intensificaram suas revisões na área de saúde e outros acordos.

A Seagen, com sede nos arredores de Seattle, ajudou a criar uma classe de medicamentos conhecidos como conjugados de drogas de anticorpos, ou ADCs, que podem atacar tumores para atacá-los com um agente tóxico.

A aquisição da Seagen ajudará a Pfizer a atingir sua meta de gerar US$ 25 bilhões em receita adicional até 2030 por meio do desenvolvimento de negócios, disseram executivos da Pfizer.

A Seagen, que projeta uma receita de US$ 2,2 bilhões este ano, pode trazer à Pfizer mais de US$ 10 bilhões em faturamento até 2030 se a empresa de biotecnologia conseguir ampliar a aplicação de seus medicamentos a mais tipos de tumores, disseram executivos da Pfizer.  

 

Fonte: Dow Jones Newswires

 

 

Nu, Inter&Co, PagSeguro e Mercado Livre dizem não ter exposição ao SVB


Crédito: REUTERS/Nathan Frandino

Instituições financeiras brasileiras com ações listadas nos EUA anunciaram não ter exposição ao Silicon Valley Bank para evitar contágio em seus papéis (Crédito: REUTERS/Nathan Frandino)

 

SÃO PAULO (Reuters) – Algumas instituições financeiras brasileiras com ações listadas no mercado norte-americano anunciaram não ter exposição ao Silicon Valley Bank, a fim de evitar contágio do colapso do banco em seus papéis.

Entre o sábado e esta segunda-feira, Nu Holdings, Inter&Co e PagSeguro afirmaram em comunicados separados que, assim como suas subsidiárias, não possuem qualquer exposição ao SVB, especializado em financiamento a startups de tecnologia.

A Nu Holdings é dona do Nubank, enquanto o Inter&Co possui o banco Inter e a PagSeguro tem o PagBank. Por volta das 13h15 (horário de Brasília), as ações da Nu em Nova York avançavam 3,9%, enquanto Inter tinha queda de 4,45%. Já os papéis da PagSeguro subiam 0,85%.

O Inter tem mais de 25 milhões de clientes no Brasil e nos Estados Unidos e atua em uma série de serviços financeiros. O Nu tem mais de 70 milhões de clientes, com operações presentes no Brasil, México e Colômbia. O Mercado Livre está em 18 países, incluindo Brasil, México, Colômbia e Chile.

O Silicon Valley Bank foi fechado na última sexta-feira por reguladores nos EUA, sendo o maior banco a quebrar naquele país desde a crise financeira de 2008, em meio a um forte declínio nos depósitos de startups na instituição, na esteira de uma seca de financiamento de capital de risco.

O SVB foi produto de décadas de dinheiro barato, com riscos únicos que o tornaram especialmente vulnerável. Preocupações de que outros bancos regionais tenham semelhanças com ele se espalharam rapidamente, o que fez autoridades norte-americanas lançaram medidas de emergência no domingo.

(Por Alberto Alerigi Jr e Paula Arend Laier)

Entenda o colapso do Silicon Valley Bank e a insegurança que provoca no mundo

 


Crédito: Divulgação

Silicon Valley Bank é o maior banco americano a quebrar desde crise de 2008 (Crédito: Divulgação)


A última sexta-feira (10) ficou marcada com a quebra do Silicon Valley Bank, maior banco dos EUA a desabar desde a crise de 2008. Fundado em 1983, o banco tinha em posse o valor de US$175 bilhões, e focava nos investimentos em startups de tecnologia. Entre os efeitos do colapso estão o desespero de investidores, ações de outros bancos em queda e movimentos rápidos do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, que se reúne nesta segunda-feira (13) a portas fechadas para debater soluções. 

O colapso do Banco do Vale do Silício começou na última quarta-feira (8), quando a companhia anunciou perda de quase US$2 bilhões ao tentar levantar capital para lidar com a fuga de depósitos. O banco se notabilizou pelo foco em startups do Vale do Silício, que enfrentam dificuldades pelo encarecimento do crédito e avanço dos juros.

O que é o SBV e  como ele quebrou

O SVB é um banco americano de médio porte mais focado – para não dizer concentrado – no mercado de empréstimo para startups, conforme explica Rafael Zuanazzi, sócio e advogado da Russell Bedford Brasil. O SVB era predominantemente exposto às startups e as startups estão sofrendo pelo alta dos juros e estão com dificuldades de conseguir crédito. Devido a isso, precisaram sacar valores depositados na instituição.

“Como todo o bancos, o SVB não possui dinheiro suficiente caso os clientes decidam sacar valores em massa. Para arcar com o saque, eles precisaram vender os títulos que possuíam e, como precisaram vender, amargaram prejuízo. Com esse movimento, os clientes se assustaram e acabaram por sacar ainda mais recursos, o que fez o banco vender mais títulos”, explica Zuanazzi.

A queda [também] está associada a operações mal conduzidas pelo banco, explica Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica da Fundação Getúlio Vargas. “O banco realizou empréstimos em condições arriscadas, e isso se desdobrou em um número grande de inadimplentes, tornando-o insolvente. É o que acontece com um banco que não consegue honrar seus compromissos”, diz. 

Relação com juros altos

Vale lembrar que as taxas altas atrapalharam as operações do banco, na medida em que tornaram mais caras as captações que o banco fazia para honrar os empréstimos. Hoje, a taxa básica de juros dos EUA aparece entre 4,50% e 4,75%. 

“A alta da taxa de juros torna a operação bancária mais cara. Os bancos captam dinheiro de um lado e emprestam de outro; muitos dos empréstimos que fizeram aconteceram ainda com taxas mais baixas. Nos últimos meses, as taxas nos EUA aumentaram, tornando as operações mais caras “, acrescenta o coordenador da FGV. 

Para Alexandre Espírito Santo, professor de economia do Ibmec RJ, o resultado é efeito de investimentos anteriores, como o boom de serviços digitais nos últimos 3 anos. 

“Com a Covid-19, o governo americano e o FED injetaram trilhões de dólares na economia, para reduzir os efeitos recessivos. O mundo todo ficou dependente de serviços remotos, beneficiando setores ligados ao digital. Fazia sentido que houvesse uma grande quantidade de recursos sendo direcionados para esses setores e muitas empresas fizeram investimentos que não apresentavam taxas de retornos adequadas. Com o passar do tempo, e os resultados desses investimentos mostrando-se frustrantes, investidores e acionistas começaram a ficar ressabiados”, explica o professor.

EUA prometem garantia aos clientes

A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) assumiu o controle da empresa controlada pela SVB Financial Group, criando o Banco Nacional de Seguro de Depósito de Santa Clara (DINB), que permite a depositantes acesso a seus depósitos segurados e tempo para abrir contas em outras instituições seguradas. 

“As instituições reguladoras e autoridades americanas dizem que irão honrar os valores depositados no banco. Isso atenuaria as perdas, mas é preciso esperar um tempo”, defende o professor do Ibmec RJ. 

“O medo é que clientes (depositantes) que têm dinheiro em bancos pequenos em valores acima de US$250 mil – teto que é garantido pelo fundo de crédito americano – não tenham garantias. Mas o governo americano já afirmou que terá essa garantia, o que é uma forma de evitar uma corrida bancária contra os pequenos bancos”, explica Rochlin. 

Risco de recessão volta para a pauta

Desde quinta-feira (9), a Bolsa americana caiu e o setor financeiro lidera as perdas. A maior aversão ao risco por parte de compradores [de ações] fez com que uma baixa acontecesse. Efeitos como a queda de 70% das ações do First Republic Bank, outro banco americano, reforçam a ideia do colapso financeiro.

“A princípio, devem ser afetadas as ações de bancos médios e pequenos (bancos semelhantes ao SVB em porte e função), bem como outas pessoas jurídicas que tinham algum grau de exposição ao banco, ou seja, outro banco que tinha alguma relação direta ao SVB”, acredita o sócio da Russell Bedford Brasil. Ele alerta que também podem ser afetadas empresas de tecnologia que tinham relação com o SVB, sendo empresas que podem ter problemas até para pegar os funcionários.

“[Essa quebra] é um indicativo que precisa ser analisado com cuidado no contexto do risco da recessão, afinal foi a dificuldade das startups que levou ao saque prematuro de recursos”, expõe o advogado.

Há riscos para o Brasil?

O Nubank se apressou em informar neste sábado (11) não ter “qualquer exposição” ao Silicon Valley Bank (SVB), maior instituição financeira dos Estados Unidos a quebrar desde a crise financeira de 2008. “A Nu Holdings Ltd. comunica aos seus acionistas e ao mercado que nem a Companhia nem nenhuma de suas subsidiárias têm qualquer exposição ao Silicon Valley Bank”, declarou a empresa em comunicado divulgado no sábado.

Diretamente o impacto para o Brasil é baixo – considerando como um todo. O banco era procurado por algumas startups brasileiras, que podem ter problema de caixa por perda de valores. “Como não sabemos ainda quais são, ficamos em compasso de espera neste quesito”, afirma Zuanazzi.

Segundo Rochlin, o Nubank e outros bancos brasileiros são afetados, pois se aumenta a aversão ao risco por parte de investidores e compradores de ações e outros produtos bancários. “Além disso, a quebra faz com que se busque ativos reais, fugindo de bancos, o que pode fazer com que outros bancos com modelos parecidos – no caso dos bancos digitais – sejam afetados por esse medo de risco”, prevê o professor da FGV.

 

 

 

Startup mexicana Clara capta US$90 mi em expansão no Brasil


Startup mexicana Clara capta US$90 mi em expansão no Brasil

Mulher usa cartão para pagar a conta em restaurante na Itália

 

SÃO PAULO (Reuters) – A startup mexicana Clara garantiu um novo financiamento de até 90 milhões de dólares, liderado pela norte-americana Accial Capital, à medida que busca impulsionar expansão no Brasil, disse a empresa nesta segunda-feira.

Os recursos obtidos serão concentrados em ajudar a Clara, que oferece cartões de crédito corporativos e soluções de gestão de despesas, a aumentar sua presença no Brasil, onde mira mais que dobrar sua base de clientes.

“Estamos no mercado brasileiro há mais de um ano e vemos que a operação continua crescendo ainda mais rápido do que a operação no México inicialmente”, disse o presidente-executivo da Clara, Gerry Giacoman, em entrevista à Reuters.

A empresa, que também atua na Colômbia e é avaliada em mais de 1 bilhão de dólares, diz que o Brasil está a caminho de se tornar sua maior operação até o final de 2024.

Visando aumentar sua base de clientes no Brasil de 2 mil para 5 mil empresas, a Clara espera quadruplicar os 600 milhões de reais processados ​​em cartões corporativos no ano passado, segundo a empresa.

A nova captação marca o segundo financiamento em menos de um ano pela Clara, após operação de 150 milhões de dólares junto ao Goldman Sachs em agosto de 2022.

“É importante ter a combinação certa, o mix certo de capital”, disse Giacoman sobre a recente aposta de Clara no financiamento com instituições financeiras em vez de novas rodadas de investimento. A companhia anteriormente levantou recursos junto a gestoras como Coatue e Monashees.

A estratégia permitiu à empresa separar o dinheiro usado para ampliar produtos de liquidez aos clientes daquele usado para investimento em equipe e produtos. O executivo, porém, também não descartou novas rodadas de investimentos no futuro.

(Por Gabriel Araujo)