segunda-feira, 10 de abril de 2023

Bancos brasileiros devem entrar em terreno mais difícil para crédito corporativo, vê Goldman Sachs


Crédito: REUTERS/Andrew Kelly

Eles avaliam que o setor se aproxima do fim de um ciclo de crédito ao consumidor, mas provavelmente entrará em um terreno mais difícil para o crédito corporativo (Crédito: REUTERS/Andrew Kelly)

 

 

SÃO PAULO (Reuters) – Analistas do Goldman Sachs aguardam a divulgação dos resultados do primeiro trimestre dos bancos brasileiros para ouvir mais sobre a disposição das instituições financeiras para rolar dívidas, bem como a situação do mercado de crédito (DCM) após o evento Americanas.

Eles avaliam que o setor se aproxima do fim de um ciclo de crédito ao consumidor, mas provavelmente entrará em um terreno mais difícil para o crédito corporativo. Para 2023, Tito Labarta e equipe reduziram suas estimativas de lucros para os bancos, em média, em 2%.

Para os analistas, também são pontos de atenção as políticas macro do governo, como plano fiscal, reforma tributária, limite de taxas de juros, entre outros.

Eles ainda avaliam que a temporada de resultados corporativos, a primeira desde a deterioração do setor bancário global, será uma oportunidade também para os bancos brasileiros abordarem questões sobre liquidez, capital e riscos à lucratividade.

“No Brasil, acompanhamos a evolução do crédito corporativo, a desaceleração econômica e dos volumes de crédito e a normalização do ciclo de crédito ao consumidor”, afirmaram os analistas, que dizem dar preferência a Banco do Brasil e Itaú Unibanco no Brasil.

“Itaú e Banco do Brasil continuam sendo nossas preferências antes do (resultado do) trimestre devido à melhor qualidade de ativos e gestão de risco (ALM)”, afirmaram.

“Por outro lado, Bradesco e Santander Brasil têm espaço limitado para crescimento de lucros trimestrais, com ROEs (retorno sobre o patrimônio) permanecendo abaixo do COE (custo de patrimônio líquido)”, acrescentaram em relatório a clientes com data de domingo.

Para o BB, o Goldman Sachs prevê lucro líquido recorrente de 8,58 bilhões de reais no primeiro trimestre de 2023, com ROE recorrente de 21,1% e margem financeira (NIM) de 4,7%. No caso de Itaú, a estimativa é de lucro de 8,37 bilhões de reais, com ROE e NIM de 20,5% e 4,4%, respectivamente.

Bradesco deve apresentar lucro de 3,8 bilhões de reais, enquanto o ROE deve ficar em 9,8% e a margem financeira em 4%. Em relação a Santander Brasil, a previsão é de lucro de 2,2 bilhões de reais, com ROE de 10,8% e NIM de 5,1%.

A filial do espanhol Santander abre o calendário de resultados entre os grandes bancos brasileiros no dia 25 de abril, seguido por Bradesco, dia 4 de maio, Itaú, dia 8 de maio e BB, dia 15 de maio.

 

(Por Paula Arend Laier)


Recuperação judicial da Virgin Orbit ameaça sonhos espaciais do Japão



Recuperação judicial da Virgin Orbit ameaça sonhos espaciais do Japão

Sede da Virgin Orbit, em Long Beach (EUA)

Por Eimi Yamamitsu

TÓQUIO (Reuters) – O pedido de recuperação judicial da Virgin Orbit, do bilionário britânico Richard Branson, foi um golpe duro nas esperanças do Japão de construir uma indústria espacial doméstica, com os planos para a construção de um porto espacial em Kyushu paralisados por falta de financiamento.

A prefeitura de Oita, que abriga o maior número de fontes termais do Japão, firmou parceria com a Virgin Orbit em 2020 para criar seu primeiro porto espacial na Ásia no Aeroporto de Oita. A Virgin Orbit utiliza um Boeing 747 como veículo lançador de foguetes em pleno voo.

A Virgin Orbit vinha se promovendo como uma plataforma de lançamento de satélites militares e de inteligência para os Estados Unidos e seus aliados, incluindo o Japão, em um momento em que Washington e Tóquio enxergam com preocupação a ascensão da China como uma potência espacial.

O objetivo original era lançar pequenos satélites a partir de Oita já no ano passado, mas isso nunca aconteceu após duas falhas recentes no lançamento de foguetes.

 Duas empresas japonesas, a unidade da ANA Holdings, All Nippon Airways Trading, e a pouco conhecida startup japonesa de desenvolvimento de satélites iQPS, surgiram entre os seis principais credores assim que a Virgin Orbit entrou com pedido de recuperação judicial, na terça-feira passada.

“Ficamos desapontados quando soubemos do anúncio, pois esperávamos que a situação melhorasse”, disse a iQPS sobre o pedido de recuperação judicial. “Esperamos que a Virgin Orbit retome seus negócios para o desenvolvimento da indústria espacial global.”

A prefeitura de Oita estimou que o porto espacial, semelhante à instalação da Virgin Orbit na Cornualha, na Inglaterra, traria benefícios econômicos de cerca de 10,2 bilhões de ienes (77,4 milhões de dólares) para a região ao longo dos cinco anos a partir de seu lançamento inicial.

Com expectativa de cerca de 240 mil turistas visitando a região, as empresas locais chegaram a criar souvenirs relacionados a alienígenas, como passaportes de outros planetas e bicicletas que lembram a do filme “E.T.”.

Os moradores ainda têm esperanças de que um porto espacial seja construído. “É possível que alguma outra empresa compre a Virgin Orbit. Além disso, existem outras companhias e concorrentes além da Virgin Orbit que estão considerando lançamentos horizontais, então a Oita ainda tem muitas opções para refazer um contrato com elas”, disse Kunio Ikari, que dá aulas de economia na Universidade de Oita.

A prefeitura de Oita disse que seus esforços para atrair um porto espacial permanecem, mas se recusou a comentar sobre a Virgin Orbit ou o status atual do projeto. O Aeroporto de Oita também se recusou a comentar.

 

Idec notifica Nubank sobre fraudes contra clientes através da invasão de celulares

 

 

 IDEC – Sua Cidade, Seus Dados

 


 

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) notificou o Nubank na última quinta-feira, 6, sobre relatos de fraudes sofridas por clientes da fintech a partir da invasão de seus telefones celulares. O Instituto enviou um relato sobre o funcionamento do crime e questionou de que forma o neobanco garante a segurança dos consumidores.

Segundo o Idec, relatos feitos através das redes sociais e de plataformas de reclamação, inclusive do governo, dão conta de que pessoas tiveram a conta invadida por um programa malicioso. A partir dessa invasão, os criminosos teriam contratado empréstimos fraudulentos em nome das vítimas, e transferido quantidades altas de recursos de suas contas.

Alguns dos relatos dão conta de que apesar de as operações fugirem dos padrões dos donos das contas, os sistemas de antifraude do Nubank não teriam detectado problemas e permitiram que elas acontecessem. O Idec informa que a fintech enviou um alerta por e-mail aos clientes, em que chamou a fraude de golpe do acesso remoto.

Na mensagem, ainda de acordo com a entidade, o Nubank afirma que os fraudadores obtêm acesso aos telefones a partir do download de aplicativos piratas. Disse ainda que não se tratava de uma falha de segurança da instituição, e orientou aos clientes que baixassem a versão mais atualizada do aplicativo, que preveniria o problema.

O Idec pediu, na notificação, que o Nubank forneça mais detalhes sobre o fato, e informe porque medidas preventivas não foram tomadas antes e diga de que forma está lidando com os clientes que sofreram golpes.

 “O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) obriga o fornecedor a responder pela reparação dos danos causados às pessoas consumidoras pelos defeitos decorrentes da prestação de seus serviços”, diz em nota o advogado do Programa de Serviços Financeiros do Idec, Fábio Machado Pasin. “Desta maneira, é responsabilidade do banco garantir a qualidade e segurança do serviço oferecido, arcando com eventuais prejuízos.”

O Nubank tem 15 dias corridos para enviar respostas ao Idec.

Outro lado

Após ser notificado pelo Idec sobre fraudes sofridas por clientes através da invasão de celulares, o Nubank informou que mantém “vigilância constante” sobre a utilização de seus serviços. “No Nubank, a segurança é uma prioridade desde o primeiro dia e cooperamos com as autoridades responsáveis pelo cuidado com o consumidor”, disse a fintech, em nota enviada ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

“Reafirmamos o nosso compromisso com a proteção dos nossos mais de 70 milhões de clientes, mantendo uma vigilância constante sobre a utilização dos nossos serviços, incluindo o desenvolvimento de ferramentas de proteção para ajudar os usuários na prevenção e inibição de golpes”, prosseguiu o Nubank.

Na nota, a fintech disse ainda que mantém equipes especializadas e canais abertos 24 horas para atender às vítimas. “Em caso de suspeita de movimentação indevida por terceiros, os clientes devem seguir o passo a passo disponível no SOS Nu, hub de segurança da compra”, disse o neobanco.


Locadoras impulsionam resultado de setor automotivo em março, diz Anfavea


Crédito: REUTERS/Paulo Whitaker

Enquanto a produção do mês passado saltou 37,3% na comparação com fevereiro, as vendas avançaram 53,1% (Crédito: REUTERS/Paulo Whitaker)

SÃO PAULO (Reuters) – As montadoras de veículos instaladas no Brasil tiveram forte crescimento de vendas e produção em março ante fevereiro e também na comparação anual, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pela associação que representa o setor, Anfavea, que citou desempenho puxado por locadoras enquanto o varejo segue reprimido.

Enquanto a produção do mês passado saltou 37,3% na comparação com fevereiro, as vendas avançaram 53,1%, na mesma relação, para cerca de 222 mil e 199 mil unidades, respectivamente. Ante março de 2022, a produção cresceu 20% e os emplacamentos avançaram 35,5%.

No acumulado do primeiro trimestre, a indústria produziu 536 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, um crescimento de 8% sobre os três primeiros meses de 2022. Já os licenciamentos subiram 16,3%, para 471,8 mil veículos.

Os dados foram divulgados em um momento em que algumas montadoras no país fazem ajustes de produção, citando entre os fatores demanda fraca e problemas com oferta de componentes. Na semana passada, por exemplo, a fábrica de chassis de ônibus e caminhões da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP) anunciou que irá reduzir de dois para um os turnos de produção a partir de maio.

Segundo a Anfavea, apesar dos números positivos de março, a produção acumulada no primeiro trimestre ainda está cerca de 50 mil unidades abaixo dos níveis pré-pandemia.

“A fotografia do momento seria pior se não fossem as boas vendas para locadoras em março, 28% do total. Essas empresas ainda têm uma considerável demanda reprimida”, afirmou em comunicado à imprensa o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.

O executivo afirmou que nos três primeiros meses de 2023 o setor acumulou oito paralisações de fábrica e dois cancelamentos de turno, “algo semelhante às paradas verificadas no início de 2022”.

“A diferença é que no ano passado o motivo era somente a falta de componentes, enquanto agora já há outros fatores provocando férias coletivas, como o resfriamento da demanda”, comentou.

Em comentários a jornalistas, o presidente da Anfavea afirmou que as vendas para locadoras de veículos em março saltaram 93% sobre um ano antes, passando a representar cerca de 40% do crescimento total do mercado.

Segundo ele, as vendas do setor estão 30 mil unidades abaixo do projetado para o ano, mas não seria momento para rever as projeções, “pois o mercado tem condições de reagir”.

As montadoras esperam que as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos em 2023 cresçam 3%, para 2,168 milhões de unidades, um patamar considerado pelo presidente da associação que representa o setor, Anfavea, como baixo diante da capacidade de produção de 4,5 milhões de veículos por ano. Em 2022, os licenciamentos caíram 0,7%, a 2,1 milhões de unidades.

O setor terminou março com estoque de 203,9 mil veículos a espera de comprador ante 189,2 mil em fevereiro. O volume de março é suficiente para 31 dias de vendas, algo que Leite afirmou que é um patamar baixo ante o cenário pré-pandemia.

Questionado sobre medidas do governo para ajudar as vendas do setor, o presidente da Anfavea comentou que uma eventual liberação de recursos do FGTS para compra de carro novo “teria efeito muito grande para o mercado”. Os recursos do FGTS são uns dos principais usados para o financiamento do setor imobiliário.

Em janeiro, um projeto foi apresentado na Câmara dos Deputados para permitir que o trabalhador saque o saldo disponível do FGTS para a compra de veículo novo ou usado, segundo dados da Agência Câmara.

Sobre discussões do governo federal como setor para redução de preços dos veículos, Leite afirmou que o assunto ainda está sendo debatido e que, para ele, o problema maior é a renda pressionada da população.

 

(Por Alberto Alerigi Jr.)

 

Rappi compra empresa brasileira Box Delivery, na maior aquisição de sua história



Crédito: REUTERS/Edgard Garrido

Rappi compra brasileira Box Delivery de olho no setor de logística (Crédito: REUTERS/Edgard Garrido)

 

 
 

SÃO PAULO (Reuters) – A companhia colombiana de delivery Rappi anunciou nesta segunda-feira um acordo para a aquisição da empresa brasileira Box Delivery, que atua no “atacado” do setor de entregas de alimentos e produtos no país.

O valor acordado para a compra de 100% da Box não foi divulgado, mas a Rappi, uma companhia sem grande histórico de aquisições, confirmou que trata-se do maior negócio de sua história.

A Box foi fundada em 2016, em Santos (SP), e atua no serviço de logística de entregas para empresas, tendo como clientes Ultrafarma, Burger King, entre outras companhias.

“Com modelos de negócio complementares, as operações das duas empresas serão integradas gradualmente, enriquecendo sua expertise e seu time de especialistas”, disse a Rappi em comunicado à imprensa.

O negócio, de acordo com a Rappi, também pode ajudar no crescimento do segmento de varejo da companhia colombiana que promete entregas em até 15 minutos.

Sebastian Mejia, presidente e um dos fundadores da Rappi, disse à Reuters que as conversas com a Box vinham desde o segundo semestre de 2022. “Não somos uma empresa que tem no DNA a cultura de fazer aquisições, a não ser que tenha oportunidade e as conexões, como encontramos com a Box”, afirmou o executivo.

A Box tem como um de seus investidores a gestora de shopping centers Aliansce Sonae, que agora vira sócia da Rappi com a aquisição, segundo Mejia.

Segundo ele, a Rappi, que atua em nove países da América Latina, vê o Brasil como um mercado prioritário. A companhia está em cerca de 140 cidades do país. “O que essa transação manifesta é nosso compromisso com o Brasil, vamos seguir investido”, disse ele, sem dar detalhes financeiros e citando um “momento muito especial” para o setor localmente.

O movimento da Rappi no país vem após acordo do rival iFood com o Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), fechado em fevereiro, que o impede de fazer pactos de exclusividade ou de adotar medidas contratuais que possam induzir exclusividade com redes de marcas que possuam pelo menos 30 lojas.

“(A decisão) só abre oportunidades de investimento para a gente”, afirmou ele, ponderando que a aquisição não tem uma relação direta com a medida do Cade, uma vez que as conversas com a Box já estavam ocorrendo.

Além disso, a transação também ocorre em momento desafiador para startups e empresas de tecnologia em geral, com dificuldade de captação de recursos e ondas de demissões globalmente. No setor de delivery de comida, Uber Eats deixou de fazer entregas de restaurantes no Brasil em 2022 e a 99Food anunciou no início deste ano fim das operações.

Por Andre Romani

 

quinta-feira, 6 de abril de 2023

CEO do UBS diz à equipe do Credit Suisse para manter foco em clientes e negócios


CEO do UBS diz à equipe do Credit Suisse para manter foco em clientes e negócios

Sergio Ermotti, presidente-executivo recém-contratado do UBS, em coletiva de imprensa em Zurique, Suíça

Por John Revill e Oliver Hirt

 

ZURIQUE (Reuters) – O presidente-executivo do UBS, Sergio Ermotti, disse aos funcionários do Credit Suisse que é “crucial” manter o foco nos clientes e manter os negócios funcionando à medida que a fusão dos dois bancos avança, de acordo com um memorando interno visto pela Reuters.

“Não podemos nos deixar distrair demais pelos esforços de integração”, disse Ermotti no memorando. “É crucial para nós mantermos o foco em apoiar nossos clientes e manter a excelência operacional.”

No mês passado, as autoridades suíças anunciaram a aquisição do Credit Suisse pelo UBS em uma fusão forçada para conter mais turbulências bancárias depois que o banco menor chegou à beira do colapso.

O UBS anunciou na semana passada que estava recontratando Ermotti como presidente-executivo, seu ex-chefe de 2011 a 2020, para conduzir a aquisição que criará um banco com 1,6 trilhão de dólares em ativos e mais de 120 mil funcionários.

Em sua primeira comunicação com a equipe do Credit Suisse após assumir o cargo de presidente-executivo do UBS, Ermotti disse que haverá “mudanças e decisões difíceis” pela frente.

O banco criado pela fusão está prestes a reduzir sua força de trabalho em 20% a 30%, noticiou o jornal suíço Tages-Anzeiger no fim de semana, citando um gerente sênior não identificado do UBS.

O vice-presidente do Conselho de Administração do UBS, Lukas Gaehwiler, disse aos acionistas do banco na quarta-feira que é muito cedo para especular sobre cortes de pessoal.

Ermotti pediu aos funcionários que fossem pacientes enquanto a empresa trabalhava em suas próximas etapas.

“Embora seja muito cedo para especular sobre o estado final da organização combinada, vocês têm meu compromisso de que trataremos todos os funcionários do Credit Suisse e do UBS de maneira justa”, escreveu ele.


Expansão gradual do BNDES não criará problemas para política monetária, diz Barbosa


Expansão gradual do BNDES não criará problemas para política monetária, diz Barbosa

Entrada do edifício-sede do BNDES no Rio de Janeiro

 

SÃO PAULO (Reuters) – O objetivo de expansão gradual do BNDES para alcançar um nível de desembolsos de 2% do PIB em 2026 ante 1% em 2022 não é empecilho para a política monetária, com a gestão do banco de fomento preocupada em ser parceira do mercado de crédito privado e não um rival para os financiamentos, afirmou o diretor de planejamento da instituição, Nelson Barbosa, nesta quinta-feira.

O ex-ministro da Fazenda no governo de Dilma Rousseff afirmou durante evento online organizado pelo Bradesco BBI que o banco está trabalhando em seu planejamento para os próximos quatro anos e que entre as metas principais estão nível de Basileia de 15% a 20% e um pagamento de dividendos da ordem de 25%.

“Não é uma volta daquele BNDES que tinha subsídio muito elevado do Tesouro, principalmente ali entre 2018 e 2014”, disse Barbosa. “Só a magnitude (da expansão do banco) já daria tranquilidade a quem se preocupa com a eficiência da política monetária”, acrescentou.

“O BNDES crescer até 2% do PIB até 2026 não me parece um impulso de demanda significativo num quadro macroeconômico. Creio que só o evento Americanas teve um impacto maior do que esse em dois meses, em termos de contração de crédito”, disse Barbosa. Ele se referiu ao processo de recuperação judicial da rede varejista em janeiro.

O Banco Central tem reforçado em sua comunicação que políticas “parafiscais” expansionistas podem diminuir a potência da política monetária. Na quarta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tocou no assunto ao destacar que o alto volume de crédito subsidiado é uma das razões que leva o país a ter o maior juro real do mundo.

“Não creio que crie empecilhos de fato, com magnitude relevante para a política monetária”, disse Barbosa. Ele acrescentou que o BNDES vai explicar o tema ao Banco Central, “se e quando o Ministério da Fazenda concordar…seria inadequado o BNDES procurar o Banco Central para explicar uma medida que o Ministério da Fazenda ainda está analisando”.

DESINVESTIMENTOS

Questionado sobre a carteira de investimentos do BNDES, Barbosa afirmou que o banco “não tem orientação” para continuar com a política de vendas aceleradas dos últimos quatro anos.

No final de 2022, a carteira do BNDES estava em 62,7 bilhões reais, 58,7 bilhões em ações e o restante em fundos de investimento. A carteira de ações, após o forte ritmo de vendas de participações do banco, ficou concentrada em quatro empresas: Petrobras, Eletrobras, JBS e Copel.

“Com essa concentração e dado o estado atual do mercado acionário, incerteza não só sobre as tendências de juros no Brasil, mas também nos Estados Unidos e Europa, não faz parte da atual estratégia uma política agressiva de desinvestimento no curto prazo”, disse Barbosa.

“Hoje não há uma orientação para desinvestimento rápido da carteira como houve nos últimos quatro anos, também não há uma orientação clara para investimento, para acumulação”, acrescentou.

FUNDING

Durante a conferência, Barbosa afirmou que o BNDES precisa “andar com as próprias pernas” e reduzir a dependência de recursos do FAT para suas operações de financiamento.

Uma das propostas do BNDES, sujeita à aprovação do Congresso, é a criação do instrumento de captação Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD), com isenção de imposto de renda e nos moldes das LCI e LCA atuais, disse Barbosa.

“Com isso o BNDES pode captar ele mesmo, não dependendo de repasses do FAT somente…Se a Fazenda concordar e o Congresso aprovar, nós podemos começar no final do ano”, disse o diretor. “Seria uma fonte para gradualmente o BNDES fazer o que os bancos lá fora já fazem, ou seja, sua principal fonte de recursos é sua própria captação.”

Segundo Barbosa, o mecanismo traria como vantagens o fim da discussão de subsídio nas captações de recursos do banco. “Não há o que se falar em subsídio implícito nesse caso, é uma intermediação financeira onde a atividade do BNDES seria beneficiada somente pelo fato de a captação não incidir imposto de renda.”

Além disso, Barbosa citou que o BNDES pretende retomar captações internacionais de recursos depois que o canal teve em 2022 o valor mais baixo da história do banco de fomento. “São várias fontes que podem permitir levar os desembolsos do banco para a média histórica (de 2% do PIB) de maneira sustentável.”

PAC 3

O diretor de planejamento do BNDES afirmou ainda que o governo e o banco têm trabalhando em um novo programa de investimentos em paralelo às atividades de gestor de projetos de concessões de ativos de infraestrutura que ganharam ênfase durante a gestão anterior do banco.

O nome do novo programa ainda não foi decidido, disse Barbosa, se referindo a ele como “PAC 3”, uma alusão à sigla usada nos governos petistas anteriores de Programa de Aceleração do Crescimento.

“É um novo programa de investimento que vai ter várias áreas e dentro das áreas o BNDES pode contribuir muito…O objetivo é ajudar o governo a estruturar um plano nacional de PPPs (Parceria Público-Privada)”, disse Barbosa.

Ele afirmou que a ideia é levar a experiência do BNDES em estruturar PPPs para municípios e Estados em áreas como iluminação e saneamento, “para uma escala nacional”, e citou entre as áreas de interesse saúde e educação.