SÃO PAULO (Reuters) – A menos de dois meses da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que deve deliberar sobre a meta de inflação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira que perseguir uma meta com um horizonte de execução mais flexível é melhor para a economia do que ter um objetivo estritamente vinculado ao calendário gregoriano, como acontece atualmente.
“Eu penso que a meta contínua é muito melhor que a meta-calendário… Você não tem o calendário gregoriano, mas você tem a trajetória que vai fazer (a inflação) chegar a 3% em uma situação que você não vai desorganizar a economia nacional”, disse Haddad em entrevista à rádio CBN.
“Então você vai dar um fôlego para ela, mas mirando inflação bem baixa”, acrescentou ele, argumentando que há momentos em que o custo de tentar cumprir uma meta de inflação baixa é alto para a economia.
Haddad fez seus comentários em resposta a pergunta sobre qual seria a posição defendida por ele no encontro do CMN, responsável por definir as metas de inflação a serem perseguidas pelo Banco Central, em reunião prevista para 29 de junho. Sem defender uma mudança numérica das metas, o ministro afirmou que o governo só anunciará uma decisão de fato quando ela estiver definida.
Este ano, o CMN precisa definir a meta de inflação de 2026, mas críticas recorrentes do governo, e particularmente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao regime de metas criaram a expectativa de que o conselho também poderá aprovar uma mudança nas suas regras. O CMN normalmente delibera sobre as metas em sua reunião de junho.
Lula já criticou várias vezes o sistema de metas de inflação, e chegou a pressionar por uma elevação dos níveis almejados. Atualmente, o centro do objetivo oficial para a inflação em 2023 é de 3,25% e para 2024 e 2025 é de 3,00%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
“O mundo desenvolvido tem meta de inflação, quando tem, explícita ou não de 2%… Os outros países que mantém meta, em geral, fixaram em 3%”, disse Haddad nesta sexta.
“Está havendo uma discussão no mundo inteiro, inclusive no mundo desenvolvido. O que as pessoas estão procurando fazer hoje é alongar o horizonte temporal para o cumprimento da meta. Todo mundo quer inflação baixa, mas nas condições atuais, todo mundo está vendo que o sacrifício para atingir a meta com uma taxa de juros que vai arrebentar a economia é um custo demasiadamente oneroso”, acrescentou o ministro.
O CMN é formado por Haddad, pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Campos Neto já defendeu anteriormente a manutenção dos níveis das metas, argumentando que uma elevação do objetivo a ser perseguido teria o efeito de aumentar as expectativas de inflação, dificultando a queda dos juros.
(Por Luana Maria Benedito; Reportagem adicional de Fernando Cardoso)