Zé Celso e Silvio Santos travaram brigas judiciais e ideológicas (Crédito: Montagem ISTOÉ: Reprodução / Instagram // Reprodução / SBT)
Um dos conflitos mais emblemáticos do mundo artístico brasileiro envolveu Zé Celso, que faleceu nesta quinta-feira, dia 6 de julho, vítima de complicações em seu estado de saúde em decorrência de um incêndio em seu apartamento, e o famoso apresentador de TV Silvio Santos. Essa disputa começou na década de 1980 e continua a ser lembrada até os dias de hoje como um episódio polêmico e controverso.
Tudo começou quando Zé Celso estava dirigindo a peça “Roda Viva” no Teatro Oficina, em São Paulo. A peça, escrita por Chico Buarque, era uma crítica aos meios de comunicação e à manipulação da mídia. A produção incluía uma cena em que um personagem representava Silvio Santos, fazendo uma sátira ao apresentador e sua influência na televisão brasileira.
A representação satírica de Silvio Santos na peça não foi bem recebida pelo apresentador, que viu como uma difamação de sua imagem. Diante disso, Silvio entrou com um processo judicial contra Zé Celso e o Teatro Oficina, alegando danos morais e difamação. A batalha se estendeu por anos, gerando grande repercussão na mídia e dividindo opiniões.
O conflito também teve um aspecto ideológico. Zé Celso, como um defensor do teatro experimental e político, via na atuação de Silvio Santos uma representação do sistema midiático e do poder da indústria do entretenimento, criticando as influências que isso poderia trazer para a sociedade.
A briga entre eles também chamou atenção pela intensidade e acusações mútuas. Enquanto Zé Celso defendia a liberdade de expressão artística e o direito de criticar figuras públicas, Silvio Santos, por outro lado, argumentava que estava sendo atacado injustamente em uma esfera pessoal.
O embate entre esses dois ícones da cultura brasileira dividiu a opinião pública, de um lado os que apoiavam a liberdade artística e a crítica social presente na peça de Zé Celso, enquanto outros defendiam o direito de Silvio Santos de proteger sua imagem e reputação.
Após muitos anos de disputa judicial, o caso foi encerrado com um acordo entre as partes, pondo fim à briga legal. No entanto, as divergências e ressentimentos permaneceram, e a polêmica entre Zé Celso e Silvio Santos continua sendo um episódio marcante na história do teatro e da televisão brasileira.
Batalha judicial por terreno
A disputa judicial entre Zé Celso e Silvio Santos sobre o terreno vizinho ao Teatro Oficina tem sido marcada por intensos embates e reviravoltas ao longo dos anos.
Fundado por Zé Celso Martinez em 1958, o Teatro Oficina Uzyna Uzona ganhou notoriedade nas décadas de 1960 e 1970 por suas montagens arrojadas, que desafiavam tabus e normas sociais em plena ditadura militar. Em 1961, o grupo adquiriu um edifício no bairro do Bixiga, em São Paulo, onde estabeleceu sua sede.
Em 1980, porém, o Grupo Silvio Santos comprou o terreno adjacente ao Teatro Oficina com o objetivo de construir três prédios de até 100 metros de altura. Zé Celso rapidamente entrou em confronto com o empresário, alegando que as novas construções prejudicariam o espaço cênico do teatro. O dramaturgo argumentava que a vista panorâmica seria bloqueada e que a luz natural seria reduzida consideravelmente.
Após anos de disputa, em 2016, o Condephaat proibiu as construções do Grupo Silvio Santos no entorno do Teatro Oficina. No entanto, essa decisão foi revertida no ano seguinte, frustrando os esforços de Zé Celso em proteger seu espaço cultural.
Desde 2020, um projeto da Câmara Municipal de São Paulo busca transformar o terreno em questão no Parque Municipal do Rio Bixiga, e as negociações para a desapropriação ou permuta dos mais de 10 mil metros quadrados pertencentes ao Grupo Silvio Santos estão em curso. No entanto, o empresário se mantém firme em sua posição de não abrir mão da posse do terreno.
Recentemente, em meio a uma celebração oficializando a união de Zé Celso com o ator e diretor Marcelo Drummond, o dramaturgo convidou Silvio Santos para o evento e pediu o terreno como presente de casamento, descrevendo-o como “vazio e improdutivo”. O empresário não compareceu à festa, e o Grupo Silvio Santos entrou com um pedido na Justiça para interditar o uso do terreno, alegando desobediência e solicitando uma multa de R$ 200 mil em caso de descumprimento.
A disputa entre Zé Celso e Silvio Santos continua a envolver questões legais e interesses divergentes. Enquanto o diretor teatral busca preservar seu espaço cênico e proteger o patrimônio cultural, o empresário defende seu direito de explorar o terreno conforme suas intenções comerciais. O desfecho dessa batalha judicial ainda está em aberto, e o futuro do Teatro Oficina e de seu entorno permanece incerto.