O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
discursa na Assembleia Geral da ONU, em 19 de setembro de 2023 - AFP
Os presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e Joe Biden apresentam nesta quarta-feira (20) uma
iniciativa global de defesa do trabalho digno, em um momento de greves
nos Estados Unidos e de ótima relação entre o Brasil e a China, grande
rival de Washington.
Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos compartilham uma “clara
afinidade” sobre o tema, afirmou uma fonte do governo americano que
pediu anonimato.
A defesa dos direitos trabalhistas e da classe média é uma das
grandes bandeiras de Biden, em particular visando as eleições de 2024, e
de Lula, ex-metalúrgico e líder sindical.
Os dois se reunirão nesta quarta-feira à margem da Assembleia Geral
da ONU, o segundo encontro dos chefes de Estado desde a posse de Lula em
janeiro para seu terceiro mandato.
O governo americano tenta melhorar sua relação com Lula, com quem já
enfrentou algumas divergências, consciente de que o Brasil olha cada vez
mais para a China.
– Desafios –
A iniciativa busca “promover os direitos dos
trabalhadores em todo o mundo”, explicou outra fonte do governo
americano, que também pediu anonimato.
“Acredito que isto destaca o fato de que a relação entre Estados
Unidos e Brasil não é apenas bilateral. É de natureza global”, declarou a
fonte, antes de acrescentar que os países “têm uma visão comum para um
crescimento econômico equitativo e inclusivo”.
O objetivo é incluir outros países na iniciativa para superar os desafios do mercado de trabalho do século XXI.
A meta é lutar contra a exploração, incluindo o trabalho forçado e o
trabalho infantil, a economia informal, a discriminação no ambiente de
trabalho, em particular contra mulheres e pessoas LGBTQI+, e a
marginalização de grupos raciais e étnicos, explicou a fonte.
Os governos também pretendem estabelecer uma prestação de contas e
abordar os investimentos público e privado, a transição para energias
limpas e a transformação digital.
– “Uma voz global” –
“Queremos garantir que esta iniciativa apresente resultados concretos
para os trabalhadores nos próximos meses”, afirmou a funcionária do
governo americano, no momento em que os Estados Unidos enfrentam uma
greve no setor automotivo e uma paralisação de atores e roteiristas em
Hollywood.
“Nada nesta iniciativa deve ser interpretado como algo que desencoraja ou limita o direito à greve”, disse.
Além dos direitos dos trabalhadores, Lula e Biden provavelmente
conversarão sobre a guerra na Ucrânia, pouco antes da reunião do
brasileiro com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
O conflito na Ucrânia provoca divergências. Washington lidera a ajuda
a Kiev contra as tropas russas e Lula tem uma posição neutral.
“O Brasil é uma voz importante, uma voz global, acredito que também é
uma ponte entre os países mais ricos e as economias em
desenvolvimento”, explicou a fonte.
Lula reclama que a governança mundial é “assimétrica”. Ele insiste
que a revolução digital e a transição energética não podem ficar nas
mãos de “algumas economias ricas”.
A boa sintonia com a China, país que visitou há alguns meses para
reforçar os laços econômicos, preocupa Washington, que se distancia da
nação rival.
“Talvez no âmbito comercial a China esteja fazendo mais no lado dos
investimentos, mas chave é que Pequim não reconhece os atores não
estatais como legítimos na política”, disse a fonte, em referência à
sociedade civil.
A afinidade entre Brasil e China pode ter algum efeito positivo para
Washington em outro tema que certamente será abordado nesta
quarta-feira: a crise no Haiti.
Em julho, o Quênia anunciou que está disposto a liderar uma
intervenção policial multinacional para ajudar as forças de segurança
haitianas a combater as gangues, mas precisa de autorização do Conselho
de Segurança da ONU, no qual a China está relutante.
O Brasil “é uma voz importante, não apenas para compreender a
situação no Haiti, desempenhando um maior papel potencial como
contribuinte, mas também para envolver outros membros do Conselho de
Segurança da ONU, incluindo a China”, afirmou a fonte do governo
americano.