Trabalhador de construção civil (Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Quem
for comprar um imóvel novo vai se deparar com preços maiores ao longo
dos próximos meses, avisou o presidente da Câmara Brasileira da
Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia. A situação reflete a
escalada nos custos das obras, segundo ele.
“A situação vai gerar o
repasse de custo maior para o preço dos imóveis. Quem for comprar a
casa própria vai encontrar preços maiores. Não tem jeito, as empresas
têm que preservar as margens (de lucro)”, disse Correia, em entrevista à
imprensa após apresentação de dados do setor.
A
economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, apontou uma tendência de alta nos
custos de construção. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC)
já subiu 5,48% nos últimos 12 meses encerrados em setembro, enquanto a
inflação oficial do País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), avançou 4,42% no mesmo período. “Ou seja, o
custo de construção está acima da inflação do país”, enfatizou
Vasconcelos.
Por que o setor está mais caro
O
setor de construção está com uma demanda aquecida por mão de obra, mas
tem faltado trabalhadores qualificados, o que gera uma elevação nos
salários. Com isso, a componente ‘mão de obra’ dentro do INCC subiu 7,7%
nos últimos 12 meses, pressionando os custos setoriais.
Além
disso, os custos dos materiais de construção voltaram a subir nos
últimos meses, configurando uma tendência de alta, apontou Vasconcelos.
Ao longo de 2023, os materiais vinham mostrando deflação, mas essa
tendência se reverteu. Os itens passaram a subir rapidamente desde
março, chegando a 3,89% nos últimos 12 meses. “O custo com material vem
registrando aceleração e volta a preocupar o setor construtor”, disse a
economista.
Atualmente,
as maiores preocupações para o empresário da construção são, nesta
ordem: carga tributária elevada; custo e/ou falta de mão de obra
qualificada; e taxa de juros elevadas. A economista comentou que o ciclo
de alta da Selic, iniciado recentemente, também passa a pressionar o
custo do financiamento para o setor. “Esses fatores formaram uma
‘tempestade perfeita’ para o setor da construção”, enfatizou.
Dificuldade de fazer o repasse
O
presidente da CBIC alertou que há incorporadoras com dificuldade de
encaminhar o cliente para o financiamento bancário no momento de entrega
das chaves do imóvel vendido na planta. A situação, segundo ele,
decorre, da elevação dos juros no País e da falta de recursos para
abastecer os financiamentos. “Tem muito empreendimento com dificuldade
de fazer o repasse”, disse Correia.
Diante
dessa situação, o presidente da CBIC reiterou o pleito para que ocorra a
liberação dos depósitos compulsórios dos bancos e o seu direcionamento
para o crédito imobiliário. Essa medida serviria para amenizar a
situação de aperto até um momento mais favorável nos próximos, quando há
expectativa de uma possível redução dos juros.
A proposta
consiste na redução de 5% no compulsório bancário com o objetivo de
direcionar o dinheiro para os financiamentos de imóveis. Essa sugestão
foi encaminhada para a autoridade monetária no início de 2023 pelos
representantes do setor da construção, entre eles Abrainc, CBIC, Secovi e
Sinduscon. Ao longo do ano, os bancos aderiram, sob liderança da
Abecip.
O Banco Central (BC), entretanto, não tem indicado apoio. “O BC entende que não é um remédio definitivo”, comentou Correia.
Por
trás dessa movimentação está a preocupação com os juros altos do
crédito imobiliário, que inibem lançamentos e vendas. Uma das razões
para isso é o encarecimento das fontes de recursos que os bancos usam
para conceder empréstimos.
Os últimos anos foram marcados por
perda de recursos das cadernetas de poupança — fonte de recursos com
menor custo para o crédito — e a necessidade de utilização de outras
fontes de mercado pelos bancos, geralmente atreladas ao CDI.