São Paulo - O volume de operações de fusões e aquisições (M&A) em
2016 deve ficar em torno de R$ 150 bilhões, praticamente em linha ao
registrado em 2015 (R$ 142 bilhões), previu Flavio Mourão, responsável
pelo Departamento de Investment Banking do
Credit Suisse, durante almoço realizado com a imprensa em São Paulo.
"Este ano, vimos que as operações foram motivadas por consolidação,
busca de liquidez e reorganização de dívidas e provavelmente 2016 será
dessa forma", observou.
De acordo com ele, as operações devem se concentrar na área de energia (óleo e gás), energia elétrica e
infraestrutura.
Ele pontuou que o setor de mineração e aço deve ter movimentação de
M&A prejudicada pela queda nos preços das commodities, mas não
descartou o fechamento de alguma operação no segmento.
PIB
O economista-chefe do banco, Nilson Teixeira, comentou que o Brasil deve
enfrentar uma profunda recessão no biênio 2015 e 2016, com uma queda do
PIB de 3,7% e 3,5%, respectivamente.
"No próximo ano, deverá continuar o cenário de queda do consumo das
famílias, dos investimentos e do nível de atividade", destacou.
Ele estima que a inflação deve atingir 10,8% neste ano e não apresentar
forte redução em 2016. Teixeira prevê uma taxa de 8% para o ano que vem.
Em função de uma conjuntura marcada por muitas incertezas, com recessão
intensa e diversas dúvidas de ordem política, ele prevê ainda que o
Banco Central não deverá elevar a Selic no curto prazo.
"Ao considerar um BC independente, é possível avaliar que, caso ocorra
um processo de impedimento ou turbulência política, parece mais adequado
não alterar (os juros) até haver clareza maior do resultado desse
processo", disse.
"A autoridade monetária, num cenário como esse, evita um início de ciclo de aperto monetário."
O presidente do Credit Suisse no Brasil, José Olympio Pereira, disse que
em seus 30 anos de carreira nunca se deparou com uma unanimidade do
empresariado em relação ao pessimismo sobre o Brasil como o que existe
neste momento.
"No entanto eu tenho convicção de que o diagnóstico da forma que iremos
voltar aos trilhos está claro, mas falta vontade política para
implementar uma mudança de trajetória", disse.
Olympio destacou que se esse diagnóstico for implementado, ele funcionará e ajudará o Brasil a ter uma rápida virada.
Bovespa Mais
O Credit Suisse mostra certo otimismo em relação às emissões de ações
com esforços restritos em um ambiente de alta aversão ao risco e de
dificuldade para a colocação de uma oferta inicial de ações (IPO, na
sigla em inglês) no âmbito da instrução 400, de esforços amplos de
distribuição.
Assim, Mourão disse que o banco "talvez consiga no início do ano a primeira operação(com esforços restritos)".
A modalidade de emissão com esforços restritos para ações recebeu aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no ano passado.
Neste ano não foi feito nenhum IPO com essas características, mas já foram realizadas três ofertas subsequentes (follow on).
A Valid foi a primeira. General Shopping e Gerdau Metalúrgica a seguiram.
A primeira, no entanto, o controlador subscreveu a totalidade da oferta.
Na segunda, os controladores compraram uma parte das ações ofertadas.
As emissões com esforços restritos foram criadas para driblar a alta
volatilidade do mercado, já que são mais céleres e não ficam presas às
janelas de oportunidade entre os resultados trimestrais, como as
operações via instrução 400.
A oferta com esforços restritos é limitada aos investidores
qualificados, sendo oferecida a 75, mas com apenas 50 investidores
nacionais podendo realizar a subscrição. Em relação aos estrangeiros,
não foi imposta uma limitação.
Para a realização de um IPO com esforços restritos a companhia precisa
ter o registro na autarquia na categoria A, que é aquela que permite a
emissão de qualquer valor mobiliário, incluindo ações.
Pelo entendimento em relação à dispersão acionária, a BM&FBovespa
estabeleceu que os IPOs realizados no âmbito da modalidade de esforços
restritos deverão ser listados no Bovespa Mais, que é o segmento de
acesso da bolsa.
A bolsa brasileira foi palco de apenas um IPO neste ano, a da Par
Corretora, em junho. Para 2016, Mourão disse que é difícil prever se
haverá alguma oferta, mas afirmou que poderá, sim, haver uma janela de
oportunidade.
Assim, disse, o banco trabalha com algumas empresas que miram um IPO, de
forma a estarem prontas caso alguma janela surja no mercado.