Depois de 88 anos no Brasil, a farmacêutica decide fechar as portas de sua única fábrica no país e vai importar os medicamentos que vende por aqui.
Em 2015, a única fábrica do grupo farmacêutico suíço Roche
no Brasil, instalada em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, celebrava um aporte
de R$ 300 milhões destinado à modernização das instalações. “O Brasil é
a afiliada que mais cresce entre os mercados emergentes. Este
investimento reforça o nosso compromisso com a América Latina e está
totalmente alinhado à nossa estratégia no País”, disse o presidente do
Conselho de Administração do Grupo, Dr. Christoph Franz, durante o
evento. Quatro anos depois, a estratégia da companhia parece ter mudado.
Na segunda-feira 25, a Roche anunciou que vai fechar a fábrica e
encerrar totalmente a produção de medicamentos no Brasil até 2024. A
multinacional fabrica remédios por aqui desde 1931.
Em resposta aos questionamentos enviados pela DINHEIRO, a empresa diz
que o fechamento da unidade está relacionado ao plano global de
inovações da empresa e às transformações no portfólio de medicamentos. A
ideia da farmacêutica é concentrar as apostas em produtos inovadores e
de baixo volume de produção para tratamentos complexos. A Roche produz
no País remédios como Bactrim, Rivotril e Lexotan, que são itens de
baixa complexidade e alta tiragem. “Continuaremos trabalhando em
parceria com governos, clientes e demais agentes da sociedade na
incorporação de nossas inovações ao mercado brasileiro e geração de
acesso à saúde”, disse, em nota, o presidente da Roche Farma Brasil,
Patrick Eckert. Na prática, a companhia vai continuar atuando no Brasil
com sua sede administrativa em São Paulo e o centro de distribuição em
Goiás, mas só com a venda de produtos importados.
É um movimento que faz sentido para as empresas do setor. Há 20 anos,
os medicamentos genéricos causaram uma revolução na indústria
farmacêutica, levando algumas empresas a investir mais em áreas
complexas, como câncer e diabetes. O problema é que o custo com
pesquisas clínicas aumentou e o valor de desenvolvimento de um novo
produto passou a custar mais de U$ 1 bilhão, segundo dados do
Sindusfarma (Sindicato de Produtos Farmacêuticos). Resultado? A
indústria entra em colapso e não consegue se desenvolver. “O Brasil tem a
maior carga tributária para medicamentos do mundo”, diz Nelson
Mussolini, presidente-executivo da Sindusfarma. O professor e economista
Otto Nogami, do Instituto de Pesquisas Econômicas (Insper), concorda
que isso tira a competitividade nacional no setor. “Fica muito mais
barato produzir os remédios no exterior e depois importá-los para a
distribuição no mercado interno.”
MAIS INCENTIVOS A preocupação dos especialistas é
que o movimento seja seguido por outros laboratórios. A consequência
seria desastrosa, já que o segmento gera cerca de 90 mil empregos
diretos, 500 mil indiretos e movimenta mais de R$ 62,3 bilhões em vendas
por ano. “Quando as indústrias deixam de produzir aqui, o governo
também para de recolher impostos e o orçamento público fica
comprometido”, afirma Nogami. “A operação só é viável no Brasil na
medida em que o Estado oferece soluções competitivas.”
No caso da Roche, 440 pessoas que trabalham na fábrica de Jacarepaguá
ficarão com os empregos comprometidos. A companhia, no entanto, diz que
não haverá demissões em 2019 e que os colaboradores “receberão o melhor
suporte possível” no período de transição.
Para Nelson Mussolini, há espaço para que as farmacêuticas cresçam no
País, já que o aumento da expectativa de vida do brasileiro na última
década tem elevado o consumo de produtos para saúde. Mas para que esse
cenário se concretize, o governo precisa flexibilizar a regulação de
preços para que as farmacêuticas aumentem a rentabilidade e consigam
inovar. “Existem novas formas e tecnologias para trazer mais eficiência
aos medicamentos, mas para isso é necessário ter mais incentivos”, diz
Mussolini.
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