Os Estados Unidos se comprometeram nessa terça-feira, 19, a
apoiar a candidatura do Brasil a membro da Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O pleito brasileiro foi encampado
pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que vê a adesão ao chamado
clube dos países ricos como um selo internacional de confiança no
Brasil. “Estou apoiando o Brasil para entrar na OCDE”, disse Trump no
Salão Oval da Casa Branca, onde recebeu o presidente Jair Bolsonaro.
O apoio formal dos EUA para a entrada do Brasil na OCDE é considerado
crucial, mas veio com uma contrapartida. Em troca, o governo brasileiro
concordou em “começar a renunciar” ao tratamento diferenciado dado pela
Organização Mundial do Comércio (OMC) aos países em desenvolvimento.
Para os EUA, isso ajudaria a abrir caminho para a reforma que o país
propõe nas regras globais de trocas comerciais.
O governo americano era contra a entrada simultânea de vários países
na OCDE, alegando que isso prejudica o trabalho da organização. Embora
considerado um “clube dos ricos”, a organização tem membros como
Colômbia e Letônia – economias bem menores do que o Brasil – e Turquia,
que enfrenta uma grave crise econômica. A fila de países que já pediram
para entrar inclui Argentina, Peru, Croácia, Romênia e Bulgária. Trump
já se manifestou a favor da candidatura dos argentinos.
Após a reunião privada, o presidente americano confirmou o
posicionamento à imprensa nos jardins da Casa Branca. “Nós vamos apoiar.
Vamos ter uma boa relação em diferentes formas. Isso é algo que vamos
fazer em honra ao presidente (Bolsonaro) e ao Brasil.”
Motivações
Entrar para a OCDE, que reúne hoje 36 nações que estão entre as mais
ricas do mundo, pode favorecer a atração de investimento internacional e
a captação de recursos no exterior a uma taxa de juros menores. Isso
porque, para fazer parte do clube, é preciso atender a uma série de
requisitos de caráter liberal. Além de ser uma arena de debates, o
organismo define políticas de boa governança e fornece plataformas para
comparar políticas econômicas ou coordenar políticas domésticas e
internacionais.
Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério
do Desenvolvimento, se adequar à cartilha defendida pela OCDE seria
justamente o maior benefício de fazer parte da organização. Segundo ele,
no entanto, é preciso fazer uma avaliação mais detalhada das vantagens
que o País perderia ao deixar o status de “emergente” na OMC. “Um país
em desenvolvimento pode, por exemplo, dar mais subsídios ao setor
agrícola”, explica Barral.
Na avaliação do economista Fabio Silveira, da Macrosector, a entrada
na OCDE é um “formalismo tolo” – o País já é parceiro-chave da
instituição desde 2007 – e ceder na OMC será desvantajoso. “O Brasil vai
continuar a ter uma situação fiscal grave. E ainda perderia algumas
vantagens por carregar.” O economista Silvio Campos Neto, da Tendências
Consultoria, reforça que a entrada na OCDE, por si só, seria um feito
inócuo. “Não adianta ter melhora da posição internacional e não traduzir
isso internamente, mostrar que o Brasil é uma economia interessante.”
/ COLABORARAM LUCIANA DYNIEWICZ e BÁRBARA NASCIMENTO
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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