segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Mesmos sem ida de CEOs, grandes empresas se preparam para participar da COP30

 

As empresas do setor privado estão nos ajustes finais para marcar presença em mais uma Conferência das Partes. Mas nem todo alto escalão as maiores companhias do país demonstram disposição em participar da COP30, em Belém. Muitos CEOs do ranking TOP 50 maiores empresas do Brasil não comparecerão ao evento e estão delegando a tarefa a seus subordinados das áreas ESG, sustentabilidade e afins.

Seja para assumir algum compromisso público ou dar publicidade a seus produtos e projetos, as COPs sempre foram encaradas pelo setor privado como uma vitrine importante quando se trata de sustentabilidade. Não é incomum ver parcerias entre grandes empresas serem anunciadas ou mesmo metas ambientais e sociais divulgadas, seja por pressão social ou por estratégia comercial.

Na COP30, em Belém, não será diferente. Muitas empresas de diferentes portes e setores já estão nos preparativos finais para embarcar para a capital paraense nos próximos dias e iniciar mais uma rodada de prospecção e promoção, mesmo que muitas dificuldades e barreiras ainda precisem ser superadas.

De modo geral, o setor privado está otimista. Uma recente pesquisa da Ipsos-Ipec mostrou que para 56% dos brasileiros, a próxima Conferência das Partes trará mais benefícios do que prejuízos para o Brasil. Apenas 18% disseram acreditar que as perdas serão maiores do que os ganhos. A maior parte das pessoas, contudo, disse que Belém está pouco ou nada preparada para receber a COP, devido a todas as dificuldades logísticas e de infraestrutura já amplamente conhecidas.

COP30
Cidade de Belém no Pará, Capital da Cop30 Amazônia. Foto: Rafa Neddermeyer/Cop30 Amazônia

Menos retórica e mais prática

Ainda assim, as expectativas sobre a participação do setor privado são elevadas. Na agenda de ação desenhada pela presidência da COP30 para este ano está exatamente a expectativa de uma mobilização dos atores não estatais. E é exatamente o que o setor privado almeja: menos retórica diplomática e mais execução prática.

Para Caio Victor, especialista em políticas climáticas do Instituto Talanoa, integrante do Observatório do Clima, considera que para as empresas que possuem efetivamente compromissos climáticos e sustentáveis, a COP é a oportunidade para promover seus produtos e buscar alianças estratégicas.

“Os últimos surveys globais sobre as ações do clima indicam que 75% dos consumidores estão ativamente preocupados com os efeitos das mudanças climáticas nas suas próprias vidas. Isso significa uma mudança gradual, porém exponencial, de padrão de consumo. Então, se os CEOs das maiores empresas do Brasil não pretendem estar aqui, CEOs de outras empresas aqui estarão e trarão os seus produtos, falarão de suas soluções, conseguirão fechar contratos e conseguirão atrair investimentos, dado que não existe ausência de oportunidade”, disse Victor.

A International Chamber of Commerce do Brasil (ICC-Brasil) chegou a elaborar um documento intitulado Como impulsionar uma nova era de ação climática e o entregou ao governo federal com algumas propostas de implementação de projetos que criem condições propícias ao investimento privado. Entre as ideias estão a revisão das regras de Basileia III, harmonização das taxonomias verdes, expansão dos mecanismos de blended finance e o apoio à criação do Fundo Tropical das Florestas.

Estímulo para investimentos

Nessa mesma linha, 54 empresas membros do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) apoiaram publicamente uma chamada à ação em favor de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas. No documento, as companhias defendem a criação de mecanismos que estimulem os investimentos e a participação do setor privado.

Apesar das ações conjuntas por meio de entidades de classe ou associações setoriais para que o governo crie e defenda estímulos ou incentivos, são poucas as empresas que se posicionam claramente sobre o que querem, mas, principalmente, sobre o que vão se comprometer a fazer na COP de Belém.

A IstoÉ Dinheiro entrou em contato com as 50 companhias com maior receita do país perguntando se elas participariam de alguma forma do evento, qual o tamanho das comitivas, se o CEO estaria presente em algum dia e quais os compromissos que seriam assumidos.

Das cinco maiores empresas do Brasil – Petrobras, JBS, Raízen, Vale e Vibra – nenhuma delas respondeu aos questionamentos. Faltando pouco mais de uma semana para o início da Conferência das Partes, ainda não é possível saber se os grandes grupos do país estarão representados, por quem e se pretendem assumir algum novo compromisso ou apenas fazer publicidade sobre novas ações ou mesmo sobre as que já estejam em andamento.

COP30
Embaixador André Correa do Lago, presidente da COP30 (Fotos: Rafael Medelima)

CEOs de grandes empresas já disseram que não estarão presentes em Belém. Muitos optaram por participar em São Paulo e outras capitais do Sudeste de eventos que antecedem a COP30, mas que debatem os mesmos temas.

Para o especialista do Instituto Talanoa, a mudança do clima é uma centralidade do mercado contemporâneo e tende a selecionar os participantes do mercado no futuro. “Se, por voluntarismo, alguns dos CEOs deixam de participar, outros, um pouco mais afetos aos ganhos de mercado e também às transições concretas rumo a uma economia de baixo carbono, ocuparão esse espaço. Isso é completamente natural. Outra vez, é a concorrência mercadológica dando o seu, enfim, dando o seu tom”, afirma.

Ainda que grandes empresas não tenham deixado claro suas estratégias de participação na COP30, há quem já esteja com tudo pronto. Grupos como MBRF, Brasken, WEG, Nestlé, Hitachi Energy, Mapfre, Siemens Energy, Saint-Gobain, Yara, Caixa Seguridade, Cubo Itaú, ISA Energia, Itaú BBA, estão nos preparativos finais para embarcar a Belém.

Cada uma dessas empresas tem sua estratégia. Na MBRF, por exemplo, o CEO da empresa, Miguel Gularte, não irá a Belém. No entanto, entre os nomes que representarão a empresa de alimentos está o de Marcella Molina, filha do controlador da MBRF, Marcos Molina, e considerada nos bastidores da empresa e do próprio mercado para suceder seu pai à frente dos negócios da família no futuro.

Já a Nestlé quer ocupar todos os espaços possíveis. O principal executivo da companhia, Marcelo Melchior, estará presente, assim como Barbara Sapunar, diretora de business transformation no Brasil, e outros executivos globais. A maior empresa de alimentos do mundo tem planos para estar na Blue Zone, onde as negociações oficiais entre os países-membros acontecem, na Green Zone, onde as entidades e organizações climáticas realizam seus debates, e na Agri Zone, onde as conversas ficarão mais centradas em aspectos da cadeia produtiva do agronegócio.

Seja com a presença dos principais executivos ou apenas com representantes de escalões inferiores, espera-se que o setor privado tenha um papel central nas discussões sobre implementação e financiamento da agenda climática, com uma forte presença por meio de delegações, pavilhões de exposição e propostas concretas.

Os desafios logísticos da COP30 podem fazer com que a participação dos altos executivos das grandes empresas nacionais e internacionais seja menor ou mais seletiva do que o ideal, mas espera-se que o setor privado tenha um papel central nas discussões sobre implementação e financiamento da agenda climática.

“A participação na implementação [das ações], precisa contar com as empresas, porque são os agentes econômicos que fazem a economia acontecer no nosso modelo de desenvolvimento. Agora, seus compromissos são verificáveis, críveis, alcançáveis e efetivos? Eles estão alinhados com o que a ciência está dizendo que esses setores precisam fazer ou é só maquiagem verde para conseguir enganar por um tempo mais os investidores e os consumidores? Essas são as grandes perguntas”, afirma Victor.

 

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