São Paulo – “Sou uma apaixonada pelo que faço”. Para Adriana Braghetta esta é, sem dúvida, a chave do seu
sucesso na advocacia. Com 20 anos de
carreira,
a sócia do escritório L.O.Baptista –SVMFA foi considerada a advogada
mais influente da América Latina na área de litígio e recebeu, em junho,
o America’s Women in Business Law Awards, concedido pela revista
Benchmark em parceria com a EuroMoney, em Nova York, nos Estados Unidos.
Sua especialidade são as disputas que vão para arbitragem, sua grande
área de interesse e de atuação. Ela dá aulas sobre o tema e encerrou em
junho seu mandato de 4 anos à frente do Comitê Brasileiro de Arbitragem
(CBar). E, na opinião dela, a arbitragem é uma área em ebulição do
Brasil. “Cresceu imensamente e tem chamado muito a atenção dos
jovens”, diz Adriana.
Em
entrevista à EXAME.com ela falou sobre o prêmio, sobre a consolidação da arbitragem no Brasil, as áreas quentes do
Direito, sobre a sua rotina e o maior desafio na carreira das
mulheres. Confira:
EXAME.com – Qual o segredo do seu sucesso?
Adriana Braghetta - Sou uma apaixonada pelo que eu faço. O segredo de uma boa carreira é você realmente ser apaixonado pelo que faz.
EXAME.com– Como você descobriu a sua paixão no Direito?
Adriana Braghetta - Quando estava na faculdade, eu
tinha duas grandes áreas de interesse: Litígios, que a gente, naquele
momento, estudava dentro do processo civil, e a área de Direito
internacional.
Naquela época, me formei em 1993, o Mercosul ainda estava começando e a
economia era fechada, não tinha internet e as viagens internacionais
não eram tão frequentes. O direito internacional era um direito clássico
em que se discutia conflito de lei.
Ainda não existia arbitragem no Brasil, mas quando tive aulas sobre
este tema com o professor José Carlos de Magalhães, eu disse: “vou
estudar isso, independentemente de isso se tornar uma realidade ou
não”.
EXAME.com- E então você decidiu prosseguir nesta área?
Adriana Braghetta - Quando me formei, fui fazer o
mestrado já na área de arbitragem com viés internacional. E eu tive a
grande sorte: fui agraciada porque a lei de arbitragem veio em 1996 ao
encontro da minha paixão.
EXAME.com - Então você participou desde o início da arbitragem no Brasil?
Adriana Braghetta - Cada vez mais foi tomando corpo e
eu participei desse movimento brasileiro de solidificação da arbitragem
no Brasil. O que a gente vê nestes anos todos é justamente uma troca de
informações entre o mundo todo. Vinte anos atrás você estudava o litígio
de uma forma territorializada, porque só se pensava o litígio no
Brasil.
Hoje em dia mudou muito o mundo, e eu tive a sorte de ver. Tinha esse
interesse e pude ver que as novas gerações quando vão para a faculdade
já estão tendo aula de arbitragem.
EXAME.com – Hoje, a arbitragem é uma área promissora dentro do direito?
Adriana Bragheta - É uma área em ebulição no Brasil.
Não que haja tantos litígios a ponto de ter mercado para milhares de
advogados, mas digo isso porque tem chamado muito a atenção dos jovens
porque é uma forma muito racional de solução de litígio, muito flexível,
com respeito à autonomia da vontade das partes.
Pode-se escolher o
árbitro. Os jovens que estão tendo contato com esta área estão
encantados. E há toda uma jurisprudência e doutrina internacionais para
se estudar, o que é muito estimulante.
EXAME.com – Que outras áreas você destaca como as áreas quentes no Direito?
Adriana Braghetta - As áreas que estão em
desenvolvimento são promissoras. Direito ambiental cresceu muito, os
direitos humanos cresceram também. Saíram das áreas clássicas, são
litígio, consultivo, tributário e trabalhista. E uma onda grande que
está vindo é a área de mediação porque nós estamos com 90 milhões de
litígios judicializados.
O Judiciário está assoberbado e precisa de respostas criativas para
solucionar as disputas. Porque os litígios continuarão a vir, e é normal
que venham. E a área de mediação está acontecendo hoje no Brasil.
Estamos discutindo uma lei de mediação no Senado.
EXAME.com – A regra de ouro para o profissional é se especializar? Não dá mais para ser generalista?
Adriana Braghetta – Esse é o dilema do estudante de
Direito hoje. Porque também é muito importante você ter o conhecimento
abrangente. Todas as grandes questões no direito envolvem facetas de
outras áreas também. Você está com um grande caso e terá questões de
direito tributário, trabalhista, consultivo, contratos, litígio.
Então é importante ter uma visão geral. E evidentemente precisa achar a
sua área de interesse e se especializar. Mas é o grande paradoxo porque
você tem conhecer o direito como um todo.
EXAME.com – Se o interesse do jovem é se especializar em arbitragem, o que ele deve fazer?
Adriana Braghetta – As novas gerações encontram uma
possibilidade de formação muito diferente. Uma iniciativa que surgiu e é
extremamente interessante são os treinamentos. Tem o Vis Moot que é uma
simulação de arbitragem internacional que ocorre em Viena.
Vão estudantes do mundo todo que se preparam durante 10 meses para
defender um caso, geralmente em língua inglesa ou espanhola. Os
estudantes apresentam o caso para diversos painéis de árbitros e
disputam com outros estudantes. No ano passado tinham 233 faculdades e
mais de 10 do Brasil. E o brasileiros têm ido muito bem.
EXAME.com – E no Brasil tem algo parecido?
Adriana Braghetta -Tem uma instituição que faz o
treinamento em português que a Câmara de Arbitragem Empresarial Brasil
(Camarb). O estudante deve, dentro da faculdade, procurar um professor
que o estimule e o ajude, como um coach faz.
EXAME.com – Como é a sua rotina?
Adriana Braghetta – Muito corrida e diversificada. Sou
preponderantemente advogada, mas dou aulas também. E o exercício de dar
aulas é riquíssimo de reciclagem porque você se prepara para dar aula e
ouve questionamentos dos mais diversos, isso refresca o pensamento. E
até junho era presidente do Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBar) que
cuida do fomento e desenvolvimento da arbitragem no Brasil.
EXAME.com – E como busca o equilíbrio entre vida pessoal e profissional?
Adriana Braghetta – Gosto muito de trabalhar, para mim
não é um peso, em absoluto. Busco o equilíbrio fazendo esporte, eu jogo
tênis. Mas, pra mim, o equilíbrio está em ter tempo de olhar o mundo
que está ao meu redor. Ir às reuniões do CBar, ler artigos novos, ver o
que vai ser tendência no Direito.
EXAME.com – Qual o principal desafio para a carreira da mulher?
Adriana Braghetta - A fase de filhos pequenos é um
grande desafio. Mas é também um desafio do empregador. Porque é uma fase
que dura 2, 3 anos, por isso não dá ser imediatista. Aqui no
escritório, todas as minhas sócias têm filhos, são mulheres extremamente
capacitadas.
O mercado tem que olhar isso e os empregadores precisam criar
mecanismos para reter estes talentos. Isso vai ajudar as mulheres a
voltarem a ter filhos mais cedo sem que isso as prejudique no
desenvolvimento da vida profissional.