domingo, 13 de outubro de 2013

Com vendas fracas, montadoras apelam para promoções


As montadoras farão esforço para, até dezembro, conseguir no mínimo um crescimento de 1% em relação aos 3,8 milhões de veículos vendidos no ano passado

Cleide Silva, do
Getty Images
Carros estacionados

Carros: para automóveis e comerciais leves os números apontam pequena queda de 0,7%, para 2,737 milhões de unidades

São Paulo - Com dois meses seguidos de queda e os primeiros dez dias do mês com vendas estagnadas, a indústria automobilística volta a apelar para ofertas de juro zero, financiamento em cinco anos e planos para desovar estoques de carros novos. As empresas do setor vinham restringindo esse tipo de oferta desde o ano passado, por causa do aumento da inadimplência.

Neste fim de semana, apesar do feriado deste sábado (12), todas as concessionárias estão de portas abertas e há feirão no estacionamento do Shopping Center Norte, em São Paulo, organizado pela Renault. Quase todas as marcas têm no mínimo dois modelos com oferta de juro zero.

Nos primeiros dez dias do mês, foram licenciados 114,6 mil veículos, quase o mesmo volume verificado em igual período de setembro (114,3 mil) e em outubro de 2012 (114,6 mil). Do total deste mês, 108 mil são automóveis e comerciais leves, ante 108,4 mil no mês passado e 109,9 mil um ano atrás.

No acumulado do ano, os números também estão estagnados, com 2,895 milhões de unidades, ante 2,903 milhões em 2012. Para automóveis e comerciais leves os números apontam pequena queda de 0,7%, para 2,737 milhões de unidades.

Segundo revendedores consultados pelo Estado, há muitas lojas com estoques na casa dos 60 dias. "O que tem segurado o mercado são as vendas diretas (para empresas, frotistas, funcionários e locadoras), feitas pelas fábricas, enquanto o varejo (para o consumidor) está fraco", diz um concessionário que pede para não ter o nome publicado. "A luz já passou do amarelo para o vermelho no setor."

As montadoras farão esforço para, até dezembro, conseguir no mínimo um crescimento de 1% em relação aos 3,8 milhões de veículos vendidos no ano passado. Além das promoções, que devem continuar, contam com uma possível corrida às lojas em razão do fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a partir de 1º de janeiro.

Representantes do setor, contudo, têm dito ao governo que a volta do imposto integral pode provocar uma crise no setor.

Ofertas. A General Motors decidiu oferecer juro zero para toda sua linha, em campanha iniciada quinta-feira e com término neste domingo. Mas a entrada é salgada: 60% do valor do carro. A diferença pode ser paga em até 18 prestações. Para Agile, Cobalt e Sonic, o prazo pode ser estendido para até 48 meses.

O Cobalt LTZ, que à vista custa R$ 44.990, pode ser adquirido com entrada de R$ 26.994 e 48 parcelas fixas de R$ 375. Na revenda Palazzo, na zona norte da capital, o modelo também pode ser adquirido com entrada de 20% (R$ 8.998) e 60 parcelas de R$ 829, mas, nessa caso, há juro de 1% ao mês.

Numa promoção recente feita pela Palazzo, os estoques baixaram de 45 dias para 30 dias, informa o diretor comercial Wilson Goes.

A rede Volkswagen oferece juro zero para Fox, Space Fox e Amarok em 24 parcelas e entrada de 50% do valor do bem. Há planos em 60 parcelas, mas com juro de 0,99% ao mês. "A linguagem do momento é a taxa promocional", afirma Marcos Leite, gerente da revenda Amazon, na zona leste de São Paulo.

A Ford vende Fiesta RoCam (modelo antigo) com taxa zero em 36 meses, entrada de 50% e airbag e freios ABS por R$ 1 mil. Na Renault, juro zero é só para o Sandero, que sai por R$ 31.990 à vista ou entrada de R$ 17.594 e 36 parcelas de R$ 422,71.

Até marcas de maior valor, como Toyota, estão com promoções. Revendas da marca oferecem bônus (desconto) de R$ 10 mil para o utilitário CR-V, de R$ 7 mil para o Corolla top e de R$ 6 mil para o básico, e de R$ 3 mil para o compacto Etios. O Hyundai HB20, que há três meses tinha fila de espera de dois meses, está disponível nas lojas. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Projeto que dificulta registro de estrangeiros no CNPJ será reexaminado

 




Por sugestão de procuradores da Fazenda Nacional, o senador Francisco Dornelles (foto), do PP-RJ, vai reexaminar seu relatório sobre o projeto de lei que obriga a apresentação de todos os sócios e administradores de pessoas jurídicas com domicílio no exterior que desejem se inscrever, suspender ou dar baixa no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).


Relator da matéria na Comissão de Relações Exteriores (CRE), ele já havia sugerido a rejeição da proposta, por considerar que, além de inexequível em alguns casos, ela não atingiria seus objetivos de combater a evasão de divisas e a lavagem de dinheiro, com os quais ele afirma concordar. Porém, essa posição pode ser revista. Ele já pediu a retirada da matéria da pauta da comissão. De autoria do deputado Paulo Rubem Santiago (PDT/PE), a proposta já foi aprovada na Câmara. Depois de analisada pela CRE, ela terá de passar pela Comissão de Assuntos Econômicos.


O projeto de lei diz que, para inscrição, suspensão ou baixa no CNPJ, a empresa domiciliada no exterior tem de apresentar seu quadro de sócios. Acrescenta que as informações devem abranger toda a cadeia societária.


Em sua justificativa, Santiago argumenta que a exigência do quadro societário dificultaria a ação dos chamados laranjas. "Muitas vezes, quando os órgãos de fiscalização ou Poder Judiciário procuram identificar os mandatários da empresa, a fim de cobrar-lhes a responsabilidade por atos ilegais executados, descobrem apenas a existência de um representante legal que, frequentemente, verifica-se ser apenas um laranja, sem nenhum patrimônio ou vinculação com a pessoa jurídica."

Ao analisar a matéria, Dornelles fez uma série de ressalvas. Disse, por exemplo, que atos como a inscrição, suspensão ou baixa no CNPJ não deveriam ser tratados numa lei. Ele observou que, em alguns casos, a exigência não poderia ser atendida. Citou como exemplo as sociedades anônimas com ações ao portador, uma figura que não existe no Brasil desde 1990, mas ainda vigora no exterior. "Nessa hipótese é praticamente impossível identificar quem são os acionistas", argumenta.

Brasil estuda sistema de defesa da Rússia, que libera importação de carne brasileira



 
 
Bastou o governo brasileiro anunciar que o ministro da Defesa Celso Amorim receberá, em Brasília, na segunda-feira (14/10) delegação militar, chefiada pelo ministro da Defesa da Rússia Serguei Shoigu, para que Moscou anunciar a a liberação de seis frigoríficos exportadores brasileiros de carne bovina, que estavam proibidos de vender para o país, sob restrição por questões sanitárias. 

Na visita da próxima semana, os visitantes russos devem manter negociações com o Brasil sobre o desenvolvimento da cooperação técnico-militar. Provavelmente, será discutida a questão de aquisição de sistemas de defesa aérea Pantsir-S1. O ministro da Defesa da Rússia  deverá ter reunião com Celso Amorim, com o Chefe de Estado-Maior general José Carlos De Nardi, e, possivelmente, com a presidenta Dilma.

Em termos de cooperação técnico-militar, a América Latina sempre foi secundária para a Rússia em comparação, por exemplo, com a Ásia. Agora é hora de recuperar o tempo perdido, afirmou em entrevista à agência russa de notícias Voz da Rússia o chefe do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias Ruslan Pukhov:– Outro aspecto está relacionado com o fato de o Brasil ter um programa de sistemas de defesa aérea. Obviamente, o ministro da Defesa Serguei Shoigu fará todos os esforços para promover as propostas russas. Então, a indústria russa de defesa vai conseguir dinheiro, o qual tão pouco será redundante no contexto de uma possível redução do orçamento militar. Outro momento é que o Brasil com a Índia, China, Rússia e África do Sul são membros dos BRICS. É necessário reforçar os laços com esta associação", afirmou Ruslan Pukhov.

O Brasil mostrou um interesse especial no complexo Pantsir-S1. Este é o mais recente sistema de defesa aérea de curto alcance. Inicialmente, o complexo foi projetado por encomenda dos Emirados Árabes Unidos e destinado para exportação, nota Ruslan Pukhov:– O segundo país que quis comprar este complexo foi a Síria, e o terceiro foi a Argélia. O exército russo foi o quarto usuário. Atualmente, estão sendo mantidas com vários países, incluindo o Brasil, negociações sobre o complexo que estão em fase de conclusão. O Brasil necessita deste sistema, inclusive a fim de proteger seu céu pacífico de possíveis incidentes, de ataques terroristas no âmbito da Copa do Mundo e da Olimpíada num futuro previsível. Eu acho que as chances de compra do complexo são altas, embora isso não signifique que tudo será assinado agora, na visita. Mas será feito mais um passo nessa direção – disse.

Quanto aos frigoríficos brasileiros liberados, eles estão em quatro estados brasileiros: São Paulo (JBS e Frigol), Mato Grosso do Sul (JBS e Marfrig), Goiás (JBS) e Mato Grosso (JBS).  Segundo o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura (SRI/Mapa), Marcelo Junqueira, isso fará com que o abastecimento russo seja reforçado e as exportações brasileiras continuem sendo incrementadas como já vinha ocorrendo ao longo deste ano. "Em 2013, o crescimento em volume de carne bovina exportada em relação ao ano anterior foi de 21% no acumulado de janeiro a setembro. Há previsão de que nesse ano o Brasil bata recorde, em valor, nas exportações de carne bovina”, afirmou Junqueira.
 

Dilma defende circulação livre de mercadorias entre países do Mercosul



 
 
A presidenta Dilma defendeu a importância do Brasil em relação aos países vizinhos, criticou as restrições à comercialização de produtos entre nações do Mercosul e respondeu sobre demandas da saúde e da mobilidade urbana no estado. “É um absurdo não termos um mercado de circulação livre”, disse Dilma, referindo-se à necessidade de cooperação comercial entre os países do bloco, em especial entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Ao ser questionada sobre o bloqueio do governo argentino a cerca de 1 milhão de calçados produzidos no Brasil, Dilma disse que o governo brasileiro tem adotado ações constantes e sistemáticas de negociação com a Argentina para que as demandas dos produtores sejam acatadas. “Defendemos uma norma no Mercosul para licenças de importação. Nós preferíamos que não houvesse, mas como o governo argentino não concorda, estamos pedindo prazos”, disse a presidenta.

Segundo Dilma, o governo brasileiro tem manifestado posição de firme desagrado a produtos que ficam parados na alfândega esperando a autorização de exportação. A presidenta defendeu ainda, nesse quesito, que a melhor atitude a ser tomada é o diálogo, pois o comércio entre os dois países é “via de mão dupla, ganhamos nós ao exportar calçados e eles ao exportar automóveis”.

A entrevista foi concedida no Aeroporto de Canoas (RS), após Dilma desembarcar na cidade por volta das 15h, e durou pouco mais de 30 minutos. Sobre relações diplomáticas, a presidenta ouviu questionamento sobre o momento em que será possível aos países do Mercosul fazer de forma plena os seus objetivos. Ao responder, Dilma defendeu a consolidação do bloco e tratou da importância que o Brasil tem com relação aos outros países.

“Temos que olhar para os vizinhos, a importância do Brasil exige que tenhamos [essa] responsabilidade. Todos os países têm que ter consenso sobre uma questão para atuarmos em conjunto”, disse a presidenta, acrescentando que o interesse brasileiro em garantir um mercado de circulação livre passa pela ampliação dos potenciais consumidores das produções de cada país. “Integrando-se, nos fortalecem como mercado, em vez de 200 milhões, somos 300 milhões de consumidores”, exemplificou a presidenta.
Fonte: Agência Brasil
 

Fim do visto de turista aumentaria fuga de brasileiros para os EUA, diz autora


Daniel Buarque
Em Londres
  • Jose Luis Magana/Reuters -
    Manifestantes marcham contra proposta de anistia a imigrantes ilegais, em Washington D.C, nos EUA Manifestantes marcham contra proposta de anistia a imigrantes ilegais, em Washington D.C, nos EUA
O adiamento da visita oficial da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos por conta dos recentes escândalos sobre espionagem americana ao Brasil acabou também deixando para depois o debate a respeito dos vistos para turistas dos dois países.

O encontro entre Dilma e Barack Obama neste mês serviria para o anúncio oficial de um acordo sobre o "Global Entry", um sistema atualmente oferecido a visitantes "confiáveis", que permite a entrada em território americano sem passar pelas filas de imigração. A negociação está sendo vista como um primeiro passo rumo ao fim da exigência de visto prévio.

Se o visto deixar de ser exigido, como o Brasil tem defendido, entretanto, vai haver um aumento grande e repentino no número de imigrantes brasileiros vivendo ilegalmente nos Estados Unidos, segundo a professora americana Maxine Margolis.

Autora do livro "Goodbye, Brazil - emigrantes brasileiros no mundo", que acaba de ser lançado simultaneamente em inglês e em português (pela ed. Contexto no Brasil), Margolis explicou, em entrevista ao UOL Notícias, que existe uma relação entre o aumento das viagens de turismo internacional de brasileiros e o aumento da emigração.

"A falta de visto de turista é o que está impedindo muitos brasileiros de se mudarem de vez para os Estados Unidos, já que a alternativa é vir ilegalmente pelo México, o que é caro e perigoso", explicou, fazendo referência à dificuldade que muitos possíveis imigrantes teriam para conseguir até mesmo entrar no território americano.

Segundo ela, é muito comum que o visto de turista seja usado como ferramenta para que os potenciais imigrantes consigam entrar nos Estados Unidos. Uma vez que estão no país, os brasileiros passam a viver de vez no país de forma permanente, ilegalmente.

"Se os dois governos concordarem que não é preciso ter visto, vai haver um 'boom' para o turismo nos EUA, mas também vai encorajar imigração" disse.

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Imigrantes ilegais viram super-heróis em ensaio de fotógrafa nos EUA 

Uma série fotográfica da artista mexicana Dulce Pinzón retrata imigrantes latino-americanos que vivem ilegalmente nos EUA - principalmente mexicanos - como super-heróis clássicos dos quadrinhos Dulce Pinzón/BBC Brasil

Diáspora brasileira

Professora emérita de Antropologia da Universidade da Flórida, Margolis pesquisa comunidades de brasileiros nos EUA há anos e é autora de várias obras sobre o tema, como os livros "Little Brazil: an Ethnography of Brazilian Immigrants in New York City" (Pequeno Brasil: uma etnografia dos imigrantes brasileiros em Nova York) e "An Invisible Minority: Brazilians in New York City" (Minoria invisível: Brasileiros em Nova York).

Em "Goodbye, Brazil", ela trata da recente onda de emigração de brasileiros para todo o mundo, que nunca tinha sido registrada na história do país até os anos 1980, e que agora registra mais de 3 milhões de expatriados. A pesquisadora traça um perfil desses brasileiros, das suas motivações e das suas comunidades no mundo.

"Historicamente, os brasileiros nunca deixavam o Brasil, como americanos nunca deixam os EUA. É um pais formado por imigrantes, nao de emigrantes", disse, ressaltando que os números de imigrantes até o final da década de 1970 eram muito pequenos.

A partir dos anos 1980, entretanto, a situação econômica do país começou a incentivar brasileiros a se mudarem para outros lugares do mundo.

"A partir de 1986, depois do fracasso do Plano Cruzado, as pessoas da classe média começaram a perder a esperança de que a economia brasileira melhoraria", disse Margolis.

As razões para a emigração de brasileiros são primordialmente econômicas, explicou. "Era difícil para os brasileiros de classe média manterem seu estilo de vida com os salários do Brasil, e eles perceberam que se saíssem e tivessem empregos básicos, poderiam juntar dinheiro para um pé-de-meia e voltar ao Brasil para investir numa vida melhor."

A pesquisadora explica que é muito comum, no início de processos migratórios, que as pessoas pensem em voltar ao país original depois de alguns anos, mas o que acontece é que as pessoas vão adiando e acabam se estabelecendo de forma mais fixa.

Retornos na crise

Por conta da crise internacional do final da última década e do aumento do desemprego especialmente na Europa, Margolis diz que é possível perceber um movimento modesto de retorno de brasileiros a sua terra natal, mas diz que "ninguém sabe exatamente quantos voltaram".

Segundo ela, entretanto, o movimento neste sentido aconteceu especialmente no auge da crise, em torno de 2008, quando o Brasil parecia estar em uma posição privilegiada na economia mundial. Atualmente, diz, o fluxo de migração continua sendo de saída de brasileiros, mesmo que em menor quantidade.

"Acredito que menos gente esteja saindo do Brasil, mas não tenho números. Hoje há menos pessoas chegando do Brasil para viver nos EUA, mas o processo não parou completamente. Suspeito que muitos brasileiros voltaram ao Brasil e descobriram que os salários não são tão bons quanto elas esperavam, e o custo de vida é muito mais alto até mesmo do que em Nova York".

'Brasfobia'

Em seu livro mais recente, Margolis fala sobre um comportamento típico das comunidades de brasileiros no exterior, o hábito de essas pessoas falarem mal uma das outras, que ela chama de "brasfobia". "São brasileiros que dizem 'somos desorganizados porque os brasileiros, quando vão para o exterior, mudam, se tornam egoístas, nao têm espirito de comunidade'", explicou.

"Descobri que isso existia em Nova York, e várias outras pesquisas encontraram coisas parecidas em Boston, na Flórida e em outros lugares na Europa. Esse tipo de fofoca e de falar mal uns dos outros existe entre outras comunidades, e acho que acontece porque a imigração coloca muita pressão sobre as pessoas."

Segundo ela, entretanto é uma ideologia que não funciona muito na prática. "Brasileiros no exterior são amigos de brasileiros, eles se ajudam, mesmo que de forma desorganizada."

Será o fim do contrabando de queijo no Brasil?


 



Camilla Costa
Da BBC Brasil em São Paulo

Cada vez mais buscados por brasileiros e estrangeiros, os queijos artesanais brasileiros devem chegar mais facilmente às lojas e mesas dos consumidores, depois que uma mudança na legislação flexibilizou as regras para a comercialização do produto.

A produção artesanal do queijo de leite cru tem uma história de mais de 400 anos no Brasil - em especial no Estado de Minas Gerais, cujo queijo produzido na Serra da Canastra é considerado Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No entanto, as exigências sanitárias da lei brasileira, criada nos anos 1950, impediam que os queijos fossem vendidos fora de seus Estados de origem.

Mas uma instrução normativa - norma complementar à lei - ratificada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em agosto, flexibilizou as regras para a comercialização em todo o país.

Atualmente, o queijo artesanal mineiro é o centro de uma complexa rede de tráfico envolvendo "queijeiros" - atravessadores que compram o queijo nas fazendas, falsificam seus rótulos e o transportam ilegalmente pelas fronteiras estaduais.
"Nos últimos anos, há uma busca muito grande do consumidor pelo queijo artesanal brasileiro, mas isso faz com que muitos de nós trabalhemos de uma maneira informal. Cerca de 70% dos queijos que eu tenho são ilegais no Estado de São Paulo", disse à BBC Brasil o chef de cozinha e especialista em queijos artesanais .

Bruno Cabral.
Clientes na loja A Queijaria, em São Paulo | Foto: BBC
Queijos artesanais participarão pela primeira vez de competição internacional

Cabral, de 34 anos, vende queijos que compra de pequenos produtores e armazena em sua própria casa.
"O tráfico de queijo no Brasil é muito forte e mistura queijos de altíssima qualidade a queijos de baixíssima qualidade. Isso não é bom para a imagem do queijo brasileiro", afirma.
O chef será o primeiro brasileiro a participar como jurado do World Cheese Awards, maior evento de queijo do mundo, que acontecerá na Inglaterra, em novembro.
O evento também receberá pela primeira vez dois queijos brasileiros na competição - o queijo da Serra da Canastra e o queijo azul de cabra de Joanópolis (SP).

Exigências

A lei brasileira exigia que os queijos artesanais tivessem no mínimo 60 dias de maturação para que pudessem ser vendidos fora de seus Estados, uma vez que fossem aprovados de acordo com critérios sanitários.
A exigência, no entanto, era contestada por produtores e autoridades estaduais.
"Consumi queijos na França com 5 a 7 dias de maturação e eles não me causaram problemas de saúde. Precisamos de mais pesquisas técnicas e químicas a respeito dos produtos", afirma Cabral.
Agora, de acordo com o Ministério da Agricultura, queijos artesanais de qualquer Estado brasileiro poderão ser levados ao resto do país com menos tempo de maturação - desde que haja estudos que comprovem sua qualidade.
"O tráfico de queijo no brasil é muito forte e mistura queijos de altíssima qualidade com queijos de baixíssima qualidade. Isso não é bom para a imagem do queijo brasileiro."
Bruno Cabral, chef de cozinha e mestre queijeiro
Os estudos, que antes só poderiam ser analisados por um comitê designado pelo Ministério, agora poderão ser avaliados pelos órgãos estaduais competentes.
Mas o próprio Ministério admite que o Estado de Minas está mais preparado para atender as exigências sanitárias e burocráticas da lei do que outros Estados brasileiros.

Na moda

A mudança na legislação acontece em um momento em que os queijos artesanais brasileiros começam a ganhar notoriedade dentro do próprio país.

Este ano, São Paulo ganhou a primeira e única loja especializada em queijos artesanais do Brasil, que vende mais de 80 tipos de queijo de seis Estados.

Seu dono, Fernando Oliveira, diz que foi buscar produtores artesanais de Minas para resgatar memórias da infância com o avô, mas descobriu um mercado em ascensão.

"O nosso projeto se apoia num mercado que é crescente. As pessoas querem experimentar o Brasil, os sabores, as texturas. Essas lojas estão no mundo inteiro e não tinha aqui no Brasil", diz.

Segundo Oliveira, clientes brasileiros e estrangeiros se surpreendem com a variedade da produção nacional.
A francesa Safia Gilles, de 43 anos, mora em São Paulo desde julho e diz ter encontrado nos queijos de leite cru brasileiros uma maneira de matar a saudade dos sabores do seu país.

"A primeira vez que provei o queijo brasileiro foi com o pão de queijo, que gostei muito. Encontrei muitos queijos que parecem com os franceses no gosto e no sabor. Gostei muito do Araxá e do Bouche, que se parecem muito ao queijo Gruyére e ao queijo de cabra", disse à BBC Brasil.

Mulher brasileira é vítima de seu próprio machismo, diz historiadora



Mary Del Priore (Foto: Divulgação)

'Quanto mais educação, mais transparente e igualitária é a relação', diz Mary Del Priore

Mary Del Priore é historiadora, professora universitária e autora de obras como História das Mulheres no Brasil (ed. Contexto), vencedor dos prêmios Jabuti e Casa Grande e Senzala, e Histórias e Conversas de Mulher (ed. Planeta), em que acompanha avanços femininos desde o século 18.
Para a historiadora, as mulheres brasileiras do último século conquistaram o direito de votar, tomar anticoncepcionais, usar biquíni e a independência profissional. Mas ainda hoje são vítimas de seu próprio machismo.
Série da BBC aborda anseios e conquistas das mulheres atuais
Muitas mulheres "não conseguem se ver fora da órbita do homem" e são dependentes da aprovação e do desejo masculino, opina ela.

BBC Brasil - Você vê traços de machismo ou preconceito em seus ambientes profissional e pessoal?

Mary Del Priore - No ambiente profissional, não vivi nenhum problema, porque desde os anos 1980 o setor acadêmico sofreu grande "feminilização". As mulheres formam um bloco consistente nas disciplinas (universitárias) mais diversas.
"O fato de que elas busquem se realizar resgatando o trabalho doméstico, manual ou artesanal é uma prova de que a singularidade feminina tem muito a oferecer. A mulher pode, sim, realizar-se através do trabalho doméstico e não necessariamente no público"
Mas, na sociedade, acho que o machismo no Brasil se deve muito às mulheres. São elas as transmissoras dos piores preconceitos. Na vida pública, elas têm um comportamento liberal, competitivo e aparentemente tolerante. Mas em casa, na vida privada, muitas não gostam que o marido lave a louça; se o filho leva um fora da namorada, a culpa é da menina; e ela própria gosta de ser chamada de tudo o que é comestível, como gostosa e docinho, compra revistas femininas que prometem emagrecimento rápido e formas de conquistar todos os homens do quarteirão.
O que mais vemos, sobretudo nas classes menos educadas, é o machismo das nossas mulheres.

BBC Brasil - Mas muitas até querem que os maridos ajudem em casa, mas será que essas coisas do dia a dia acabam virando motivos de brigas justamente por conta do machismo arraigado? E também há mulheres estudadas, ambiciosas e fortes - mas também vaidosas, que ao mesmo tempo querem se sentir desejadas por um parceiro/a que as respeite. Isso é uma conquista delas, não?

Del Priore - Ambas as questões não podem ter respostas generalizantes. Mais e mais, há maridos interessados na gerência da vida privada e na educação dos filhos. Quantos homens não vemos empurrando carrinhos de bebê, fazendo cursos de preparação de parto junto com a futura mamãe ou no supermercado? Tudo depende do nível educacional de ambos os parceiros. Quanto mais informação e mais educação, mais transparente e igualitária é a relação. 

Quanto às mulheres emancipadas, penso que preferem estar sós do que mal acompanhadas. Chega de querer "ter um homem só para chamar de seu". Elas estão mais seletivas e não desejam um parceiro que queira substituir a mãe por uma esposa.

BBC Brasil - Como a mulher mudou – e o que permanece igual – no último século?
"Na vida privada, muitas se revelam não só machistas mas racistas e homofóbicas. Muitas não gostam que o marido lave a louça; se o filho leva um fora da namorada a culpa é da menina, ela própria gosta de ser chamada de tudo o que é comestível, como gostosa e docinho, compra revistas femininas que prometem emagrecimento rápido e formas de conquistar todos os homens do quarteirão"
Del Priore - Temos uma grande ruptura nos anos 60 e 70 no Brasil, que reproduz as rupturas internacionais, com a chegada da pílula anticoncepcional. As mulheres começaram a ocupar postos nos diversos níveis da sociedade, a ganhar liberdade sexual e financeira. Ela passa atuar como propulsora de grandes mudanças. Quebra-se o paradigma entre a mulher da casa e a mulher da rua. 

(Mas) a mulher continua se vendo através do olhar do homem. Ela quer ser essa isca apetitosa e acaba reproduzindo alguns comportamentos das suas avós. Basta olhar algumas revistas femininas hoje. Salvo algumas transformações, a impressão é de que a gente está lendo as revistas da época das nossas avós.
A mulher não consegue se ver fora da órbita do homem, diferentemente de algumas mulheres europeias, que são muito emancipadas. O que ela quer é continuar sendo uma presa desejada.

A (antropóloga) Mirian Goldenberg diz que a mulher brasileira continua correndo atrás do casamento como uma forma de realização pessoal. No topo da agenda dela não está se realizar profissionalmente, fazer o que gosta, viajar, conhecer o mundo – está encontrar um par e botar uma aliança no dedo. Mesmo que o casamento dure uma semana.

Quais as amarras das mulheres atuais?

Del Priore - O machismo é uma das questões. Outra, que talvez explique a inatividade da mulher frente a esse padrão, é que, com a entrada num mercado de trabalho tão competitivo, com tantas crises econômicas e uma classe média achatada, a luta pela sobrevivência se impõe sobre qualquer outro projeto.
Essa falta de tempo para respirar, o fato de ter que bancar filhos ou netos, isso talvez não dê à mulher tempo para se conscientizar e se erguer acima do individualismo – outra tônica do nosso tempo – e pensar no coletivo.

BBC Brasil - Ao mesmo tempo em que a mulher avança no mercado de trabalho, algumas também têm perdido a vergonha de parar de trabalhar para cuidar dos filhos; ou resgatado, como hobbies ou profissão, antigas "tarefas de mulher", como tricô, cozinha, artes manuais. Desse ponto de vista, existe um poder maior de escolha das mulheres?

Del Priore- Sempre apostei que as mulheres não deveriam buscar ser "um homem de saias", mas apostar em sua diferença e singularidade. As marcas do gênero, segundo sociólogos, são a criatividade, a diplomacia, capacidade de dialogar, etc. O fato de que elas busquem se realizar resgatando o trabalho doméstico, manual ou artesanal é uma prova de que a singularidade feminina tem muito a oferecer.
A mulher pode, sim, realizar-se através do trabalho doméstico e não necessariamente no público. Desse ponto de vista elas só estariam dando continuidade a uma longa tradição, discreta e oculta, que é a independência adquirida por meio de atividades desenvolvidas no lar. Nossas avós, quando trabalhadoras domésticas, já conheceram essa situação. A tecnologia só nos ajuda a torná-lo mais eficiente.

BBC Brasil - Que papel a educação teve na mulher que você é hoje?
"Hoje o grande desafio, em qualquer idade, é o equilíbrio interior, estar bem consigo mesma. Quando começamos a envelhecer – o que é o meu caso, aos 61 anos –, é preciso olhar isso com coragem, ver isso como um investimento positivo"
Del Priore - Tive uma trajetória peculiar. Resolvi fazer universidade (aos 28 anos) quando já era mãe de três filhos. A maturidade me ajudou muito a progredir. Tive a sorte de ter na PUC-RJ e na USP um ambiente muito receptivo, porque era um momento em que a universidade estava largando aquela camisa de força marxista e se abrindo para estudos de cultura e sociedade, que me interessavam. 

BBC Brasil - Quais os principais desafios que você enfrenta como mulher?

Del Priore - Hoje o grande desafio, em qualquer idade, é o equilíbrio interior, estar bem consigo mesma. Quando começamos a envelhecer – o que é o meu caso, aos 61 anos –, é preciso olhar isso com coragem, ver isso como um investimento positivo. E ter tempo para a família, para as pessoas em volta da gente.
Quando era mais jovem, eu me preocupava muito com grandes projetos. Hoje me preocupo com o pequeno – acho que é por aí que você muda a realidade. É no dia a dia, na maneira como você trata as pessoas à sua volta, no respeito que você tem pelo seu bairro. Não temos condições de abraçar o mundo. Através do micro, a gente consegue aos poucos transformar o macro.

Essa entrevista faz parte da série "100 Mulheres - Vozes de Meio Mundo". A série, publicada globalmente pela BBC, trata dos desafios da mulher contemporânea.