domingo, 9 de março de 2014

"O Brasil perdeu uma década com hesitações ideológicas e esse é um tempo irrecuperável"

O economista e ex-presidente do Banco Central do Brasil Gustavo Franco é um crítico severo dos governos do PT. Considera as suas políticas macroeconómicas “inconsistentes”, afirma que “o Brasil é um país que tem um problema fiscal e não o reconhece” e acusa o Governo de se basear numa “ideologia quase de autarcia” que afastou o país do ciclo global de crescimento.
Gustavo Franco, economista e ex-presidente do Banco Central do Brasil Reuters

Gustavo Franco (Rio de Janeiro, 1956), um dos criadores do Plano Real lançado há 20 anos, ex-presidente do Banco Central do Brasil, estratega da área de investimentos de uma empresa de serviços financeiros e académico com vários títulos publicados é um crítico empenhado das políticas do PT (Partido dos Trabalhadores, do ex-Presidente Lula da Silva e da actual Presidente Dilma Rousseff).

Nas suas crónicas no jornal Globo e no Estado de São Paulo, associa a retracção do consumo à queda do crescimento, defende uma maior liberalização da economia e o recuo dos gastos públicos para incentivar o investimento privado e reclama uma maior integração do Brasil nos fluxos da economia global. Apesar de ser destacado militante do Partido da Social Democracia Brasileira, não vai participar na campanha presidencial do candidato oficial do PSDB, Aécio Neves.

PÚBLICO - Qual é a principal causa para a desaceleração da economia brasileira depois de 2010?

Gustavo Franco - Essa expansão que vem perdendo fôlego depois de 2008/2009, é uma expansão baseada no consumo. Ela foi extraordinária nesse período que vai de 2003 até à crise, e quando a crise é superada, em 2009-2010, nós não voltamos a retomar o crescimento do consumo com o mesmo vigor. Claramente o modelo mostra sinais de esgotamento porque o novo patamar de endividamento familiar é elevado. Está-se a verificar certa resistência das pessoas a endividarem-se mais para consumo e, ao mesmo tempo, num momento como o actual em que a taxa de juros começa a crescer, soma-se a isso o aumento do custo dos empréstimos. Por isso, a economia encolheu. A grande decepção das autoridades é que elas imaginavam que esse processo de expansão baseado no consumo alavancado, no consumo e dívida familiar, fosse fazer começar um processo de aumento na formação de capital. Ou seja, as empresas investiriam mais, fariam mais capex [investimento de capital], com o intuito de criar capacidade produtiva para um crescimento sustentado maior.

Por que é que isso não aconteceu?

Isso não ocorreu. A expansão do consumo foi perdendo fôlego e não veio a ser substituída por uma expansão baseada no investimento. Essa é a explicação sobre o porquê do crescimento que vem perdendo impulso já faz algum tempo.

Como é que o Brasil pode contornar a actual situação? Como é que pode voltar a conquistar níveis de crescimento semelhantes aos registados na década passada?

Pois é, teria de ser numa base diferente, onde o investimento, o capex, o gasto de capital das empresas tivesse um papel mais importante do que teve no passado. Nesse particular, os números brasileiros são muito ruins para os padrões internacionais. A formação de capital é algo como 18% do PIB, que compara com 45% na China ou 33% na Coreia ou em outros países de emergentes, que têm taxas brutas de capital fixas muito elevadas. Por que é que no Brasil essa taxa é tão baixa? São muitas as explicações. A principal é que o custo de capital é muito elevado, a taxa de juro é muito alta; a segunda é que o mercado de capitais é pouco desenvolvido; a terceira é que os empresários reclamam muito de impostos e outras dificuldades no seu cash-flow.

E têm razão?

Todas essas razões são legítimas, e todas elas são associadas às finanças públicas. O governo é muito grande, muito endividado, com défices muito grandes. Portanto, a própria política fiscal tem sido o grande obstáculo para abrir mais espaço para a economia privada adquirir a sua própria dinâmica, o seu próprio ritmo de investimento maior. Nos últimos anos, em particular desde 2010, a política fiscal piorou, a situação fiscal ficou mais frágil e isso prejudicou ainda mais a intenção e a possibilidade de trazer mais investimento privado para contribuir para o crescimento.

Admite a possibilidade de, lá para 2015 ou 2016, o Brasil com estes problemas possa conhecer uma recessão?

Acho uma recessão pouco difícil, porque com a demografia - o Brasil tem muita gente jovem -, é difícil imaginar que um país assim sofra uma contracção. A menos que a inflação vá-se elevar muito e seja preciso praticar uma política fiscal e monetária deliberadamente recessiva para domar a inflação. Não é o caso. Porém, o que a maior parte dos analistas enxerga é um crescimento atravancado num nível baixo.

Um dos problemas assinalados é que o custo real dos salários tem aumentado muito acima da inflação. Verifica a possibilidade de haver condições políticas para se reajustar o nível do rendimento do trabalho nos próximos anos? Isso é uma necessidade para a economia do Brasil reganhar competitividade?

Bom, isso é muito importante e acho que nos últimos anos os aumentos, sobretudo no salário mínimo, foram muito além do que se poderia, não apenas ao nível da inflação, mas também ao nível da produtividade da economia e isso criou muitas distorções no mercado de trabalho brasileiro. Nas regiões onde o salário mínimo é mais importante, por exemplo no Nordeste, temos um desemprego muito maior do que a média nacional. Já entramos num terreno onde o salário mínimo começa a produzir desemprego e informalidade, além do que o salário mínimo tem efeitos fiscais ruins porque as aposentações e pensões de servidores públicos está conectada ao salário mínimo. Também os funcionários públicos no activo, principalmente nas pequenas prefeituras, não podem ganhar menos do que o salário minino nacional e isso deteriorou muito as finanças públicas de muitas municipalidades pequenas. Os salários no sector privado, sobretudo nas áreas urbanas, estão crescendo muito porque o desemprego tem estado muito baixo. Isso tem criado uma combinação muito difícil para as empresas, que é a do pleno emprego, salários crescentes e uma procura fraca, crescimento fraco, vendas que vêm crescendo com pouca velocidade. Empresas que nesse contexto jamais vão pensar em começar processos de investimento. Então, de facto, estamos diante de um conjunto de políticas macroeconómicas verdadeiramente inconsistentes.

Há quem defenda que a sustentação da previdência não está em causa nos próximos 20 anos por causa dos padrões da demografia. Concorda? Ou era melhor o Brasil encarar esta questão como um problema?

O problema existe neste momento. Em razão da demografia o sistema actual deveria estar a produzir superávite. Nós criámos obrigações de natureza assistencial que são permanentes e que utilizam esse superávite que é apenas temporário. É como se tivéssemos adiantado o período de esgotamento do bónus demográfico. Nós gastamos esse dinheiro. Daqui para a frente, quando a população começar a envelhecer e as receitas do superávite da previdência começarem a diminuir, como criamos outras despesas com esse dinheiro, nós vamos ter problemas mais rapidamente do que daqui a 20 anos. Isso é uma situação muito séria e claramente não se pensou no futuro desse assunto. Nós gastámos o dinheiro antes da hora e comprometemo-nos a longo prazo com despesas assistenciais e esse dinheiro vai nos fazer falta muito breve.

Há muitos analistas que consideram que o maior problema do ciclo que o Brasil enfrenta é a inflação. Também acha que o fantasma da inflação é a maior ameaça para os próximos tempos?

Eu não sei se é a maior ameaça, mas é um problema que se vai tornando muito mais sério com o tempo. Afinal o Brasil experimentou a hiperinflação há 20 anos e ninguém sabe dizer ao certo em que medida os maus hábitos desse tempo podem retornar. Há uma certa apreensão em que a inflação seja um pouco como o alcoolismo, que não tem cura e que ainda que o paciente tenha ficado sóbrio durante 20 anos, se ele voltar a beber, ainda que pouquinho, rapidamente pode ir para o descontrolo. Eu, como muitos, temos preocupação em relação a isso, mas não tenho muito a certeza. Vejo à nossa volta, na Argentina e na Venezuela, um crescimento vicioso e preocupante da inflação e ao mesmo tempo um estilo completamente novo de lidar com o problema, envolvendo muito artificialismo, muita maquilhagem. Tudo isso me deixa muito preocupado porque às vezes em vejo no Brasil coisas parecidas com o que se pratica na Argentina e Venezuela…

… refere-se ao controlo de preços de bens essenciais como a gasolina ou a electricidade?

Isso. Isso e também um esforço muito grande para ocultar a verdadeiro tamanho do problema fiscal, mas vendo aqui muita maquilhagem nos números fiscais dando a impressão de que a situação é melhor do que realmente é. Estamos a falar da contabilidade criativa.

Em termos internacionais, a dimensão da dívida pública é muito aceitável. Portugal, os Estados Unidos ou a Alemanha gostariam de ter essa dívida pública (cerca de 60% do PIB).

Pois é, mas há diferenças entre economias avançadas e economias emergentes. Para uma economia avançada, com mercados de capitais de grande porte e acostumados a absorver títulos públicos de longa duração, o endividamento médio antes da crise era de 70% do PIB, hoje está maior e nunca representou nenhuma espécie de pressão sobre as taxas de juro. Nas economias emergentes é diferente, porque não há tanta poupança acumulada, a riqueza dos fundos de pensão é pequena, os mercados de capitais são menores, tanto é que a média da divida publica em relação ao PIB nessas economias é na ordem de 30%. O Brasil tem o dobro disso e mesmo assim é um número sujeito a muita controvérsia. Há muitas dívidas ainda não contabilizadas. É uma situação preocupante e o governo tem uma postura a esse respeito que não inspira muita confiança, uma vez que trata sempre de ocultar qualquer problema, qualquer preocupação. Portanto, o Brasil é um país que tem um problema fiscal e não o reconhece. Isso é muito ruim e como o problema não vai embora, quando a gente finge que ele não existe isso só serve para retardar o momento em que o vamos ter de enfrentar.

Ou seja, como dizem os brasileiros, um dia terão de “cair na real”?
É verdade.

Um estudo de uma consultora internacional divulgado na cimeira de Davos coloca o Brasil no quarto lugar mundial entre os melhores destinos para as grandes empresas investirem. Isso não contraria de certa modo a leitura que faz da situação?

As razões para esse interesse são semelhantes às que levam as multinacionais a estabelecerem na China ou na Índia que são países que também têm os seus problemas. A primeira razão é o tamanho do mercado, a segunda é a perspectiva de crescimento potencial e a terceira é que todos os competidores estão a ir para o Brasil e então eles também têm de ter presença nesses países. Não interessa que traga o dinheiro para cá e não faça gastos de capital. O que temos observado no Brasil é que há um fluxo muito grande do que nós chamamos IDE [Investimento Directo Estrangeiro] que, no entanto, apesar do nome não é exactamente investimento. O que é isso? São fluxos cambiais de dólares que entram no Brasil para integralizar parcelas de capital estabelecidas no Brasil. É isso que a estatística regista a um ritmo de 60 mil milhões de dólares por ano. O assunto é diferente quando se pergunta o que estas empresas estrangeiras estão a fazer no Brasil. Estão a receber esse dinheiro das suas sedes e estão a iniciar projectos de investimento novos, estão efectivamente gastar dinheiro em máquinas, fábricas, novas instalações? E a resposta é não.  

O que explica que a economia com o maior parque industrial da América Latina exporte apenas 13% do PIB? É o resultado de uma política económica deliberada ou é uma resposta proteccionista à falta de competitividade externa do país em bens transaccionáveis que não sejam a agricultura e minerais?

São as duas coisas, mas acho que a primeira é mais importante. É uma política deliberada já muito enraizada no país sobretudo de repressão à importação. Uma cultura muito antiga de substituição de importações e de autonomia. Uma ideologia quase de autarcia, que faz uma associação entre comércio e vulnerabilidade: quando mais dependente do comércio exterior, mais vulnerável será o país. É uma cultura que vem dos anos 50 e que leva os mais variados instrumentos de política económica a um autismo contra a importação. Agora o facto é que se você não importa, você não exporta, excepto aquilo que vem directamente da natureza, da agricultura e da mineração, onde o Brasil tem vantagens comparativas. Mas em bens manufacturados, não existe exportação competitiva sem importação. Todos os países que exportam com sucesso precisam de importar os melhores insumos do mundo para que o valor adicionado que produzem seja exportado sem punição. Observe-se a Coreia do Sul, a China, grandes países exportadores que são também grandes países importadores. A exportação tem um conteúdo importado muito grande. Se não é possível importar não é possível exportar.

E isso é um problema para o Brasil que deveria ser mudado?

No mundo globalizado essa ideia de associação entre autonomia económica e autarcia tornou-se obsoleta. A ideia de que o país fica vulnerável se tiver mais comércio é uma tolice que foi comprovadamente abandonada. Talvez o que os anos recentes da globalização tenham revelado é exactamente o contrário, é que os países que mais cresceram nos últimos 20 ou 30 anos ou meio século sejam os países que tiveram o seu comércio internacional mais dinâmico. O Brasil tem uma máquina, uma burocracia, a legislação que não está adaptada para a exportação. Por isso nós temos ainda um longo caminho pela frente para arrumar a casa nesses assuntos do comércio exterior.

Que papel tiveram as políticas sociais da era Lula, e em concreto a incorporação na classe média, no mercado, de 40 milhões de pessoas, na expansão da economia brasileira da última década?

Elas foram importantes, mas há um vasto exagero na importância dessas políticas como explicação para esse fenómeno do crescimento da classe C, como se diz. A explicação é muito simples: é a demografia. O Brasil experimentou há duas décadas atrás uma queda extraordinária na taxa de fertilidade. Um exemplo típico desse fenómeno da classe C é o seguinte: há 15 anos uma família pobre, de classe D, tinha um casal e cinco filhos em idade escolar. De sete pessoas só duas trabalhavam, o que por si só é algo que agrega pobreza e piora a distribuição de rendimento. Dez anos depois, essa passa a ser uma família que tem sete pessoas e as sete trabalham. O rendimento familiar é muito maior. A capacidade de consumo é maior, todos podem se endividar para consumir.

E portanto o que se observa dos anos 90 para os anos que vivemos agora é que talvez seguramente mais de dois terços da mudança das pessoas para a classe C tem a ver o perfil etário da população. Os programas do Governo, sobretudo o crescimento muito forte do salário mínimo, também ajudaram a adicionar rendimento nesse segmento, sobretudo nas classes C e D. Mas o grande programa social do Governo, o Bolsa Família, é um programa que atinge a classe E, a da extrema pobreza que se move talvez na direcção da classe D. Esse programa não teve impacte nenhum no crescimento da classe C. Portanto aqui dentro do Brasil há uma visão bastante mais crítica desse assunto das políticas do Governo Lula. A demografia ajudou, agora o que o Governo fez com o Bolsa Família ninguém discute que é positivo, uma vez que trata da extrema pobreza, mas o assunto não dá para ir muito mais adiante. O salário mínimo é um instrumento de política social com limitações.

Por que é que o Brasil se atrasou tanto a construir infra-estruturas básicas, como estradas ou caminhos-de-ferro, cuja falta é hoje considerada como um dos principais obstáculos ao crescimento?

Por duas razões. Uma foi a incapacidade de fazer crescer no sector privado a taxa de investimento. As empresas brasileiras que trabalham nesse ramo ou em ramos próximos da infra-estrutura investem pouco. A segunda explicação é a própria erosão da capacidade de investimento do Governo. O Governo, da democratização para cá, em razão dos dispositivos da nova Constituição de 1998 passou a ter obrigações de natureza social que são um gasto corrente muito maior e em razão disso não tem mais dinheiro para fazer investimento, para utilizar os impostos para fazer portos e estradas e essas coisas. São duas explicações, e ambas querem dizer uma coisa: falta de dinheiro. Claro que havia uma alternativa que foi explorada de forma limitada e que ainda permanece em aberto que é a privatização. Muitas das áreas da infra-estrutura que o Governo não tem os recursos para explorar, ele poderia perfeitamente ter privatizado, dado em concessão, o regime é o que menos importa. Isso funcionou muito bem, por exemplo, com as telecomunicações, que é uma área de infra-estrutura em que o Brasil não tem carências. O Governo do PT tem uma enorme resistência nesse assunto de privatização, uma resistência ideológica, uma oposição que está no DNA, mas no entanto teve que recuar e teve que começar um programa de concessões. Mas começou agora, que está a terminar o terceiro mandato do PT. Perdemos uma década com hesitações ideológicas e esse é um tempo irrecuperável.

A exploração do petróleo do pré-sal impõe que a Petrobras, uma empresa maioritariamente pública, controle pelo menos um terço da exploração das novas jazidas. Como a exploração exige enormes recursos, o país continua sem aproveitar esse enorme potencial. Na sua opinião o Brasil deveria liberalizar a exploração do petróleo do Pré-sal para obter resultados mais céleres?

Penso que sim. Hoje o próprio Governo reconhece que errou nesse assunto. Esse dispositivo, que só pode ser explicado por razões ideológicas, tecnicamente destruiu a Petrobras. A Petrobras vale hoje talvez metade ou 40% do que valia antes deste Verão porque ficou sujeita a uma imposição de participar em todos os projectos de extracção de petróleo, no mínimo, com 30% e numa situação onde, por cima disso, o Governo ainda controla os preços da gasolina. Ou seja, não deixa que as novas necessidades de financiamento da empresa sejam feitas pelos aumentos de preços dos derivados do petróleo. Então a companhia não tem caixa para fazer esses investimentos e quem tem de botar o dinheiro é o Tesouro Nacional, o que no fundo leva a uma conclusão que o nacionalismo é muito caro. Para ser nacionalista, é preciso estar preparado para tributar mais pesadamente os seus cidadãos. E como isso se revelou difícil no Brasil, o Tesouro se endivida. A dívida pública está a crescer para cobrir esse hiato, essa diferença, esse custo da ideologia nacionalista que adoptámos nesse assunto. Foi um erro e um erro politicamente complexo de ser reconhecido e de voltar atrás. Foi um erro e um erro muito caro.

Vai participar activamente na próxima campanha presidencial ao lado do candidato do seu partido (PSDB), Aécio Neves?

Eu tenho ligação com o PSDB, vou ajudar o partido como um membro do partido, como economista do partido, mas não pretendo participar directamente na campanha.

 http://www.publico.pt/mundo/noticia/o-brasil-perdeu-uma-decada-com-hesitacoes-ideologicas-e-esse-e-um-tempo-irrecuperavel-1627442

sábado, 8 de março de 2014

Pioneiras falam sobre papel da mulher na sociedade atual


Brasileiras de diversos segmentos destacam conquistas e caminho ainda a percorrer

O  caminho ainda é longo para a igualdade entre homens e mulheres no Brasil, mas de fato muito já foi conquistado. O avanço no mercado de trabalho é um exemplo. Metade das vagas de emprego criadas nos últimos três anos foram ocupadas por mulheres, como reforçou a primeira presidente mulher do país, Dilma Rousseff. No Jornalismo, por exemplo, o percentual de profissionais do gênero feminino subiu de 35,24% em 1986 para 53,49% em 2007. Aumentou a desigualdade em relação à renda, no entanto, segundo a PNAD 2012, divulgada pelo IBGE no final do ano passado. Em 2012, as trabalhadoras recebiam o equivalente a 72,9% (R$ 1.238) do rendimento dos homens (R$ 1.698); enquanto em 2011 esta proporção era de 73,7%.

O JB ouviu mulheres de destaque sobre o papel desempenhado na sociedade atual e também sobre o significado de um Dia Internacional das Mulheres, celebrado neste 8 de março. Data que surgiu para lembrar das 129 costureiras que morreram carbonizadas em uma fábrica em Nova York, no início do século passado, por lutarem por melhores condições de trabalho e vida. Os donos da fábrica Cotton Textile Factory haviam prendido as trabalhadoras para forçá-las a permanecer no trabalho e não aderirem à greve.
Yvonne Bezerra de Mello, fundadora do Projeto Uerê, destaca luta diária das mulheres para garantir direitos que já foram conquistados
Yvonne Bezerra de Mello, fundadora do Projeto Uerê, destaca luta diária das mulheres para garantir direitos que já foram conquistados
A carioca Yvonne Bezerra de Mello, figura já reconhecida no país, é protagonista em sua luta pela educação e transformação da realidade de crianças e jovens vitimizados. Doutora em filologia e linguística pela Universidade De Paris - Sorbonne, ela fundou e coordena o Projeto Uerê, que assiste a mais de 400 crianças com problemas de cognição devido a episódios de violência. A iniciativa surgiu após a chacina de 1993 na Candelária, no Rio, quando oito das 70 crianças com as quais Yvonne trabalhava foram assassinadas. Em 2007, ela recebeu, na Alemanha, o Prêmio Paz no Mundo e Cidadania, da União Europeia, pela metodologia aplicada pelo Uerê.

Ela ressalta que a mulher tem conquistado seu espaço nas últimas décadas, mas não sem esforço e muita luta, e que ainda é pouco. Yvonne destaca também que a violência contra a mulher cresce no mundo todo, no lugar de ser reduzida, que os salários ainda são desiguais e que a maioria dos países ainda é governada por homens. 

"Infelizmente, ainda temos que lutar diariamente para assegurarmos nossos direitos adquiridos. O papel da mulher na sociedade de hoje? De uma capacidade indiscutível. A luta? Para que tenhamos todas as mulheres do mundo com educação de qualidade para a completa abolição do machismo", reforça. 
Magda Chambriard: "Mulheres com criatividade e garra fazem do mundo um lugar muito especial"
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A diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Magda Maria de Regina Chambriard, foi a primeira mulher da história a ocupar o mais alto cargo da agência reguladora, em 2012. Isto no momento em que o país se vê com a possibilidade de se tornar um dos maiores produtores de petróleo, com a descoberta do pré-sal. "Neste Dia Internacional da Mulher, gostaria de dizer que as mulheres com criatividade, sensibilidade e garra fazem do mundo um lugar muito especial", declarou ao JB

A atleta Fabi, da Seleção Brasileira de Vôlei, começou a jogar aos 13 anos em uma escolinha em Irajá, no Rio de Janeiro. Um ano depois estava na equipe mirim do Flamengo. Agora é bicampeã olímpica, quatro vezes campeã do Grand Prix e pentacampeã da Superliga pela Unilever.

"Antes de mais nada, parabéns para todas nós, mulheres! Cada vez mais estamos conseguindo quebrar tabus e nos igualar aos direitos dos homens. Não tem mais essa de que isso ou aquilo é trabalho só pra homem. Acabou este preconceito! Foi um processo que vem de muitos anos e cada vez mais se fortalece. Depois de ter completado 33 anos e ter duas medalhas olímpicas, me sinto privilegiada! Espero que de, alguma forma, tenhamos conseguido motivar mais e mais mulheres a nunca desistirem dos seus sonhos e ambições", diz Fabi.
Fabi do vôlei, bicampeã olímpica, ressalta quebra de tabus e mais igualdade
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Anna Lydia Pinho do Amaral, da diretoria da Academia Nacional de Medicina, foi a primeira mulher no Brasil a assumir a direção de um hospital do Inamps, o Hospital de Ipanema. É médica ginecologista obstetra há mais de 30 anos, doutora em ginecologia pela UFRJ. Presidiu a Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Rio de Janeiro e faz parte da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro.

A médica lembra que a mulher é a peça de apoio e segurança de todas as sociedades, tanto ocidentais quanto orientais, e aponta o controle da reprodução e conquistas do final dos anos 1960 e início da década seguinte como a grande revolução, decorrente da dissociação entre prazer e reprodução. O processo de urbanização e entrada no mercado de trabalho do segmento feminino na sociedade brasileira, acrescenta, foi o germe de transformações sociais e laborais antes inimagináveis em uma sociedade patriarcal e latina, de cunho eminentemente machista.

"Os progressos obtidos através das conquistas pela educação e movimentos sociais fizeram que a mulher saísse de seu quase claustro intra-familiar para as lideranças que culminaram na eleição da primeira mulher presidente do Brasil. Várias foram as conquistas em todas as áreas laborais, abrangendo todas as profissões que fizeram não mais retroceder a sociedade brasileira. Esforço, dedicação, trabalho e ternura são a síntese do feminino que hoje permeia a sociedade brasileira", acredita Anna Lydia. 

Anna Lydia também enfatiza a origem do Dia Internacional da Mulher, que veio "através do derramamento de sangue e de vidas de memoráveis mulheres que tiveram suas vidas ceifadas na cidade Norte Americana de Nova Iorque por um incêndio criminoso. (...) ato extremamente vil e desumano que marcou indelevelmente a historia do mundo ocidental."

Apesar de destacar o fato da mulher ainda ter que enfrentar a violência, pondera que houve vários avanços sociais, apesar de barbáries que ainda ocorrem em algumas sociedades. Entre as conquistas, Anna Lydia cita a promulgação da Lei Maria da Penha, nome dado à vitima de um crime bárbaro Sra. Maria da Penha Maia Fernandes, que ficou paraplégica em virtude de violência sofrida pelo seu ex-cônjuge. 

Benedita parabeniza as mulheres brasileiras que contribuem para uma sociedade mais justa, humana, fraterna e solidária
Benedita parabeniza as mulheres brasileiras que contribuem para uma sociedade mais justa, humana, fraterna e solidária
A deputada federal Benedita da Silva, nascida na favela da Praia do Pinto, no Rio de Janeiro, foi primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da Cidade do Rio de janeiro e a primeira mulher negra a chegar ao Senado Federal. Formada aos 40 anos em Estudos Sociais e Serviço Social, hoje é deputada federal. 

"Parabéns às avós, mães, filhas, esposas, trabalhadoras, todas as mulheres brasileiras, que em seis diferentes papéis, com força e determinação, têm contribuído para construir uma sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna e solidária", ressaltou. 

Outra pioneira é Leila Mariano, primeira mulher a presidir o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Ela comanda mais de 600 juízes, 80 comarcas, 90 fóruns, 17 mil servidores, cinco mil terceirizados, cinco mil estagiários, com milhões de processos em andamento. "O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, representado por sua Presidente, Desembargadora Leila Mariano, presta sua homenagem às mulheres que, cada dia mais, mostram seu valor e assumem o compromisso de tornar este planeta mais justo e igualitário."

Por mais crédito, Argentina busca ‘fazer as pazes’ com o mercado



Cristina Kirchner (AFP)
Cristina Kirchner demitiu o secretário Guillermo Moreno, mentor de medidas polêmicas de seu governo

O primeiro sinal veio em outubro passado. Na época, o governo argentino anunciou, para a surpresa de muitos, que havia aceitado pagar US$ 677 milhões (o equivalente a R$ 1,59 bilhão) a cinco empresas contra as quais havia perdido uma causa no Centro Internacional de Arbitragem para Disputas sobre Investimentos.

Depois, veio a inesperada demissão do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, considerado o mentor de muitas das medidas econômicas mais polêmicas do governo de Cristina Kirchner.
Mas os gestos mais significativos vieram em 2014: em janeiro, o ministro de Economia Axel Kicillof, que havia assumido dois meses antes, apresentou uma oferta ao Clube de Paris, que compreende os 19 países aos quais a Argentina deve mais de US$ 9 bilhões (R$ 21,1 bilhões) desde a moratória dos pagamentos de sua dívida, em 2001.

Poucas semanas depois, aconteceu o que muitos acreditavam ser impossível: a pedido do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina apresentou um novo índice de medição de preços, que admitiu, pela primeira, a dimensão problemática da inflação, algo que até então vinha sendo negado pelas autoridades do país.

Finalmente, na semana passada, a Argentina deu por terminada uma longa disputa internacional ao entrar em acordo com a petrolífera espanhola Repsol sobre o pagamento de uma indenização pela expropriação de 51% do pacote de ações da petrolífera YPF, renacionalizada em 2012 - um acordo que será selado em maio, se o Congresso argentino o aprovar.

Para muitos analistas, todas estas medidas são um indício claro de que o governo quer "fazer as pazes" com o mercado de capitais, até mesmo com a intenção de voltar a contrair dívidas.

Mas por que um governo que se vangloria de sua política de desendividamento e que por anos criticou governantes passados por endividarem o país agora está mandando tantos sinais de aproximação com o mercado?

Necessidade

Especialistas como Dante Sica, diretor da consultoria econômica Abeceb.com, acreditam que a resposta é óbvia. "O governo precisa de dólares", assegurou ele à BBC Mundo.

"A mudança de atitude se deve ao fato de que, a partir de 2011, a Argentina passou de um superavit para um deficit e que as medidas tomadas pelo governo para frear a diminuição de divisas não funcionaram", disse Sica, em referência às restrições cambiais impostas a partir deste ano.


FMI (Reuters)
O país divulgou novo índice de preços a pedido do FMI

A rigor, o país tem um déficit fiscal há anos (ou seja, gasta mais do que arrecada), ainda que mantenha um superavit comercial, que até agora tem sido a principal fonte de entrada de divisas no país.

Mesmo assim, em 2014, o saldo comercial teve uma queda preocupante: segundo os números oficiais, em janeiro, o superavit foi de apenas US$ 35 milhões (R$ 82,3 milhões), 88% a menos do que no mesmo mês do ano anterior.

Por isso, economistas como Sica acreditam que o governo está sendo forçado a buscar dinheiro para compensar o gasto público exagerado e, com este objetivo em mente, tem se esforçado para dar sinais de boa vontade ao mercado.

Novo endividamento

Economistas alinhados com o governo, como Fernanda Vallejos, do grupo kirchnerista La Gran Marko, dizem que os sinais dados pelo governo têm o objetivo de melhorar a situação para uma futura emissão de títulos da dívida pública.

Mas Vallejos refuta que isso signifique uma mudança na política governamental.
"O governo nunca se opôs a voltar ao mercado, mas sim a pagar as altas taxas que queriam cobrar", comentou ela à BBC Mundo.

De fato, a própria Cristina Kirchner deu sinais neste sentido durante um discurso no fim de janeiro.

Axel Kicillof (AP)
O ministro Kicillof fez uma oferta ao credores do país

"Como resultado da moratória de 2001, o mercado de capitais estava fechado para nós e, quando não estava fechado, oferecia taxas muito altas", disse.

Mas os críticos do governo afirmam que não foi a moratória que afastou o mercado durante a década kirchnerista, mas a falta de confiança gerada pelas políticas governamentais.

A isso é atribuído o fato de países vizinhos como Brasil, Chile e Uruguai terem atraído nos últimos anos muitos investimentos estrangeiros, multiplicando assim suas reservas internacionais, enquanto os fundos do Banco Central argentino tiveram uma forte queda, de cerca de 30% em 2013.

Por sua vez, Vallejos nega que haja falta de confiança e considera que grande parte do dinheiro que ingressou nos países vizinhos veio de investimentos especulativos, que não são vistos com bons olhos pelo governo argentino por considerá-los prejudiciais a longo prazo.

Restrição externa

Um ponto em que simpatizantes e críticos do governo concordam é que a chamada restrição externa - ou falta de dólares - é um dos principais problemas da economia argentina e que ela limita o poder de compra e o crescimento do país.

A saída de divisas em dólares se intensificou nos últimos três anos devido ao forte aumento das importações de energia, que representam cerca de 10% do orçamento nacional.

Por outro lado, o gasto público se manteve alto devido às políticas de subsídios à energia e ao transporte implementadas em 2002, em meio à crise econômica, e que o kirchnerismo continua a aplicar até hoje.

Por isso, muitos acreditam que um retorno ao mercado de capitais é inevitável.

Mesmo assim, ainda falta ver se as medidas que estão sendo tomadas pelo país serão suficientes para que os organismos internacionais de crédito voltem a emprestar dinheiro à Argentina, a uma taxa que o governo considere aceitável.

Um dos fatores que levará a isso é o resultado da disputa judicial que Argentina enfrenta nos Estados Unidos com os credores que não aceitaram as trocas de dívidas por bônus de valor de face menor oferecidas pelo país em 2005 e 2010.

Em fevereiro, o governo argentino solicitou que a Suprema Corte americana revise a decisão que obriga o país a pagar mais de US$ 1,3 bilhão (R$ 3 bilhões) a um grupo de fundos de investimento, que exige o pagamento de 100% do valor dos bônus que detêm.

Se a decisão for mantida, a Argentina poderá voltar a uma moratória técnica, o que complicaria seu acesso a novos recursos.

Mulher ainda gasta quase dobro do tempo em trabalho doméstico que homem


Mulher passa roupas (foto: BBC)

Mulheres trabalham em média oito horas por dia, sendo mais de quatro serviço doméstico

Uma pesquisa internacional mostrou que mesmo nos países desenvolvidos as mulheres passam quase duas vezes mais tempo que os homens realizando serviços domésticos e atividades não remuneradas.

O estudo foi realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) por conta da comemoração neste sábado do Dia Internacional da Mulher. Ele leva em conta 26 dos 34 países que fazem parte do órgão.

A entidade somou o tempo que as mulheres passam realizando trabalhos remunerados e atividades não pagas (que incluem tanto o serviço doméstico propriamente dito como cuidar de membros da família, fazer compras para a casa ou serviço voluntário).

A conclusão apontou para uma média de oito horas diárias de trabalho realizada por elas. Para os homens, essa média de tempo é de sete horas e 45 minutos.

As jornadas totais de trabalho dos dois gêneros têm portanto praticamente a mesma duração. Porém, as mulheres realizam uma quantidade maior de trabalho não remunerado e por isso têm rendas menores, segundo o estudo.

Das oito horas diárias de trabalho das mulheres, quatro horas e 30 minutos são dedicadas a atividades não remuneradas (sendo quase três horas apenas para serviço doméstico propriamente dito).

Já os homens dedicam duas horas de 21 minutos para atividades não remuneradas (sendo uma hora e 15 minutos cuidando da casa).

A pesquisa se refere a pessoas com idades entre 25 e 64 anos.

“Nos últimos 50 anos, as mulheres reduziram as horas de atividades não remuneradas e aumentaram as horas de trabalho pago. Os homens têm feito mais afazeres domésticos e cuidam mais dos filhos, mas eles não assumiram isso plenamente e, por isso, a desigualdade em relação à utilização do tempo é ainda grande em todos os países”, afirmou a OCDE.

Segundo a organização, as diferenças no acesso a carreiras profissionais de homens e mulheres estão sendo reduzidas lentamente.

“Mas ainda existe uma grande lacuna em relação ao trabalho não pago, mostrando claramente que os homens ainda relutam em participar das atividades da casa em muitos países”, disse a organização.

Diferenças entre países

Há diferenças nas características do trabalho entre os países estudados.
Os homens japoneses são os que menos realizam trabalhos não remunerados, somente 62 minutos por dia ( 24 para serviço doméstico).

Por outro lado, holandeses e canadenses são os que mais dedicam tempo para a casa: uma hora e 20 minutos.

As mulheres mexicanas e turcas, de acordo com a pesquisa, despendem a maior parte de sua jornada em atividades não remuneradas: mais de seis horas por dia, sendo quase cinco horas em afazeres do lar.
Os homens mexicanos, por sua vez, fazem pouco mais de uma hora de trabalhos domésticos.

Brasil

 

No Brasil, que não integra o estudo da organização, a situação é semelhante à da média dos países da OCDE.

As brasileiras também dedicam muito mais tempo do que os homens para tarefas do lar - mais do que o dobro.

De acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgados em 2012, as mulheres brasileiras gastam, em média, 26,6 horas semanais em afazeres domésticos, enquanto os homens dedicam apenas 10,5 horas.

“O conceito de trabalho normalmente desconsidera o trabalho doméstico não remunerado. O estudo evidencia a importância dessa atividade, tanto do tempo que se gasta com ele como de sua relevância para a reprodução da vida social e econômica”, disse o Ipea.

Os homens brasileiros desocupados efetuam um pouco mais de tarefas do lar (quase 13 horas por semana), mesmo assim bem menos do que as mulheres com atividade econômica (22 horas), afirma o instituto.

sexta-feira, 7 de março de 2014

ANS esclarece prazo sobre queixa contra plano de saúde


O anúncio divulgado pela ANS foi a respeito da adoção da metodologia de solução de conflitos entre clientes e operadoras

ABr
Cartões de planos de saúde

Cartões de planos de saúde: a partir de 19 de março de 2014, reclamações do tipo não assistencial feitas aos canais de atendimento da ANS serão enviadas às operadoras de planos

São Paulo - A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) esclareceu nesta terça-feira, 14, que não houve ampliação de prazo para solução de queixas de beneficiários de planos de saúde.

O anúncio divulgado pela ANS foi a respeito da adoção da metodologia de solução de conflitos entre clientes e operadoras, que já era praticada para as queixas sobre cobertura assistencial (como recusa de atendimento, descumprimento de prazos máximos para procedimentos), agora também para os casos de reclamações sobre os assuntos não assistenciais (como reajuste, quebra de contrato).

Com isso, a partir de 19 de março de 2014, todas as reclamações do tipo não assistencial feitas aos canais de atendimento da ANS serão enviadas para as operadoras de planos de saúde, que terão dez dias úteis para resolver a dificuldade do cliente. 

No caso de queixas de natureza assistencial, o prazo para as operadoras resolverem o problema continua sendo de 5 dias.

Justiça anula obrigação de fidelidade em planos de saúde


Operadoras não podem mais exigir fidelidade contratual mínima de um ano dos associados de planos de saúde coletivos

Fábio Grellet, do
ABr
Cartões de planos de saúde

Cartões de planos de saúde: Instituída em 2009 pela Agência Nacional de Saúde (ANS), a norma que impunha essas condições foi considerada nula pela Justiça

Rio - As operadoras de planos de saúde não podem mais exigir fidelidade contratual mínima de um ano dos associados de planos de saúde coletivos, e também estão proibidas de cobrar taxa correspondente a duas mensalidades caso o cliente queira rescindir o contrato.

Instituída em 2009 pela Agência Nacional de Saúde (ANS), a norma que impunha essas condições foi considerada nula pela Justiça Federal, em decisão de primeira instância divulgada nesta sexta-feira, 7. A ANS ainda pode recorrer.

A ação coletiva que pediu a anulação dessa regra foi proposta pela Autarquia de Proteção e Defesa do Consumidor do Estado do Rio (Procon-RJ). Para o órgão, a regra contraria o Código de Defesa do Consumidor.

O juiz Flavio Oliveira Lucas, da 18ª Vara Federal do Rio, concordou com as alegações do Procon-RJ e atendeu seu pedido. A ANS também foi condenada a divulgar a decisão judicial, publicando seu conteúdo em jornais de grande circulação por quatro dias, além de pagar custas processuais e honorários advocatícios.

Na decisão, o juiz critica a norma da ANS. "A medida acaba por impor ao consumidor um dever de fidelidade irrestrita, restringindo, irregularmente, o direito de livre escolha estatuído no Código de Defesa do Consumidor. A situação coloca o consumidor em desvantagem exagerada, viabilizando (...) cláusulas que propiciem às operadoras um ganho ilícito, no caso de multas no valor de dois meses", escreveu o magistrado. A ANS informou que não foi notificada oficialmente sobre a sentença, mas vai recorrer "em razão do entendimento equivocado a respeito da norma".

UBS reabre um tímido banco no Brasil, dizem fontes


Companhia estaria se preparando para voltar ao país após 5 anos com uma franquia do seu banco de investimentos

Aluísio Alves e Guillermo Parra-Bernal, da
fabric
Entrada do banco UBS, acusado de crimes financeiros

Entrada do banco UBS: banco suíço ativará as licenças concedidas pelo Banco Central após uma fase de testes operacionais

São Paulo - Quase cinco anos após ter deixado o país, o UBS recomeça na próxima semana a operar sua franquia brasileira de banco de investimentos, segundo fontes a par do assunto, mas desta vez com planos que mal fazem sombra ao outrora império no mercado de capitais na região.

Após uma fase de testes operacionais, a partir de quarta-feira, 12, o banco suíço ativará as licenças concedidas pelo Banco Central, incluindo a última, no ano passado, que o autorizou a operar no mercado de câmbio.

O UBS não começará a prospectar clientes por enquanto, já que também aguarda aprovações internas de sua matriz. Mas mesmo depois dela pouco vai mudar. Duas ou três novas contratações, no máximo, devem se somar à equipe atual, de 16 pessoas, e não há planos para aumentar o patrimônio líquido no país, disseram fontes a par do assunto, que pediram para não serem identificadas.

Consultado, o banco informou à Reuters que "seguirá a mesma estratégia que vem sendo adotada pela instituição mundialmente -focar em wealth management (gestão de fortunas) e investment banking, nas áreas de renda variável, fusões e aquisições, assessoria financeira e pesquisa".

Parte desse conservadorismo deve-se às mudanças --nenhuma boa-- que o grupo vem enfrentando desde que pediu a licença ao BC há cerca de três anos, entre elas o maior rigor regulatório europeu, que vai exigir bilhões de euros em capital novo, e acordos para encerrar processos, entre eles o que acusa o banco de participar num esquema com outras instituições para manipular a taxa Libor.

Além disso, o UBS tem pela frente um cenário bastante distinto daquele em que chegou ao país em 2006, com a compra do Pactual, por cerca de 3,1 bilhões de dólares. Navegando na alta liquidez global, o banco foi um dos expoentes da forte expansão do mercado de capitais brasileiro, que de 2004 a 2007 levou mais de uma centena de empresas a se listarem na Bovespa.

Agora, apertados por maiores necessidades de capital em suas matrizes e com perspectivas econômicas mais adversas, grandes bancos estrangeiros como Barclays, Goldman Sachs e Deutsche Bank estão reduzindo suas equipes, ou simplesmente batendo em retirada, deixando o mercado sob controle dos gigantes domésticos Itaú BBA e BTG Pactual.

O UBS, por exemplo, está esvaziando um dos andares que ocupa em um dos edifícios da avenida Faria Lima, centro financeiro da capital paulista, disseram as fontes.

As ofertas de ações no Brasil começaram 2014 no pior nível em mais de uma década, no mais recente sinal de severa erosão da confiança dos investidores no país.

Desde meados de 2010, quando voltou ao Brasil e comprou a corretora Link Investimentos, o UBS se concentrou na gestão de fortunas. Mas a atuação do banco tem se mostrado tímida desde que se desfez da unidade brasileira Pactual --hoje BTG Pactual -- por cerca de 2,5 bilhões de dólares, recursos usados para recompor sua base de capital duramente atingida na esteira da crise criada com a quebra do norte-americano Lehman Brothers.

Segundo outra fonte a par do assunto, o Banco do Brasil, que buscava um sócio estrangeiro para formar um braço forte de banco de investimento, chegou a discutir uma parceria com o UBS, mas as negociações não foram adiante. Consultado, o BB não se manifestou sobre o assunto.