segunda-feira, 10 de março de 2014

‘Dilma aprofunda desregulamentação, liberalização e desnacionalização’

Escrito por Valéria Nader, da Redação   



“Os traidores sempre acabam por pagar por sua traição, e chega o dia em que o traidor se torna odioso mesmo para aquele que se beneficia da traição”. É com esta frase, atribuída a Victor Hugo, que o economista e professor titular de Economia da UFRJ, Reinaldo Gonçalves, encerra entrevista que concedeu ao Correio da Cidadania, para avaliar a atual crise econômica que arrasta países emergentes e as orientações econômicas e políticas em vigor nos anos petistas, em geral, e no governo Dilma, em particular.

Em busca de situar o Brasil em meio à grave crise econômica que as nações em desenvolvimento enfrentam em 2014, Gonçalves destaca que, há mais de dois anos, já havia previsto que o número de países atingidos pela crise econômica de 2008 aumentaria no mundo subdesenvolvido. “As locomotivas voltam para os trilhos e o vagão de 3ª classe chamado Brasil descarrila mais uma vez”.

Quanto às causas da tormenta, estas se situam muito além dos equívocos de política econômica tão ao gosto das citações da mídia corporativa e neoliberal, em coro com os ditames do FMI e Banco Mundial. “No Brasil, há o problema estrutural que se chama Modelo Liberal Periférico (MLP). Esse modelo híbrido combina o que tem de pior do liberalismo e da periferia e tem três conjuntos de características marcantes: liberalização, privatização e desregulação; subordinação e vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro”, ressalta Gonçalves.

A atuação do governo dos trabalhadores para aquela que deveria ser um de seus alvos primordiais, a distribuição de renda, não passa, ademais, de algo “raso, superficial e circunstancial”, visto não incidir na distribuição da renda funcional (salários versus renda do capital) e da riqueza. “Depois de 11 anos de governo, há a falência do PT, que tem sido absolutamente incapaz de realizar mudanças estruturais no país. Só houve a consolidação do Modelo Liberal Periférico”.

Finalmente, em face do atual arranjo político e eleitoral, considerados governo e oposição, não são alvissareiras as expectativas de Gonçalves – o governo, enfraquecido, deverá no máximo proclamar um discurso eleitoral mais à esquerda, para, após eventual vitória, fazer ainda mais ajustes sociais regressivos e concessões aos setores dominantes.

A seguir, a entrevista completa.

Correio da Cidadania: O ano de 2014 começa, ao que parece, selando o fim da bonança para os emergentes. Trata-se de uma crise anunciada?

Reinaldo Gonçalves: É a queda do mito de que vagões podem puxar locomotivas. Esse mito deveu-se, principalmente, a uma visão otimista a respeito do crescimento da China. E a maior divulgação do mito deveu-se a visão equivocada em relação a outros grandes países em desenvolvimento (Índia, Rússia, Brasil, África do Sul etc.), que têm economias estruturalmente frágeis.

Em dezembro de 2011, escrevi um artigo com o título “Crise econômica: eles hoje, nós amanhã” (revista CIÊNCIA HOJE, nº.: 289, janeiro/fevereiro de 2012). Há mais de dois anos a conclusão era que havia risco crescente de que o número de países atingidos pela crise econômica de 2008 aumentasse no mundo subdesenvolvido. O cenário mais provável era que os Estados Unidos e os principais países desenvolvidos da Europa sairiam da crise no médio prazo. Por outro lado, o argumento era que o Brasil seria atingido pela crise caso não ocorressem mudanças significativas nas estratégias e nas políticas. O cenário mais provável no médio prazo era, por um lado, os Estados Unidos e países europeus importantes saírem da crise. E, por outro, o Brasil, país marcado por enormes fragilidades e vulnerabilidades estruturais, afundaria em crises de todos os tipos.

As locomotivas voltam para os trilhos e o vagão de 3ª classe chamado Brasil descarrila mais uma vez. Atualmente, o que temos é exatamente essa situação.

Correio da Cidadania: A mídia corporativa e neoliberal, em coro com os ditames do FMI e Banco Mundial, está sempre a salientar para o público leigo a inépcia fiscal, monetária e cambial dos governos, que seriam grandes motivadores dessa crise que agora assola os emergentes. Você poderia avaliar, neste sentido, as causas estruturais dessa crise?

Reinaldo Gonçalves: Não há como negar que políticas econômicas equivocadas também são causas de crises. Governos erram quando estimulam a expansão extraordinária do crédito e, portanto, o alto endividamento de indivíduos e empresas. Há outros erros: elevar a dívida pública para níveis insustentáveis e deixar as variáveis macroeconômicas fundamentais em níveis inadequados, como taxa de juro e taxa de câmbio. Os governos erram quando definem graus de liberalização e desregulamentação que são incompatíveis com a estrutura econômica do país. Os governos dos Estados Unidos e de países da Europa cometeram graves erros nos últimos anos e estão pagando por isso. No caso do Brasil, não há como negligenciar o déficit de governança e os erros cometidos nos governos FHC, Lula e Dilma. O Governo Dilma é a própria apoteose da mediocridade em termos de estratégias, condutas e resultados. Esse governo comete muitos erros.

Ademais, a crise no Brasil tem profundas causas estruturais. Por exemplo, a vulnerabilidade externa estrutural do Brasil é muito elevada e, portanto, o país é muito afetado pela desaceleração do comércio internacional e a volatilidade dos fluxos financeiros internacionais. Países como a China se protegem com elevados níveis de competitividade internacional e baixa dependência em relação a recursos financeiros externos. No Brasil, por outro lado, esses riscos são particularmente elevados porque o país depende significativamente da exportação de produtos básicos (minério de ferro, carne, soja e outros) e da captação de recursos externos para sustentar seu crescente e elevado déficit nas contas externas (as transações comerciais, de serviços e financeiras com os outros países).

Ou seja, a despesa do Brasil em moedas estrangeiras é maior do que a receita. Em 2013, o país precisou captar US$ 81 bilhões para fechar suas contas externas. Portanto, há crescente risco de crise cambial, que tende a causar crises financeira, real e fiscal, bem como maior inflação. Não podemos esquecer que o passivo externo brasileiro supera US$ 1,5 trilhão. Ou seja, nas contas externas há extraordinários desequilíbrios de fluxos e estoques. Além de haver evidente deficiência de gestão, no Brasil há o problema estrutural que se chama Modelo Liberal Periférico (MLP). Esse modelo híbrido combina o que tem de pior do liberalismo e da periferia. O MLP tem três conjuntos de características marcantes: liberalização, privatização e desregulação; subordinação e vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro.

Correio da Cidadania: A Argentina esteve nestas últimas semanas no olho do furacão. Como vê o país e que correlação se pode fazer entre as conjunturas argentina e brasileira nesse momento?

Reinaldo Gonçalves: Há semelhanças importantes que derivam da vulnerabilidade externa estrutural e do déficit de governança em ambos os países. Entretanto, penso que, em uma perspectiva de longo prazo e estrutural, a situação argentina é melhor que a brasileira. Enquanto os argentinos procuram adotar um modelo de desenvolvimento com foco no crescimento e na redução da vulnerabilidade externa estrutural, o Brasil aprofunda cada vez mais o Modelo Liberal Periférico, marcado por crescente vulnerabilidade externa estrutural. A liberalização na área de serviços, as privatizações, a desnacionalização e a desindustrialização, que avançaram no Governo Dilma, ampliam e aprofundam este modelo. No que se refere às contas externas, tanto Brasil como Argentina têm elevados desequilíbrios de fluxos; no entanto, o desequilíbrio de estoque na Argentina (passivo externo financeiro líquido) é pequeno, enquanto no Brasil é muito elevado.

Correio da Cidadania: E as economias centrais, EUA e Europa por exemplo, como as situa neste contexto? Estão de fato em um processo de retomada de suas economias e sociedades, como se quer fazer crer a partir da algumas análises?

Reinaldo Gonçalves: Se, por um lado, é certo que instabilidade e crise são próprias ao capitalismo, também é verdadeiro que esse sistema econômico desenvolveu mecanismos para superar crises. Por esta e outras razões, o capitalismo, que é marcado por desperdício, injustiça e instabilidade, sobrevive e avança há séculos e, inclusive, atualmente, é o substrato da economia mais dinâmica do mundo (a chinesa).

Nos últimos anos, os principais países desenvolvidos perderam graus de liberdade na aplicação de políticas macroeconômicas convencionais (redução de juros e aumento de gastos públicos). Entretanto, esses países dispõem de pelo menos quatro instrumentos para a estabilização econômica: distribuição de riqueza e renda, progresso técnico, competitividade internacional e guerra. O processo de distribuição de riqueza e renda gera ampliação do consumo dos trabalhadores. Entretanto, é pouco provável que ocorra este processo no horizonte previsível. Muito pelo contrário, parte expressiva do ajuste frente às crises está recaindo sobre os trabalhadores e os grupos de menor renda. A política de distribuição de renda está sendo impedida pelo capital e pelas forças conservadoras e, de fato, a concentração de renda tem aumentado na maior parte dos países desenvolvidos.

A lógica da globalização (rivalidade internacional, foco na maior competitividade e efeito China) também tem dificultado a adoção de políticas distributivas. Boa parte da decepção com os governos Hollande e Obama advém dos fracassos das suas políticas de ajuste via mecanismos redistributivos. Entretanto, pode-se prever que os principais países capitalistas retomarão a fase ascendente no médio prazo tendo em vista o uso dos outros mecanismos estruturais. Este argumento aplica-se às principais economias capitalistas do mundo (EUA, Alemanha, França e Japão). É bem verdade que economias pouco importantes (Grécia, Portugal etc.) continuarão em crise.

O progresso técnico implica aumento de produtividade e lançamento de novos produtos, que elevam a massa de lucros. Há, então, estímulo para os investimentos. A maior competitividade internacional permite vender mais produtos no mercado internacional. A guerra impulsiona os gastos bélicos e, portanto, a geração de renda e emprego, além de estimular o progresso tecnológico e a competitividade internacional. Nesse sentido, há oportunidades extraordinárias (Líbia, Síria etc.), além de outras que podem ser criadas. Ou seja, além de desperdício, injustiça e instabilidade, o capitalismo é marcado por dinamismo e barbárie. O capitalismo é sustentado pelo dinamismo e pela barbárie!

Correio da Cidadania: Quais serão as consequências dessa crise para as economias emergentes, em especial para o Brasil?

Reinaldo Gonçalves: É a trajetória de instabilidade e crise. No caso do Brasil, o Modelo Liberal Periférico causa o processo de desenvolvimento às avessas. É a trajetória do Brasil no início do século XXI, que se caracteriza, na dimensão econômica, por: fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo. Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória, observam-se: invertebramento da sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições; e um sistema político corrupto e clientelista. Essas questões são analisadas no meu livro Desenvolvimento às Avessas (Rio de Janeiro: LTC, 2013; Prêmio Brasil de Economia, categoria livro, 1º lugar).

Correio da Cidadania: O que vê como alternativas para esta situação, a curto e médio prazos? O controle de câmbio poderia ser uma medida adotada frente a uma fuga de capitais do país?

Reinaldo Gonçalves: No atual quadro político e eleitoral não vejo saídas, nem mesmo no longo prazo. As candidaturas e os arranjos políticos este ano envolvem continuísmo, seja com a situação, seja com a oposição, ambos igualmente conservadores, medíocres e comprometidos com o Modelo Liberal Periférico. Neste quadro, é improvável qualquer controle de capitais. O governo Dilma continua ampliando e aprofundando a liberalização e desregulamentação dos fluxos financeiros internacionais. Este governo também tem estimulado o investimento externo direto, ou seja, a desnacionalização via privatizações (aeroportos, energia etc.). Qualquer mudança na direção de controles de capitais só ocorrerá em resposta a uma gravíssima crise cambial e risco de grave crise política e institucional.

Correio da Cidadania: Quanto a esta condução da política econômica pelo governo Dilma, analistas de mercado, paradoxalmente, criticam o que seria um intervencionismo estatal exacerbado na economia? O que diria nesse sentido?

Reinaldo Gonçalves: Intervenção do governo na economia é fundamental em qualquer país. Isso ocorre nas funções alocação, distribuição, regulação e estabilização. Mesmo em países que adotam modelos mais liberais (por exemplo, os Estados Unidos), o governo realiza essas funções. Quanto mais desenvolvido for o país, maior é o foco nas políticas de regulação e estabilização.
O desafio dos países em desenvolvimento é definir estratégias de desenvolvimento e, portanto, prioridades e hierarquia de funções e políticas de Estado. O problema brasileiro (evidente no caso do atual governo) é que a estratégia implícita (Modelo Liberal Periférico) está condenada ao fracasso, o sistema político é patrimonialista, clientelista e corrupto, e há déficit estrutural de governança. Mesmo a função distributiva do Estado é rasa, superficial e circunstancial, visto que não ataca o problema da distribuição funcional da renda (salários versus rendas do capital) e da distribuição da riqueza.

O problema do governo Dilma não é, naturalmente, o grau de intervenção, mas a qualidade da intervenção (gestão incompetente e inconsistência de políticas) e o enquadramento estrutural (dado pelo Modelo Liberal Periférico). Assim, quando há a adoção de políticas adequadas, esta é comprometida pela incapacidade de gestão, enquanto políticas equivocadas são adotadas para atender os setores dominantes (bancos, agronegócio, mineração, empreiteiras) e promover o MLP. Em artigo recente faço um balanço da economia brasileira durante os governos petistas e mostro os fracos resultados do governo Lula e os resultados medíocres do governo Dilma (comparáveis aos resultados igualmente medíocres do governo FHC). (“Balanço crítico da economia brasileira nos governos do Partido dos Trabalhadores”, Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, No. 37, janeiro de 2014).

Correio da Cidadania: Como, finalmente, enxerga as reações recentes do governo diante dessa crise e, em especial, como acredita que ele vá chegar às eleições?

Reinaldo Gonçalves: A direita não consegue fazer uma crítica consistente e realista ao atual governo. E é cada vez mais raro encontrar uma crítica rigorosa e contundente pela esquerda. Vejamos. O governo Dilma está tentando empurrar com a barriga o impacto dos problemas causados pelas nossas fragilidades e vulnerabilidades estruturais, bem como pelos erros de estratégias e políticas do próprio governo. Muito provavelmente o governo chegará ainda mais enfraquecido às eleições. Mas tenta ganhar tempo, fará um falso discurso eleitoral à esquerda e, após as eleições, fará ajustes de alto custo social e maiores concessões aos setores dominantes. Os protestos populares refletem este enfraquecimento. De fato, os protestos populares têm como principais causas os problemas estruturais e os erros cometidos no passado recente.

A crise atual também é conseqüência do surgimento de três fenômenos nos dois governos petistas: o Brasil Invertebrado, o Brasil Negativado e o Lulismo (transformismo do PT). O Brasil Invertebrado caracteriza-se pelo fato de que os grupos dirigentes têm cooptado a grande maioria das organizações sociais, sindicais, estudantis e patronais. Exemplos: MST, CUT e UNE. Grupos sociais não-organizados, assim como movimentos sociais de maior envergadura, também são neutralizados por meio de políticas clientelistas — o bolsa-família, os benefícios da previdência e o salário mínimo são instrumentos poderosos tanto no plano da redistribuição da renda dentro da classe trabalhadora, como no plano político e eleitoral. Ademais, a impunidade de corruptos e corruptores continua como a regra geral, que tem poucas e surpreendentes exceções (as condenações do mensalão). Grandes grupos econômicos desempenham papel de atores protagônicos via abuso do poder econômico, corrupção e financiamento de campanhas eleitorais. Neste sentido, a ausência de organizações efetivamente representativas provoca revolta no povo.

O Brasil Negativado, por seu turno, expressa a deterioração das condições econômicas e abarca o país, o governo, as empresas e as famílias. As finanças públicas se caracterizam por significativos desequilíbrios de fluxos e estoques, além, naturalmente, dos problemas epidêmicos de déficit de governança e superávit de corrupção. O aumento da dívida das empresas e famílias tem causado crescimento significativo da inadimplência. O aumento da negatividade é resultado da política de crédito fortemente expansionista no contexto de taxas de juros absurdas, fraco crescimento da renda, inoperância da atividade fiscalizadora e abuso de poder econômico por parte dos sistemas bancário e financeiro. Milhões de pessoas (pobres e classe média) estão desesperadas e perdem o sono diariamente porque estão negativadas, não conseguem pagar suas dívidas. E isto causa sofrimento e revolta.

Por fim, vale destacar que a eleição de Lula expressou a vontade popular de transformações estruturais e de ruptura com a herança do governo FHC. Entretanto, o transformismo dos grupos dirigentes do PT gerou grande frustração. O social-liberalismo corrompido do PT se consolidou com as transferências e políticas clientelistas e assistencialistas. Depois de 11 anos de governo, há a falência do PT, que tem sido absolutamente incapaz de realizar mudanças estruturais no país. Só houve a consolidação do Modelo Liberal Periférico (que reúne o que há de pior no liberalismo e na periferia) e a manutenção da trajetória de Desenvolvimento às Avessas. O transformismo petista gera frustração e revolta.

O Brasil Invertebrado, O Brasil Negativado e o Lulismo (transformismo do PT) agravam os problemas econômicos, sociais, éticos, políticos e institucionais, comprometem a capacidade de desenvolvimento do país e geram frustração, sofrimento, revolta e ódio. Portanto, os governos petistas e seus aliados são os principais responsáveis pela crise atual e pelos protestos populares. (Ver meu artigo disponível na internet: “Déficit de governança e crise de legitimidade do Estado no Brasil”, 2013). Por essas e outras razões, o povo e a esquerda não podem ser complacentes com o PT, seus dirigentes e suas candidaturas!

Capital estrangeiro, empreiteiros, mineradores, banqueiros e os figurantes do sistema político clientelista, patrimonialista e corrupto aplaudem de pé o atual governo e o MLP, e se protegem do risco-Brasil enviando cada vez mais capital para o exterior. Nunca antes na história desse país, os ricos mandaram tanto capital para o exterior — algumas dezenas de milhares de brasileiros, de gente rica e muito rica. Por outro lado, no que se refere ao povo, às massas, não há as alternativas de sonegação, corrupção, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, fuga de capitais e proteção frente ao risco-Brasil e ao Desenvolvimento às Avessas.

Restam os protestos populares, que são reações concretas à crescente percepção do que se tornou odioso no Brasil. Essa percepção não é mitigada por elevação do salário mínimo, bolsa família e benefício da previdência. Aqui, cabe citar a frase atribuída a Victor Hugo: “Os traidores sempre acabam por pagar por sua traição, e chega o dia em que o traidor se torna odioso mesmo para aquele que se beneficia da traição”.

Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania.

Selecionamos para os empreendedores 30 dicas para ler, estudar e se organizar de graça na web

 

Lista tem de livro a cursos e aplicativos de gestão para pequenos empreendedores
Estadão PME


Felipe Rau/Estadão
Felipe Rau/Estadão
Confira lista com opções para ler, estudar e se organizar

O fim de ano é um período em que as atribulações profissionais reduzem o seu ritmo. E, não raro, o empreendedor vê-se com um pouco mais de tempo para cuidar de um aspecto importante de sua atividade: a preparação profissional. Pensando nisso, o Estadão PME organizou um compilado de dicas de cursos, livros e aplicativos gratuitos para auxiliar o empresário na tarefa de administrar um negócio de pequeno e médio porte.

A lista conta com dicas consagradas e alguns achados na internet. Boa parte do material está em português, mas há também algumas opções de muita qualidade para leitores bilíngues. Acompanhe o material abaixo a bom proveito!
:::CURSOS:::
Sebrae
O Sebrae separa seus cursos de acordo com o perfil do aluno: Quero Empreender, Sou Um Microempreendedor Individual, Tenho Uma Microempresa ou Tenho Uma Empresa de Pequeno Porte. São mais de 30 cursos, desde os que ensinam sobre compras governamentais, gestão de visual da loja e até os que mostram como planejar as exportações.
Sebrae-SP
O Sebrae-SP também tem seu site de cursos com aulas de gestão, preço e fluxo de caixa, por exemplo. A entidade também tem módulos para celular ou tablet e que tratam sobre inovação, criatividade, design na empresa e empreendedorismo de maneira geral.

Senai
O Senai tem um curso gratuito sobre empreendedorismo e o conteúdo programático inclui conceito, características, tipos e ações empreendedoras na busca de informação e raciocínio lógico.

FGV
A Fundação Getúlio Vargas faz parte do OpenCourseWare Consortium - OCWC. Trata-se de um consórcio de instituições de ensino de diversos países que oferecem conteúdos e materiais didáticos sem custo. Tudo pela internet. A instituição oferece, por exemplo, o curso de introdução ao private equity e venture capital para empreendedores - a duração é de 40 horas.

Veduca
No Veduca, o empresário pode assistir aulas sobre administração e negócios. Há cursos de liderança ou probabilidade e estatística para negócios.

Coursera
No site do Coursera é possível encontrar vídeos legendados em português. É o caso do curso sobre Fundamentos de Estratégia para Negócios, da Universidade da Virginia.

UniMooc
No UniMooc, o curso, em espanhol, é dedicado ao empreendimento em economia digital. O aluno aprende como montar startups.

Escola de Marketing Digital
A Escola do Marketing Digital oferece mini cursos gratuitos. É possível, por exemplo, ver um aula de 30 minutos sobre como apresentar ideias para investidores.

IPED
O iPED, Instituto Politécnico de Ensino a Distância, tem uma série de cursos nas áreas de gestão e liderança. No caso do conteúdo sobre empreendedorismo, a carga horária é de 20 horas no plano gratuito, que inclui material interativo e certificado digital. Caso o aluno opte por uma carga horária maior e outras vantagens, precisará pagar.

:::APLICATIVOS:::
Sendgine
Mais que um organizador, o Sendgine dá um novo sentido para sua caixa de emails. Eles organiza a longa lista de correspondência indesejada entre contatos, cria uma página para cada novo projeto da empresa, apontando prazos de finalização anteriormente definidos.

Pai
Criado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o Pai tem como objetivo oferecer uma base de sustentação para negócios em fase inicial ou para empresa que, já experimentadas, precisam de suporte para amadurecimento de gestão. O programa oferece assessoria sobre assuntos como preço médio de mercadorias e serviços, custo tributário por nota emitida, fluxo de caixa, controle de estoque e projeção de custos. É gratuito e acessado por diversos sistemas operacionais.

Dropbox   
Já consolidado no universo corporativo, o programa armazena arquivos em nuvem e permite seu compartilhamento com outras pessoas. Também é possível sincronizá-lo com outros equipamentos. Existe uma versão gratuita e outra paga, com um número maior de funcionalidades.

Simulador de Importação 
O simulador é um aplicativo de comércio exterior para as plataformas IOS e Android que auxilia os empreendedores a calcularem o custo estimado da compra de mercadorias importadas, bem como a possível lucratividade desta operação comercial. O aplicativo é gratuito.

SamCard 
O aplicativo Samcard é usado para fotografar o cartão de visita de uma pessoa ou empresa. Em seguida, o programa passa automaticamente as informações lidas para a lista de contatos do iPhone. Tem uma versão gratuita e outra, mais completa, paga.

Intercom
   
O Intercom permite filtrar informações, autorizar negócios e ter acesso fácil aos dados de seus contatos profissionais, como nome, idade, empresa e cidade de origem. O aplicativo é recomendável para o contato entre empresas e clientes, priorizando ofertas sob medida.

Evernote     
O aplicativo ajuda a armazenar arquivos de texto, áudio e imagens e permite ainda o compartilhamento com outras pessoas. É possível sincronizá-lo com smartphones, tablets e desktops. Tem versões para diversos sistemas operacionais. O aplicativo tem uma versão gratuita e outra paga, com mais funcionalidades.

AppMesh
Este é um aplicativo de venda. O ponto alto, no entanto, fica para a sua interface simplificada. É feito para vendas a pronta entrega e funciona em dispositivos móveis, como tablets e smartphones.

Validation Board    
Altamente recomendável para donos de startups que precisam testar suas novas ideias de negócios, criando para tanto um display virtual. O aplicativo tem uma versão grátis e pode ser acessado por dispositivos móveis como smartphones e tablets.

:::LIVROS:::
Manual para jovens sonhadores
Autora: Nathalie Trutmann
Nascida na Guatemala, Nathalie Trutman hoje trabalha como diretora na faculdade Fiap e na Zyngamedia. Na obra, a autora busca incentivar novos empreendedores.

O Gerente de Projeto Preguiçoso
Autor: Peter Taylor
O ócio criativo é explorado como a chave para evoluir no mercado, sem gastar muito tempo e energia. 

How to Work for Yourself: 100 Ways to Make the Time, Energy and Priorities to Start a Business, Book or Blog 
Autor: Bryan Cohen
Para quem lê em inglês, confira este livro que lista, em 100 lições, maneiras para concentrar foco e energia em suas prioridades de carreira.

Viagem ao Mundo do Empreendedorismo    
Autores: Instituto de Estudos Avançados (IEA) e Instituto Friedrich Naumann
O livro mostra como  iniciar e, mais importante ainda, manter o negócio ao longo dos anos.

Ferramentas Visuais para Estrategistas
Autor: ESPM
O livro mostra o poder dos recursos visuais para planejar, decidir e criar.

The Crowdfunding Bible
Autores: Scott Steinberg e Rusel DeMaria
O livro reúne dicas para o empreendedor que está atrás de financiamentos para bancar projetos.

The Myth Of The Garage
Autores: Chip e Dan Heath
Os irmãos Chip e Dan Heath procuram, neste livro, desmitificar a tese da empresa de garagem. Para eles, o mercado não tem muito mais espaço para histórias como a da Microsoft, por exemplo.

From Dust to Diamonds
Autor: David Oreck
O autor, um empresário dono de uma fábrica de aspirador de pó, revela como é possível obter sucesso em qualquer  lugar do mundo.

Como Criar e Modificar Hábitos 
Autor: Produtividade Ninja
O site Produtividade Ninja compila um resumo prático do livro “O Poder do Hábito”, de Charles Duhigg.

A Fábrica dos Sonhos        
Autor: Carlos Cauduro
Procura explorar o potencial do leitor para introduz uma nova abordagem administrativa para as empresas.

Economia Empresarial     
Autor: Vários
Com participação do professor Igor Zanoni Constant Carneiro Leão, mostra o quanto o conhecimento econômico do ambiente dos negócios é essencial para o sucesso da empresa.

Marketing Digital para Empreendedores 
Autor: Endeavor Brasil e Resultados Digitais
Material produzido em parceria entre a Endeavor Brasil e Resultados Digitais está disponível para download. É indicado para aqueles que querem aprender técnicas de marketing online.

Empresas lutam contra ‘brechas’ na ineficiência

Ford, Natura e Usiminas encontraram formas de produzir mais com economia de recursos


Fernando Scheller - O Estado de S.Paulo
 
 
O mecânico Everton Ferreira da Silva e o ajudante Jackson Silva Santos, que trabalham em uma concessionária Ford em São Paulo, podem até não saber, mas fazem parte do movimento capitaneado pelas empresas em busca de produtividade. Ao dividirem tarefas e usarem um carrinho que contém as peças mais usadas em seu dia a dia - evitando deslocamentos desnecessários ao estoque -, Everton e Jackson ajudaram a elevar o número médio de veículos reparados no box de atendimento da oficina onde trabalham de 6 para 15 por dia.

A iniciativa da montadora faz parte de um movimento de empresas brasileiras em busca de mais produtividade. Para Henrique Teixeira, sócio da McKinsey & Company, os melhores exemplos de ganhos de escala e aperfeiçoamento produtivo no País estão no mundo corporativo. A referência ainda é a gigante das bebidas Ambev, conhecida por sua cultura de resultados, mas ele vê essa preocupação se espalhando por todos os setores. "Definitivamente, a regra para o momento é a redução de custos."

Os ganhos de produtividade começam, normalmente, com um problema. No caso da Ford, a restrição ao crescimento vinha da dificuldade de concessionárias localizadas em grandes metrópoles de aumentar o espaço físico das oficinas em um momento de forte valorização do preço do metro quadrado dos imóveis. Segundo Joaquim Arruda Pereira, diretor de vendas e marketing da área de pós-venda da Ford, era preciso achar uma alternativa.

A questão afetava a concessionária onde Everton e Joaquim trabalham, a Caoa da Avenida Ibirapuera, zona sul de São Paulo. A revenda foi escolhida para um projeto-piloto de trabalho com dois mecânicos em cada box de atendimento, no ano passado. A montadora já estendeu a iniciativa para 15 concessionárias no País. "Estamos identificando os pontos já saturados ou perto de seu limite. É uma boa solução para as grandes cidades", diz o executivo da Ford.


Sobrevivência.


 Falhas de processos ficam mais evidentes em momentos de crise. A Usiminas viveu isso na pele ao longo dos últimos dois anos. "A gente percebeu, em 2012, que a empresa precisava mudar. Era uma questão de sobrevivência", diz Gileno de Oliveira, gerente-geral de engenharia de processos industriais. Em um momento de demanda mais baixa, a empresa trabalhou para reduzir seus gastos com equipamentos.

Em uma linha que produz placas de aço para a produção de bobinas laminadas, havia oito unidades em operação em Ipatinga (MG) e Cubatão (SP). A saída, conta Oliveira, foi aumentar a produtividade das máquinas mais potentes para produzir a mesma quantidade do produto com seis máquinas. Em outro processo, o de laminação a frio, uma linha mais moderna substituiu duas antigas. Esse processo reduziu a necessidade de operadores e, por consequência, gastos com mão de obra.

O resultado já começou a aparecer no balanço da Usiminas. Segundo o gerente da área de processos industriais, as mudanças causaram uma queda de 7% no custo dos produtos vendidos em 2013, na comparação com o ano anterior. Depois de amargar um prejuízo de R$ 598 milhões em 2012, a companhia fechou o ano passado com um lucro de R$ 17 milhões. Ainda assim, prevê a continuidade do programa de redução de custos.


Moda.


A InBrands cresceu fazendo uma série de aquisições de marcas de moda. Há dois anos, teve de fazer uma "parada técnica" para reorganizar a casa e tirar proveito das vantagens de ser uma holding. O presidente da InBrands, Michel Sarkis, diz que a administração e distribuição das diferentes marcas - como Ellus, Richards e VR - foi unificada. Com isso, as despesas gerais e administrativas da InBrands, que representavam 25% da receita em 2011, caíram para 11% no ano passado.

A Natura também está investindo em produtividade, com a meta de fazer os produtos chegarem mais rapidamente aos consumidores. Segundo Ricardo Faucon, diretor de serviços ao cliente da Natura, o investimento em tecnologia tem papel fundamental nesse processo. O novo centro de distribuição da empresa, em São Paulo, poderá processar 2 mil caixas de pedidos por hora. Trata-se de um aumento de 66% na capacidade ao centro de Cajamar, que organiza 1,2 mil pedidos por hora.

À medida que a concorrência aumenta no mercado de beleza, a marca de vendas diretas busca manter sua atratividade em relação ao varejo, que oferece os produtos em pronta entrega. Para aumentar a produtividade das revendedoras, liberando-as para fazer novas vendas, a companhia definiu uma meta ambiciosa: ter 60% de seus produtos entregues em até 48 horas aos clientes. A exemplo do que ocorre com a produtividade como um todo no Brasil, ainda falta bastante para a Natura "chegar lá": em 2013, esse prazo foi cumprido em 34% das vendas.

Interferência do governo custou mais de R$ 180 bilhões a estatais brasileiras

  • Nos últimos três anos, Petrobras perdeu 60% de seu valor de mercado, enquanto Eletrobras encolheu 63%
Danilo Fariello


BRASÍLIA — Em 2008, o valor de mercado da Petrobras era cinco vezes superior à da colombiana Ecopetrol. No ano passado, as duas empresas chegaram a valer o mesmo na bolsa. Enquanto a petrolífera vizinha praticamente manteve o seu valor de mercado nos últimos três anos, a estatal brasileira encolheu US$ 137 bilhões, ou 60% desde o fim de 2010. Em reais a Petrobras valia R$ 380,24 bilhões e passou a valer R$ 214, 68 bilhões, um tombo de 43%. Ainda mais acelerada foi a desvalorização da segunda maior empresa controlada pelo governo, excluídos os bancos. Do quarto trimestre de 2010 até o último balanço publicado, no terceiro trimestre de 2013, a Eletrobras viu seu valor de mercado em reais cair 63%: de R$ 26,2 bilhões para R$ 9,6 bilhões, segundo cálculos da consultoria Economatica. Juntas as duas perderam R$ 182,16 bilhões.

A perda de valor das estatais federais ao longo dos últimos anos, segundo especialistas, resulta principalmente da interferência política na gestão das companhias, o que contribui para o enfraquecimento do mercado de ações brasileiro, onde as duas sempre tiveram boa parte dos negócios. O governo tem exigido das estatais elevados investimentos a curto prazo e, ao mesmo tempo, permite que as dívidas brutas dessas duas empresas disparem, avaliam especialistas. Mas o principal problema, segundo eles, é a limitação das receitas obtidas pelas companhias.

— A Petrobras é alvo de manipulações, tendo os reajustes (dos combustíveis) limitados para colaborar com a inflação, e, no caso da Eletrobras, só um louco compra ações da empresa hoje, com essa confusão sobre as dívidas da empresa após o subsídio ao uso das usinas térmicas e a redução das tarifas — diz Paulo Feldmann, pesquisador de Economia das Organizações da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP) e ex-presidente da Eletropaulo.

Analistas apontam a frequência cada vez maior do uso dessas empresas para fins fiscais e monetários pelo governo, o que enfraquece a gestão das companhias e sua sustentabilidade a longo prazo.

— O governo Dilma Rousseff adotou uma estratégia de uso mais intenso das estatais, forçando interesses do governo, mais ou menos como era feito no período militar e na década de 80, com o uso delas para controlar preços — diz Sérgio Lazzarini, professor do Insper e co-autor do livro “A reinvenção do capitalismo de Estado: a evolução do Leviatã”, a ser lançado.


‘Ninguém sabe a conta’


Lazzarini destaca que é compreensível que um governo use as estatais para imprimir determinados rumos à economia nacional. Ele diz, porém, que a falta de transparência quanto às recentes atitudes acaba por turvar a visão do mercado sobre as companhias. Representantes de acionistas minoritários nessas empresas frequentemente reclamam que, muitas vezes, a gestão da macroeconomia prevalece sobre o interesse próprio das estatais. Exemplos disso seriam o freio no aumento dos preços dos combustíveis, e a adesão da Eletrobras, no ano passado, à proposta de renovação de concessões mediante redução de receitas, rejeitada por outras estatais de gestão estadual.

— Houve enorme aparelhamento dessas máquinas e, nisso, você levou para dentro delas o que pensávamos que já tinha acabado, que é o modelo patrimonialista, no qual se confunde interesse do Estado com interesse das pessoas no poder — diz o economista José Matias-Pereira, professor da UnB e ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Esses economistas lembram que, assim como o controle do preço dos combustíveis afeta negativamente os resultados da Petrobras, a redução de 20%, em média, das tarifas elétricas em 2013 enterrou os planos de expansão da Eletrobras para o exterior e qualquer alusão à meta de transformá-la na “Petrobras do setor elétrico”.

— A pergunta é: quanto custa essa maneira de se combater a inflação pelas estatais? Custa caro e ninguém sabe a conta. Na minha opinião, elas viraram autarquias, apêndices do Tesouro Nacional. O interesse do controlador soa tão mais alto, que a ação de produção fica no segundo plano — afirma o economista José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre/FGV.

Matias-Pereira destaca que, mesmo com seus caixas combalidos, as estatais têm sido forçadas pela União a elevar o volume de investimentos federais, o que acaba resultando na disparada do endividamento dessas empresas. Nesse esforço, o volume de investimento das estatais em 2013 foi recorde, de R$ 113,5 bilhões, segundo o Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest), do Ministério do Planejamento. Mesmo assim, o setor de energia, onde Petrobras e Eletrobras lideram os recursos, deveria responder por quase a metade do PAC 2, o que não ocorre na prática.

— Em 12 meses, o endividamento da Petrobras cresceu R$ 68 bilhões. Isso é um sinal financeiro de como a empresa está agravando a sua situação — disse.

Segundo os cálculos de Roberto Afonso, a partir de dados do Dest, as duas estatais tiveram déficit primário de 0,71% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no ano passado (0,09% para Eletrobras e 0,62% para Petrobras). Para efeito de comparação, ele lembra que o superávit primário do governo central foi de 1,57% do PIB em 2013:

— Se ainda estivessem computadas dentro do setor público (como ocorreu no passado), as duas empresas consumiriam quase a metade do superávit primário feito pela União — afirma Afonso.

Ele diz ainda que as duas empresas investiram 2,2% do PIB no ano passado, segundo o Dest, mas, para isso, tomaram 1,58% do PIB em operações de crédito. Como as estatais estão sendo chamadas a puxar os investimentos em infraestrutura, logo acabam se endividando e gerando déficits, avalia o pesquisador do Ibre/FGV.

— Para investir, elas estão precisando se endividar cada vez mais e isso acaba por deprimir a avaliação de mercado dessas empresas, que, aliás, já gastaram 0,28% do PIB com juros. A decisão de se endividar segue apenas o interesse do governo, por isso não faltam ações na Justiça e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionando isso — afirmou Afonso.

Procurado, o Dest informou em nota que “não se manifesta sobre valores de mercado de empresas de capital aberto, cuja controladora é a União, por sua condição de coordenadoria e governança das estatais.” O Dest diz ainda que as empresas têm seus próprios canais de relação com investidores e prestam contas à CVM.

A Petrobras não comentou o teor da reportagem. A Eletrobras, em nota, informou que, quanto à desvalorização das ações, é preciso levar em conta que, em janeiro de 2010, foi aprovada a forma de pagamento dos dividendos relativos a exercícios sociais de 1979 a 1984, 1989, 1996 e 1998, no valor total de cerca de R$ 10 bilhões, dividendos estes que estavam embutidos no valor das ações daquele período. Segundo a Economatica, porém, seus cálculos já são ajustados conforme o pagamento de proventos, como dividendos.

A Eletrobras informa ainda que, em setembro de 2013, apresentava dívida líquida positiva, com saldo de cerca de R$ 1 bilhão a receber de financiamentos feitos pela companhia. O próximo balanço da empresa será publicado no dia 27. Este ano, a empresa ainda terá o impacto desfavorável da escassez de chuva que já se refletiu nas ações do setor elétrico na Bovespa pelo temor do racionamento.

Feldmann, da USP, defende que o governo tire as ações de Petrobras e Eletrobras do mercado, para preservar os investidores das possíveis manipulações.

Criar emprego é mais importante que controlar inflação, diz Lula

Em entrevista a jornal italiano, ex-presidente faz defesa à política econômica de Dilma e descarta disputar eleições em 2018

10 de março de 2014 | 9h 09

Fernando Nakagawa, correspondente da Agência Estado
 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a criação de empregos deve ser a prioridade na economia em detrimento de outros temas, como o controle da inflação. Em entrevista ao jornal italiano La Reppublica publicada no domingo, o ex-presidente reafirmou apoio à reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Sobre a disputa presidencial seguinte, disse que política é "imprevisível". Apesar disso, Lula diz que a natureza é implacável e ele estará com 72 anos na eleição presidencial de 2018.
Ao jornal italiano, Lula diz que "críticos gostariam que diminuíssemos o emprego para reduzir a inflação". "Mas para nós a defesa do emprego é mais importante que a inflação", disse. Lula comentou que foram criados 21 milhões de empregos nos últimos 11 anos (oito do governo Lula e três de Dilma Rousseff) e 42 milhões de brasileiros entraram na classe média. Na entrevista publicada, Lula não citou números da inflação.

Sobre as eleições presidenciais, Lula foi questionado sobre eventual volta para tentar a disputa de 2014. "Não. Eu vou apoiar minha companheira Dilma Rousseff", disse. Sobre 2018, Lula diz que a política é "imprevisível". "Mas a natureza é implacável: em 2018, para a eleição seguinte, eu terei 72 anos".

Questionado sobre os protestos populares, o ex-presidente diz que após a ascensão social dos últimos anos "brasileiros agora querem mais e com razão". Para Lula, isso só acontece atualmente porque há uma "democracia verdadeira" no País e as pessoas podem se expressar. Sobre a Copa do Mundo, Lula reconhece que poderá haver atrasos em obras de infraestrutura. Mesmo assim, avalia que o Brasil sairá fortalecido do evento.

Lula também fez uma crítica à atuação do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O ex-presidente brasileiro disse que o atual governo venezuelano errou ao não se esforçar para iniciar um dialogo maior com a oposição.

Sobre a imagem do Brasil no exterior, Lula diz que o País era uma "criança" que cresceu e começou a ter um papel mais importante na economia, nos cargos internacionais e na mediação de assuntos globais. Por isso, diz, o Brasil estaria sendo visto como um "incômodo" para alguns países.

Taxas abusivas são armadilhas antes do crédito






O Estado de S.Paulo
 
Armadilhas na hora de comprar um imóvel começam antes do financiamento. A mais recorrente é o Serviço de Assessoria Técnica Imobiliária (Sati), pelo qual é cobrado 0,88% sobre o valor do bem, sob alegação de que o mutuário terá auxílio jurídico para o crédito imobiliário.

"Na prática, isso não ocorre. Quando os financiamentos eram mais burocráticos, o serviço era necessário, mas hoje é mais simples, e o financiamento sai, em média, em 30 dias", diz Renata Reis, do Procon.

Outra tática é cobrar taxa de corretagem, de até 8%. Essa comissão só deve ser paga se o corretor for contratado pelo consumidor para procurar o imóvel para ele. "As construtoras contratam imobiliárias para vender o imóvel e, na hora de fechar o negócio, cobram do consumidor. Essa taxa é ilegal e deveria ser paga pela construtora", diz Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste Associação de Consumidores.

A taxa de interveniência é cobrada quando o comprador financia com um banco não indicado pela construtora e pode chegar a R$ 3 mil ou 2% do valor do financiamento. "Isso caracteriza venda casada e deve ser questionado na Justiça", alerta a especialista do Procon.

Construtoras impõe taxa de 3% quando o comprador quer transferir o imóvel em construção para que outra pessoa assuma as prestações do financiamento. "É cobrança abusiva e não está prevista no Código de Defesa do Consumidor", afirma Dolci. "Se já pagou, é possível reverter isso nos órgãos de defesa do consumidor ou na Justiça."

A principal reclamação é contra a negativa de crédito. Marco Aurélio, da AMSPA, diz que o consumidor, ludibriado pela construtora, fecha negócio sem ter renda necessária. Quando são entregues as chaves e ele vai ao banco, não consegue o crédito, restando-lhe três alternativas: financiar o restante com a construtora, vender o imóvel ou pagar à vista. Para evitar surpresas, é preciso fazer simulação nos bancos para saber quanto sua renda permite financiar.

O comprador só pode comprometer até 30% do salário com a prestação da casa. Embora alguns bancos financiem até 100% do valor do imóvel, a maioria só empresta 80%. Antes de assinar o contrato, verifique se a renda é suficiente e se você tem os 20% para entrada.

Brasileiro fecha negócio em 3 horas


10 de março de 2014 | 2h 05

Cláudia Trevisan, enviada especial - O Estado de S.Paulo
 
AUSTIN, TEXAS - Três horas após a abertura da feira de negócios da South by Southwest, o produtor e diretor de cinema e TV Leandro HBL havia fechado dois negócios. A Nike encomendou um estudo sobre estética brasileira, de olho na Olimpíada de 2016, e a revista Victory comprou dez documentários sobre esportes, que HBL começará a realizar assim que voltar ao Brasil.

Fundador da Mosquito Projects e do Bando Studio, o produtor é veterano no SXSW, que frequenta desde 2003. Seu filme Favela on Blast, co-produzido pelo DJ americano Diplo, foi lançado na edição de 2009. "É difícil fechar negócios na primeira participação. A presença constante ajuda", disse HBL, que não revelou valores.

A Mosquito integra o grupo de 12 empresas maduras que foram a Austin buscar parcerias. Donos da MJV, Ysmar e Maurício Vianna se destacam entre os empreendedores brasileiros pela idade e tempo de estrada. Fundada em 1997, a empresa transitou do TI ao desenvolvimento de soluções inovadoras para problemas corporativos. "Usamos pessoas criativas para encontrar saídas para questões enfrentadas por nossos clientes", disse Maurício, de 46 anos, filho de Ysmar, de 70.