sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dunkin´ Donuts terá rosquinhas com sabor do Brasil


Executivo detalhou planos da rede para o país em entrevista ao WSJ, entre eles, a abertura de 150 lojas por aqui




Getty Images/Rachel Murray
Rosquinhas da Dunkin´Donuts
Dunkin´Donuts : rede planeja ter rosquinhas para agradar paladar de brasileiro

São Paulo - Depois de deixar o Brasil em 2005, a Dunkin´ Donuts planeja retorno em grande estilo por aqui. A famosa marca de rosquinhas americana prevê a abertura de 150 lojas no país nos próximos anos.

Os planos da rede de rosquinhas para o Brasil foram detalhados por Jeremy Vitaro, vice-presidente de desenvolvimento internacional da marca, em uma entrevista ao jornal americano Wall Street Journal

Entre as novidades, a companhia planeja também oferecer um cardápio diferenciado por aqui, com itens que tenham a ver com a culinária local a fim de agradar o paladar dos brasileiros.

Segundo o executivo, a primeira loja deve ser inaugurada nos próximos seis meses, ainda sem um local definido.

A rede já possui contrato com a OLH Group, que será responsável pela expansão da marca na região centro-oeste do país.  A empresa também busca potenciais franqueados para o Rio de Janeiro e São Paulo. 

Governo popular pode sinalizar futura crise em emergentes


Alta na popularidade do governo em países emergentes acende sinal amarelo para futura eclosão de crise financeira, diz estudo da VoxEU

GettyImages
Balão na Capadócia, Turquia
Balão na Turquia, onde a crise em 2000 foi precedida por um aumento forte na popularidade do governo

São Paulo - Uma das coisas mais difíceis no mundo da economia é prever a eclosão de uma crise financeira.

Especialistas costumam olhar para números de expansão do crédito ou preço de ativos financeiros, mas um novo trabalho aponta para outro fator: a popularidade de um governo.

"Booms políticos, definidos como um aumento da popularidade de um governo, precedem crises financeiras em mercados emergentes. A opinião pública em relação ao governo atual melhora significativamente na escalada para a quebra financeira de um país", diz o estudo publicado na VoxEU por Helios Herrera, do HEC Montreal, Guillermo L. Ordoñez, da Universidade da Pennsylvania, e Cristoph Trebesch, da Universidade de Munique.

Se o processo vem junto com um boom de crédito, a tese fica ainda mais forte: "um mercado emergente que experimentou um boom político e de crédito ao mesmo tempo tem muito mais chance de sofrer com uma crise do que um país que experimentou apenas um deles".

Curiosamente, a explicação não vale para países desenvolvidos, onde ocorre o contrário: uma queda na popularidade nos 5 anos antes da crise estourar.

Em média, os 5 anos pré-crise registram aumento de 53% na popularidade do governo em países emergentes e uma queda de 21,5% em períodos equivalentes no caso de mercados avançados. O Brasil não está entre os países analisados.


Razões


Os autores argumentam que isso ocorre porque uma regulação mais forte tem alto custo político. Em uma situação normal, cabe a um governo avaliar se a expansão econômica é saudável e sustentável, para aplicar remédios preventivos caso o rumo precise ser corrigido.

Mas isso pode revelar ao público que a situação não é tão boa quanto parece, enquanto simplesmente surfar no crescimento e popularidade rende dividendos pelo menos no curto prazo.

Os autores também encontraram nos países emergentes uma correlação negativa entre regulação financeira e popularidade do governo, na qual um afrouxamento de regras favorece aqueles no poder: "Nestes mercados, a maior parte das crises foi precedida por um afrouxamento regulatório (não um aperto), sugerindo que essa era uma das razões por trás de crises"

A tese é que os países em desenvolvimento são mais suscetíveis a esse processo porque seus políticos costumam ter, em média, uma popularidade menor e menos confiança da população do que os políticos de países desenvolvidos.

Isso torna a opinião pública mais sensível a melhorias de cenário e aumenta o incentivo para que os políticos de países emergentes que estão no poder aproveitem booms econômicos a qualquer custo para se destacar de seus concorrentes.

Quase 70% da população mundial odeia a situação do seu país


Estudo mostra que a maioria dos cidadãos do mundo está descontente com as condições atuais em seus países. Na Rússia, maioria da população está satisfeita


Milos Bicanski/Getty Images
Protesto na praça Sintagma, na Grécia
Protesto em Atenas: na Grécia, maioria da população (95%) se mostrou insatisfeita com as condições econômicas, políticas e sociais do país

São Paulo – Um estudo divulgado pelo instituto de pesquisa Pew Research Center revelou que 69% dos cidadãos do mundo estão insatisfeitos com a situação econômica, política e social do seu país. Os mais aborrecidos estão na Europa (77%) e, entre eles, o descontentamento é maior na Grécia (95%), na Espanha (91%) e na Itália (90%).

A segunda região com o pior clima entre os cidadãos é a América Latina (77%). Na Colômbia, país que vive uma longa guerra contra o narcotráfico, a quantidade de pessoas aborrecidas atingiu a percentagem de 82%. Logo após, aparecem as populações do Peru (78%), Venezuela (77%), Argentina (74%) e Brasil (72%).


Satisfação


A pesquisa mostrou ainda em quais locais do mundo a situação não está tão ruim assim, pelo menos na visão da sua população. 

Uma das surpresas é a altíssima satisfação dos cidadãos da Rússia. Apesar das retaliações impostas pela União Europeia ao país por conta da crise na Ucrânia, 56% dos russos declararam contentamento com seu país. 

Outro exemplo é a Alemanha, onde a satisfação com as condições atuais foi mencionada por 59% das pessoas. Do outro lado do mundo, chineses (87%) e vietnamitas (86%) também expressaram positividade em relação ao assunto.

Os resultados deste estudo leva em conta as opiniões de cerca de 50 mil pessoas, entrevistadas em 44 países. Na tabela abaixo, é possível verificar os números na íntegra, lembrando que cada país conta com uma margem de erro específica que pode ser avaliada no documento que se encontra em seguida.


País Insatisfeitos (%) Satisfeitos (%)
Alemanha 38 59
Israel 50 49
Reino Unido 55 40
Japão 60 34
Estados Unidos 62 33
Coreia do Sul 69 28
França 77 22
Itália 90 9
Espanha 91 8
Grécia 95 5
China 8 87
Vietnã 12 86
Malásia 20 77
Rússia 36 56
África do Sul 49 47
Jordânia 52 45
Turquia 51 44
Indonésia 55 41
Chile 55 41
Índia 60 36
Filipinas 62 36
México 67 30
Polônia 69 27
Tailândia 70 27
Brasil 72 26
Paquistão 72 25
Egito 72 24
Argentina 74 24
Venezuela 77 22
Peru 78 19
Tunísia 81 17
Ucrânia 80 15
Colômbia 82 15
Nigéria 83 15
Líbano 93 7
Bangladesh 44 54
Nicarágua 47 50
Uganda 53 44
Tanzânia 67 32
Quênia 69 30
Senegal 70 28
El Salvador 76 21
Estado da Palestina 82 15
Gana 86 13

13 brasileiras estão entre as 100 empresas mais globalizadas


Relatório do The Boston Consulting Group (BCG) reuniu as companhias dos países emergentes com mais operações internacionais

Germano Lüders/EXAME.com
Fábrica da Embraer

Fábrica da Embraer: companhia está entre as 100 mais globalizadas dos países emergentes

São Paulo – O Brasil possui 13 companhias entre as 100 mais globalizadas dos países emergentes, segundo estudo divulgado pelo The Boston Consulting Group (BCG).

O levantamento reúne empresas com faturamento superior a 1 bilhão de dólares e que tenham 10% ou 500 milhões de dólares de receitas vindas do exterior de 13 diferentes partes do mundo

As chinesas são a grande maioria da lista. Do país asiático, 23 empresas fazem parte do levantamento. A Índia possui 18 companhias entre as mais globalizadas do mundo.

Na América do Sul, o Chile, com três empresas, e a Argentina, com apenas uma,  também fazem parte do levantamento.

Veja, a seguir, quem são as companhias brasileiras entre as mais globalizadas dos países emergentes, segundo o BCG: 
 
Empresas                          Setor
 
BRF                Alimento
Camargo Corrêa               Construção, energia, transportes, cimento, calçados
Embraer               Indústria de aviões
Gerdau              Siderúrgia
Iochpe-Maxion              Indústria de rodas e chassis
JBS             Alimentos
Marcopolo             Industria de carrocerias de ônibus
Natura            Cosméticos
Odebrecht            Engenharia, construção, produtos petroquímicos e químicos
Petrobras            Petróleo
Tigre            Tubos, conexões e acessórios
Votorantim            Cimentos, metais, siderurgia, energia, celulose e agroindústria
WEG             Indústria de motores

Quem quer o Banco Nacional?


Os Magalhães Pinto tentam dar fim a uma liquidação que dura 19 anos e apareceu um interessado em comprar o que restou do banco, o BTG

Robson de Freitas
Marcos Magalhães Pinto em 1994
Marcos Magalhães Pinto em 1994: corrida para recuperar o que sobrou da fortuna

São Paulo - A família Magalhães Pinto foi, até o início dos anos 90, uma das mais ricas e poderosas do Brasil. Seu banco, o Nacional, era um dos maiores do país, com 1,2 milhão de clientes, quase 400 agências (incluindo pontos em Nova York e Miami) e mais de 40 000 funcionários, o dobro do que tem o Santander hoje.

Também era um dos maiores anunciantes do país: patrocinava o piloto Ayrton Senna e clubes de futebol como Vasco e Fluminense. O fundador do banco, José de Magalhães Pinto, foi governador de Minas Gerais nos anos 60. Seu filho Marcos, que assumiu o banco, frequentava as mais tradicionais rodas da sociedade carioca.

Mas, em 1995, o Nacional sofreu uma intervenção do Banco Central, talvez a mais barulhenta de nossa história recente. A parte saudável do banco foi repassada ao Unibanco. Com a família, ficaram um banco falido e processos judiciais por fraudes administrativas descobertas depois da intervenção.

De lá para cá, os Magalhães Pinto tentam salvar o que sobrou de sua fortuna. Quase nada avançou em 19 anos. Até que André Esteves, o onipresente controlador do banco de investimento BTG Pactual, surgiu na história.

Como boa parte dos bancos que quebraram naquela época, o Nacional ficou com muito dinheiro a receber do governo — 31 bilhões de reais em valores atualizados, para ser mais exato.

Boa parte desse dinheiro, assim como das dívidas atuais do banco, é resultado das ações do Programa de Estímulo à Rees­truturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (Proer), criado na década de 90 para socorrer os bancos que, viciados na ciranda financeira dos tempos de hiperinflação, sofriam com os efeitos da estabilização econômica.

O Banco Central emprestou dinheiro a bancos como Nacional e Econômico para que comprassem, com descontos de 50%, títulos de dívida do Tesouro. Eram créditos do Fundo de Compensações de Variações Salariais (FCVS), criado na década de 60 para recompensar as instituições que concediam financiamento imobiliário e perdiam com juros e inflação.

Nos anos 80, por exemplo, um financiamento de 100 000 reais subia para 323 000 reais em um ano só com o ajuste pelo índice de preços. Mas o governo garantia que os compradores poderiam quitar os imóveis pelo valor acordado. A diferença era paga aos bancos em FCVS. O Nacional comprou papéis de Itaú, Unibanco, Bradesco e Real.

Dos cerca de 70 bilhões de reais em créditos FCVS ainda no mercado, quase 45% são do Nacional. Mas, por ser o Brasil o país estranho que é, esses papéis não valem nada até que a Caixa Econômica Federal e o Tesouro reconheçam que são “bons”. E fazer esse percurso nas duas instituições federais não é moleza.

Os Magalhães Pinto estão há 19 anos nesse labirinto. Eles têm os tais 31 bilhões de reais em títulos do governo, mas o próprio governo não reconhece a dívida como boa. Na rota oposta, eles devem ao Banco Central 21 bilhões de reais. Só depois de pagarem tudo é que eles podem sonhar em ter algum centavo de volta. Pelo cronograma atual, isso só aconteceria em 2027.

Mas no fim do ano passado o Nacional chamou a atenção de André Esteves. O BTG, afinal, havia comprado o também finado Bamerindus, outro banco socorrido pelo Proer. A transação custou 418 milhões de reais ao BTG — que levou, em troca, os 2 bilhões de reais em créditos tributários do Bamerindus.

Por que não repetir o modelo com o Nacional? EXAME apurou que o BTG e a família Magalhães Pinto começaram a costurar um acordo em que o BTG adquire bens e direitos do Nacional. Procurados, ambos os lados disseram que não comentariam.

O BTG, claro, vê chances de ganhar muito dinheiro com essa transação. O banco já é um dos maiores compradores de FCVS do país. E julga entender as peculiaridades do processo necessárias para transformar os papéis em dinheiro.

Para receber o FCVS, um banco tem de entrar numa longa fila de análise na Caixa Econômica Federal, instituição responsável por fazer a validação desses créditos — checar a origem da dívida, qual sua taxa de juro e a documentação — e transformá-los em CVS, o papel que pode ser descontado no Tesouro.

Isso, claro, se o Tesouro estiver disposto a pagar, o que nem sempre acontece. As validações estão suspensas desde abril de 2013 porque a Controladoria-Geral da União estuda alterações no processo de comprovação e análise dos créditos. O governo não nega a dívida, mas paga quando puder.

Omar Paixão
Agência do Bradesco
Agência do Bradesco: crescimento após o Plano Real


Demora


Insatisfeita com a lentidão da liquidação, a família encarregou a terceira geração de encontrar um desfecho mais rápido para o processo. Quem está à frente dessas conversas hoje é Marcos José, filho de Marcos Magalhães, presidente do banco na época da intervenção. Mas, por uma série de razões legais, os Magalhães Pinto têm pouca liberdade para negociar.

Eles não podem simplesmente vender os créditos, renegociar a dívida com o Banco Central e a forma de pagamento. Só um novo dono teria, juridicamente, essa liberdade. O que os Magalhães Pinto podem negociar agora é exatamente o controle acionário do banco, o que daria direito ao comprador de reorganizar o processo como bem entender. E é aí que entra o BTG.

Para Esteves e seus sócios, um momento foi chave para tornar o negócio atraente. Em outubro do ano passado, os responsáveis pela liquidação do banco aderiram a um programa de refinanciamento de dívidas com o governo.

Nesse programa, o banco consegue descontos de 20% a 45% sobre os juros da dívida se pagá-la antecipadamente — na melhor conta, a dívida do Nacional cairia de 21 bilhões para 16 bilhões de reais.
Assim, alguém que consiga transformar pouco mais da metade dos 31 bilhões de crédito do Nacional em dinheiro poderia pagar a dívida com o Banco Central e ficar com o troco. Além disso, o Nacional tem créditos fiscais que chegam a 12 bilhões de reais — que iriam para o novo dono.

Para os Magalhães Pinto, a venda do Nacional seria uma forma de amenizar um calvário de quase duas décadas. Parte da família ficou impedida de operar no mercado bancário devido à descoberta de fraudes contábeis.

Em fevereiro do ano passado, aos 78 anos, Marcos dormiu uma noite na prisão depois que o Superior Tribunal de Justiça revogou uma decisão do Tribunal Regional Federal, que havia declarado a prescrição do crime de gestão fraudulenta — a condenação foi em 2002 e, depois de diversos recursos, acabou extinta em 2011.

O ex-banqueiro conseguiu um habeas corpus e o processo continua aberto. É possível que os Magalhães Pinto levem pouco dinheiro numa negociação com o BTG, mas quando se livrarem da liquidação terão liberados bens como imóveis e dinheiro que estão bloqueados há quase 20 anos como garantia aos credores. Em valores atualizados, dá perto de 1 bilhão de reais.

As conversas são preliminares e, para quem está próximo aos bancos, o desfecho ainda demora. “Não é um acordo de sala fechada, entre BTG e a família. Será uma negociação longa envolvendo o Banco Central”, diz um dos envolvidos. É consenso que o Banco Central é mais simpático ao BTG do que aos Magalhães Pinto, o que pode ajudar a acelerar as coisas.

“O agente privado é mais eficiente para encerrar processos de liquidação do que o agente público”, disse André Esteves em fevereiro do ano passado. Essa liquidação de 19 anos vai ser de fato encerrada? Só os próximos capítulos da novela dos Magalhães Pinto dirão.

A (falta de) regulamentação da Lei 12.846/13 – Lei Anticorrupção


 

Em sua palestra no seminário "A nova Lei Anticorrupção e seus impactos nas empresas" realizado em São Paulo no dia 25 de Agosto de 2014 pelo jornal Valor Econômico, o  ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, afirmou que a regulamentação da Lei 12.846 – conhecida como Lei Anticorrupção – está pronta e foi enviada à Casa Civil, faltando apenas a sua promulgação pela Presidente da República.

Disse o Ministro Hage que a regulamentação visará principalmente a determinar quais os principais elementos que deverão ser atendidos pelos programas de compliance das empresas, e que vai seguir padrões internacionais – que, imaginamos, sejam basicamente aqueles do “US Sentencing Guidelines” dos Estados Unidos. Afirmou também que a Lei Anticorrupção é autoaplicável, não sendo necessária a regulamentação para imposição das penalidades previstas.  Comentou o Controlador Federal que a ausência de aplicação da Lei se deve ao fato de não haver surgido nenhum caso concreto até o momento: "Esperamos que continue assim, que não tenhamos que aplicar nenhuma dessas penas. Espero que a lei cumpra seu papel e desconfio que já esteja cumprindo pelo número de eventos realizados país afora para discutir essa questão.[i]"

Em que pese a simpatia que temos pelo otimismo demonstrado pelo Ministro – e também por profissionais do setor privado presentes no evento, dizendo que “a lei já pegou” – temos que ser mais realistas e conservadores. A corrupção no Brasil é endêmica, arraigada na cultura popular e nos modos de fazer negócios e política em nosso país. Compliance ainda é visto como matéria alienígena, trazida ao país por empresas multinacionais, mas que serve apenas como nuvem de fumaça para a manutenção do status quo. Soa ingênuo pensar que a publicação da Lei 12.846 encerrou a corrupção brasileira.

A mudança cultural[ii] é um processo complexo, que deve partir de força transformadora. Embora seja possível que a mudança surja da conscientização popular[iii], confiar papel tão importante como reduzir drasticamente a corrupção no Brasil à sociedade civil torna incerta a realização, que é tão importante ao país.  Mais efetiva é a mudança cultural partir da liderança[iv] de uma organização. Com a nova orientação partindo daqueles que detêm o poder hierárquico, os recursos para implantação e a capacidade de controle do cumprimento e de aplicação de penalidades em caso de descumprimento, as chances de sucesso da mudança de paradigma é muito mais provável.

A ausência de regulamentação por parte do Poder Executivo, depois de mais 13 meses de vigência e 7 meses de eficácia da Lei 12.846, é um péssimo sinal quanto ao interesse do governo brasileiro pela redução da corrupção em nosso país. Comenta-se oficiosamente que a CGU submeteu a minuta do decreto regulamentar mencionada pelo Ministro Hage à Casa Civil em Janeiro de 2014, mas que o mesmo somente seria assinado pela Presidente da República e publicado no Diário Oficial da União após a conclusão das eleições federais.

O setor privado brasileiro tem feito um belíssimo trabalho na divulgação da Lei Anticorrupção, com elogiável envolvimento da imprensa, executivos, advogados, consultores e entidades de treinamentos. Contudo, aqueles que são apegados à velha cultura – proveniente da leitura epicurista do “jeitinho brasileiro” – têm na ausência do ato do Poder Executivo a prova de que a Lei é feita “para não pegar”[v]. A falta de real comprometimento do governo brasileiro com o combate à corrupção é uma ameaça ao progresso do Brasil.
 
 

Comportamento antiético se torna um hábito

 
 
 
 
Por Valor Econômico
 
Muitos dos maiores escândalos corporativos dos últimos anos seguiram um padrão: o comportamento ético dos envolvidos erodiu com o passar do tempo.

Certa vez Bernie Madoff, que foi presidente de uma das mais importantes sociedades de investimento de Wall Street e, em 2008, detido pelo FBI e acusado de fraude, comentou com sua secretária: “Bem, o que acontece é que começa com você tomando uma pequena parte, algumas centenas, alguns milhares. Você se sente confortável e, antes que perceba, isso se torna grande, como uma bola de neve”.

Podemos não rolar tão para baixo quanto Madoff, mas todos nós estamos vulneráveis ao mesmo declive escorregadio em que ele tombou. Podemos começar com pequenas indiscrições como levar para casa materiais de escritório ou comer em um restaurante em horário livre e debitar na conta da empresa como se fosse um almoço de negócios.

Cerca de três quartos dos empregados que responderam a uma pesquisa da consultoria americana LRN disseram que haviam observado comportamento antiético ou ilegal por parte de colegas de trabalho no ano anterior.

“A estrada mais segura para o inferno é a gradual, de declives suaves, sem grandes curvas, sem indicações”, escreveu C. S. Lewis. A pesquisa retoma a intuição de Lewis: as pessoas começam a agir de maneira imprópria com pequenas transgressões.

David Welsh e Lisa Ordóñez descobriram que as pessoas que se deparam com oportunidades crescentes de comportamento antiético estão muito mais propensas a racionalizar essa conduta do que aquelas que se veem às voltas com uma mudança abrupta. E trapaceiam um pouco no primeiro “round”, trapacearão um pouco mais no segundo e muito mais no terceiro.

Isso é precisamente o que encontraram: diante de uma série de problemas a ser solucionados, 50% da amostra trapaceou para ganhar US$ 0,25 por problema no primeiro “round”, e 60% trapacearam para obter US$ 2,50 na rodada final. Contudo, as pessoas que não podiam trapacear nas duas primeiras rodadas foram menos propensas a fazê-lo para ganhar US$ 2,50 no “round” final – apenas 30% o fizeram.

Para piorar a situação, as pessoas tendem a negligenciar o comportamento antiético dos outros quando ele se deteriora gradualmente com o passar do tempo. Francesca Gino e seu colega Max Bazerman descobriram que as pessoas que desempenharam o papel de auditor em uma tarefa de auditoria simulada estavam muito menos propensas a reportar aqueles que gradualmente inflacionavam seus números ao longo do tempo que os que faziam mudanças abruptas de uma só vez, mesmo que o nível de inflação fosse eventualmente o mesmo.

A pesquisa também indicou que empurrões éticos ajudam as pessoas a evitar o começo da queda rumo a comportamentos criminosos. Em outro estudo, Dave e Lisa descobriram que mesmo a exposição subconsciente a conteúdo ético aumenta o discernimento moral das pessoas e as predispõe a agir eticamente. Com isso em mente, algumas organizações incorporaram “cutucões” de ética em imagens, símbolos, histórias e slogans. Na International Paper, por exemplo, os empregados recebem uma pasta com questões éticas a serem consideradas na hora de tomar decisões de negócio.