Que a
Apple deveria comprar a
Grécia com todo aquele dinheiro inútil que tem nas mãos é só uma piada, que simplesmente não quer desaparecer.
Mas é verdade que, se as grandes corporações dos EUA e os políticos
europeus tivessem um pouco de imaginação, eles provavelmente poderiam
planejar um resgate para o país quase falido com condições que seriam
benéficas para todos.
Em 2012, um investidor que participava da reunião geral da Apple
perguntou a Tim Cook, CEO, se ele já tinha pensando em usar a crescente
pilha de dinheiro da companhia – US$ 97,6 bilhões naquele momento – para
adquirir a Grécia.
“Analisamos diversas possibilidades”, mas não essa, respondeu Cook. É
claro que não é possível comprar um país inteiro – parece que nem mesmo
nos livros ؎.
Em “The Business” (“A empresa”, em tradução livre), de Iain Banks, tal
acordo fracassou, embora o alvo da aquisição fosse uma obscura monarquia
himalaia, não uma antiga democracia como a Grécia.
Então todos riram e deixaram o assunto para lá. As coisas melhoraram
brevemente para a Grécia quando o país recebeu o maior resgate da
história, e os credores privados concordaram com as margens iniciais de
segurança. Mas a economia não conseguiu crescer e continuou
insustentável.
A Apple, por sua vez, mais do que dobrou seu acúmulo, que agora
totaliza US$ 194 bilhões em dinheiro e equivalentes. A empresa vem
pagando dividendos generosos e recomprando ações, mas a pilha de
dinheiro continua crescendo.
É impossível investir tudo. Há anos Cook vem falando sobre produtos
incríveis que estão sendo desenvolvidos por sua empresa, mas ele só
conseguiu inventar melhoramentos aos produtos existentes, um serviço de
streaming de música regular e um smartwatch caro demais, e nenhum deles
exigiu muito capital.
A menos que comece a construir carros – ou talvez espaçonaves - a Apple vai continuar acumulando dinheiro.
Assim como outras empresas grandes dos EUA. As empresas americanas de
fora do setor financeiro possuem US$ 1,73 trilhão em dinheiro, 4 por
cento a mais do que elas tinham há um ano, e US$ 1,1 trilhão pertence às
50 empresas maiores, de acordo com um relatório recente da Moody's
Investor Services.
Apple, Microsoft, Google, Pfizer e Cisco têm acumulados US$ 439 bilhões.
Ajuda para Grécia
A ideia de que as cinco maiores acumuladoras possam salvar a Grécia e melhorar sua própria situação no processo é intrigante.
A Grécia precisa de aproximadamente 190 bilhões de euros (US$ 212
bilhões) para reduzir sua dívida ao patamar administrável de 70 por
cento do PIB.
Isso equivale a cerca de 48 por cento da pilha de dinheiro conjunta das cinco empresas.
Para ir pagando a dívida, a Grécia poderia recompensar as companhias
com um acordo especial para os impostos corporativos, parecido com o que
a Apple tem agora na Irlanda.
Esse acordo querido está sendo investigado pela União Europeia e é
provável que esteja com os dias contados. No entanto, o caso da Grécia é
diferente: a UE, por ser um dos maiores credores do país, talvez se
incline a fazer uma distribuição especial para as empresas americanas
por ajudarem a resolver o problema grego.
Talvez os EUA tenham algumas objeções, mas, por ser o maior acionista
do FMI, o país também perderá dinheiro se a Grécia der o calote, e a
desestabilização provocada se a Grécia saísse da zona do euro com
certeza não interessa aos EUA.
Em troca de menos da metade de seu dinheiro – e apenas 13 por cento a
mais do que custaria pagar os impostos dos EUA –, as empresas receberiam
uma garantia ilimitada e segurança de impostos baixos para as operações
fora dos EUA. Nada mal.
A Grécia, por sua vez, receberia o alívio da dívida e as sedes
europeias das empresas. É provável que muitos executivos gostem da
mudança para um litoral cálido, e a Grécia teria os primórdios de um
poderoso centro tecnológico, que atrairia outras empresas e criaria
empregos de serviços.
Com essa ajuda, o governo grego poderia ser menos austero do que seus
credores gostariam. Mas ainda seria necessário reformar os serviços
públicos ineficientes e adotar uma atitude mais amigável com as
empresas, sob o risco de perder os evidentes benefícios de trabalhar com
os titãs da tecnologia.
Tenho certeza de que esse tipo de resgate seria apoiado pelo povo grego em um referendo.
Para funcionar, bastaria um pouco de flexibilidade. Infelizmente,
parece que essa é uma qualidade que falta a todos os envolvidos hoje na
crise grega.
Então, ao invés disso, a Grécia vai continuar cambaleando rumo à
falência, e as empresas dos EUA vão continuar acumulando dinheiro que
elas não sabem como gastar.